Poemas, frases e mensagens de Hugo Cabelo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Hugo Cabelo

Ópio no Povo

 
O Povo pronto exibindo alegria
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Da sua infelicidade.

O Povo enganado, feliz
Faz o que se lhe diz,
Cartaz acima,
Cartaz abaixo
Exibindo a mentira
Que nem sequer acredita.

O Povo enganado publicita-se contra ele próprio.
Ébrios de ópio.

15/07/2009
 
Ópio no Povo

Observador Constante

 
Estranho repulsivo canto lamurio
Melodia.

Arrogante chamamento
imponente
Figura de força
deus dos deuses

Passo Vénus seguido de Mercúrio
Ultrapasso o Sol com rastos de hélio
Não avisto Marte (estranha composição)

Onde caio, saltando uma órbita
É mancha dissolvente,
Umbigo vermelho de ventos violentos
O Maior, tão rarefeito por dentro.

13/06/2009
 
Observador Constante

Apresento-vos as Minhas Desculpas

 
Eu quero ver o meu corpo jazer
num leito já desfeito
pelo abandono do próprio tempo

eu sou a desgraça
sou a culpa
a decepção!

Sou o amor a vós.

23/05/2007
 
Apresento-vos as Minhas Desculpas

Trocar Lentes

 
Empresta-me as tuas lentes
Para que eu veja da tua forma.
Empresta-mas, troca comigo
Para ver se me vês como te vejo,
Para que saibas se te vejo como me vês.

21/03/2009
 
Trocar Lentes

Expectativa

 
Que me torna assim tão inválido?
Que me anula nas tuas expectativas?

Talvez nada,
Só eu, aqui entregue à mente desocupada.

Sou eu que me invalido
Na constante ideia
Gasta e recorrente.
Permaneço recolhido.

Faço investidas cá para fora,
Todos os caminhos me trazem
De volta a mim.

"Perdoa-me! Perdoa-me!"
- Peço-me.

23/07/2007
 
Expectativa

Poema Negro

 
Não é para ninguém ler,
Não é para ninguém...
É escuro e não se pode ver.

Ninguém vê
Que não está escrito.
Anda-me no cérebro
E foi proscrito.

Não é para ninguém achar
Que o escondo remoto em mim.

Se o escrever, rasgo-o, destruo-o
E atiro-o ao mar.

Para ninguém ver,
Para ninguém ler,
Para ninguém achar.

09/06/2008
 
Poema Negro

Fachada

 
Fiquei só...
As companhias arbitrárias
Potencialmente interessantes,
Fora do círculo em que estou
E este está cerrado
Apenas a mim, reservado;
Essas companhias foram-se.

Fiquei aqui na esplanada
Sem fazer nada,
Obrigado a focar outros aspectos,
E no meu grau de visão
Tenho múltiplas vistas,
Mas concentro-me apenas
Na fachada pouco trabalhada
Que estava já defronte
Ao lugar que escolhi
Mas nunca pertenci.

09/07/2008
 
Fachada

Abutres

 
esmorece o eterno conforto desta queda
ao ver mudado o alvo que me espera
Tinha por certo o aconchego
A que me permiti sentir
Agora, tenho estranheza
Tenho dúvidas se posso cair
Esta queda deixou de ser segura
Alguma amargura,
Devastação
Morte prematura do que me segura
Um corpo devastado numa planície devastada.
Carcaça no deserto.
Quem sou e onde estou?

13/05/2009
 
Abutres

Pontas Soltas

 
Pontas Soltas

O que escrever
Com tudo isto
Que me passa pelo cérebro?

Estou farto de todas estas drogas
Serotogénicas, hipnóticos, etc.
Saturado da sua inacção
E elevada proclamação.

O que me esgota
É a esperança no amanhã!
A minha alma não se renova
Como o fazem as de crianças.

Decerto possuem revitalização,
Pedaços de alma estaminais
Que a renovam
Após dores brutais.

Fixo-me na ideia monástica,
Fugir de tudo, do nada.
Deixar a vida plástica.

Há ideias recorrentes,
Insistentes, cansativas.
Há pensamentos trovejantes
De tempestades inexistentes.

Há também compulsões, projecções,
Identificações e outras,
Que não me lembro.

Há o desespero
De feridas mordidas
Que se impõem
Frente a qualquer coisa.

E há dores.
Oh! Que não se explicam.

Sou eu um pedaço de alma perdido?
Um dejecto abjecto
De uma propulsão estelar?

Onde me encontro?
Estou farto de buscar
Sem encontrar
Nada que se lhe assemelhe.

Ou a falta que sinto
(Não sei bem do quê)
Vem de um gémeo falecido
Ainda no ventre materno?

Posso também ter na minha vida
As estações trocadas.
No entanto ainda não passou o inverno.

Um diário!
Uma solução de despejo.
Vale a luta
E toda esta vida filha da puta
Vomitada nele?

Insurge-te de uma vez.
Gosto de extremos:
Temperança é invalidez.
Desloca-te de extremo a extremo
Ou extingue-te,
Cessa!
Quantas vezes to pedi?

Quero voltar,
Está permeado esse desejo em mim,
Mas nem sequer sei de onde vim.

Sou um turista perdido,
Amargo e mau amigo.

Tenho a tua tinta
Marcada nos interdígitos
Das minhas impressões.
Tenho-te também deslocada,
Mal colocada.
Assim não és!
Só mancha
Que o podias ser
De outra qualquer.

14/12/2006
 
Pontas Soltas

Químicos

 
Não és só dor.
Não o podes ser.
Todas estas drogas,
Químicos,anulam-na.

E o que sobra?
 
Químicos

A Grande Amante

 
Foste a pior das minhas amantes,
A que despendi mais que tempo para uma vida.
Foste a primeira e única, sempre presente.
Contigo traí todas as outras.
És veneno viciante,
Por muito distante que me encontre,
Encontro-te sempre, sinto-te.
Volto. Como volto sempre,
Eu nesse mundo fechado sobre ele próprio
Diferentemente comum a todos que te conhecem.

Talvez sejas uma Deusa, uma Deusa viva do amor,
Uma Afrodite (Vénus),
Ísis, Freya; um demónio,
Vampiro sedento.
Meu amor, quantas vezes te devia ter deixado?
Quão perdi por ti?
E o tempo que me roubaste
Quando brincavas com clausuras,
Atracção física, centro de gravidade.
Quantas vezes brincaste?

Foste a melhor das amantes,
Os sítios que tão bem conheço.
Não te conheço por inteiro,
Mas o que conheço,
Conheço mais intimamente
Que a mais ínfima chama que não ardeu por ti.

Foste a minha prisão, privação, isolação,
És de onde ainda é difícil fugir.
Amar-te-ei sempre acima das outras,
És algo que se traz cravado no corpo,
Uma certeza sem dúvida,
O sentimento permanente,
Como te amo, como me permiti amar-te assim?
Descontrolado,
Sempre teu, sempre...
Não morre este amor
Tão certo como a minha respiração,
Quem sabe, mesmo depois desta cessar.

Foste, és, serás.
Por ora tenho que te abandonar
(Mesmo no sofrimento da tua indiferença)
Vou-te deixando
Aos poucos
Que ressaco de ti.
Matas-me quando me alimentas
Na falta do teu veneno as células sedentas
Estimulam a dor
Que o cérebro distribui pelo corpo.

Meu amor, compulsão
Amas-me da mais estranha maneira,
Da forma que permiti que me amasses.

Meu amor, deixa-me buscar mais,
Deixa-me amar quem quero amar,
Alguém que irrompa as tuas fronteiras,
Que explore as tuas limitações.
Meu amor, ter demorado tanto tempo
Que eu mesmo te rasguei para sair.

Mesmo à tua indiferença
Digo, vou e amarei.
A ti voltarei; sempre.

13/07/2009
 
A Grande Amante

Vermelho

 
Em mim e no que me enleia
É tudo vivo, vermelho.
De um sangue tão vivo
Que tudo e todos permeia.

Um vermelho sujo de ira,
Preenchido de raiva
Que apanhei por aí.
Nasce em mim o Sol.

Põe-se em mim o Sol
E o vermelho é vivo,
Tudo é vivo aqui,
Em mim e ao meu redor.

De um vermelho tão doce!
E tão fogoso também!
Como se todo eu tivesse sido posto a arder
E todo eu sou, de repente,
Um sagrado coração.

Nada... Nada...
Nada!
Nada disto sou,
Sou tudo, menos isto!
Isto, emano, irradio.

Acabo por encontrar diminuto
Em evidência por se destacar de tudo
Um quase nada;

E um pouco mais de nada
Eu seria o vazio!

17/04/2007
 
Vermelho

Coração de Veludo

 
imagens fragmentadas
memórias confusas
já não sei porque escrevo

Foi o vermelho vivo
Do teu coração de veludo
Que me impeliu.

E tudo o que lhe quero fazer,
É corta-lo em pedaços
E atear-lhe fogo.

Agora significa apenas o que passou,
Não existe, extinguiu-se.
E não, não quero comiserações
Apenas destruir emoções.

06/10/2007
 
Coração de Veludo

Último Pôr-do-Sol

 
Último Pôr-do-Sol
 
... não vieste e o Sol está a pôr-se.

Esperei demasiado debaixo desta árvore
Vi folhas nascerem, caírem.
Não vi flor, nem fruto
Como um tu diminuto
Que nunca nasceu.

Debaixo da árvore
Encostado
Subida
Abraçada
Trepada (até ao topo)

De ti,
Nada.

... não vieste e o Sol está a pôr-se,
A tua memória não reza história
Morre, e morre sem glória
Que podia ter almejado.

25/02/2009
 
Último Pôr-do-Sol

Pinta-me Esta Noite

 
Pinta-me!

Molda o meu corpo, organiza-o, esculpe-o.
Prometo ficar sossegado
Nas constantes horas de trabalho
Para mostrares o que valemos juntos.

Pinta-me, tal qual o espelho,
De tal forma que fique impresso nele.
Mostra-me a arte
Que nos podes dar.

Modifica o espelho a gosto:
Cortes, retalhos, cores. sobreposições,
A óleo, acrílico, água, café...

Mas pinta-me esta noite.

23/07/2003
 
Pinta-me Esta Noite

Cacos Espelhados/Espalhados

 
Já é noite e as luzes estão apagadas,
Parece que já ninguém vive aqui,
Nesta "cidade" resguardada no centro.

A luz que emano
Não é do meu corpo humano,
Um projector por trás
De um espelho retorcido
Espelhando-me/Espalhando-me renascido
Nos cacos espelhados/espalhados de um vidro partido.

Cuidado menino
Com teus pés no chão,
Sei que és crescido,
Agarra a minha mão.

23/05/2008
 
Cacos Espelhados/Espalhados

Fé Esquizofrénica

 
Havia roupas espalhadas por mim.
Coberto, abandono.
Roupas jogadas, tapando-me;
Despejadas...
Delas veio o calor,
Insubstituível conforto.
Um conforto apertado,
Tantas pregas vincadas
Ah! Alma irada
Que ficas aí sem fazer nada!
Reboliça-te, atiça-te.
Acorda, discorda
da razão e da crença da razão de um coração.
 
Fé Esquizofrénica

C

 
E pó,
Ora diamante
E pó novamente
Nunca mudando a sua essência,
O básico elemento presente.

(Fénix Química) - 11/05/2009
 
C

Nulo

 
Nulo

Devolve-me a minha importância.
Apaga o que escreveste por cima dos meus escritos.
Não me anules a expressão.

E hoje! Oh hoje!
Espiralo numa cidade ocupada pelo desejo.
Hoje! Hoje! Hoje!

Vibro totalmente com apenas um sopro.

Não me apagues,
Não me esmaeças
Que eu trato disso.

Hoje só busco prazer!

08/06/2007
 
Nulo

Arqueio

 
Eu não queria, mas teve de ser.
Eu queria arquear-me sobre ti
E ser o teu abrigo
Mas o tempo desencontrou-nos.
Eu queria ter-te poupado a tudo,
Ou parte de tudo,
Mas não houve tempo.

Há tempo hoje, amanhã...
Para te aproveitar, apreciar,
Proteger se for preciso.

Hoje há tempo,
Não o faças ser ontem,
Nem amanhã.
Hoje é hoje
E hoje há tempo, espaço (tanto!)
E além disso, estou aqui.

Não vês a forma das minhas costas?
Encurvadas como que para me esconder.
Ao invés de as veres assim preparadas
Para te acolher.

Hoje é tempo!
Amigo,
Lamento não ter estado
Quando foi preciso.

07/08/2007
 
Arqueio