Poemas, frases e mensagens de RSérgio

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de RSérgio

Professor Licenciado na área de Lingua Portuguesa e Literatura, pela Univesidade Católica Dom Bosco.
Perfil é uma coisa complicada: se dizemos pouco, parece simplicidade presunçosa e insincera; se dizemos um tanto mais, parece vaidade e pedantaria.

RECEITA PARA UMA VIDA FELIZ

 
INGREDIENTES
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4 XÍCARAS DE LEALDADE, ISENTA DE DISSIMULAÇÃO.
5 XÍCARAS DE AMOR VERDADEIRO.
3 XÍCARAS DE AMIZADE, SEM OPORTUNISMO.
9 COLHERES (CHÁ) DE ESPERANÇA, SEM FALSIDADE.
8 COLHERES (CHÁ) DE TERNURA.
2 XÍCARAS DE PERDÃO SINCERO.
4 PARTES DE TODO O TIPO DE FÉ, MENOS A CEGA.
1 QUILO DE ALEGRIA.

MODO DE FAZER
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Coloque no fundo da alma o amor e a lealdade, misture com a fé até incorporar. Acrescente a ternura e o perdão, a amizade e a esperança; misture tudo delicadamente até ficar homogêneo. Depois polvilhe com alegria. Cozinhe com a luz do sol e sirva a vontade, nos dias quentes ou frios, em grandes quantidades. ®s
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
 
RECEITA PARA UMA VIDA FELIZ

CARTA DE UM LOUCO (5)

 
Querida,

Fiquei todo esse tempo sem lhe escrever porque perdi a memória nuns comprimidos que me deram. Agora ela voltou sozinha. O Doutor me disse que eu andava muito agitado e que precisava limpar minha mente e meu cérebro. Como ele fez a limpeza, até hoje não sei. O que não entendo é o que tem eu andar agitado com a minha mente... Eu sempre andei correndo!...

Aqui dentro não tem chovido, mas lá fora está inundado. O Noé da Bíblia, aquele que acha que o mundo vai acabar todos os dias, numa noite dessas, de chuvarada, trovões e relâmpagos; andava pelos corredores da clínica gritando:
— Está chegando à hora! Está chegando à hora!
Como ela não chegava e ele não deixava ninguém dormir, quem chegou foram os homens de branco. Trancaram o Noé na cela de doido varrido. Ainda bem que sou só maluco beleza. Agora o Noé, ta lá quietinho...

Antes das eleições, apareceu por aqui um sujeito barbudo e esquisito, todo mundo achou que era mais um paciente do Dr. Salvador, mas o que ele queria, mesmo, era saber quantos de nós tínhamos condições de votar; como eu não andava bem, por causa da memória, não consegui a licença para sair no ônibus do voto. Os malucos fizeram um lindo passeio e até lancharam de graça. Fiquei com inveja.

A ponta do meu lápis está acabando; a enfermeira não quis mais apontar para mim porque tenho de dormir, só a minha saudade de você é que não acaba.

Do seu Maluco Beleza. ®s
 
CARTA DE UM LOUCO (5)

A ALMA PENADA - Um Conto Popular

 
Conta-se que em uma cidadezinha do interior do Brasil, morava uma idosa e viúva senhora, em companhia de um chipanzé que ganhara nos idos tempos em que ela vivia no circo.
• Certo dia, essa senhora caiu doente, e a cada dia adoecendo cada vez mais, já não podia sair do quarto, sendo amparada pelas comadres da freguesia. Vencida afinal pela enfermidade e pela velhice, deixou à senhora este mundo, confortada com a comunhão e a extrema unção realizada pelo padre da paróquia.
• Enquanto as beatas preparavam as cerimônias fúnebres e rezavam os últimos ofícios pela defunta, o chipanzé, num canto do quarto, observava, com atenção, a tudo que se passava. As comadres amortalharam o corpo e o colocaram no caixão, veio o padre e, juntamente com a irmandade religiosa, realizou as cerimônias de costume: rezar os hinos e fazer as orações pela alma da defunta. Em seguida, o corpo foi levado para a igreja, que ficava próxima, para que se desse o velório.
• O macaco que durante a encomenda do corpo não dera um pio, mas observou tudo; agora voltava a atenção às coisas que o rodeavam. Começou a despejar as caixas, as gavetas e a examinar o que continham. Como tinha observado a defunta nos seus trajes, a forma como tinha a cabeça coberta pela mortalha, o macaco começou a se vestir com umas roupas velhas exatamente do modo que presenciara; a semelhança era perfeita. Cansado deitou-se na cama, jogou por cima de si o lençol que cobrira a defunta e ali se deixou ficar até adormecer.
• O velório prosseguia na igreja, quando uma das comadres lembrou-se de que, a falecida, havia lhe pedido para ser enterrada junto com bíblia dela. Então, as comadres retornaram a casa para buscar o livro santo. Quando entraram no quarto e viram o macaco amortalhado, fugiram aterrorizadas, pensando terem visto, na realidade, o corpo ou a alma da defunta. Na igreja, depois de tomarem água com açúcar e recuperado o fôlego, contaram que tinham visto a alma da falecida comadre repousando no leito onde estivera doente.
• A notícia se espalhou pela freguesia e foram todos para a igreja. Dois amigos, disseram que as comadres estavam “vendo coisas” e resolveram ir, juntos, ao quarto da falecida. Como a noite se aproximava, sentiram, apesar de demonstrarem indiferença, uma sensação desagradável, ao entrar no quarto. Aproximando-se da cama, viram, e depois ouviram, uma pessoa respirar; quando perceberam que a roupa se movia como quisesse saltar da cama, fugiram em debelada carreira até o interior da igreja.
• Chamaram o padre e o caso foi explicado. Quando soube do que se tratava, o padre pediu ao sacristão para lhe trazer a grande cruz de madeira, a bíblia e o vaso de água benta. Colocou a estola e julgando-se armado para afugentar o demônio seguiu com suas beatas para a casa da defunta.
• Entoando os sete salmos e orações, subiram as escadas; indo o sacristão, por ordem do padre, à frente do cortejo, com o crucifixo erguido. Quando chegaram à porta do quarto, apesar da água benta que o padre vinha espalhando, o cortejo se deixou ficar para trás, enquanto o valente sacerdote ordenava ao sacristão que avançasse. Foi o que ele fez, seguido somente pelo seu superior. Aproximando-se da cama viram o chipanzé amortalhado, como se fosse a alma da defunta. Murmuraram algumas orações, agitaram a cruz durante algum tempo e nada da alma ir embora. Com vergonha de recuar, o sacerdote começou a espalhar água benta em maior quantidade, gritando: “Vai-te embora satanás, vai-te embora...” e tacou uma bem servida porção de água benta sobre o macaco, enquanto o sacristão agitava freneticamente a grande cruz. O chipanzé temendo que fosse cumprimentado com uma pancada da enorme cruz, começou a fazer caretas e a guinchar de um modo tão macabro, que o vaso sagrado caiu das mãos do padre e o sacristão deixou tombar a cruz fugindo ambos na maior carreira. Tal era a pressa que caiu um por cima do outro e, rolando escada abaixo, estatelaram-se no piso da casa.
Ao ouvirem os gritos do padre: Jesus! Jesus!... As beatas, correram ao seu encontro, perguntando ansiosamente o que tinha acontecido. Os dois, estarrecidos, olhavam para elas, sem poderem prenunciar uma palavra sequer. Mas era só olhar para o rostos dos dois e saber a resposta. Por fim o padre teve força suficiente paras dizer:
• — É verdade, meus filhas, vi a falecida na forma de um feroz demônio!...
• Mal ele tinha acabado de pronunciar estas palavras, desce pelas malfadadas escadas, o chipanzé arrastando um lençol branco. E o resto vocês podem imaginar.
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• Este conto foi inspirado na obra de Matteo Bandello (1485-1561), escritor italiano. Muitos escritores famosos, que surgiram depois, em seus escritos foram buscar fonte de inspiração para seus textos, não escapando o próprio Shakespeare, que retirou assunto para Romeu e Julieta, Musset e Conde Barbarini.
• Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
• Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
 
A ALMA PENADA - Um Conto Popular

Carta de um Louco - 4

 
Querida,

Fiquei todo esse tempo sem lhe escrever porque perdi a memória nuns comprimidos que me deram. Agora ela voltou sozinha. O Doutor me disse que eu andava muito agitado e que precisava limpar minha mente e meu cérebro. Como ele fez isso até hoje não sei. O que não entendo é a relação de eu andar agitado com a minha mente. Eu sempre andei correndo!
Aqui dentro não tem chovido, mas lá fora está inundado. O Noé da Bíblia, aquele que acha que o mundo vai acabar, todos os dias; numa noite dessas de chuvarada, trovões e relâmpagos, andava pelos corredores da clínica gritando: — Está chegando à hora! Está chegando à hora! Como ela não chegava e ele não deixava ninguém dormir, quem chegou foram os homens de branco. Trancaram o Noé na cela de doido varrido. Ainda bem que sou só maluco beleza. Agora o Noé ta lá quietinho.
Antes das eleições, apareceu por aqui um sujeito barbudo e esquisito, todo mundo achou que era mais um paciente do Dr. Salvador, mas o que ele queria era saber quantos de nós tinha condições de votar; como eu não andava bem, por causa da memória, não consegui a licença para sair no ônibus do voto. Os malucos fizeram um lindo passeio e até lancharam de graça. Fiquei com inveja.
A ponta do meu lápis está acabando; a enfermeira não quis mais apontar para mim porque tenho de dormir, só a minha saudade de você é que não acaba.
Do seu Maluco Beleza.
 
Carta de um Louco - 4

SÃO CRISÓSTOMO, DAI-ME PACIÊNCIA...

 
Ontem fui agendar os exames médicos, de praxe, dos cardiopatas e peguei a maior fila que tenho lembrança nessa minha existência. Tinha-se a impressão que toda a cidade ficara doente.
Pois bem, lá estava eu, na fila e em meio daquele vozerio que mais parecia uma ladainha de procissão e, eis que me acode a lembrança um caso parecido e acontecido com Manuel Bandeira, que me ajudou enganar o tempo.

Contou-nos, Manuel, em Flauta de Papel (1957), que também estava numa fila daquelas, numa tarde de sol quente, como as tardes que temos enfrentado, quando passou por ele Alceu Amoroso (católico convicto), e lhe informou: — Hoje é dia de S. João Crisóstomo, cuja principal virtude era a paciência.

Foi água na fervura. Manuel se agarrou com o santo e, até chegar à boca do distante guichê, foi enganando o tempo a recitar mudamente uma improvisada ladainha, que também não hesitei em repetir (o que me veio à lembrança):

Meu São Crisóstomo, dai-me paciência para nesta fila aguardar a minha vez com humildade e bom humor.

Aliás, dai-me também paciência para aturar outras filas desta cidade duplamente superlotada, principalmente, a mais iludida de todas, a qual é a dos que ainda esperam melhores dias para o Brasil.

S. João Crisóstomo, dai-me, igualmente, paciência para não dizer um palavrão quando nas festas de aniversário começam a cantar o Parabéns a você.

Meu bom S. João Crisóstomo, dai-nos paciência para ler até o fim os jovens críticos desta geração, porque os poetas, alguns me parecem ótimos, mas os críticos são de amargar.

Meu S. João Crisóstomo, dai-me a paciência de sorrir aos que me procuram para pedir a minha opinião sobre poemas de sua autoria ou da autoria do diabo que os carregue.

E acrescentei:

S. João Crisótomo, dai-me muita paciência para agüentar a arrogância dos políticos e politiqueiros, o caos do trânsito à hora do rush, e outras calamidades.

Mas não me dê paciência para suportar o BBB!

Isso é demais! ®Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
 
SÃO CRISÓSTOMO, DAI-ME PACIÊNCIA...

A Palavra Levada Acério

 
Anúncio em uma igreja do Nordeste: “Quinta-feira às 5:00 haverá reunião do clube das jovens mamães. Todas aquelas que quiserem se tornar uma jovem mamãe devem contatar padre Cavalcante em seu escritório.”
• Salve-se quem puder!
 
A Palavra Levada Acério

NÃO VOU MAIS...

 
Não vou mais ser
o remendo de sua vida.
Vou ser
como um barquinho na enxurrada,
que se desprende,
que vai em frente,
para uma nova vida
de aventura.
 
NÃO VOU MAIS...

OS OLHOS DA DOR

 
Os olhos
que olhas
no espelho,
não são teus olhos;
são os olhos
da tua dor.
 
OS OLHOS DA DOR

ANATOMIA DE UMA DEPRESSÃO

 
Desde minhas lembranças mais remotas, eu já era propenso a inconstâncias de humor; oscilava entre os momentos de tristeza e a alegria. Na adolescência os períodos de melancolia se acentuaram; depois, quando adulto, passaram a pequenos e brandos ciclos depressivos. Supunha ser uma extensão de mim mesmo, ou seja, de meus entusiasmos, de minhas emoções intensas, de minhas leituras que envolviam sentimentos; até que numa manhã fria de julho, olho-me no espelho e não me conheço.

Vejo alguém vazio, mórbido, indiferente, entediante,
Alguém sem graça e sem vida.
Alguém estava naquele espelho. Mas esse alguém não era eu.

Minha mente era minha amiga. Estava acostumado a ter conversas intermináveis com ela. Tínhamos uma inesgotável fonte de riso e de pensamento analítico para nos salvar das situações entediantes e dolorosas. Agora, de repente, ela se voltava contra mim. Não considerava mais nada interessante, divertido ou digno de atenção. Meu raciocínio antes límpido ficou tortuoso. Eu lia o mesmo trecho de um livro repetidamente e percebia que não tinha nenhuma lembrança do que acabara de ler. A cada poema que lia ocorria o mesmo. Nada fazia sentido.
Passei a levar o dobro do tempo normal para caminhar até algum lugar. Não conseguia tomar sequer um banho. Andava até o banheiro contando cada passo e ficava, ali, olhando fixamente para o chuveiro; simplesmente não conseguia abri-lo. Minha noiva providenciou uma banqueta de alumínio e a colocou no box do banheiro; e assim, todos os dias, ela me banhava, enquanto minha mente vagava por um mundo desértico e árido.
Meu apetite sumiu. Sentia-me incapaz de comer qualquer coisa e odiava a necessidade de ter de engolir. Em cerca de um mês perdi mais de quinze quilos. Usava dias seguidos às mesmas roupas. Não as tirava nem para dormir; era uma tarefa muito difícil. Ficava sentado na cadeira de minha escrivaninha, no início da manhã e no final da tarde, praticamente inerte, com o coração morto e o cérebro vazio, não mais conseguia concentrar o raciocínio. Minhas idéias grandiosas de um mês atrás, pareciam, agora, absurdas e patéticas. O passado e o futuro foram absorvidos pelo momento presente. Não conseguia lembrar-me, claramente, de um tempo em que me sentia melhor, e, certamente, não conseguia imaginar um futuro em que estaria bem. Sentia o tempo todo, a necessidade de fazer alguma coisa, mas não conseguia; um desconforto para o qual não havia alívio não permitia. Sabia que algo estava terrivelmente errado comigo, mas não fazia idéia do que seria.

Como começou essa tristeza?
De que modo a adquiri?
De que matéria é feita?
Como acabará a minha vida?
Poderei encontrar meu caminho de volta?
Voltarei a minha escrivaninha, à cadeira e aos livros?

Todos os dias, acordava apavorado pelo que ia ter de enfrentar até que voltasse a dormir novamente. Toda a paz interior e exterior fora tirada de minha vida. Queria dormir até ficar bem.

Dorme-se e tudo morre. Morrem as aflições, morrem as dores.
Dormir era o fim dos males, era meu único asilo.

Quando nada mais fazia sentido em minha vida, ela chegou. Foi a primeira vez que vi a face da morte. Ela me seduziu. Dizia-me: Se tudo nasce para morrer, melhor morrer agora e evitar a dor que ainda está por vir. Na outra vida existe a possibilidade de se estar, se não feliz, ao menos em paz. Morrer também é dormir. Nada mais.

Estou perdendo o desejo e a vontade de viver.
Noite e dia desapareceram para mim.
Há dor...
Dor de dor...
Dor negra.
Das noites sem astros, das manhãs sem sol.

Devo viver assim toda a minha vida; dividindo, com esta angústia insuportável, meu dia e minha noite?
Que é melhor para minha alma: suportar as adversidades de um destino injusto ou opor-se a esta força impetuosa, dando-lhe
um fim?

Meus pensamentos estavam deformados e eu estava assustado e assustador. Idéias de suicídio ou morte freqüentemente acompanham a depressão.

Será que estou lentamente enlouquecendo?
Alguém pode me dizer o que aconteceu!
Nenhuma resposta!
Só ouço meus gritos mortos... Preciso de ajuda!

Muitas vezes, as pessoas não procuram tratamento para sua depressão porque a ignoram, porque não reconhecem os sintomas, porque têm dificuldade em pedir ajuda, porque se sentem culpadas, ou porque não sabem que existem tratamentos para a depressão.

Paciente com tendências suicidas intermitentes.
Paciente continua a apresentar sério risco suicida.
Paciente não aceita hospitalização porque tem pavor de ser trancafiado, não quer se afastar do ambiente familiar.
Desespero quanto ao futuro.
Paciente reluta em estar com pessoas porque acredita que sua depressão é um peso intolerável para os outros.
Com medo de sair do meu consultório.
Não dorme há dias.
Desesperado.
Sem esperanças.

Meu médico tentou repetidas vezes me convencer a internar-me num hospital psiquiátrico. Ele estava convencido que a eletroconvulsoterapia (ECT) era o único tratamento apropriado, no momento, para preservar minha vida. Recusei-me.
Eu não conseguia imaginar algo mais desumano. Tanto a internação quanto o tratamento. A idéia de ser trancafiado, de não ter acesso ao mundo exterior, de ficar afastado do ambiente familiar, de ter de freqüentar reuniões de terapia em grupo, de ter de suportar as invasões de privacidade, me apavoravam.

“ Eles possuem o terrível poder de lhe adormecer; e, durante o sono, roubam-lhe o pensamento, ou melhor, sua alma; esse santuário, recesso do Eu, lugar que julgamos impenetrável, refúgio dos indecifráveis pensamentos, de tudo que ocultamos, de tudo quanto amamos, de tudo que desejamos furtar aos olhos humanos. E eles a abrem, escancaram, não é isso algo atroz¹?”

Enfim fui convencido pelo meu médico, pelos meus familiares, pelos amigos e pelo próprio amor aos meus e a vida.
De chegada vestiram-me um pijama feito de um tecido muito parecido com aqueles usados pelos lutadores de arte marcial, com uma cor amarelada por cima do que um dia já fora branco. O jantar, item obrigatório, era às quatro da tarde. Vi pacientes em celas acolchoadas. Ouvi gritos e gargalhadas tão horríveis que deixariam envergonhado qualquer bom diretor de filme de terror.
Finalmente chegou o dia da terapia de choque. É um processo físico terrível, do qual não tenho a mais vaga lembrança. O médico que o administrava parecia ter saído de um dos círculos infernais de Dante e só nos faltava dizer: chegastes alma culposa!
Os tratamentos eram aplicados no subsolo do hospital. Todos os pacientes que seriam submetidos ao ECT, naquele dia, desciam até lá, nas profundezas do inferno de Dante. Usávamos, todos, roupões de banho e sentíamos-nos, ali enfileirados, como presidiários, só faltavam as correntes. Durante a espera, nos confortávamos, pois, todos estavam desesperados e aterrorizados.
Quando saí do inferno, tinha perdido completamente a memória. Ainda hoje não lembro das conversas que tive naquele dia. Nos dias subseqüentes não conseguia executar uma simples tarefa como dobrar um papel. Aos poucos tudo começou a funcionar melhor, porém, ficaram, para sempre, pequenas lacunas em minha memória. Mas foi o tratamento de choque que me salvou. A morte foi embora. Os momentos ruins foram suavizados e com os remédios comecei a melhorar; tanto que me foi permitido usar um lápis e ter um caderno e com ele um amigo: o Maluco Beleza.
Dois meses depois, quando as portas de meu refúgio foram abertas e poderia voltar ao meu mundo, uma expectativa me dominava: como me sentiria nele?
Caminhei relutante até a porta que dava acesso a sala de espera, lá estavam minha mãe e minha noiva; descemos juntos a escadaria e chegamos aos jardins que circundavam a entrada da clínica; quando vi aquele céu infinitamente azul, o colorido das flores e senti a brisa perfumada daquela manhã, não pude conter as lágrimas e chorei.

Naquele espelho,
Os olhos que via,
Não eram meus olhos;
Eram os olhos da minha dor.

Naquele espelho via uma criatura que não conhecia,
Mas com quem deveria conviver e dividir minha mente;
Até que ela fosse embora.

EPÍLOGO
A depressão é apavorante demais, e por mais que eu tente descrevê-la, ela não cabe em palavras sons e imagens. Ela lhe tira a capacidade de aproveitar a vida, de caminhar, de conversar. Ela lhe tira a paz através dos terrores noturnos, e dos diurnos. Não há, por mínimo que seja, algo de bom que dela se possa dizer. Outras pessoas insinuam que sabem o que é estar deprimido; elas podem até achar, mas não sabem. Só quem passou por ela, que viu sua face, sabe como ela é: insuportável. No entanto, ela me ensinou a apreciar mais à vida, a aproveitar mais o meu dia. Ensinou-me a enxergar o que há de melhor e de pior nas pessoas. Mostrou-me os valores da família, do afeto, da amizade, da lealdade e de ir até o fim. Conheci os limites de minha mente e de meu coração, e percebi como os dois são frágeis. Não posso, dentro da minha normalidade, imaginar, sequer, que um dia me torne indiferente à vida, porque sei o quanto ela vale.
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1 – Baseado em um trecho de “O Louco de Guy de Maupassant.
Esse texto contem uma opinião extremamente pessoal; assim deve ser encarado,e nada mais, além disso.
 
ANATOMIA DE UMA DEPRESSÃO

CARTA DE UM LOUCO (7) - O Que o Diabo me Contou

 
Querida,

Não faz muito tempo, o hospital recebeu um novo paciente; uma figura incomum. Alto, muito pálido, moço, mas com essa mocidade de quem já viveu bastante. Usava um gorro preto que nunca tirava da cabeça. Vestia-se, também, sempre de preto.
Pouquíssimo tempo após sua internação fez-me seu amigo, assim, passei a conhecê-lo mais intimamente.

Disse-me ao se apresentar, em um portitálio, que era o diabo em carne e osso. Como aqui, conforme você já verificou, tem desde o Filho de Deus até o líder nazista Hitler; é claro que não o levei a sério; embora, ele tenha criado um clima diferente, pois não tínhamos nenhum diabo.

Perguntei-lhe por que, ele sendo o diabo, tinha se internado em um hospital de malucos. Confessou-me que estava um tanto depressivo, porque estava perdendo o interesse pelos seres humanos; pois, os comprava por pouco, e valiam cada vez menos. O trabalho de tentar os seres humanos ao pecado tornara-se desnecessário; os homens pecavam por si mesmos, natural e espontaneamente, sem a necessidade de convites. E isso o estava tornando um inútil.

Apesar de toda a sua maluquice, sua conversa era das mais agradáveis, comparada as que costumava ouvir antes da internação do diabo. Também, não posso negar que ele tem ótimo conhecimento da sordidez humana.

Certa ocasião contou-me que tinha perdoado “aquele que o condenou e o expulsou, porque não tinha muitas razões de queixa. Lá no seio celeste, ele se deprimiria muito mais. Após deter-se, alguns instantes, como dominado por algum pensamento (notei uma profunda ruga ao centro das sobrancelhas), disse-me que no lugar do Criador, teria condenado os rebeldes a uma pena muito mais terrível.

Em outra ocasião, encontrei-o na sala de recreação lendo um livro de capa negra e rindo consigo mesmo. Mal me viu, fechou o livro e foi explicando que conhecia há séculos aquele livrinho, a Bíblia; e que a relia de quando em quando os primeiros capítulos do Gênesis, porque tinha, ali, um papel importante, que lhe fazia sentir-se, além de soberbo, vaidoso. Bem Ao contrário do papel que tinha nos dias de hoje. Só lastimava que a história da tentação tivesse sido tão alterada; descaradamente falseada pelos historiadores, que tiveram escrúpulos de citar com demasiada freqüência o nome dele e deixaram na obscuridade algumas das suas melhores façanhas. De modo que a estava reescrevendo e logo, logo publicaria uma edição correta e aumentada da Bíblia.

Depois me segredou que nunca dissera aquilo a homem nenhum, a não ser a mim. Esta foi à última conversa que tivemos, pois, no dia seguinte, não o encontrei mais no hospital.

Disse-me, a chefe da enfermagem, que ele era o escritor italiano, Giovanni Papini, nascido em Florença, e que fora transferido para o hospital psiquiátrico de lá. Fiquei sabendo também, que ao escrever sua grande obra “O Diabo”, endoidou e se convenceu de que era o próprio.

Diabo ou não, a verdade é que Giovanni deixou uma melancólica saudade das conversas no cair da tarde, que somada a que tenho de você, não há remédio que alivie.

Muito seu,
Maluco Beleza.
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• Neste texto, parodiei Giovanni Papini (1881-1956), com a intenção de homenageá-lo. A minha admiração por ele e por sua obra me impuseram essa obrigação. Giovanni exerceu notável influência no mundo das letras; é senhor de uma notável bagagem literária. Tanto seus romances como seus contos são impregnados de discussões filosóficas, especialmente no campo religioso. Cego, e paralítico, esse gigante das letras ainda encontrou meio de se comunicar com o mundo (com a ajuda de uma dedicada neta). Entre suas obras se destaca a mencionada no texto; é justamente seu último livro.
• Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
• Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
 
CARTA DE UM LOUCO (7) - O Que o Diabo me Contou

MOSCA BÊBADA SAI DO ARMÁRIO

 
Descobri algo que me deixou pasmado e, com certeza, vai afastar-me, para sempre, da companhia dos amantes de uma boa cachaça. Vejam:

Cientistas da universidade do Estado da Pensilvânia, para entender como o álcool atua no sistema nervoso, resolveram embriagar as moscas-das-frutas, conhecidas cientificamente como drosófilas, um dos organismos mais propícios a experiências de laboratório.

Como eles realizaram a experiência? Trancafiaram as inofensivas mosquinhas dentro de uma câmara de plástico apelidada de bar das moscas (em inglês flypub) e tacaram dentro da câmara vapor de álcool. Pois foi aí que aconteceu o inimaginável. As mosquinhas (machos), completamente bêbadas, ficaram grandemente excitadas e... atacaram furiosamente as fêmeas. É o que se esperava, não é mesmo? Porém não foi isso que aconteceu.

"Ababacados", os cientistas viram com seus próprios olhos (desculpe a redundância) os machos se cortejarem, ou seja, passaram a fazer, mutuamente, aquele convite indecoroso que normalmente fazemos só para as mulheres. Pior, chegaram a formar "trenzinhos", um subindo sobre o outro.

Passada a bebedeira, os machos voltaram a acasalarem normalmente, isto é, com suas parceiras. Mas... a caneca já tinha sido virada... ou algo semelhante.

Pois bem, os cientistas concluíram que o álcool afeta da mesma forma o sistema nervoso dos seres humanos e das drosófilas.

Salve-se... Quem puder!

Se eu fosse você, meu amigo, largava, agora mesmo, de tomar aquele chopinho com a rapaziada. Ou faça como eu, que estou tomando minha cachaça somente em companhia da minha parceira e em lugar reservado. ®Sérgio.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), faça a gentileza de avisar-me.
 
MOSCA BÊBADA SAI DO ARMÁRIO

CARTA DE UM LOUCO (8) - A Pantera

 
Querida,

Um dia, e isso já faz tempo, eu ainda era garoto, vi numa pequena jaula de um circo, uma pantera negra. Ela caminhava de um canto a outro da jaula, incessantemente, seguindo com matemática exatidão, uma linha invariável e virando, a cada vez, na mesma barra. A cada virada, seus pelos negros possuíam estranhos reflexos dourados.

Sua jaula era colocada à frente da entrada do circo; para chamar a atenção do público. Desde manhã até a noite, uma multidão se apinhava diante da jaula; gritavam, resmungavam, mas a pantera em sua patética caminhada, com o focinho abaixado, olhava direto diante de si, sem nunca voltar-se a multidão. Alguns espectadores sorriam, mas a maior parte, como eu, olhava sério, quase triste, aquela imagem viva de um infinito desespero.

Aquela imagem ficou gravada para sempre em minha memória. Sempre que algo não ia bem à minha vida, eu me lembrava da pantera; o que poderia ser pior do que a vida daquele magnífico animal, encarcerado para sempre em uma jaula pouco maior que o tamanho dele?!

Hoje eu acho que aquela visão me marcou, porque havia algo de comum entre o meu destino e o da infeliz pantera. Pois, agora em minha jaula de tijolos, eu também me tornei igual a ela.

Todos aqui são panteras enjauladas. Dia após dia, caminham de um canto a outro do corredor, seguindo sempre uma única direção, sem se importar com o que se passa a sua volta.

Minto!... Nem todos são panteras enjauladas. Há aqueles que abandonados pelos que o colocaram aqui, sozinhos, a mercê do destino, perderam qualquer esperança de dias melhores. Deixaram de caminhar e permanecem sentados, enfileirados, imóveis, mudos, sem um gesto, sepultados até os ombros nos sofás, poltronas e cadeiras do salão; como se todos fossem sombras do nada! Nada do nada!

Eu também caminho. Caminho e penso: “Enquanto você existir em minha vida, vou continuar caminhando de um canto a outro do corredor; não vou me sentar, porque você é a esperança, a minha esperança”.

Do sempre seu Maluco Beleza.
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
 
CARTA DE UM LOUCO (8) - A Pantera

DEPOIS...

 
DEPOIS...
A visão vai embora
e tudo leva.
Vem o vazio.
Ouço, porém à sombra
do meu jazigo,
Agonias distantes,
gritos mortos.
 
DEPOIS...

REFLEXÕES (Sobre um Deprimido)

 
Podemos encontrar, na História da Humanidade, muitos homens célebres que sofriam de depressão. Porém, destes, raros foram os que nunca se renderam totalmente ao seu desespero de deprimidos.
•» Falo de Paulo VI, um singular deprimido, que como poucos, teve do mundo e dos homens uma visão tão angustiada e ao mesmo tempo cheia de esperança. Não muito tempo antes que a morte o levasse num fim de uma tarde de verão, fez sua última anotação:

“Esta vida mortal, apesar das suas preocupações, dos seus mistérios obscuros, dos seus sofrimentos e da sua caducidade fatal, é um fato belíssimo, um prodígio sempre original e comovente, um acontecimento digno de ser cantado em «prosa e verso»¹.”

Esta anotação traz-me a lembrança um trecho do poema "Em Deus, meu Criador" de José de Anchieta² que, a bem da verdade, serviria a Paulo VI:
..........................................
Contente assim minh'alma, do doce amor de Deus,
Toda ferida,
O mundo deixa em calma,
Buscando a outra vida,
No qual deseja ser
Absorvida.
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1- Inserção feita por mim. No original está escrito: “em alegria e glória”.
2- No poema "Em Deus, meu Criador", Anchieta traduz a sua visão do mundo arredia em relação aos bens terrenos.
• Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário.
 
REFLEXÕES (Sobre um Deprimido)

Sou Escrevedor

 
Faço letras,
Faço palavras,
Faço até versos.
São bons?
Não são?
Que me importa,
São meus.
Faço à máquina,
Faço à mão,
Faço até no chão.
São bonitos?
Não são?
Que me importa,
São meus.
Faço com amor,
Faço com calor,
Faço até com dor.
São verdadeiros?
Não são?
Que me importa,
São meus
R.Sérgio
 
Sou Escrevedor

OUTONO...

 
Declina o sol no horizonte...
Alongam-se as sombras...
O vento rodopia pelas árvores...
Caem as folhas murchas...
É outono...
Perde-se na penumbra o contorno das coisas...
Paira no espaço uma paz imensa...
Anoitece.
A solidão é quase completa.

Aprendi com meu pai a apreciar, sobretudo, a solidão e o silêncio que reinam na natureza, quando o sol se põe. Nestas horas de mistério e calma, passadas a sombra de nosso arvoredo, surpreendemos os segredos da noite, os gemidos das arvores e os amores dos pássaros.
E fui infinitamente feliz.
 
OUTONO...

EU TENHO UM DOM

 
Eu tenho um dom;
O dom da superação.
Superei a dor da saudade,
Nos meus anos de internato.
Superei a dor da tortura,
Nos meus anos de ditadura.
Superei a dor da depressão,
Nos meus anos de solidão.
Superei a dor do coração,
Nos meus anos de hospital.
Superei a dor da ignorância,
Nos meus anos de professor.
Mas acho que não vou superar
A tua inveja,
Nos meus anos de escritor.
 
EU TENHO UM DOM

A PALAVRA LEVADA ACÉRIO III

 
MANCHETES E NOTAS CURIOSAS EM JORNAL:

"FERIDO NO JOELHO, ELE PERDEU A CABEÇA."

"ESTE ANO, AS FESTAS DO DIA 4 DE SETEMBRO COINCIDEM EXATAMENTE COM A DATA DE 4 DE SETEMBRO, QUE É A DATA EXATA, POIS O 4 DE SETEMBRO É UM DOMINGO."

"A POLÍCIA ENCONTROU NO ESGOTO UM TRONCO QUE PROVÉM, SEGURAMENTE, DE UM CORPO CORTADO EM PEDAÇOS. E TUDO INDICA QUE ESTE TRONCO FAÇA PARTE DAS PERNAS ENCONTRADAS NA SEMANA PASSADA."

"UM SURDO-MUDO FOI MORTO POR UM MAL-ENTENDIDO."

"OS NOSSOS LEITORES NOS DESCULPARÃO POR ESTE ERRO INDESCULPÁVEL."
 
A PALAVRA LEVADA ACÉRIO III

TEM GARANTIA DE FÁBRICA

 
Dia desses resolvi trocar meu velho teclado por um mais moderninho. Fui até o centro comercial de importados, que aqui chamamos de “camelódromo”. Reúne cerca de uma duzentas lojinhas de importados. Um bom teclado que numa loja convencional custa cerca de oitenta reais, no camelódromo podemos comprar por vinte, com a mesma qualidade e marca. É claro que há os produtos de segunda linha, os falsificados, mas com uma observação mais detalhada, podemos diferenciar os de primeira dos de segunda.
Após conferir em algumas lojas os teclados em oferta, encontro o que procurava. Fiz alguns testes rápidos e confirmei que era de boa qualidade. O vendedor diante de meus questionamentos e na afobação de me vender o teclado, me sai com essa: “tem garantia de fábrica”! Imagine um teclado que sai lá do outro lado do planeta, e sabe-se lá como chegou à mão de um muambeiro, me dando garantia de fábrica. Ora bem, só pode ser uma mentira deslavada!
Mas essa é uma, das muitas que ouvimos, quando saímos à rua. Anotei algumas que ouvi recentemente. E possível que você também já tenha ouvido algumas delas:
• Do ambulante que comprei um jogo de pilhas para o pen drive: “Qualquer coisa, volta que a gente troca”. O difícil seria adivinhar em que esquina ele estaria.
• De uma ex-aluna desiludida com o rompimento do noivado, que a causalidade nos colocou lado a lado numa esquina diante de um sinal vermelho, para pedestre: “Não quero mais saber de homem”! Lembro-me quando seu noivo, que também foi meu aluno, disse-me, certa vez, abraçando-a: “Casaremos o mais breve possível”!
• De um atendente de uma loja de sapatos (o sapato que eu queria ficou um tanto apertado, e acima daquele número não havia mais): “Depois ele (o sapato) alarga no pé”! Fiz até uns versinhos para ele:
Ó sapato... aperto sem zelo,
Bem no meio do passeio,
No dedo esquerdo,
Vermelho,
Um calo.
• De um amigo, que me encontrou, casualmente, no bar do Shopping: “Tenho de ir embora, pague minha parte que depois acerto contigo”! Fique sabendo, meu amigo ou minha amiga - quem empresta, adeus!
• De uma ex-colega de cátedra que, por acaso, encontrei no mesmo Shopping, logo depois que sai do bar: “Você está cada vez mais jovem”! Pois é, este ano, faço sessenta.
• Da filha do meu cunhado, no aniversário dela, ao receber o presente: “Não precisava de presente (já o abrindo)!... Sua presença é mais importante”!
• Do meu filho, de vinte anos, avisando pelo celular: “Antes das 22 horas estarei em casa”! Numa sexta, à noite, daria para acreditar?
E tem aquela eterna mentira, do cara-de-pau do dentista, que ouvimos desde a infância: “Não vai doer nada”! Já ia me esquecendo a do farmacêutico, na hora de injeção: “É só uma picadinha”!

Salvem-se, delas, quem puder!
 
TEM GARANTIA DE FÁBRICA

MATIAS, O BOM DE BICO

 
Sábado, durante o costumeiro bate papo com os amigos, no café ao lado do sebo que freqüentamos, contaram-me uma história que gostei; porém, quem me contou, não lembra mais onde a leu. Com a devida licença, conto para vocês, mas vou logo explicando que tive de passar da oralidade para o texto, não inventei nada, mas usei minhas palavras.

Matias, um moreno alto, forte, razoavelmente atraente, e não estava “nem aí” para a sua cor. Era tão bom de lábia que casado com uma mulher branca, arrumou também uma amante branca.

A mulher legítima não era de sair muito de casa, nem dada a badalações. Um cineminha de vez em quando e ficava satisfeita. Assim, Matias tinha todo o tempo livre para a amante, a qual vinha, ultimamente, dando preferência.

Mas, como toda casa um dia cai, a legítima ficou sabendo do enrosco de Matias com a outra. Furiosa resolveu dar “uma batida” no apartamento da segunda para pegar o Matias no flagrante.

Apertou à campainha, a porta entreabriu-se - protegida por aquela popular correntinha na altura da fechadura - e meio rosto feminino aparece. Nem deu tempo da legítima formular aquela célebre pergunta, a porta fecha-se. A ilegítima corre e avisa o amante da inoportuna visita. Matias, de cueca e desesperado, corre para lá e para cá, a procura de algum lugar para se esconder.

Enquanto isso, a amante vai novamente atender a porta. A legítima sem mais esperar partiu para a ofensa. A outra percebendo que a coisa ia esquentar - ou melhor, ferver - sugeriu fazerem o ajuste de contas fora do edifício, na pracinha, ali perto. Assim, evitava um escândalo na porta do apartamento, e dava ao Matias tempo de escapulir. Ao chegarem à rua, dobraram à direita e tomaram a direção da praça.

Matias percebeu o silêncio no apartamento e concluiu que era hora de “cair fora”. Na porta do edifício espiou a um lado e outro, não viu as mulheres. Consultou a intuição, para a esquerda? Para a direita? A intuição respondeu que para a esquerda. Mas ele pegou a direita e foi cair na boca do lobo. Ou melhor, das lobas, pois, deu de cara com as duas mulheres, num baita bate-boca.
Ao verem o autor da confusão em plena fuga, vieram “pra cima dele”, tomadas da maior indignação.

Foi aí que Matias usou de uma saída fenomenal, dizendo-lhes reprovativamente e com muita calma:

— Mas vocês..., duas brancas..., brigando por causa de um preto!

E caiu fora. ®s
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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário.
Se você encontrar erros (inclusive de português), por favor, me informe.
 
MATIAS, O BOM DE BICO

RSérgio