Poemas, frases e mensagens de MiguelVeiga

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de MiguelVeiga

E se...

 
De repente, quando as mãos calam e a vida passada não conta histórias que valham a pena,
notas os ponteiros do relógio parados em cada ruga tua…
Sentes em vão os sonhos dos 10, dos 20, 30, 40…
Tentas desesperadamente encontrar um olhar que se cruze com o teu na multidão,
mas esses olhares já não abraçam, muito menos beijam!
Apenas circulam, dopados, extasiados em doses excessivas de uma Tecnologia que não ama nem odeia, apenas é…
No bolso do casaco velho que te abriga, transportas a foto amarrotada da tua paixão de escola.
O teu “…e se?...”
que vai dando alento mesmo quando tudo o resto parece vacilar,
mesmo quando a cidade escurece mais vezes e mais rápido do que devia…
Analisas uma e outra vez a tua fórmula de vida,
o teu esforço de “ser” e não entendes o que possa ter sucedido…
em que momento terá a engrenagem engolido o teu projecto de mudar o mundo…
onde estará ela agora…
onde será que se escondem as horas que nunca lhe dedicas-te…
Perdes tempo em contas, teorias e devaneios, enquanto do outro lado da cidade ela acorda e adormece todos os dias com a mesma pergunta reflectida nos olhos húmidos cor de solidão... “…e se?...”…
Amaldiçoas o que és…
e manténs-te sem saber ou haveres notado que há poucos dias enquanto circulavas de olhos no céu a questionar o mistérios da vida e ela de olhos postos no chão procurando adiar a morte que é viver todos os dias…
Quase se tocaram numa esquina qualquer…
Tal é a tua pequena vida que nem viste as sombras abraçadas e as mãos unidas numa dança que durou até ao momento em que lentamente se afastavam, restando os dedos num adeus que apenas se entende por ser fim de tarde, fim de vida e meio de coisa alguma…
Talvez amanhã decidam ambos passar numa mesma esquina qualquer,
decidam ambos pensar numa mesma coisa qualquer e sem acaso algum permitam que os olhares se cruzem…
Até lá…
enquanto ela apaga a pequena vela que acende por ti todas as noites,
remanesce-te olhar a cada noite a estrela que lhe dedicas-te sem que soubesse e perguntar…
“..e se?”…

MiguelVeiga
 
E se...

É para ti...

 
É para ti que escrevo esta noite…
Talvez nunca venhas a saber…
É do teu cheiro… do teu sabor a cada manhã que me alimento,
ainda que não conheça as suas cores,
não tenha traçado todas as parábolas possíveis desta distância infiel;
Não li nunca o som das tuas palavras ou medi a distância dos passos com que te aproximas;
Apenas sei, e tu também sentirás…
Uma espécie de qualquer coisa que parece faltar…
Quando voltas e revoltas de noite e as tuas mãos agarram os lençóis numa forma de sentir desesperada que mais ninguém conhece a não ser tu e eu…
É aí que estamos os dois,
espécie de limbo entre bem e mal, deus e diabo, ódio e amor…
Desconheço a tua forma mas vejo-te a cada segundo como se dentro de mim estivesses… nunca houvesses saído…
E sei que sentes o mesmo…
a crescer-te no peito…
sem poderes controlar…
mais forte do que quiseram que acreditássemos…
ou pensaram podermos…
Somos nós esta incerteza…
insatisfação…
uma espera desordenada aparentemente inútil…
mas a única certeza a que nos agarramos quando as paredes se alargam a ponto de sufocar…
É sobre ti que escrevo esta noite e sei que tu também…
Não o precisaremos de ler…
está-nos vestido…
por vezes colorido a cinzento e negro…
magia a que chamo espera…
certeza de assim ter de ser…
A minha e a tua vida…

MiguelVeiga
 
É para ti...

Adeus

 
Segue sangue, drena vida…
Soma morte, chora destino,
Este é o pão que o diabo amassou, o vinho que nos fazem beber…

Nega sorte, chumba desejo…
Engana momento, acelera estrada…
E naquela curva nos encontraremos.

Reza amigo, desiste amor,
Promete companheiro, resiste crente…
Naquela caixa me vais lamentar…

Traça linha que te faz pensar, esquece certeza que te faz desistir,
Ignora momento que sentes vivo,
Parábola que traças sem pensar,
Sonho que sonhas sem ser teu…

Nada disse, nem pude fazer,
Agora,
Adeus…

MiguelVeiga
 
Adeus

O Louco

 
Correra naquele final de dia para se abrigar da chuva, como se não fosse ainda de manhã e ainda Verão…
Debaixo do braço levava um jornal de ontem, e na mão um papel onde anotara os sonhos de amanhã…
Fingia ter um plano, saber para onde ia, mas lugar nenhum a que chamar casa,
Exibia um sorriso que parecia parido do sonho de um louco…
E em volta acenava a quem quer que com ele se cruzasse como se fosse importante… mas não tinha sequer um nome…
Os olhos, eram tão vagos como a vida de qualquer um… mas não era ninguém em especial;
Na outra mão, um conjunto de chaves que jamais serviria em porta alguma;
Ao mesmo tempo que um dia exibia uma perturbadora vontade de cumprimentar, o comboio hesitava no apeadeiro,
piscou-me o olho,
E desapareceu para sempre…

MiguelVeiga
 
O Louco

Esquece

 
Esquece… baralha, rebola e some;
Enegrece, enrola, mastiga e engole;
Sem pia verdade nem mentira que sustente,
Embrulha-me esse sorriso, devolve-me ao ouvido
Nem tudo faz sentido…
Palhaço triste sem plano,
Soubeste que se rasgou o pano?
Cospe tudo, perdeu o sabor
Neste tempo já sem amor…
Perdidos no tempo
Foi tudo um contratempo…
Não lamentes
Só quebraram as correntes
Cerra os dentes e navega
Carrega, escorrega e entrega…
Essa tua mentira de uma vez… como se fosse a primeira vez…
Foi a última vez…
2013/04/11
MV
 
Esquece

Se eu Morrer (ao meu eterno Avô)

 
Se amanhã fosse morrer,
Seria este o meu adeus...

Que de todos fosse apagada a minha memória...
Para não sofrerem o que por eles sofro !

Que em minha casa florescesse um jardim encantado,
Cheio de sombras, gargalhadas e cores,
Onde pudessem mergulhar
E sentir o que por eles sinto !

Que a seus passos pudesse a minha dança ser oferecida,
A seu paladar os sabores que provei...
... e a suas almas o que desejei para a minha...
para que soubessem que nunca quis que mudassem...

Se amanhã fosse morrer,
seria este o meu adeus...

a forma possível de a todos dizer que sou o seu conjunto,
e que por aqui permaneceria,
fruto de tudo o que são, pensam e sentem...
... Eternamente !

MiguelVeiga
 
Se eu Morrer (ao meu eterno Avô)

uma vez mais

 
As minhas mãos rodopiam…
Entornam-se no vazio,
Dos dedos saem estrelas com que pinto as ausências…
Todas as presenças… a cor de vinho e fogo…
E sorrio como um louco que esquece quem é!
Um só piscar de olhos, a tal vénia
E de novo me encontro
Todos os dias de todos os anos de toda a cidade, de todo este pequeno mundo…
…fluem de forma tão ordenada que deixam de ser notícia
e tornam-se tão banais que já não preciso de os entender…
…visto a minha camisa negra,
E decido lançar os dados uma vez mais…

MiguelVeiga
 
uma vez mais

Momentos II

 
Abrira as portas, as janelas e por fim o seu coração;
Em gestos serenos havia separado cada palavra e preparado o caminho;
Sentira que sim, não havia porque não…
Pensativo e espalhado no chão da sala procurava o que não fizesse sentido;
Mas tudo parecia certo, mais forte que a existência, mais leve que o passado…
… Onde arrumara tudo o que pudesse atrapalhar o caminho…
Sempre cedo, tarde demais…
Achava ter asas no lugar dos braços doridos, e um apelo que não deixava dúvidas…
E então deixou-se cair, redemoinhar com um sorriso nos lábios
Amou uma e outra vez sem culpa nem pressas…
Houvesse tempo que o pudesse medir.
Encalhou em mentiras e desculpas, pequenas pílulas da aparente felicidade;
Tão fugazes como um beijo roubado, ou o seu peito breve…
E chorou como quem chora,
Derramou na almofada o rio que lavou a cegueira dos seus olhos…
…e finalmente percebeu que afinal na contagem dos minutos da vida…
Também os momentos podem ser enganadores

2009/08/31

MV
 
Momentos II

ÚLTIMA LÀGRIMA

 
Brindo então a isto, a isso e àquilo…
Brindo ao primeiro beijo, porque nunca aconteceu um último;
Brindo à noite e à embriagues que nos apresentou a nudez,
a primeira lembras-te? Parecia tão certo…
Brindo ao amanhã ligo-te e ao conta-me quando deixares a magia fugir;
Nunca chegou a fugir, foi chegando devagarinho como quem quer ficar…
Brindo a mim e a ti, porque foi só o que importou naqueles breves momentos…
…entre o adormecer e o acordar;
Brindo às velas, às músicas e ao vinho que em demasia bebemos;
porventura deixámos;
aos segredos e às certezas, ao lugar e à hora marcada;
Ao café amargo de cada manhã, que nunca terminavas, como tudo na tua vida…
Brindo ao cabelo preso e aos perdidos pelo chão quando as mãos arranhavam…
Em que continuo a tropeçar;
Às fotos da nudez que permanecem gravadas na memória, nunca sairão…
A cada manjar e à fome de ti a que o jejum obrigava…
A cada mentira… as minhas e tuas… porque a mim menti também de cada vez que fingia acreditar…
Brindo a cada ida e cada regresso, quando em silêncio engolia em seco e forçava o sorriso triunfante de quem te possui…
Brindo à forma que deixaste na almofada, ao cheiro espalhado da ausência…
Brindo a cada noite em que me viro procurando teu corpo magro… continuo a procurar…
Brindo porque te vi a alma nua numa epifânia desgraçada de anjo caído… e gostei…
Brindo àquela lágrima que bebi… poção mágica da minha certeza;
Brindo então a ti e a mim, pelo que fomos e pelo que podíamos ter sido se o relógio não teimasse em enganar o tempo… os tais momentos…
Brindo ao fim da praia, às ondas que me encorajaste a abraçar;
Brindo ao até breve e ao amo-te que sustentam que podia bem ter sido verdade;
Brindo ao jogo perigoso que insistimos em praticar… uma e outra vez à nudez…
Brindo a cada sorriso com que te mostrei ao meu mundo… com que aprendi a gostar do teu…
Às fotos de quem nunca conheci… porventura reconheci…
Brindo uma vez mais à embriaguez que por ti abandonei…
Brindo aos planos que nunca disso passaram…
Brindo às manhãs em que falavas pelos cotovelos… sentia-te feliz… minha mulher…
Brindo a cada canto do sofá, à pressa em amar e até à falta dela…
Brindo a cada engano, fui eu quem deixou… fui eu quem quis…
Brindo a todas as coisas que descobri… tantas que esqueço por ti…
Brindo quando em surdina sussurro teu nome por engano em momentos alheios…
Quando fecho os olhos e recordo o teu sorriso a instruir-me na arte de percorrer teu corpo…
Brindo às línguas que faiscavam depressa demais, às mãos lentas que haviam perdido a pressa…
Brindo, é certo ao engano… mas acima de tudo ao desengano…
Brindo ao inicio porque nunca houve um fim…
Brindo aos segredos que escondo nesta casa… meus e teus…
Brindo às promessas ditas na pressa de quem quer acreditar, a cada sabor que só eu e tu conhecemos…
Brindo uma ultima vez ao até já, que sabemos pintado de nunca mais…
Brindo ao grito silencioso que irás arrancar da noite quando a tua alma de novo se revelar nua… e eu não estiver para a chamar pelo nome… que só eu conheço…
Brindo do princípio ao fim… e irei continuar a brindar para lá disso…
Brindo à tua e à minha lágrima…
…a que verto no exacto momento em que decido ser a última…
No exacto momento em que termino “este” brinde…
2009 MV
 
ÚLTIMA LÀGRIMA

Entre Ódio e Amor

 
A pouco-e-pouco foi baixando expectativas
Entregou-se ao cinzento dos dias de Inverno,
Que pareciam não terminar…
Abraçava a certeza de uma refeição quente e de um lugar confortável
Junto à lareira… Que já não aquecia nem iluminava
Estava apenas la para recordar qualquer coisa sobre alguém….
Que por ali num dia incerto de neve passara,
Memórias turvas e dispersas…
Cálices negros, lágrimas que esqueceram…
Aconteceu a vida, ali para os lados dos subúrbios….
Num qualquer apartamento com vista para os prédios…
Cheios de gente, vazios de pessoas…
Já não fazia qualquer sentido procurar sentido para o que nunca terá…
E redundava entre os ocasos da lua e o sabor do dia seguinte,
Perecia-lhe certo,
Recordava ter ouvido isso, não reconhecia o significado…
Entre escritos sem destinatário e sorrisos sem dono…
Encalhou na procura do que não existia,
Entre o certo e o errado,
entre ódio e amor….

2013
MV
 
Entre Ódio e Amor