Poemas, frases e mensagens de Lucienelp

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Lucienelp

EU... TÃO FEIA

 
Vou assim:
De sobrancelhas sérias,
Lábios tímidos,
Roupa fechada
Em meu corpo invisível.

Vou sem esperar:
Beijo da estrela da sorte,
Toque suave dele,
Perspectivas,
Um copo de vinho,
Insônias.

Bem que eu queria:
Uma taça de vinho
Para minha vida minúscula;
Como um banho inteiro,
Um choque prolongado,
Um curto-circuito
Na minha existência supérflua.

Só uma gota de vinho: luz neon das idéias.

(Luciene Lima Prado)
 
EU... TÃO FEIA

SEM SINAIS

 
Vou me esconder onde me achar não posso,
Como quem se apóia na prece do Pai Nosso;
De mim quero me perder sem vestígios,
Não deixando em mais ninguém meus vícios.

Quero ocultar-me daquilo que sou,
Quem sabe, na gaivota que alça voo
Ou na filosofia que não foi escrita;
Desprovida dos meus laços de fita.

Não mais me reencontrar e ser brisa,
Onde não me caiba alguma divisa,
Para que me perca minha lembrança.

No meio de um dente-de-leão que dança,
Renascer-me completamente outra
E deixar-me ao gosto da sorte: solta.

(Luciene Lima Prado)
 
SEM SINAIS

POESIA...

 
O amor...
As estrelas...
As flores...
A vida...
O que mais?

Não sei falar do amor.
O amor usa vários disfarces,
E se disfarça para fugir de si mesmo.
Fala do amor quem pensa que o compreende,
Aceitando-o sem restrições.

Não sei poetizar...

Não sei falar da beleza.
Há beleza sem alma,
Alma sem beleza.
Quando vem a beleza com alma,
Estamos dormindo ou ocupados para enxergá-la.

A poesia exige essência...

Não sei falar das estrelas.
Estrelas são encantadoras,
Mas são lembradas, apenas,
Quando alguém olha para elas.
Esquece-se fácil das estrelas.

Depois da poesia, o que mais?

Não sei falar das flores.
Poderia falar das que desabrocham
Tímidas na madrugada...
Flores são simplesmente flores,
Nada mais que flores.

Poesia quer ser perfumada!

Não sei falar das paisagens.
Paisagem é cenário que se nota ou não.
Para que falar sobre elas no poema?
Para que poesia?
Não sei...

A poesia distorce muita coisa...

Não sei falar da vida.
A vida na poesia tem sabor diferente:
Ora bom, ora ruim.
Na poesia a morte é tão poética quanto à vida.
Na poesia, vida e morte se igualam.

Não há bem ou mal na poesia.

Infinita, como teu olhar que atravessa o mundo,
É a poesia que não sei escrever.

(Luciene Lima Prado)
 
POESIA...

DENUDAÇÃO

 
Escrever poesias,
Na cúmplice madrugada,
É se vestir de palavras
Para despir a alma;
E no amanhecer que dói,
Morrer de amores
Sem nunca ter amado.

Em cada verso, o suicídio
De velhos pensamentos,
Novas colinas além-vales,
Prestes a desmoronarem
No silêncio de um verso guardado.

(Luciene Lima Prado)
 
DENUDAÇÃO

MEMÓRIAS ALAGADAS

 
Eram tantos os rios que aqui passavam!
Havia barquinhos feitos de jornal,
Manhã ensolarada em dia de Natal,
Águas correntes que muito rimavam.

Os rios atualmente vazios – Oh, que pena!
Já encheram os rios dos meus sentimentos.
Meu coração tão cheio de juramentos,
Cantigas solenes de uma tarde amena.

Secos os rios, eu ainda sentimental;
Leitos vazios, eu toda inundação.
Andante sem rumo, incontinental.

Eram tantos os flúmenes e eu, pouca.
Meu canto murmurante de emoção,
A vida seguindo e minha voz rouca.

(Luciene Lima Prado)
 
MEMÓRIAS ALAGADAS

UMA LEVEZA DE AMOR

 
Não jure em vão,
Com teu amor breve,
Apenas me dê a mão.

Cala-te sob esse amor leve,
Que nesta noite, em canção,
Em meu peito ferve.

Há um quê de verve,
Neste amor sem refrão;
Mesmo pouco, nos serve.

Amor que não tem imensidão,
Vem devagar como neve,
Vai embora sem ilusão.

(Luciene Lima Prado)
 
UMA LEVEZA DE AMOR

SONETO À BEIRA DO CAMINHO

 
Amo como se nada mais esperasse,
Cheirando a petúnias e num impasse;
Tudo que faço é amar em solidão,
Como só é Antares em Escorpião.

Não sei da agonia de amar no vazio,
Se é pecado amar sentindo frio;
Eu sei apenas do amor e do infinito,
Tão pesado para meu ser restrito.

O que é do amor sem a pessoa-destino?
Uma nebulosa se construindo
Num espaço alheio dentro de nós.

Por isso, nada espero de tudo;
E no desespero do clamor surdo,
Já não acompanho o voo do albatroz.

(Luciene Lima Prado)
 
SONETO À BEIRA DO CAMINHO

UM SONETO SEM VALOR

 
Não queixes tu do meu poema tosco,
Da minha falta pertinaz de gosto.
São apenas versos comuns, fracos, ruins;
Meros resquícios de ilusões e fins.

Não estarei nunca entre os poetas bons,
Porque seria eu a aversão de vários sons.
Vocabulário pobre eu tenho. Sim!
Nos meus lábios de uma cor carmim.

Sou poetisa de pequenas fases,
Pouca invenção, tão pouco dom real;
Reles escritora, sem domínio tal.

Portanto, em minhas mãos não cabem frases.
Ricas palavras? Neologismos? Nada!
Por isso tudo, não sou mesmo fada.

(Luciene Lima Prado)
 
UM SONETO SEM VALOR

GAROTO DE RUA

 
Garoto de rua chora
Lagrimas petrificadas
A lhe sangrar as horas.
Ele não tem ódio,
Somente dor
E mais uns dias sombrios.
Assim mesmo, espera
Que uma noite piedosa venha
E ele possa esquecer
Que o amanhã existe,
Que ele é um sonho mal feito
Num domingo de chuva.
Uma vez desejou
Presenciar conversas que nunca ouviu,
Beber o vinho das capas de revista.
Garoto solitário,
Costura de velhos retalhos,
Não sabe diferenciar a vida da morte,
Dois caminhos iguais
Que lhe apertam o coração.

(Luciene Lima Prado)
 
GAROTO DE RUA

UM VERSO COMO ÓPIO

 
O mais perfeito verso
Poderia ser meu ópio,
Um corte em minha amargura,
Uma tarde de sol deleitosa.

Não tenho versos perfeitos,
Tenho apenas o lápis,
O papel que me hipnotiza,
Uma tarde de sol incompreensível.

Eu queria o ópio de um verso,
Do teu verso perfeito,
Ainda não cogitado
Sob esta tarde em nossas mãos.

(Luciene Lima Prado)
 
 UM VERSO COMO ÓPIO

SONETO AO ENTARDECER

 
O pôr-do-sol me lembra Exupery,
Meu corpo chora, minha alma sorri;
Nobres lições de uma sábia raposa
Nas quais o meu pensamento repousa.

Eu tive em minha sossegada vida
Dias de felicidade garantida,
Recostada sob um ipê amarelo;
Lendo à luz de um ocaso muito belo.

Na minha vã memória, quantos príncipes!
Todos me trazendo desejos livres,
Dando-me rosas, fazendo-me única.

Sempre silente,ao entardecer, sem súplica,
Vejo o pôr-do-sol, sinto-o em plenitude,
Criando em mim eterna juventude.

(Luciene Lima Prado)
 
SONETO AO ENTARDECER

SERIGUELA

 
Eu quero o gosto da minha terra,
A simplicidade que nada me cobra.

O alimento futuro, que a gente enterra,
Cultivamo-lo com fé de sobra.

Eu quero da canção a beleza regional,
Que outras vogas não entendo.

Minha janela tem perfume floral,
Minha cerca de quiabento é sem remendo.

Não venha cantar outros mundos,
Não creio na Lua do outro lado.

A minha Lua nasce nos fundos
Do meu quintal estrelado.

(Luciene Lima Prado)
 
SERIGUELA

O APAGADOR

 
Tive um apagador especial,
Inventado num outono ao pôr-do-sol,
Ao som da melodia do rouxinol;
Feito para apagar o bem e o mal.

Em alguns segundos que traziam eras,
Fiz desaparecer o que fiz de bom
Se isso não me trazia agradável tom;
O mal fiz sumir em primaveras.

As coisas boas se apagam facilmente,
As ruins contêm tinta permanente,
Ao serem apagadas deixam sinais.

Não era, então, uma invenção perfeita
Que tudo na vida apaga ou endireita,
Tampouco suavizou meus vendavais.

(Luciene Lima Prado)
 
O APAGADOR

INCÓGNITA

 
O meu pranto não tem o gosto salgado;
Quem o prova somente o sente amargo,
De enredo denso a La Woolf ou Clarice,
A esperar doridamente a velhice.

Eu quero em desenredos me implodir,
Causar em mim bem mais que frenesi,
Trazer a mim as flores que não tenho
Devagar desfazer este meu cenho.

Não choro de tristeza sob esta noite,
Presta atenção que sou o próprio lamento
Que amarga sem dó até o passivo vento.

Vou embora e deixo as vozes se trancando,
Atravessando Orlando e Macabea,
Manchando o poema que em mim estréia.

(Luciene LIma Prado)
 
INCÓGNITA

DE OLHOS FECHADOS

 
Basta para mim o descanso,
Tudo mais é desperdício.

Sinto meu corpo ranço
Preso neste caminho difícil.

Porque tudo me cansa,
Mesmo tua carícia.

Já não tenho a palavra mansa
Que me dava o tom de malícia.

Quero descansar neste banco,
Nesta praça cheia de lírios.

No descanso eu me tranco,
Livre de mais martírios.

(Luciene Lima Prado)
 
DE OLHOS FECHADOS

DESPEDIDA POÉTICA

 
Por esta minha inspiração desfigurada,
Desfaço-me da poesia e quebra-se o encanto;
Já não sou poeta.
Se um dia o fui, foi por engano
Desses versos que nos iludem.
Das rimas sonoras que no fundo são antagônicas,
Despeço-me e escolho as macieiras como trégua.

E as linhas em branco continuarão cheias
Dos versos que jamais farei.

(Luciene Lima Prado)
 
DESPEDIDA POÉTICA

DA PERFEIÇÃO HUMANA

 
No silêncio acha-se perfeição humana.
O que não é dito nada contamina,
Torna-se o bem uma coisa tão fina,
Facilmente o sorriso do peito emana.

É perfeito o indivíduo que se cala.
No paraíso dos lábios fechados,
Os verdadeiros frutos coletados,
O silêncio que nutre o ser e o embala.

Vem, aproxima-te e nada me diz.
A fala desencanta e tudo denigre,
É feroz e mata tal qual um tigre.

Com poucas palavras se é feliz,
E, mais ainda, se nada pronuncia;
Pois assim, no mundo, a paz principia


DA PERFEIÇÃO HUMANA

No silêncio acha-se perfeição humana.
O que não é dito nada contamina,
Torna-se o bem uma coisa tão fina,
Facilmente o sorriso do peito emana.

É perfeito o indivíduo que se cala.
No paraíso dos lábios fechados,
Os verdadeiros frutos coletados,
O silêncio que nutre o ser e o embala.

Vem, aproxima-te e nada me diz.
A fala desencanta e tudo denigre,
É feroz e mata tal qual um tigre.

Com poucas palavras se é feliz,
E, mais ainda, se nada pronuncia;
Pois assim, no mundo, a paz principia

(Luciene Lima Prado)
 
 DA PERFEIÇÃO HUMANA

VOLÚPIA

 
A felicidade que em nós dimana,
Com gosto agradável que não acaba,
Parece água pura de cascata
A correr ao fundo de uma cabana.

Há de nos cobrir todo este prazer,
Em inúmeras gotas e sabores,
Pintados com as mais bonitas cores
Do “azulecer” ao esperado “enluecer”.

Mas paremos por um breve intervalo,
Que alegria em excesso também nos cansa
(Como já me entediou a velha França).

Então, nos delírios que tenho e embalo,
A felicidade virá... (outra vez)
Para nos levar em grande embriaguez.

(Luciene Lima Prado)
 
VOLÚPIA

INSETO

 
Eu sou uma metamorfose de Kafka,
No suor da minha existência estática;
Rastejo através do entulho que sou,
Talvez um papel rasgado por Poe.

Proveniente de um fingido flerte,
Personagem descartado de Goethe;
Mesclo minha peçonha ao teu papel,
Tu que me lês com teu nocivo fel.

Vivo a partir do que me transformei,
Daquilo que não faz parte da lei
E do asco que por mim agora tenho.

Esfarela-me por misericórdia,
Que meu traço viscoso de discórdia
Já se encontra desprovido de engenho.

(Luciene Lima Prado)
 
INSETO

SEU CORAÇÃO NÃO TEM JANELAS

 
Seu coração não tem janelas
Para deixar entrar o amor,
Frio, nunca recebe calor;
Nada a entrar e sair por elas.

Esse coração, pode-se supor,
Enche-se de vãs querelas;
Seu coração não tem janelas
Para deixar entrar o amor.

Inúteis são as aquarelas
Pintadas em seu peito incolor,
Suas veias, quem, por elas,
Passará sem sentir dor?
Seu coração não tem janelas!

(Luciene Lima Prado)
 
SEU CORAÇÃO NÃO TEM JANELAS