Poemas, frases e mensagens de Delgado

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Delgado

ENTRE LENÇOIS

 
Deitar junto a quem queremos bem,
Sob o mesmo lençol, na mesma cama,
Abraçar, beijar, acendendo a chama
Que no amor e no desejo o corpo tem.

É numa carícia, ir muito mais além
Ouvir o suspiro que o coração inflama,
O gemido da alma de quem se ama.
Até ao ponto, em que nada se contem

E depois de tanto ardor, tanto prazer
sentir um braço meigo a envolver
o corpo ainda ofegante no cansaço...

E ao acordar, de novo acontecer...
Na cama sob o lençol, amor fazer
Apertar o coração e alma num abraço!
 
ENTRE LENÇOIS

NO UNIVERSO

 
No universo silencioso
do pensamento,
Tento prender o teu olhar
de rebeldia.
A noite se faz dia,
quando os teus olhos
olham os meus
e,
como estrelas cadentes
rasgam o meu pensamento
esmagando-se
na escuridão do meu espírito.
Do teu olhar resta apenas,
o rasto fulgente da estrela
e da boca
o teu sorriso de menina
 
NO UNIVERSO

Silêncios

 
SILÊNCIOS

Há no mundo....silêncios
Que nada nos dizem
Porque... de tão distantes
Tais silêncios não nos chegam.
Mas ás vezes!!!
basta uma pequena lembrança
para que...
Das nossas gargantas saia
o grito,
que muito longe chegará.

Há no mundo...silêncios
Que são gritos de revolta calados
Porque surdos...
São aqueles que não escutam
Os gritos no silêncio da noite
Porque...
a noite, é o silêncio

Há no mundo....silêncios
Que mesmo ao longe se ouvem
...mas em surdina
tais silêncios são palavras
que se calam
na boca do coração
Palavras que se misturam
no sangue...
porque...
feito de sangue, é o silêncio

Há no mundo...silêncios
Que são gritos censurados
De vidas que morrem sufocadas
Nas grilhetas do silêncio
Porque...
Só a morte, é o silêncio
 
Silêncios

O SONHO E A RAZÃO

 
O SONHO E A RAZÃO



De amor sabe, quem sofre de saudade
Ainda que esta traga dor ao coração,
Na solidão, o amor, um peito invade
Trocando qualquer sonho pela razão.

Rimos, somos mais do que a vontade
Acreditarmos na força de uma paixão
Um desejo sempre nos trás a liberdade
De pensarmos, que na vida, nada é vão

Lutamos do princípio, até o fim da dor
Indo buscar forças onde ninguém ousa
Nos sonhos... onde a razão descansa.

O que sentimos, vemos, loucos de amor.
Lembrando coisas, sem barreiras impor
A sonhos, que só o pensamento alcança!

Delgado
 
O SONHO E A RAZÃO

A ÁRVORE

 
Caiem as folhas das árvores
Durante todo o Outono
Nuas assim elas esperam
O seu inverno de sono

Nem as rajadas de vento
Que tanto as fizeram vergar
Nem o ribombar do trovão
As conseguiram acordar

Acordam pela primavera
C’ os alvores da natureza
P’ra revelar a quem as vê
Mistérios da sua beleza

Vestem então um fato novo
De folhas confeccionado
De tons verde, é sua cor
Com botões por todo o lado

Torna-se na bela paisagem
Verdejante e bem viçosa
Como a mulher bem vestida
Também a árvore é vaidosa

Como uma noiva extremosa
Se esmera no seu vestido
E a árvore na primavera
É um altar de Maio florido

Belas, se tornam então
Naqueles tons matizados
São mil cores e aromas
Que nos deixam fascinados

Extasiado fica o olfacto
Com o ar que respiramos
De perfumes ‘tá impregnado
Tudo aquilo que cheiramos

Caidas que são as flores
Maduros que os frutos são
Degustamos em sabores
Essas doçuras de Verão

Cada árvore com sua folha
Cada caule com sua flor
Cada flor com o seu fruto
Cada fruto com o seu sabor

Passa Julho e passa Agosto
Lá vem o Setembro então
Ficam as folhas da saudade
E a tristeza no coração

Velhas que estão as folhas
Da árvore vem o lamento
Da vida vergada á morte
Numas rajadas de vento

Cumprido que foi o ciclo
Lá vem de novo o Outono
Torna-se a árvore a despir
E a dormir um novo sono

m....delgado
 
A ÁRVORE

Como borboleta

 
Como borboleta é o meu pensar
Que pelo teu corpo esvoaça
Os olhos são como uma traça
Que rompe as vestes ao voar.

Nua assim no meu imaginar
Tornas-te uma flor apetitosa
Poiso nos teus seios, na rosa
Os lábios,para sentir teu pulsar.

E tu como libélula a esvoaçar
Nenúfar num lago tranquilo,
Onde irreverente poisa meu olhar

És uma mariposa no meu pensar
Com asas belas cores e aquilo,
Que levam os meus olhos a voar
 
Como borboleta

A CHUVA

 
A CHUVA

Uma nuvem acinzentada
Pelo céu vem lentamente
Vem pelo vento soprada
E de água, carregada
Trazer chuva finalmente

São fios de prata a cair
Na encosta duma serra
Tudo começa a florir
A terra parece sorrir
É a seca que enterra

E caindo suavemente
Sobre a terra ressequida
Faz germinar a semente
Tudo brota de repente
É o renascer da vida

Cresce o pasto na planície
Já meio seco pelo calor
O verde cobre a superfície
E seja qual for a espécie
Rebenta com mais vigor

P’ra qualquer agricultor
Chover assim é riqueza
Tudo se torna luz e cor
Cresce na árvore a flor
É primavera com certeza

Mas se a nuvem é escura
E chove torrencialmente
Estraga qualquer cultura
Destroi a fruta madura
E arruína muita gente

Pior se é uma trovoada
Com chuva batida a vento
Na terra faz uma estrada
Regos, com’uma enxada
Onde semeia o lamento

Os trovões são tormento
Os raios são um inferno
O que foi contentamento
Se desfaz e leva o vento
Deixando o frio do inverno

Agradecida fica a nascente
Com a fonte a transbordar
Mais o rio que de repente
Engrossa mais a corrente
E ao mar vai desaguar

Ao chuvisco miudinho
Molha parvos o chamamos
Mas molha o Zé povinho
Seja rico ou pobrezinho
Certo é que nos molhanos

Para chuva tudo é igual
Não escolhe quem vai molhar
Pode fazer bem ou mal
Mas é de todo essencial
Para quem quer cultivar

Incomoda muita gente
Mais ainda na cidade
Mas a chuva felizmente
Molha o corpo e a mente
Não lhe interess’á idade

A chuva não tem um dia
Nem uma hora marcada
Mas com ela trás alegria
Tristeza e melancolia
Tudo depende da nortada

O S. Pedro é o culpado
Diz o povo sem razão
Nem o dito santificado
Nem o diado, coitado
No chuva não têm mão

Pede-se chuva, não vem
Vem quando não s’espera
Não pede nada a ninguém
Dá e tira a quem o tem
Quem não tem, desespera

Sempre a chuva voltará
Numa nuvem certamente
Que no mar a buscará
Para terra a levará
E choverá novamente


m....delgado
 
A CHUVA

DÁ-ME MAIS...

 
Dá-me mais que silêncio ou doçura
Algo que tenhas em ti tão escondido
Que nem tu, o tenhas “descobrido”
Algo!.. que me tire desta amargura

Dá-me a tua alma branca e pura
O teu bondoso coração imaculado
Dá-me algo por ninguém encontrado
Algo que seja mais que a ternura

Para que a minha alma impura
E o meu coração cheio de pecado
Fique como o teu tão imaculado
Que no silencio, o amor seja doçura!
 
DÁ-ME MAIS...

Mar sem fim

 
Mar sem fim, oceano sem fundo
D’ ondas revoltas, vagas ferozes
Na praia deserta, clamam vozes
Rompendo o teu rosnar profundo

Nos olhos lágrimas sem fundo
E bocas em palavras revoltas
Ferozes, as suas vozes soltas
Parecem vozes doutro mundo

Trás os nossos, lá do teu fundo
Que a nós tiras-te, num segundo
Pescadores eram e não volveram

Entre tuas ondas desapareceram
Suas almas estão noutro mundo
E em nós ficou um vazio profundo
 
Mar sem fim

REALIDADES DE UM PAR DE bOTAS

 
REALIDADES DE UM PAR DE BOTAS

Mana!...ó mana!!!
Olha aquele a olhar para mim....- Disse a bota esquerda, acotovelando a bota direita.
Acalma-te maninha, estamos aqui na montra da sapataria, para que nos vejam...-Respondeu a bota direita, olhando pelas presilhas o homem que as olhava.
Aquele não!...Deus queira, que não tenha dinheiro para nos comprar, ou que o nosso numero não lhe sirva.
Mas ele até e giro!...É novo e já reparaste no bigodinho dele?...-Disse a bota direita, estudando a criatura.
Eu não gosto, pronto!!!..-respondeu a bota esquerda arreliada.
Descansa minha querida, que ele já está a olhar para outras.
Ainda bem que não gostou de nós....mas nós somos bonitas e jeitosas, não somos?.Sussurrou a bota esquerda á presilha da orelha da mana.
Bonitas, boas, fofinhas quentinhas...e caras, pois somos umas BTT (botas de todo o terreno)...devemos ser compradas, por um caçador, um lavrador, ou por alguém que ande muito, pois somos muito leves e cómodas. -Disse a mana direita toda orgulhosa.
Óh não!,,,Por caçadores e lavradores não!...Já viste que vem ai o Inverno, molhamo-nos, ficamos enlameadas e perdemos todo o nosso brilho?...ficamos a cheirar a suor e, sujeitas a pisar coisas mal cheirosas. - Disse a bota esquerda arrepiada, tapando com o atacador as duas presilhas do nariz.
Tonta! Quem for que nos levar, cuida de nós, limpa-nos, engraxa-nos e leva-nos a passear.
Quem me dera ser sapato!...Um sapato fino, daqueles que só vão a festas, casamentos e batizados, para dançar e depois descansar...-Disse a bota esquerda com ar sonhador.
Isso também eu queria, mas que havemos de fazer se nos fizeram botas?!!!
Nunca nos vamos separar, pois não, mana?
Claro que não minha parva...Eu vou ter muito mais trabalho que tu, pois se ele tiver carro, tenho que travar a acelerar, enquanto tu trabalhas só com a embraiagem...se ele jogar futebol, sou eu que passo e remato, enquanto tu só és a bota de apoio...só a andar é que seremos iguais...-Disse a bota direita, esquecendo-se que também há esquerdinos.
Mas tu já viste se ele for muito pesado, quantas toneladas temos que transportar todos os dias?...Supõe tu que ele pesa 100 kgs, e que cada entre passada, são 60 cm, já viste quantos kilos temos que transportar num Kilometro?
Realmente!!! Deixa-me lá fazer as contas....mil metros a dividir por 60 centímetros...dá..dá..1667 passos, a 100kgs...dá 166.700 kg, quase 167 toneladas...só num kilometro...mesmo assim calha a cada uma , mais coisa menos coisa 88 toneladas, pois enquanto eu estou pousada no chão, tu vais no ar .- Disse a bota direita pensativa.
Já viste?..Isso é uma barbaridade!...Mesmo que seja mais levezinho...
A bota direita estava a pensar no assunto, pois talvez quem as fizesse, nunca tivesse pensado nisso.
E para não assustar a mana, fez as contas mentalmente...ouvira um dos vendedores dizer que eram botas para durar 3 a 4 anos...
Ó mana, vamos fugir?...disse a bota direita em pânico.
Vocês são mesmo parvas!...Não vêm que sem uns pés não podem andar?...Lembrou-lhes um dos atacadores.
A bota olhou em redor e foi quando viu o homem do bigodinho, falar como gerente da sapataria...
Estas?...Perguntou apontando para elas
Sim essas!...-Confirmou o comprador.
È um bom material, isso lhe garanto....Duram uma vida inteira!

Delgado
Set..2009
 
REALIDADES DE UM PAR DE bOTAS

ENSAIO SOBRE POESIA

 
ENSAIO SOBRE POESIA



Este ensaio sobre poesia, tem o fito de esclarecer as pessoas, para que possam pode compreender, algumas bases e também problemas da poesia .
Alguns não precisarão deste esclarecimento, mas, estas poucas palavras servirão para compreenderem um pouco o problema dum poeta, em relação a utilizar em certo tipo de ideias, palavras que podem ser mal interpretadas na sua estrutura.

Assim:
Que valem versos escritos
Sem o ardor da inspiração?

A poesia só é poesia
Quando eleva a fantasia
Ao rigor do ideal

De outra forma é apenas verso
Som pelo vento disperso
Murmúrio que nada vale.

Porque não há licenciamentos, nem doutoramentos em poesia, nem a inspiração, a fantasia, e o dom que o poeta tem, ele tem que se inspirar em momentos que viu, que sentiu, ou então que criou e, aí começa a fantasia e o poema.

A poesia, é uma forma diferente de ver a vida e o mundo, e é também a forma mais fácil de exprimi-la.

O conceito de musa em relação á poesia (porque há musas em todas as artes ), baseia-se sempre em qualquer vivência, seja ela fortuita, sentimental ou metafísica, originando dessa vivência, admiração, agradecimento, temor, respeito, alegria, tristeza, amor, etc.
Penso que a musa descrita na poesia clássica, acabou quando acabou o romantismo.
No entanto, o romantismo mantém-se em todas as correntes poéticas, mas de outra forma, pois será sempre o romance a fonte de inspiração de um poeta.
Mesmo assim, este tipo de romantismo vai sendo superado pelo tempo.
Os sentidos e os instintos espirituais, estão a ser ultrapassados, porque o homem e mulher de hoje, são mais que a imaginação e o sentimento, pois o materialismo, obriga a uma evolução constante da vida e, de tal forma hoje é tudo tão apressado (*), que se a poesia não acompanhar essa evolução também ela agoniza, tendo ou não musas.
Além disso, nas escolas não se lê, não se explica, nem se ensina algumas regras da poesia.
Se não se ensina o Português, para que mais uma complicação para os professores?
Até porque 90 % deles, (estatística minha), serão uns iletrados nesse aspecto.
Mas ensinam-se as técnicas do desenho, da pintura, da escultura, da musica e de outras artes...
Então e porque não, pelo menos despertar o gosto pela leitura da poesia?...Uma poesia declamada é linda.
Como nada se explica, e nada se ensina, assim abundam os curiosos como eu, sem nenhuma base a não ser o instinto,
Porque agora, o interiorismo, a sondagem do consciente e do inconsciente, a valorização do absurdo, é que são as bases da nova poesia.
Ai do poeta ou poetisa, que em segundos, não tem a visão do que vê e do que sente.
Mesmo vendo e sentindo, estará essa visão e esse sentimento de acordo com a visão e o sentimento normal?
Claro que não!...e é aí que nasce o poeta....porque a sua visão e o seu sentimento não é comum.

Um poeta e um poema, não tem que obedecer a certas regras sociais ou puritanismos, porque assim não haveria poesia..
Não que não goste do romantismo, pelo contrário....Só que hoje, o amor, e a tendência do materialismo, são nutridos de sensações brutais, a que chamamos normalmente adrenalina e neste contexto, começa a racionalidade do Ser ou não ser.
A poesia é o ser e o não ser, é o descrever uma realidade ou fantasia, é ver, inventar, ou escrever um poema nas margens do absurdo, onde nada se diz e tudo se compreende.
É ser incoerente, na coerência..(*)
Na pintura o surrealismo é arte, na poesia é apenas o absurdo.
Mas também na poesia, o surrealismo, é um automatismo psíquico, quando no poema expressamos o funcionamento do pensamento.
Porque a poesia, deve ser a transmissão total do pensamento, e, de tudo o que se possa colher no subconsciente, depois transmiti-la da forma mais natural possível, sem controlar o fluxo do pensamento.
Claro que depois há que substantivar, objectivar o conteúdo, e conjugar o automatismo verbal.
Em relação á transmissão total do pensamento, aí esbarro eu. Porque, entro numa fase de bons costumes, onde critico o pensamento, por vezes quase eliminando, o cerne que deu origem á coisa.
Na poesia que faço, não tendo um elemento real, a quem a dirija especificamente, expresso-me á vontade e, por vezes até me torno surreal.
E corto o pensamento, quando penso no que disse, ou escreveu um poeta:
Ai das mulheres comuns, se todos os homens as soubessem adular com poesias.
Mas muitas vezes o adular é matar a morte antes de morrer .- Digo eu
Através dos séculos e, em cada época da civilização, a poesia, teve sempre um simbolismo amoroso e, muitas vezes foi visto como um meio eficaz de sedução.
Mas, também foi e hoje ainda é muito mais, uma critica ás estruturas sociais, politicas, económicas e também ás suas vertentes artísticas.
Mas como obras artísticas, nunca serão considerados os poemas de um poeta, por muito considerado que seja,e que alguns livros venda.
Se obra artística são os Lusíadas, salve-se Camões desta embrulhada....Mas nem os Lusíadas são uma obra artística, pois se assim fosse, um dos seus Cantos, valeria tanto como um quadro de Picasso. (absurda comparação, mas...)
Mas o que é um poeta?
Um homem comum como, eu que apenas tem o condão de ver o claro no escuro e vice versa, é ser irreal na realidade e na irrealidade real, e no fundo ser concreto.
No concreto, há virtude do inconcreto, que se vê mas não é palpável, que se adivinha mas não se diz, pois é a linha que se desenha nas entrelinhas. É a linha onde se mistura o automatismo do presente, o plano do passado e se conjuga o futuro, do querer ou não querer, da moralidade e da imoralidade, da virtude e do pecado, dos amores e desamores, do bem e do mal, etc... (*)
Este é o concreto sendo o poema inconcreto.

A poesia, é o tempo, a mudança e a vontade...é a essência do espírito agir, pois só o espírito é o único que pode ordenar o conceito do que é lógico.

....o que é preciso ordenar o conceito do lógico, com o ilógico, e depende depois do conceito de valores que cada um introduz no poema.

Se decidires,
Ondear as franjas do poente
Entoa primeiro
Sombras de melodias
Arrefecidas no entardecer

Há, nos abismos de raiva
Pores de sol de silêncios
E tu ó poeta,
Sabes mais que ninguém
Que qualquer espuma
Ao deslizar pelo corpo
É como envelhecer
Nas franjas do pôr-do-sol

........
E poeta é isso...descrever a realidade num contexto irreal
Escrevo-os para mim:

Soam na tarde amordaçada
Breves rajadas de sol
Estertores de mar revolto
Na saliva da infância

Na avalancha que te rasga
Traças no crepúsculo
Uma ponte
Entre o abismo te perfez
E onde o pavor se desfaz

Este é
O poema que não escreveste
Na encruzilhadas das insónias
Mas que poderás escrever
E reescrever todos os dias

E quem me ler, que concorde ou discorde, pois só com a critica é que evoluímos.

m.delgado
 
ENSAIO SOBRE POESIA

AMOR É MUSICA

 
Cantadas, as palavras todas são
Na mistura de sons do céu, do mar
Do amor que faz a poesia ressaltar
As notas musicais do coração...

Ao amor, o desejo trás a emoção
A harmonia do ser, o bem de estar
De dois corpos enlaçados a dançar
procurando no orgasmo, a paixão

Por isso, quando esse amor começa
Velozmente, se entrega ao seu alcance
A forma muda e cega de um romance

As vozes da razão, o amor atravessa
Não há distância, tempo, dor que impeça
Nem corpo, que de desejos não dance...
 
AMOR É MUSICA

DIREITO A AMAR

 
Muitos me condenam porque vivo...
Porque escrevo poesias, porque amo
Nos meus sonetos, apenas reclamo
Direito ao amor, de que não me privo

Alguns julgam um poema ofensivo,
Meio de sedução que não declamo
Sou um poeta do amor e neste ramo
Não vou deixar de ser, por tal motivo

Meus sonetos são como uma canção
Escrita pelo coração quando triste
Que vos canto na dor que me subsiste

Amar, escrevendo, é uma doce paixão
E pergunto a razão, a quem me critica
Isso será defeito?...Eu penso que não!!!
 
DIREITO A AMAR

EU POETA

 
Não sou um homem diferente
Por um simples poeta ser
Tenho é outra forma de ver
O que vê e não vê outra gente

Não serei mais inteligente
Do c’o comum dos mortais
Nem sequer saberei mais
Digo é as coisas facilmente

Não pensem que é reluzente
A vida dum poeta anónimo
Muitas vezes falta o ânimo
Para se ir mais para a frente

Um poeta é normalmente
Um homem, quiçá infeliz
Muitas vezes aquilo que diz
Não diz nada a outra gente

Muitos lhe chamam demente
Mas um poeta é sensível
Só coração tem outro nível
Só aí é que é diferente!
 
EU POETA

FLOR

 
Margarida é flor campestre
Pequena de alva brancura
É no campo, a flor agreste
Num ramo a flor de ternura

Cada pétala branca e pura
Na vastidão da campina
Parece sorriso de candura
Nos lábios de uma menina

É uma flor de textura fina
Mesmo no seu ar silvestre
Seja grande ou pequenina
Margarida é flor campestre
 
FLOR

QUADRO RARO

 
Se tentasse pintar, musa endeusada,
Na tela, teu corpo sedento d’amores,
Teria que roubar ás flores, as cores
Para arranjar tinta tão delicada...

Pintaria, a tua bela face acetinada,
De um cor-de-rosa nunca imaginado
Os teus olhos, cor de lua prateada
Lábios, num tom de cereja avermelhado!

Ficaria um quadro perfumado,
Com o perfume ás flores roubado,
Onde teu corpo nu ninguém veria!

De pétalas de rosa, o cobriria,
Para,por outros olhos não ser olhado
E quadro tão belo, não ser furtado!
 
QUADRO RARO

Por-do-sol

 
PROSA... – Pôr-do-sol

Quando o sol cai, num pôr de sol alaranjado, o horizonte incendeia-se numa agonia de tarde lamentosa.
Indiferentes, a essa agonia de fim de tarde, as estrelas vão aparecendo e sorrindo num cintilar bruxuleante, e num brilho, quiçá sarcástico, indiferentes aos lamentos que um poeta possa sentir, ao ver morrer assim o sol.
Poderá um poeta, escrever, que o pôr-do-sol é o sorriso do luar fervendo em torturas, que o cintilar e brilho das estrelas, é o sorriso de uma criança, mas que um velho, já na idade do pôr-do-sol, vê como apenas o findar de mais um dia.
Um poeta é escravo das palavras e desses momentos, que depois transforma em poemas.
É juiz e carcereiro dos seus pensamentos, que só liberta, quando neles sente o sabor de uma fatia de pão salgado, sabendo a mel.
É algoz de si mesmo, quando descreve o pôr-do-sol, no seu cair, como a sua própria morte.
È nesses momentos de metamorfose, que um poeta, pode descrever o nascer do sol no poente e o pôr-do-sol a nascente.
Talvez pense, que assim pode iluminar a noite, para mais viver, mas quem sabe o pensamento de um poeta?
Pode ele até descrever noites enfeitiçadas, como o olhar de um par enamorado em pleno dia, transformando, para eles a luz do sol em luar de Agosto, onde a lua em pleno dia, sorri dengosa aos beijos dos amantes....Beijos que pode transformar em estrelas incandescentes e os corpos abrasados de paixão, no nascer do sol que morrerá como o pôr-do-sol, passado o frémito da paixão.
Um poeta não fode, ama, faz de uma folha a cama, onde pode descrever o por do sol como a nudez sensual de uma mulher, onde brisas misteriosas, murmuram segredos proibidos.
Um poeta, é o nascer e o pôr-do-sol, num dia qualquer.
 
Por-do-sol

TARDE ERA NOITE

 
Era noite, quase madrugada
Quando ainda estremunhado
Daquele amor senti a falta
Pois se deitara a meu lado

Na dúvida, esfreguei os olhos
Não pudesse eu ter sonhado
Impossível, pois tal beleza
Não a podia ter inventado

Do seu lado e no lençol
Agora um pouco engelhado
Desenhado ‘tava o seu brilho
E de sedução impregnado

Se tinha visto o meu amor
Ao rouxinol fui perguntar
Não! Pergunta ao nascer do sol
Que está mesmo a despontar

Mas como cedo ainda era
Perguntei á bela aurora
Não! Não podia ver o teu amor
Se ele de noite se foi embora

Perguntei, então ao sol
Que já estava a despontar
Não! Se ela fugiu de noite
Eu estava noutro lugar

Perguntei a uma nuvem
Que na altura ‘tava a passar
Não! Náo vi esse teu amor
Nem foi para o lado do mar

Perguntei então ao vento
Que disse numa brisa suave
Não! Não vi ninguém assim
Mas pergunta a uma ave

Perguntei então ao mocho
Ave de douta sabedoria
Que piscando um olho piou
E piando assim me dizia

O amor que tu procuras
Vem de noite e é a lua
Abala pela madrugada
E nunca, jamais será tua
 
TARDE ERA NOITE

ÉS TU BOCA VORAZ

 
És tu boca voraz
Que arrancas palavras de mim
E as recolhes
com teus labios de carmim.

És a arquitectura que desenho
Os sons que articulo em transe
quando num beijo
arrancas suspiros de mim

És a palavra proibida
Quando me escondo em ti
E, me guardo no teu corpo
Que arranca o amor de mim

Sobre as arcadas do teu corpo
Eu torno e retorno
E, no centro da tua mágica,
Arranco eu suspiros de ti

Mas quando o amor se esvai
E já não existem palavras
O teu suspiro é um sim
Que varre a terra e o céu
 
ÉS TU BOCA VORAZ

ABELHA COM ASAS DE BORBOLETA

 
ABELHA COM ASAS DE BORBOLETA

Uma abelha no céu voava
Á procura de lindas flores
O menino em papel pintava
Flores... de todas as cores

Tão belo o desenho estava
Que lhe pareceu um jardim
Onde uma borboleta poisava
Na brancura de um jasmim

Enquanto o menino pintava
A abelhinha tão confundida
Em doces néctares pensava
E logo começou a descida

Um sonho, ela acalentava
Ter asas como a mariposa
Tinham a cor que gostava
E assim desceu vagarosa

Depressa.. ficou duvidosa
Pois de papel era o jardim
Ao tentar poisar numa rosa
Nunca vira uma rosa assim

A borboleta, tão vaporosa
Estava presa, não voava
Então poisou desdenhosa
Na mãozinha que pintava
..........................................
Bzzzzzz,bzzzzzz, lhe falou
Que quer dizer vou-te picar
Nunca ninguém m’ enganou
Como me tentaste enganar
..........................................

Eu de ti não tenho medo...
Lhe disse ele com desdém
De ti sei qual é o segredo
Se picares morres também

Vai-te tu embora...mas é!!!
Antes que me faças zangar
Sou o campeão de karaté
Um bom soco te posso dar

Eu sou como a mariposa
Belo e lindo como uma flor
O meu ferrão é duma rosa
Um espinho que causa dor

..........................................

Para eu não te ferrar agora
Pinta minhas asas de cores
Pois logo me irei embora
Á procura de outras flores

O menino, tal fez e pintou
Um cada asinha mil flores
E a abelha se transformou
Em borboleta de belas cores

Toda vaidosa, p’lo céu voou
O menino continuou a pintar
Do alto do céu lhe acenou
Era como a estrela a brilhar

O menino estava a sonhar
De manhã, ainda ensonado
A mãozinha foi verificar
Não tivesse a abelha picado...
 
ABELHA COM ASAS DE BORBOLETA

Sou desenhador,pintor e poeta e, nas minhas poesias tento desenhar e pintar os meus pensamentos