Poemas, frases e mensagens de IlitchKushkov

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de IlitchKushkov

De Lorean

 
De Lorean

Árvores,
Galhos frágeis,
folhas desprendidas!

Chão forrado,
cachorros e crianças!

Dois velhos!

Dois sorrisos formados,
por dentes que muitas vezes,
rangiam na raiva diária de uma vida triste!

Um rio,
de janeiro ou junho não sei dizer!

As mãos nos cabelos,
não tão pretos quanto foram!

As bocas,
já não beijam-se com tanto pavor!

Antes dão sinais,
de que tudo,
realmente valeu a pena!

Um banquinho,
tão frágil quanto os velhos...

E as crianças,
com tudo aquilo que,
nelas sobra e no resto falta!

Gritam e brincam,
engalfinham-se...

Os olhos dos velhos,
qual seus donos,
são mais serenos...

Menos revoltos
que n’outras épocas!

Esforço-me em reparar,
se os filhos e netos meus,
biologicamente,
também são seus...

Em vão!

E sorrio um sorriso besta...

E em seguida uma larga,
e deliciosamente jovem gargalhada!

A graça?

Ora, ainda insisto,
feito muleque,
em querer ver sentido em tudo!

Esse ímpeto...
Essa ânsia!

Sabe?

Vejo-me daqui,
dos dias atuais,
a olhar-te no futuro!

E sabes do que sei?

Ainda és linda...

Linda, inclusive,
como jamais fora!

Aninho-te em meu ombro...

Não falamos nada!

Apenas carinhos!

Te seguro pelo pescoço,
e meus olhos,
mudos,
te perguntam...

Valeu a pena?

Tu pensas...

Fecha os olhos,
arruma os agora brancos cabelos...

Olha para o céu e...

Abre aquele largo e indescritível sorriso...

Eu sorrio também!

Sorrimos juntos...
E sábios,
já ao final da jornada,
compreendemos...

Que falar não resolve...

Me seguras e sussurras:
- Te Amo!

Eu olho-te e respondo:
- Te Amo!

E voltamos nossos olhares,
para as crianças...

As brincadeiras...

A grama...

O parque...

Nós...

Está marcado?
 
De Lorean

Não Era o Jeito

 
Não era o jeito…

A frase que mais se dizia era: “Porra, o chefe é foda”.

“Seu” Osvaldo era austero. Mais de trinta anos de casa. Não ria. Nunca! Pouco se sabia sobre seu começo na firma. “É um dinossauro” exclamava um ou outro mais exaltado. Mas é fato que ninguém durara tanto.

Osvaldo tinha cinqüenta e poucos anos. Uma família feliz, cinco ou seis filhos. De netos sabia-se apenas que ele queria muito ter. Se, efetivamente, tinha ou não nada se sabia.

Chegava antes de todos. Todos saíam e ele ainda estava lá. Era sério. Não contava piadas, nem as ouvia. Dizia-se que gostava de futebol. Sequer um comentário sobre a copa ele fez. Era como se nada o atingisse dentro do escritório. Incentivava o lazer dos funcionários, mas nunca participava.

Mais um ano terminava. E todos, raivosos, reclamavam exaltadamente a obrigatoriedade repentina de presença na festa da empresa. “De onde o velho tirou isso agora?”... “Que merda”...

E o dia da festa chegou... Todos chegaram! O tempo ia passando e nada do Seu Osvaldo chegar. Começaram a comentar. “Porra, o homem nunca atrasa”... “Que merda, obriga a gente a vir e ele mesmo não vem?”...

De repente, entra pela porta um sujeito de bermuda, chinelo e camisa florida. Baforava aos quatro cantos um cheiroso charuto cubano. À mão trazia um copo com uísque. Os olhos, atrás dos óculos, denunciavam: “É o Seu Osvaldo? É, é o Seu Osvaldo!!!”

De fato, Seu Osvaldo havia entrado... De fato aquele sujeito era mesmo o velho rabugento!

“Boa noite”

Ninguém respondeu. Estavam atônitos, embasbacados... Um dos mais novos tentou, em vão, segurar uma palavra que resumia o que todos queriam dizer: “Caralho?!?”

E sentou-se no meio do pessoal. Sorriu, nunca sorrira. Contou piadas, nunca havia contado. Conversou sobre tudo menos trabalho, nunca havia falado de outra coisa.

Assim a noite aprofundou-se. Ao redor do Neo-Osvaldo, como disseram uns mais engraçadinhos, todos se sentaram. E a tudo ouviam atentos.

Ao final das piadas, não se ouvia risadas. Ele perguntava e ninguém respondia! Ele comentava e sequer um sobressalto de sobrancelhas obtinha!

Seu Osvaldo continuava. Fingia não sentir o silêncio cortante. Contava piadas e mais piadas. Acredita que até da novela das oito falou? Pois é. Mas os olhos espectadores assistiam ao espetáculo como quem assiste a um filme que não entende. Olhavam e ouviam atentos...

Seu Osvaldo não entendia. Ele queria sim agradar a todos... Pensara antes da festa que agir daquela maneira seria a solução. Não foi!

Em certo momento Seu Osvaldo, ciente do fracasso da empreitada, levantou-se, despediu-se e saiu pela mesma porta que entrara causando espanto a todos.

Chegou em casa e olhou-se no espelho. Não entendia... Coçava a cabeça!

Vestiu seu terno. Penteou os cabelos para trás como sempre fazia. Recolocou os óculos e deitou-se.

E dormiu...

Pensava que o problema era o jeito.

Não era!

Indaiatuba – 12/11/08
 
Não Era o Jeito

Prelúdio in T Maior

 
"Ato ou exercício prévio; primeiros passos; iniciação. Aquilo que
precede ou anuncia alguma coisa; prenúncio." Prelúdio, Dic. Aurélio

Ainda que saibamos,
e tenhamos,
inabalável certeza...

A felicidade, a alegria,
o sentir-se bem e,
claro,
todas essas coisas que,
dum jeito ou d´outro,
nos põem bestas no mundo!

Tudo isso,
concorde,
traz calma,
paz...

Nos descansa,
nos conforte!

É lindo,
sim, sim,
eu sei disso!

Mais dia,
menos dia,
contudo,
somos jogados,
de repente,
às mãos do desejo!

Sim, sim,
não erro!

O termo,
é,
de fato,
jogados!

Não somos convidados,
ou,
ledo engano,
gentilmente convencidos!

O desejo,
Lindinha,
é como tu:

Não pede,
MANDA!

Ah, manda...

Ele não espera,
me acredite,
que estejamos prontos!

Nos toma,
linda e simplesmente!

E a paz,
a calma,
a serenidade...

São,
pelo tempo necessário,
expulsas...

Sem mais nem menos!

A boca,
as mãos...

Línguas,
delícias,
descompasso...

A carne,
os dentes,
o suor,
o aperto!

Pernas sobre braços,
bocas nas bocas,
e em outras bocas!

O calor... A urgência!

Bagunça, caos!

Palavras,
as boas,
que não entendemos nunca!

Não há regras!

Há,
antes, depois e acima de tudo,
a vontade, a ânsia, a sede!

Daquelas que nos botam,
querendo ou não,
aflitos...

Lindamente aflitos!

Confusão de braços,
e pernas...

Profusão de línguas,
mordidas, lambidas,
com vozes grunhidas!

Não há céu,
inferno tampouco!

Não há tempo!

É mentira!

A verdade?

Uma boca a morder,
enquanto a outra lambe...

os cabelos puxados,
bagunçados,
com delicadeza,
e com raiva!

Com pressa...

Uma perna aqui,
a outra ali,
braços,
em x,
desenhados,
tatuados em tuas costas!

Língua úmida,
urgente,
a gritar-me,
sem saber,
a lamber-me,
a chupar-me...

A acabar,
e começar comigo!

O movimento,
sempre oposto,
que ainda assim,
nos aproxima!

Nos junta,
gruda,
funde-nos!

Tua nuca,
minha boca,
os dentes,
os beijos!

Meus cabelos,
tuas mãos!

Fugidios sempre,
teus olhos,
lindos e enormes,
buscam os meus!

E paramos,
ou melhor,
dançamos!

E dançamos,
lindamente,
no infinito de um mundo quadrado!

A orquestra de bêbados,
minhas mãos, tuas pernas, e o resto,
segue sem saber do que se passa!

Moto-contínuo!

O tempo,
coitado,
não existe aqui!

Entre tantas coisas,
braços, mãos, dentes,
línguas, nucas, pernas,
carinho, paixão, atenção!

É rápido,
lento...

Agressivo e delicado!

Bocas que sorriem e,
num instante,
nos mordem carne e espírito!

Um ballet inacreditável!

Respiração,
paixão,
inspira,
beija,
lambe,
expira,
vens,
vou,
vou,
vens!

Nos achamos,
perdidos e suados,
num outro mundo!

Não precisas falar,
eu?
Menos ainda!

Carinhos calmos,
depois da tempestade!

Me aninho em ti,
criando seu ninho em mim!

O que posso,
ou devo,
dizer-te?

Linda,
estás mais perto...

Acende um cigarro pra mim?

Ilitch Kushkov
Indaiatuba, 01 de Dezembro de 2.011 - 20:55h
 
Prelúdio in T Maior

Sobre um sorriso bidimensional

 
estavas enterrada,
não pergunte,
por gentileza,
com quantas pás,
de sentimentos desprezíveis...

o que sei, ou melhor,
o que posso dizer,
é que estavas,
definitivamente,
adormecida em um,
daqueles muitos cantos,
em que deixamos,
nossos erros,
e todos aqueles,
que com eles,
e,
deles,
muito ou tudo perderam...

qual,
sete cordas,
o mágico violão,
rompeste,
delicadamente,
as amarras,
que,
embora sem razão aparente,
foram-lhe impostas...

e surgiste,
linda,
a sorrir-me,
um sorriso,
que,
de fato,
não era meu...

alguma versão,
sofisticadíssima,
da rolleiflex,
de um certo joão,
roubou-lhe,
com consentimento,
este que é,
o mais belo sorriso,
que,
roubado,
recebi...

e,
com a que,
tive a sorte de,
deus receber,
gravei,
teu sorriso,
sim,
este mesmo,
o bidimensional,
em minha,
fraquíssima memória.
para não mais esquecer...

levaste-me,
sem querer,
a lugares,
que,
juro,
pensei não existirem mais...

não é,
como te disse,
o lance,
da carne,
na carne...

é mais...

e,
por isso,
sou grato...

avisar,
como dizem,
é hábito,
sempre recorrente,
de quem amigo é,
ou diz ser...

receba,
portanto,
o aviso,
de que,
de hoje,
e,
para sempre,

estás,
e,
estarás,
comigo...

e isto,
minha cara,
não está em discussão...
 
Sobre um sorriso bidimensional

Comunicado Interno!

 
Ei, Ei, EI!!!!

Tu mesmo, Sonhador!

É contigo,
para ti,
que escrevo!

Acostumaste-se
a escrever para os outros
para as outras!

Que sentes agora?

Sendo tu o alvo?

Hã?

Qual é a sensação?

É boa?
É ruim?

Ótima ou horrível?

É...

Não o sabes,
não é mesmo?

Que tens feito?

Eu,
melhor ou pior,
nunca se sabe,
que ninguém,
sei bem o que tens feito!

E TE CONDENO!

Embora,
Sinto-me mal por isso,
saiba bem que,
a absolvição não tardará!

Neste estranho tribunal,
defesa e acusação
são a mesma coisa!
Quando a demanda é interna,
as conseqüências são,
quase sempre,
trágicas!

Depende sempre,
é claro,
das circunstâncias!

Teu time ganhou?

INOCENTE!

Fizeste uma cagada?

CULPADO!

E segue,
sempre, sempre e sempre,
essa espiral infinita!

Recursos
e mais
recursos!

Ora bolas,
não temos aqui,
um Superior Tribunal?

Que,
de uma por todas as vezes,
liquide essa fatura?

Não!

Essa seria,
não há dúvidas,
uma primorosa saída!

Não,
não há de ser,
mesmo,
fácil assim!

O que tens feito, rapaz?

Não sabes?

Olha, olha!

Temos aqui,
um catatau de provas!
Que respiram,
transpiram,
e,
irremediavelmente,
conspiram contra ti!

Mas,
antes,
é necessário esclarecer:

Estas são as provas da promotoria!

Sabemos bem,
infelizmente,
que qual filme americano [do norte],
a defesa é aqui,
sempre mais forte!

Sabemos,
embora não saibamos como,
que a sentença final,
será,
como tantas,
INOCENTE!

Não pense,
no entanto,
que por isso,
brigaremos menos,
ou pior!

Qual dúzias de coisas,
sujas de um lindo passado,
que tens em ti,
também nos revoltamos,
com injustiças como as que,
sem arrependimento,
com os outros e,
principalmente,
contigo,
cometeste!

NÃO!

Não terás,
neste que é,
infelizmente,
mais um entre muitos,
muitos outros teatros que criaste,
vida fácil!

Lembre-se,
porém,
antes de lamuriar,
que este é mais um,
embora,
por vezes,
seja difícil de acreditar,
roteiro que escreveste,
para que tudo,
tudo, tudo, tudo,
seja mais difícil!

Ora,
talvez tenhamos,
aqui e agora,
mais uma prova,
cabal, por sinal,
contra ti!

Não serias, tu,
ó astuto?

Quem armas,
tão ardilosa,
armadilha?

E tanto quanto,
ou mais ainda,
ardilosa seria,
essa mente doentia,
que,
julgando-se inocente,
fabrica provas falsas?

Não serias,
então,
criminoso,
da pior,
entre todas,
as classificações?

Que tipo,
de astuto vilão,
seria o que,
forja falsas provas,
contra si,
para que todos,
todos no mundo,
o vejam sempre,
como vítima?

Mas eis que,
nova questão se ergue!

Que serias tu,
se afinal,
sucumbisse,
bêbado e sôfrego,
à tão demente encenação?

A pena,
seria,
como é comum nos dias de hoje,
atenuada?

Anulada?

Uma vez que,
tu mesmo,
criaste o plano,
sofreste com ele,
pagaste os danos?

Além,
é claro,
perder,
coisas que hoje sabes,
não poderiam ser perdidas!

O sofrimento eterno,
a vitalícia tortura,
de penalizar-se,
sempre que o espelho,
te encontras?

É possível,
medir o que sofres?

Seria ainda,
possível afirmar,
qual tua real posição,
nesta triste história?

Vilão ou Mocinho?

Não há muito mais,
a ser dito!

Por hoje,
és um condenado!

Nada mais!

Ilitch Kushkov
Indaiatuba – 03/08/09
 
Comunicado Interno!

Pessoa me visitou...

 
Pessoa me visitou...

Havia sim,
havia dito...

Dito não,
havia pensado!
(sem saber, tolo, que pensar é mais que dizer)
Sim, havia pensado!

Não, não apenas não conheço Pessoa...

Não conhecer é simples,
basta-me,
para tanto,
não tê-lo visto!

Não cria!

Não me era possível,
simples assim,
que tal gênio existira!

E segui impassível,
em pensamento,
e afirmando aos quatro ventos,
que Ele,
que Aquele Poeta,
jamais existira...

Eis então,
que,
sem mais,
nem menos,
abro a porta!

Não, não a da frente,
tampouco a dos fundos que,
cá entre nós,
jamais existiu...

Mas a de dentro,
sim,
a de dentro!

Sim,
aquela mesmo!

Que ainda sem chave,
tranca,
lacra,
encerra...

Sim,
que encerra...

Toda a multidão,
confusa e em polvorosa,
de sentimentos que nos guia!

Eis que ali,
logo ali,
está a figura...

Diz-me:

"Eis-me aqui,
ainda que amador,
(ama a dor),
poeta..."

"Duvidas ainda de mim?"

Calo-me,
sincera e solenemente!

Digo:

"Poeta... Caro Poeta...
Que fazes de fronte à porta?
À porta de que jamais,
em toda esta breve e longa vida,
jamais suspeitara?"

Ele pára,
pensa...

Puxa um cigarro!

Ora, Pessoa fumava?

Bom,
o meu...

O que me visitou,
sim,
sim...

Fumava!

Vi o rosto iluminar-se,
de repente,
ante a efêmera chama...

Seguiu-se um longo,
e pausado,
diga-se de passagem,
trago!

Soltou fumaça e palavras...

"Que sabes tu,
patético poeta,
de teus sentimentos?"

Calei-me,
nem sei como,
mais uma vez...

Tive um palpite,
que embora arriscado,
mostrou-se certo,
de que ele,
o Poeta,
diria mais...

E disse...

"Sabes tu,
por acaso,
mais de teu amor,
que ele de si próprio???"

Da segunda vez,
confesso,
não foi,
sequer preciso que pensasse...

Logo,
sem entrelinhas,
prosseguiu meu ilustríssimo visitante:

"Achas ainda,
que antes e depois de tudo,
encerras o que sentes,
sem nada dizer,
absoluta,
e definitivamente,
no que escreves?"

Tive medo!

Sim,
medo enorme e terrível!!!

De contradizê-lo...

De afastá-lo...

Calei-me...

E aguardei!

Qual explosão festiva,
fez-se iluminar,
mais uma vez,
(outras virão),
o rosto do Poeta,
ante o puxar urgente,
e calmo,
de sua boca,
meio que abraçando,
aconchegando,
carinhando,
o cigarro!!!

"Ora não sejas tolo!"

Disse-me,
penso,
em claro tom de advertência...

Escutei-o!!!

"Deixe-os,
teus sentimentos,
viverem por si!!!"

Poeta,
Poeta...

Ouça-me!

É urgente,
garanto,
que me ouças...

O Poeta,
naturalmente,
não ouviu...

E prosseguiu:

"Não sejas tolo,
perceba,
que as palavras,
sempre elas,
livres que são,
nos prendem,
acreditem,
como ninguém!"

Mas como?

Pensei...

E o fiz,
prudentemente desta vez,
calado!!!

"Não perguntes,
não indagues..."

Respondeu-me o Poeta,
calmo e tranquilo,
sem saber de meu espanto...

Prosseguiu o Poeta:

"Nada há de saber delas,
sempre delas,
das cousas,
mais que elas,
confie,
de si próprias!!!"

Comecei,
de novo e em vão,
a pensar...

Disse-me o Poeta:

"Não penses...
Viva!!!
Viva e nada mais!"

Segui,
por hoje,
ao fim e ao cabo,
seu conselho...

Não pensei...

E vivi...

Ilitch Kushkov
Indaituba 20 de Dezembro de 2.011 - 23:38h
 
Pessoa me visitou...

Sobre o Caio, Nós, A Jamanta e Algumas Raladas

 
Sobre o Caio, Nós, A Jamanta e Algumas Raladas

Olha, recebi seu email ontem, ôntôntchi acho, não sei ao certo. Sei que me deu uma súbita inspiração, sabe? E, convenhamos, há tempos que inspiração não é sinônimo de alegria ou coisa parecida! Mas é fato, contudo, que senti-me como naqueles momentos em que bebemos demais e achamos, por qualquer soberba interna [desconhecida e idiota] que conseguiremos evitar a expulsão de tantas e tantas coisas que comemos e coisa tal... Vômito mesmo entende? É preciso dizer, querida, que muitas vezes bebemos, bebemos, bebemos e bebemos! E passamos por aquela loucura toda. Onde achamos a solução para todos os problemas! E ali, bem ali, o corpo se revolta... Como que querendo avisar-nos que nada somos senão um monte de merda sem solução! Durante alguns segundos achamos que estamos bem! Que não, não passaremos mal! Que sim, as coisas serão digeridas naturalmente... Mas não é bem assim, não é? Pois bem, senti-me assim... Achando que tudo já estava se normalizando. Mas não, não está... E, claro, não falo de nossos amores que acharam seu triste fim por esses dias! Falo daquela ausência infinita... Completa! Aquela que nos atormenta todos os dias... E que, tontos, insistimos em botar nomes... “Ah, é tanto trabalho...” ou “Ah, Fulano não podia ter feito isso comigo” ou “Será mesmo que eu mereço?”... É, caríssima! Quando tiraremos essa consciência do maldito papel? Quando o discurso será finalmente praticado... Está [sempre esteve] em nós essa ausência... Esse buraco filho da puta! Algumas vezes, confesso, vítima que sou começo a achar que o poço... Aquele mesmo com o qual nos habituamos e [dele] aprendemos a gostar... Não seríamos nós, eternos imbecis, quem os cavamos? Pior [ou melhor?]: não o inventamos apenas? Tenho essa sensação de que faz um sol desgraçado lá fora... Daqueles de queimar negão, sabe? E estamos sempre a fechar as cortinas... Achamos a escuridão, o enxergar com as mãos mais romântico... Mais sofrido! Mais bonito! Ah... Santa paciência Batman... A que devemos então essa eterna reclamação por só viver no breu? Não deveríamos, por acaso, ser um pouco mais espertos que isso?

Fiquei de te responder à máquina, lembra? Pois é... Cismei, ainda tenho dessas coisas, de jogar bola ontem... Foi um festival de quedas e raladas que nunca vi igual! A TV faz isso conosco, sabe? Vemos fulano e cicrano armando peripécias mil nos gramados e achamos que podemos! Mesma mania idiota nós, os escritores amadores, temos... Ora, para quem conhece o Caio deve ser um sofrimento sem fim [maior que as raladas] ver cópia tão torta e barata de seu modo de escrever... Mas que posso fazer além de me permitir a tentativa? Copiar, copiar e copiar! Sempre porcamente... Pois bem, sinceramente não sei como consegui ainda dirigir ontem de volta para casa tamanho mosaico de raladas, batidas, dores e mancadas com as quais saí da tal pelada... É fato, portanto, que não consegui sentar-me à máquina! Razão pela qual escrevo-te ao computador mesmo... Agora, intrigante isso, como é possível, sensatos que somos, acreditar que damos conta dum trem impossível? Digo, como podemos olhar [sem falsa modéstia] do alto de todas as coisas que já vivemos e dizer: “Ah... Isso é fácil pra baralho!!!” Ora, não é nenhuma novidade que sofremos por sermos idiotas a ponto de achar que resolveremos tudo! Que Caetano, Chico, Vinício e Baden estão do nosso lado... A musicar, sempre belamente, histórias e idiotices que não merecem, convenhamos, ser musicadas por ninguém! Nem mesmo pelo João Bosco e Vinícius! Aqueles que cantam juntos... E aquele tipo de música de gosto duvidoso, sabe?

É difícil, como podes perceber, manter uma linha razoável nas coisas que escrevo [ou tento]...

Sendo um pouquinho [só um pouquinho] mais direto às questões que levantaste em teu email... Bom, só posso dizer-te que também este monstro [quiçá todos os outros] também pode ser feito de fumaça, não? Esse eterno auto-flagelo... Essa mania que temos de achar sempre somos um atraso! Uma perda de tempo na vida de quem nos fez feliz! A cisma idiota de sempre levar-se ao banco dos réus e recusar o papel de defesa! Sempre nós... Sempre os merdas... Sempre quem maltratou, quem achincalhou, quem fudeu [no sentido ruim]... Sempre nós, sempre, sempre! Ora... Peralá, não? Não poderíamos parar um pouco com isso... Com esse trem de eternas e recorrentes auto-condenações? Não nos entendo, sabe? Eu te defendo para ti... E me fodo para mim! E tu? Cometes o mesmo delito... Quando conseguiremos absorver a idéia e nela e dela viver? A idéia de que sim, claro, temos culpa! Sim, ófi córsi e por supuesto, temos nossa participação... Mas que nada é feito sozinho! Sabe, não me preocuparei em fazer com que tudo o que escrevo agora faça muito sentido! Quero apenas que saiba, amiga, que estou contigo nessa! Navegamos no mesmo navio, no mesmo oceano! Esse mesmo oceano que, temos certeza, não tem 10 centímetros de profundidade! O caso, caríssima, é que queremos ser mais..., Quando vemos que o tempo passa... Bom, suspiramos infinitamente! E os [a]normais pensam de nós: “É... Todos sempre lamentam que o tempo passa rápido demais...” Hahahaha! Tolos idiotas... Não sabem que em nós! Para nós... O tempo é leeeeeennnnnnnntttooooooo!!! Que nossos suspiros profundo dizem coisas indizíveis! Que eles, os suspiros, e nós ansiamos o futuro... Para que, sempre vilões, possamos sofrer [e fazer sofrer] de formas diferentes... De formas novas! Ah... Que saco... Sempre as mesmas coisas... Sempre as mesmas agonias e aflições, porra! Ahhhhhh... Que delícia seria um novo sofrimento não? Não novo por ser mais um, mas pelo ineditismo que ele traria! Um novo sentimento [invariavelmente melancólico] não nos faria maravilhosamente bem?

Posto isso, chegamos ao ponto em que a ausência não deve ser extirpada... Tampouco preenchida! Ela se preenche de vazio... É a essência dela! E a nossa... Que seríamos sem essa angústia? Sem essa, permita-me, gastura desgraçada? É essa dor, tenra e macia, constante... É ela que nos permite sermos quem somos... Reclamar dela é, no mínimo, ingratidão por demais! O que podemos, e devemos, fazer é abrir os olhos... E ver que essa ausência é maravilhosa... É feito fome... Nos mantém na briga! Nos empurra para frente... A buscar e buscar coisas para jogar dentro de nós e ver no que dá! Ora, não sabemos que ela jamais será preenchida! E mesmo que o impossível aconteça ela, tão adorada ausência, deixaria de sê-la e nós sumiríamos feito fumaça de cigarro ao vento? Sim, é claro que sabemos! Eis aí, portanto, a beleza do que somos... Nosso projeto é lutar contra o impossível que deixando de sê-lo torna-nos ainda mais impossíveis... Nossa meta, absoluta e completamente inatingível, é de acabar com o que somos... Mas não pensemos, contudo, que trata-se de desistir... É justamente o contrário... O tentar infinitamente inútil! Essa busca incessante por aquilo que nem sabemos o que é!

Essa coisa toda me fode a cabeça... Volto, irremediavelmente, ao ponto onde sempre me condeno por erros que é bem provável que outros tenham cometido! Mas, convenhamos, não fomos mesmo nós que vimos uma trágica beleza em ser sempre o malvadão da história? Alguns, bestas, acham que queremos aparecer... Coitados! Não sabem que amamos tão completamente... Que somos tão obcecados [e absorvidos] pela idéia de, contrariando a matemática, fazer com que 2 sejam apenas! Aos idiotas de plantão, amada amiga, penso que devemos mandar espalhar cartazes por toda a cidade... Propagandas no rádio, internet e no intervalo do Jornal Nacional... “Amamos tão completamente que, cegos, não vemos que todos cometem erros... Queremos todos para nós! Egoístas? Sim! Egoístas de erros e tragédias... De lágrimas e mágoas!”...

É provável, contudo, que depois de analisarmos cuidadosamente o impacto que isso teria decidiríamos mudar o recado... É provável, muito provável, que queiramos apenas chamar o Disk-Jamanta [ver ps]!

Que nos abracemos e, finalmente, numa piranbeira qualquer ergamos os polegares em resposta ao motorista...

E que finalmente sejamos, os dois, apenas um fisicamente também!

Amassados, atropelados, fundidos e fudidos!

Num asfalto quente qualquer a deliciar, com a visão da tragédia fresca, os idiotas e imbecis!

Indaiatuba, 03 de Agosto de 2.011

PS: Para melhor entendimento do paralelo que fiz em relação à Jamanta:

Trecho de uma coisinha do Caio:

“Estás desempregado? Teu amor sumiu? Calma: sempre pode pintar uma jamanta na esquina.

Tenho um amigo, cujo nome, por muitas razões, não posso dizer, conhecido como o mais dark. Dark no visual, dark nas emoções, dark nas palavras: darkésimo. Não nos conhecemos a muito tempo, mas imagino que, quando ainda não havia darks, ele já era dark. Do alto de sua darkice futurista, devia olhar com soberano desprezo para aquela extensa legião de paz e amor, trocando flores, vestida de branco e cheia de esperança.Pode parecer ilógico, mas o mais dark dos meus amigos é também uma das pessoas mais engraçadas que conheço. Rio sem parar do humor dele- humor dark, claro. Outro dia esperávamos um elevador, exaustos no fim da tarde, quando de repente ele revirou os olhos, encostou a cabeça na parede, suspirou bem fundo e soltou essa: -"Ai, meu Deus, minha única esperança é que uma jamanta passe por cima de mim..." Descemos o elevador rindo feito hienas. Devíamos ter ido embora, mas foi num daqueles dias gelados, propícios aos conhaques e às abobrinhas.

Tomamos um conhaque no bar. E imaginamos uma história assim: você anda só, cheio de tristeza, desamado, duro, sem fé nem futuro. Aí você liga para o Jamanta Express e pede: -"Por favor, preciso de uma jamanta às 30h15, na esquina da rua tal com tal. O cheque estará no bolso esquerdo da calça". Às 20h14, na tal esquina (uma ótima esquina é a Franca com Haddock Lobo, que tem aquela descidona) , você olha para esquina de cima. E lá está- maravilha!- parada uma enorme jamanta reluzente, soltando fogo pelas ventas que nem um dragão de história infantil. O motorista espia pela janela, olha para você e levanta o polegar. Você levanta o polegar: tudo bem. E começa a atravessar a rua. A jamanta arranca a mil, pneus guinchando no asfalto. Pronto: acabou. Um fio de sangue escorrendo pelo queixo, a vítima geme suas últimas palavras: -"Morro feliz. Era tudo que eu queria..."
 
Sobre o Caio, Nós, A Jamanta e Algumas Raladas

Nem por Decreto!

 
Nem por Decreto

Ainda que houvesse,
em terras tupiniquins,
aquele tal que,
até 1.988,
carregava força de lei...

Nem mesmo por ele!

Nem por ordem de Buda, Alá ou Deus!!!
[embora, convenhamos, sejam
sempre todos o mesmo,
e mudem de nome, mais ou menos,
qual mandioca é aipim,
e vice-versa]

Não, não e não!

Podes espernear,
chacoalhar, gritar,
xingar e me humilhar!!!

Podes dar com a cabeça na parede!

Dar chilique...

Chamar a mãe, o pai, o filho...

Podes ainda apelar,
chamar o Espírito Santo e tudo!!!

Não, não e não!

Não te faças de besta,
mulher...

É preciso uma vida mais comum?
Claro que sim!

É preciso uma presença mais frequente?
Ófi Córsss!

É preciso ter um pouquinho,
[só um pouquinho]
daquilo tudo que sobra nos idiotas!!!

Aquela coisa diária, sim,
o café na cama,
o cigarro,
o jornal...

As brigas!

Ah, o bem que elas fazem...

E nós?
Que sequer temos direito à elas?

É preciso ter tudo isso,
não nego,
assumo,
concordo,
faço coro...

Sim, sim...

É preciso!

Fazes-me um favor?

Veja que antes,
muito antes,
de termos tudo isso,
é preciso entender...

Que, como diria o Mestre,
"inútil dormir que
a dor não passa!!!"

E essa dor,
essa coisa gostosa,
quente e húmida,
feito chuva de verão!

Essa coisa, Linda...

Dessa coisa não se corre!

Não se evita...

Acordaste com uma vontade,
de casar...

De casar?

Ai que burra...
Dá zero pra ela!!!

Não entendes?
Não vês?

Somos apenas um,
desde sempre!!!

Não é preciso união alguma...

Ela já existe!

E é perpétua, eterna, obrigatória!

Pare de tomar cachaça estragada,
e entenda,
que não há nada que possamos fazer...

Entenda que para que se cases,
seria preciso,
antes,
que eu te desse algo que não darei...

O Divórcio!

Ilitch Kushkov
11/11/11 - 10:45h
Indaiatuba - SP

Escrito em resposta ao poema abaixo:

Meio assim.

Hoje eu acordei assim...
sei lá...
com vontade de casar.

É, hoje acordei assim
mais sentimental que nunca
mais mansa que gata castrada
mais calma, menos depravada
mais entregue, menos desconfiada

Assim...
com vontade de amar
mais serena, menos afobada
mais quieta, menos eletrizada
mais fêmea domesticada

Acordei assim...
menos aflita, mais sossegada
menos intransigente, mais ponderada
mais mulherzinha delicada

Enfim, acordei assim...
feito moça recalcada
feito esposa devotada
mulher resignada

Acordei assim...
querendo casar
Cruzes!
Vou dormir de novo
que amanhã há de passar!

Priscylla Ramalho
11 de novembro de 2011

O poema foi escrito em resposta ao poema de Priscylla Ramalho intitulado "Meio assim."

O poema "Nem por Decreto" funciona sem o "Meio assim."! Penso, contudo, que fiz bem em colocar os dois "grudados" pois o primeiro dá muito mais sentido ao segundo!
 
Nem por Decreto!

Maravilhoso Novo Mundo

 
Claridade,
sol estático!
Céu claro!

A procura,
por nuvens carregadas,
é reflexo de uma,
antiga e teimosa,
com pleonasmo e tudo,
teimosia!

Insisto,
e, graças a Deus,
não as acho!

Procuro ainda,
paisagens tristes,
cinzas e sombrias!

Lembra-te de,
que sempre mesmo,
foi esse o meu jeito?

Mas agora não!

Olho para frente,
e a grama é verde e alta!

Um belo rio,
montanhas o cercam!

Eis o futuro!

Não um construído,
por um adulto infantil,
como quem brinca,
mordaz e maquiavelicamente,
com pecinhas de Lego!

Um natural,
que sempre existiu!

Mas que apenas hoje,
apenas agora,
consigo enxergar!

Não sei,
Anjo da Minha Vida,
andar por esses caminhos!

Não sei sorrir,
como consegues!

Não aprendi,
ou não quis,
o que é pior,
aprender!

Neste imenso mundo,
de felicidade plena,
preciso urgentemente,
de um guia...

Guia,
como sempre,
desde sempre,
tentaste ser!

Guia,
que mostra,
ensina,
pega na mão da gente!

E não há,
nem pense nisso,
alguém melhor,
do que quem nasceu nestas terras!

Os nativos,
assim dizem,
sabem todos os atalhos!

Me ajuda nessa?
 
Maravilhoso Novo Mundo

Ai, ai, ai!!! Eu tô com medo!!!

 
Muito, muito,
muito medo!!

É um medo,
devo confessar,
que não sentia há tempos!

Ele é antigo e novo!

Traz um nó denso,
grosso, enorme,
intragável na garganta!

Mas nasce de um sorriso!

É um medo covarde,
não me enfrenta...

Não enfrenta a beleza,
que dos seus olhos,
saltou,
e agora brilha nos meus!

Ele é um idiota...
Um tonto, um sem-vergonha!

Meu Deus,
cadê o adjetivo perfeito?

Ele é um,
um,
um,
um...

Cadê, Meu Deus?

Já sei...

É um facínora!

Me segura, me prende,
bate em mim, sabe?

Traz-me o passado,
(sempre o triste),
como quem mostra,
sem descanso,
crimes e mais crimes!

Eu tô com medo...

Sei que a beleza vence,
sempre, sempre e sempre!

Mas é que,
sabe o que é?,
a beleza não está em mim!!!

Olha,
venho sido riscado, sabe?
Dia após dia,
por um sangue transparente,
que,
por alguma razão,
insiste em me marcar o rosto!

Vem cá,
senta aqui, senta!

Me seque essa lágrima...
Já não a aguento mais!!!

Pega na minha mão, pega!

Me faz um carinho...

Olha nos meus olhos,
fecha-os...

Me beija,
me morde,
me tente,
me aceite...

Cuida de mim!

Me conta uma história?

Indaiatuba, 29 de Novembro de 2.011
 
Ai, ai, ai!!! Eu tô com medo!!!

Muita Coisa Envolvida - Parte I

 
Muita Coisa Envolvida - Parte I

Antes de tudo
uma singela pergunta:

Perdoa-me se mais uma vez,
como sempre aconteceu,
eu apaixonar-me por ti?

Ah, essa paixão...

A que sai da alma, do espírito!

Uma noite comum, sim?
Não, definitivamente não!

Algumas unidades etílicas,
de uma certa divindade Hinduísta!

Somadas irremediavelmente,
à tantos e tantos cartuchos de nicotina...

Agregue à isso, um belo e saboroso Cohiba,
feito passaporte para um passado
onde nos conhecemos e como disse o Belchior:
é uma roupa que já não nos serve mais...

Enquanto essa mistura era preparada
o prato principal, mesmo nós,
não sabíamos sequer que existia!

Ainda no molho,
Ney e Cartola...

E do nada,
um afago, um carinho inocente!

Daqueles que a partir
de um momento na vida
perdemos o direito de ter!

O fechar de olhos,
de quem nada mais quer!

O sussurro que arrepia!

A boca que beija, morde
lambe, sussura e grita...

Grita tão silenciosamente,
que apenas o espírito ouve!

A mão na pele,
apertando com raiva,
como quem prevê o fim!

O beijo, ah o beijo!

Molhado e nervoso,
carinhoso e seco...

E aquele, que sapeca,
cria ilhas húmidas?
Como que mostrando à lingua:
Olha é por aqui que você vai, viu?

O toque nas costas,
arrepio do teu corpo,
e de sentimentos no meu
que eu nem sabia se ainda existiam!

Teus cabelos,
qual coisas que eu tinha
trancadas dentro de mim!

Quanto mais bagunçados,
mais bonitos ficam...

Confusão?

Sim, tem coisa mais gostosa?

Lembra-te de quando eu escondia teus olhos?

Ganhei quase um Pulitzer por aquilo sabia?

Hoje quando sorrio,
sinto o teu sorriso no meu...

Bem esse aí,
que dou graças a Deus,
por conseguir arrancar de ti!

É como se a mão que pousava
sobre seus lindos olhos,
servissem-me agora para tapar
os olhos que enxergam
tudo aquilo que não vale a pena ver!

Quando eu tampava seus olhos,
sua boca, ai que boca...
abria-se qual o perfeito guia...

A levar-me por caminhos desconhecidos,
e dizendo-me ao apontar para formigas:
olhe aí os enormes monstros que criaste!

E os sorrisos abriam-se
feito sóis na escura noite!

Mais o teu que o meu,
é verdade...

Talvez um ou outro sentimento,
covarde e estúpido,
ainda estaria a tentar a virada...

Mas àquela altura a vitória
da simplicidade e da cumplicidade
já fora decretada...

Lembro-me dos poemas
de uma poetisa,,,
Lucinda? É isso mesmo?

Ácidos, belos e reais,
Qual nossa vida comum!

Mas insisto sempre,
mesmo sem sucesso,
em tratar de assuntos intratáveis!

Lembro-me de tua boca,
ah, sempre ela,
transformando-se em outra...

Uma beleza exótica,
quase sem ar,
certamente sem raciocínio...

Torta e trêmula,
a nem saber o que fazer...

As mãos, mais abaixo,
apertando-me,
como querendo dizer-me
coisas que bocas não falam...

Os cabelos de novo,
a tampar-te os olhos,
naturalmente,
como quando burro,
com as mãos,
forçosamente eu fazia!

A respiração ofegante,
a pele na pele,
o suor, o dente,
que antes sorria,
agora morde...
o beijo ardente...

Tesudo!

E este sem interpretações
filosóficas nem nada...

Uma delícia do caralho!

As pernas, os enlaces,
e tudo, tudo o mais...

E como já nos prometemos,
beber da próxima, só depois!

Haha...

É isso...
 
Muita Coisa Envolvida - Parte I

Questão de Justiça

 
Questão de Justiça

Mais uma vez,
Dormiste comigo!

Linda, serena,
uma delícia!

E como naquela,
que foi definitivamente,
a nossa noite,
quase não dormi!

As últimas noites,
é bem verdade,
tem sido mais difíceis!

Embora sentir
seja uma delícia...

Nada substitui te ver,
te tocar, te beijar...

Arrancar-te, com toques leves,
contorcionismos de espinhas e costelas!

Ou o mais sacana e inocente
sorriso conjugado que conheço,

E fico às voltas
sem saber o que fazer...

Você, sempre melhor que eu,
certamente já descobriu a fórmula,
para, com justiça, tratar essa paixão!

Que queima feito fogo novo,
mas arde sentimentos antigos...

Como que mal explicados,
ou aguardando o que deles
é de direito...

Penso, nossos sentimentos,
serão sempre melhores que nós...

À eles foi concedida uma cota
de uma sabedoria que não seria justo,
cair em mãos como as nossas!

E penso em ti o tempo todo...
E não se trata de paranóia!!!
Hoje, ainda há pouco,
em mais um dos milhares de encontro,
que comumente o cigarro e o café fazem,
cheguei à uma conclusão parcial!

Calma Thiago!
Calma Paulista!

E, presenteado por instantes,
com a sabedoria dos puros sentimentos,
percebi que o que estamos vivendo é uma dádiva!

E que mais uma vez está em nossas mãos,
tratar de tudo bonitinho, bonitinho,
para que não percamos outra chance...

As épocas, o tempo passa caríssima,
são outras...

Agora, justo agora,
que sabemos um pouquinho assim ó,
a mais do que sabíamos àquela época...

Eis que ergue-se,
um monstro de 700.000 mil metros!

Some a isso as responsabilidades,
profissionais de um,
acadêmicas de outro!

Mas venceremos...

De uma forma ou de outra...

Quando estive contigo,
ganhei Paz...

Serenidade!

Para dar às coisas a importância
que realmente possuem...

Mas ganhei também a certeza,
que essa paixão nossa é grande demais da conta, sô!

E que se trata apenas de uma questão de tempo!

Ficar longe docê dói demais!

Mas a certeza de que tudo dará certo...

Põe teu sorriso lindo em meu rosto...
E com isso junto de mim...

Eu vou vivendo...

Feliz,

Como nunca antes...

Indaiatuba – 21/08/08
 
Questão de Justiça

Agosto!

 
Agosto!

Certa vez derramei,
me acredite,
poesia na areia!

E era belíssima,
a praia, claro!

Do poema,
sinceramente,
não me lembro!

Sei apenas,
que eram não mais,
que fragmentos,
de uma incerteza,
que sempre, sempre,
trouxe comigo!

Incertezas tontas,
sabe?

Estava viajando,
dentro de outra,
esta sem o "in"...

Mas não me dei conta!

Tenho alguma vontade,
não toda,
de voltar àquela praia!

Tento toda,
não alguma vontade,
de ler aquele poema!

Sim, de ler...
Não reler...

Fui tomado,
confesso,
de tão súbita inspiração!

Que quando terminei-o,
o mar,
impaciente feito muitos de nós,
já decidira apagá-lo!

E as ondas,
lentas,
qual inquietos ponteiros,
vinham e iam,
liam e,
como que guardando,
recolhiam meus versos para sempre!

Sei,
ou acho que sei,
ou quero acreditar que sei,
que,
voltando até lá,
nada encontrarei!

Senão a obra,
lenta e definitiva,
que a natureza constrói!

Mas,
convenhamos,
não voltaria para conteplar isso!

Sim,
quero [ou queria, não sei!],
voltar!

Queria [ou quero]
achar o poema!

Lê-lo com a mesma calma,
que aprendi,
nem sei como,
a ter nestes dias,
tão tristes e frios de agosto!

Talvez,
quem sabe,
conseguiria recolher ao menos,
o galho com o qual o escrevi!

E outra coisa,
qualquer outra,
poderia escrever!

Mas,
por ora,
tenho preguiça!

Ou covardia,
tanto faz!

Tenho medo,
isto é certo!

É como se aquela areia,
toda ela,
fosse uma só página!

Como se fosse possível,
apenas uma história!

Apenas uma!

Fixa, definitiva!

Não enxergar,
o velho poema,
não me diz,
nem me dá a certeza,
de que ele não existe!

Agora fico aqui,
parado...

Esperando!

As ondas,
a água,
as árvores!

Um sorriso traquina!

Tento recolher,
os pedaços,
do que fomos,
eu, o poema!

Eu, ela...
Nosso antigo futuro!

Não consigo!

Parecem-me,
covarde que sou,
pedaços demais!

Trabalho demais!

Mas eu queria,
queria tanto,
juntá-los mais uma vez!

Me dói tanto,
vê-los,
qual seus donos,
tão longe uns dos outros!

Tenho medo!

E saudades...

Não me importa,
que o tempo cure!

Quem disse,
afinal,
que quero ser curado?

Não me importa,
que novas histórias,
idiotas e imbecis,
sejam escritas!

Não as quero!
Não me fazem,
nem farão,
bem...

Quero a antiga,
da época,
em que burro,
certa vez escrevi na areia,
não mais querer...

Vivo a esperar!

E dói!

Se o tempo,
sempre ele,
imitar o mar...

E,
lenta e rapidamente,
apagar em mim tudo o que,
ela e eu escrevemos!

Ainda assim,
tenho certeza!

Terei vivido,
para viver aquela história!

Nenhuma outra!

Ilitch Kushkov
Indaiatuba, 03 de Agosto de 2.011!
 
Agosto!