Poemas, frases e mensagens de gera

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de gera

Sociedade a pupilas dilatadas

 
Se fico aqui enlouqueço...
Como pode haver tanta diferença?!
Como pode haver tanta indiferença?!
Como pode haver tal consciência?!
Como pode haver tamanha inconsciência?!
Como pode haver tanto preconceito?!
Como pode existir tão medíocre conceito...
Como pode tamanha ambição,
Andar de mão dada com tão pouca visão...
Como pode tanta falta de discernimento,
Pregar tão convicto julgamento...
Como tão pouca escola da vida,
Pode-se achar já tão vivida...
Como algo tão inconcebível,
Se concebe a tão alto nível?!
Como algo tão fraco,
Não se dá conta do seu próprio fracasso...
Como algo sem compaixão,
Exige que o mundo lhe rogue perdão?!
Como algo tão fútil,
No outro vê sempre o inútil?!
Como algo tão pequeno,
Camufla tamanho veneno...
Como algo tão subjectivo,
Pode definir o que é objectivo?!
Como algo tão estúpido,
Existe?!...
 
Sociedade a pupilas dilatadas

Ícaro Apaixonado

 
O teu brilho guia-me...
Transporta-me levitando-me...
Ganho asas que não derretem...
Quando toco no sol.
Transporto-lhe uma mensagem...
Que existe um sol maior...
Que alumia incandeando...
Mas aquece não queimando...
Frias eram as minhas noites...
Escuros os meus sonhos...
Mas o teu brilho irrompeu...
E rompeu este tormento.
A tua luz cegou-me...
Fazendo ver-te com o coração...
Um coração que agora resplandece...
E que está na palma da tua mão...
Meu amor lindo...
 
Ícaro Apaixonado

Maria, virgem Maria

 
Despes-te à minha frente,
Esperando ficares sem algo mais que a roupa.
Esperas uma noite ardente.
Só da ânsia estás completamente louca.

Virgem Maria...
Pensei que essa fosse santa.
E até seria,
Se a ânsia não fosse tanta...

Olha, adormeci!
E os meus sonhos divergem dos teus.
Não te quero a ti.
É altura de dizer a Deus...

Vestes-te à minha frente,
Frustrada por permaneceres como dantes.
A noite esperava-se quente,
Mas da minha frigidez não te espantes...

És virgem, Maria.
Mas não tens nada de santa.
Nem assim te queria.
A minha ansiedade não é tanta...
 
Maria, virgem Maria

Nasce e... empobrece

 
Queria que me amasses como antigamente...
Como na altura em que um beijo era sempre pouco...
Em que um dia era insuficiente e passava num ápice quando estavas comigo...
Em que adormecias tarde pensando em mim e acordavas cedo para estar comigo...
Em que choravas na carruagem do comboio por te levar para longe de mim...
Onde sempre que os nossos olhares se cruzavam esboçavas um sorriso terno de felicidade...
Em que cada vez que falavas em mim as palavras transportavam o peso dos teus sentimentos...
Em que jogavas com tristezas fingidas para captares a minha atenção...
Em que derramavas uma lágrima doce ao observares-me enquanto dormia...
Em que olhavas para mim com respeito e profunda admiração...
Em que volta e meia contigo própria, davas graças da sorte que acreditavas ter...
Em que fazer amor comigo era o auge da nossa paixão...
Em que nos teus pensamentos de futuro eu não existir era inimaginável...
Em que o teu mundo era eu e tudo mais era efémero...
Em que o amor era uma realidade e não algo que se sonha numa vida...
Sim... como eu queria que ainda me amasses assim...
 
Nasce e... empobrece

Três Sentidos, Por Ti...

 
As minhas mãos não são macias,
Mas sabem servir condignamente.
As minhas mãos não são quentes,
Mas sabem aprazer calorosamente...

As minhas mãos não são belas,
Mas sabem tocar lindamente.
As minhas mãos não são de príncipe,
Mas são de gente certamente...

A minha boca não é uma flor,
Mas sabe caracterizá-las fielmente.
A minha boca não é um fruto,
Mas sabe apreciá-lo calmamente...

A minha boca não é doce,
Mas adoçará com ele sofregamente.
A minha boca não é a tua,
Mas espera beijá-la loucamente...

Os meus olhos não são estrelas,
Mas por ti brilham incessantemente.
Os meus olhos não são ouro,
Mas em ti o vêem, estranhamente...

Os meus olhos não são deslumbrantes,
Mas vislumbram-te deslumbrantemente.
Os meus olhos não são cegos,
Mas mais nada verão que tu, para sempre...
 
Três Sentidos, Por Ti...

Ser ou não Ser

 
Dizei-me, onde estou eu?
A viver um destino que não o meu?!
E do meu, espero...
Esperando que seja o que eu quero!...

Tremo por esta indefinição,
Que define se sou ou não
Dono e senhor do meu Ser.
Se é a minha vida que estou a viver...

Ora, se não for, paciência!
Não me levará à demência.
Só sei que não a roubei.
Mas morto ou ladrão, ladrão ficarei.

Podem ser cem anos de perdão.
Pode-me parar já o coração!
Estou vivo sem a minha vida ter?!
Verdade ou não, não quero crer!

O mal é este perigo iminente
Por estar a morrer somente
Sem ao certo saber,
Se é a minha vida que se está a desvanecer...
 
Ser ou não Ser

Frases de um Bêbado

 
Já alguma vez experimentaram afiar um lápis do princípio ao fim?
Um lápis novinho em folha, afiarem-no até mais não poderem...
Certamente que não! E porquê? É algo simples, e que está ao vosso alcance. Não prejudicam ninguém, não se prejudicam a vocês...
Talvez porque não tem lógica, ou porque nem nunca pensaram em tal coisa.
Mas de certo já fizeram coisas piores e com menos lógica. Com menos sentido até. Algo que de certo já prejudicou alguém, ou a vocês próprios. Então porquê não afiar um lápis até mais não ser possível?
É algo simples, e que está ao vosso alcance...
Dá que pensar não dá?! Aventurem-se. Façam-no agora. Irão dar-se conta do quão libertador pode ser.
E depois, tenham em mente o seguinte; para a maior parte das coisas da vida, a simplicidade da coisa é idêntica... Para bom entendedor, meia palavra basta não é verdade?! E para quem não percebeu a mensagem, aqui vai outro conselho: Leiam um livro; ao menos a informação está mais bem processada ...
 
Frases de um Bêbado

Desencontros

 
Estou cego e olho
Para dentro de mim
A minha imagem colho
E sinto-a perto do fim
Tento ouvir o que digo
Finjo-me surdo
Pois digo que amigo
Não sou eu, que está contigo
E fico mudo
Com poucos sentidos...
Sinto-me culpado
Por ser um frustrado
Por ter vendido-os
Ao ódio total
Que me absorveu
Deixei de ser eu
Em mim morreu
Era um amor fatal...
Caminho apalpando
Por fora e por dentro
Não sei até quando
Perdi a fé
Morro até
E no Inferno entro
Porque cego não sinto
Tocando não vejo
Falta só o quinto
Que em breve desaparece
Amargo e amargurado
Com tudo o que me acontece
Já nada me apetece
Farto deste fardo
Que o destino me tece
E mais eu me aleijo
Bati aí
Feri-me aqui
Com tudo o que vi
Sem ti e não senti
Paro ao pé de ti
Morta por dentro
Viva por fora
Tento ver agora
O que olhei mas não vi
Porque cego não olho
Para fora de mim
E dentro de ti
O Inferno
O fim...
 
Desencontros

Amor á primeira vista

 
Conheci-a num belo dia de Verão...
Estava na praia e ela vinha com umas amigas minhas...
Cumprimentaram-me e foram ao banho...
Fiquei logo encantado, adorei a sua voz; foi amor à primeira vista...
Dei-me conta que voltavam e fingi estar a dormir...
Senti uns pingos nas costas à medida que estendiam as toalhas...
Ralhei um pouco em tom de brincadeira e envergonhado precipitei-me novamente no sono fingido...
Os risos e a galhofa eram abundantes, mas distinguia claramente a sua voz...
De repente, comecei-me a sentir observado e apercebi-me que ela tecia comentários abonatórios a meu respeito; sentia-se também atraída por mim...
Fazia-se tarde e elas tinham que ir embora...
Disseram-me adeus, e foram, alternando risos cúmplices entre elas...
No dia seguinte tive uma surpresa; ela telefonou-me...
Sem jogos ou rodeios, falou-me da sua atracção por mim e queria saber se nos podíamos voltar a ver...
O meu contentamento era visível e eu também não fiz por o esconder...
Correspondi-lhe os sentimentos e marcamos daí a dois dias, numa esplanada na praia onde nos havíamos conhecido...
Contei os minutos até ao dia que finalmente chegou...
Estava um dia quente, típico de Agosto...
Cheguei à hora marcada e sentei-me na esplanda que combinámos e esperei...esperei, esperei e desesperei...
O tempo subitamente havia mudado; o vento soprava forte e ameaçava chover...
Entrei para dentro do café, onde estive até ao momento que um empregado me abordou, trazendo um bilhete...
Ao fim de uns momentos começou a ler:
"Cheguei às quinze horas e dezoito minutos, doze minutos antes da hora marcada. Vinha radiante, espectante por estar contigo. Pouco depois vi-te ao longe... Sinceramente, senti algo inexplicável, algo com o qual não consegui lidar... Desculpa, mas tive que ir embora. Chorei ao escrever este bilhete, enquanto te via sentares-te na esplanada. Desculpa, por favor, desculpa-me. Espero que sejas feliz com alguém um dia, mas esse alguém não sou eu, pois sei que não seria feliz...ao lado de um cego..."
 
Amor á primeira vista

Consciência

 
Transforma-te!
Renasce das cinzas!
Acaba com a letargia!
Com esse submundo
Em que insistes viver!
Um eremita
De uma realidade
Que de tão irreal,
Repugna-me!
Sai daí!
Caminha em frente!
Tem o prazer
De ter em mente,
A noção de viver
E de que irás morrer!
Sonâmbulo!
Mundo da lua!
Cabeça nas nuvens!
Não!
Saudável sonhador
Que manda e desmanda,
Nos próprios pesadelos!
Eu auto-designo-me,
Poeta disforme!
Fruto de uma árvore
Genealógica!
Não, não, não! Errado!
Estou enganado!
E sinto-me frustrado
Por ser assim...
Sim!
A dignidade não tem;
Não tenho preço!
Também a honra tem,
Por poucos o apreço;
Que mereço sem
Ter que pedir a quem,
Sentimentos mereço!
Não pode ser assim!
Tenho que puxar por mim!
Foi por isso que vim!
E vou desempenhar até ao fim,
O papel da minha vida!
Sem remorsos ou idas,
A um triste psicólogo!
Estou farto e não acaba
Esta vida desgraçada!
Treta de vida não é?!
Pois ainda estou de pé!
E vou dar cabo de ti,
Que existes e estás aqui,
Meu desprezível destino!
Para bem do Bem,
Portem-se bem!
Para mal do Mal,
Portem-se bem!
"Portem-se" quem?
Deus e Jesus Cristo,
Judas e Belzebu!
Escolham qual!
Lembram-se de Abel e Caím?
Eu torcia pelo Caím!
Mesmo sendo Abel!
E continuo a ser!
É tudo uma questão
De dualidade;
Amor/Ódio;
Guerra/Paz;
Dia/Noite!
Não existem um sem o outro!
E homem não é,
Quem não tenha dos dois!
E quem não tenha,
É perfeito!
Perfeito!
 
Consciência

Sexto sentido

 
Tenta ouvir o silêncio...
Ver a luz na escuridão profunda...
Cheirar o aroma da mais pura água...
Sentir a textura do vento...
Saborear a doçura do sal...
Quando o conseguires...
Irás te descobrir...
 
Sexto sentido

Crosta

 
Paredes escuras, humidade viva e sufocante.
Doce lar infernal que me embriaga os sentidos,
E me faz seu escravo, um defunto amante...
Não sou mais que isso desde tempos antigos...

As minhas vísceras já as consumi eu próprio;
Entusiasmei-me com falsas e frágeis esperanças
Que findaram antes mesmo de se tornarem vício,
Tornando meus fortes desejos em atitudes mansas...

Alimentava-me de mim próprio sofregamente
Para não morrer consumido pelo meu cubículo.
E assim lá ía sobrevivendo dolorosamente,
Deixando a Morte abandonada e o Diabo fulo.

Agora que me conheço por dentro e por fora,
Submeto minha alma e espírito aos meus caprichos.
Expulsei-os de mim e em muito boa hora.
Não passavam de vermes, repelentes bichos.

Os espíritos, outrora atrás de minha alma,
Atacam-me, atazanam-me, enlouquecem-me.
Riem-se de mim, ouço-os à noite na cama.
Cheio de medo e intranquilo querem ver-me...

Não me dão um minuto de tréguas que seja.
Querem os restos que deixei de mim próprio
Mesmo que nas derradeiras forças eu me veja,
Querem-me desperto, alerta e sóbrio...

Chupam-me as entranhas até ao tutano;
Sou seu alimento e desprezível brinquedo;
Uma oferenda a um deus tirano,
Que se livrou de meus irmãos muito cedo...

Vagueio de mão em mão à espera
De que um dia felizmente me abandonem.
Era o princípio de uma nova Era;
Desejem-me isso, rezem e sonhem.

Necessito de liberdade; não, de ser livre!
Longe da merda, perto da vida...
Talvez o único sítio onde não estive,
Pois sou alguém que só com a Morte lida.

Com Ela faço todo o tipo de jogos,
Mas o que mais gosto é o das "Escondidas"!
Digo-lhe:-"Não me apanhas, talvez mais logo!"
E enfadada vai ceifar outras vidas...

Mas morrerei e tal como nasci.
Sem nada e com nada para sempre.
Com um vazio foi como vivi...
Quem me dera ainda estar no ventre...
 
Crosta

Inimigos

 
São coleccionáveis;
Alguns mais fiéis que aqueles que por assim os tomas...
Dão a cara,
Ou escondem-se na tundra, movimentam-se nas sombras...
Insignificantes
Ou requintados, tenazes, aplicados e assim, temíveis...
Serão eternos
Ou efémeros, passageiros, recordações do passado...
Tens os preferidos,
Os que já são de estimação e fazem parte de ti...
Os que vais ganhando,
Formando propositadamente, ou mesmo sem o quereres...
E os outros,
Os que deixam de o ser e passam a teus companheiros...
Ou aqueles,
Que companheiros eram, mas agora estão do outro lado da luta...
E os de ocasião,
Que o são simplesmente consoante...a ocasião...
Os inexistentes,
Que deambulam apenas na imaginação, mas que te consomem...
Os históricos,
Que mesmo não os conhecendo, detesta-los pela sua história...
Os não palpáveis
Como o tempo, as doenças e os mais derivados problemas...
Os caprichosos,
Que o são apenas por não serem iguais a ti...
Os intoleráveis,
Porque muitas das vezes, esses sim são teus iguais...
Os rivais,
Que só por isso são, quer se trate de políticas, amores, jogos...
São muitos,
Variados; estão em toda a parte, até depois da morte...
Mas o pior de todos,
Esse sem dúvida, tem a tua forma e mais não é que tu próprio...
 
Inimigos

Anjo da Guarda

 
És o meu anjo da guarda...
Nesta queda infinita,
És o meu amparo...
Susténs-me, aguentas-me,
Embalas-me nas tuas asas...
A tua aura envolve-me,
E mantém-me longe do perigo...
A tua luz desbrava caminhos
E mantém-me longe do abismo...
És o meu anjo da guarda,
A minha protecção do mal...
O meu escudo divino,
Que detém golpes fatais...
Zelas por mim dia e noite,
Mantendo acesa minha centelha...
Caminhas sempre a meu lado;
Não me abandonas a um futuro incerto...
E afastas assim o medo...
És o meu anjo da guarda,
O meu apoio, minha salvação;
A minha benção de fé,
Que me mantém de pé,
Firme, para a redenção...
 
Anjo da Guarda

O Demónio governa!

 
Saudações a todos!
Eu sou o vosso padre que rezará por vocês ao Senhor!
Confessem-me os vossos pecados!
Satisfaçam-me com os mais negros!
E satisfaçam assim o Senhor!
Assim é o Seu alimento!
E será esse o vosso destino!
Saciar a maldade...
Com um dos mais satisfatórios frutos das trevas...
O puro pecado!
O que outrora era decadência...
A serpente...
Agora é a realidade...
É esse o fogo que arde na Humanidade...
Que cada vez mais o alimenta...
Ateia-o com a imoralidade, malvadez e hipocrisia!
Adoração ao Demónio!
O meu Senhor!
O vosso Senhor, que vocês tanto idolatram...
E que cinicamente vestem de branco!
Para se esconderem dos fantasmas morais do passado!
Que em certas épocas festivas vos assolam!
Mas no fundo...
Não perdem tempo para retirar as máscaras...
Quando tais épocas findam...
E apressam-se a retomar a doutrina habitual...
Cheia de egoísmo e egocentrismo...
Repleta de crimes e falsidades!
Mas desenganem-se!
Assim, o meu Senhor cada vez mais aumenta a Sua força...
Sustentada por filhos que não são seus...
Mas que traiem seu Pai...
Sem tal se aperceberem, ou talvez não...
Sem se incomodarem...
Sem mão na consciência!
Que agrado me fazem, meus renegados!
Que rica Era que atravessamos!
O Mal impondo-se ao Bem sem ter quem lute pelo contrário!
Mas com tal o meu Senhor não se contenta!
Irá sim, ceifar vossas reles vidas!
Colher vossas almas!
Alimentar-Se do vosso mundo!
Impor-lhe as trevas para todo o sempre!
E tudo, graças a vocês!
À força que lhe transmitiram, praticando a Sua doutrina!
A vossa recompensa?
Irão fazer parte do Seu mundo!
Irão vaguear com Ele pelas trevas!
Serão Seus escravos!
Tudo consequência de um genocídio que será impiedoso...
E que estará para breve!
Rezemos então ao Senhor...
Para que o destino se consuma sem demora...
 
O Demónio governa!

Descarga

 
Enquanto me beijas, olho-me ao espelho...
Desces-me ao pescoço e enojo-me com o que vejo...
Cuspo para o reflexo enquanto me babas o corpo...
Arrefeço enquanto aqueces; choro à medida que suas...
Apetece-me fugir mas tens-me bem acorrentado...
...literalmente, já que me algemaste ao cano do lavatório...
Aprisionas-me corpo e espírito em prole do teu prazer...
Esfregas-te num ritmo cada vez mais estonteante, à medida que vais ficando mais molhada, e não é só suor...
Nem te dás conta da minha frigidez, pois teu calor dá para os dois...
Já sufoco de tão açambarcado que estou pelo teu apetite voraz...
Mais não sou que um pedaço de carne atirado aos cães...
À medida que me retalhas, já minha alma havia sido dilacerada à muito...
Dás o golpe final mesmo sem consumares o acto; a excitação transcendeu-te e antecipou-te...
Mas não faz mal! Não te sentes frustrada pois não interessa como, mas sim que o conseguiste...
Regozijas-te assim...
O auge foi rápido e a letargia ainda mais...
Sem mais demoras, despes-te da nudez e abandonas o lugar do crime...
Eu, nem me dou conta que fiquei algemado; o meu pensamento deambula à medida que olho fixamente um rasgo de papel higiénico usado que transborda do caixote do lixo...
Que inveja!...
 
Descarga

Caruncho

 
Estou no meio de um bosque...
Cavo uma vala no chão...
Deito-me nela, e deixo-me estar...
Cubro-me de terra...
Ao fim de uns dias, já sou amigo dos bichos...
Ao fim de umas semanas, já tudo são raízes...
Ao fim de uns anos, sou um belo carvalho...
Quando dou por mim, sou um caixão...
 
Caruncho

Toque de Luz

 
Desde que te foste, não mais parou de chover... O próprio mundo chora, partilha o meu sofrer... Todos os dias me pergunto, algo que não sei responder... Como posso ter a ousadia, de sem ti continuar a viver?!... Caminho de cabeça caída; assim está o meu espírito... Ergo-a apenas para o céu, na esperança de ver o teu... A minha dor é tanta; perdi-te e estou perdido... Se alguém tinha que ir, porquê tu e não eu?!... Só me acho em sonhos, pois aí também te encontro... Acordar é o meu pesadelo; viver, o meu tormento... Tornei-me um farrapo humano, tamanha é a amargura... Porque Deus deixou uma alma imunda e levou uma pura?!... Às vezes dou comigo, jogado num canto qualquer... Com o álcool como amigo, uma garrafa como mulher... Todos passam por mim, olham mas sem me ver... Pouco importa também, o que quero é me esconder... Por momentos no meio deles, parece que te vislumbro... Corro no teu encalço, grito mas não me ouves... Entro novamente no vazio e deixo-me ir ao fundo... Meu Deus, chamo tanto por ti, porquê nunca respondes?!... Desespero com o desespero, enquanto espero pela minha hora... Gostava tanto que me viesses buscar, que me levasses daqui para fora!... Já paguei os meus pecados, entrego-me sem mais demora... Mas Deus quer-me a fazer companhia, à restante gente que chora... Egoisticamente que seja, dos outros quero lá saber... Só a ti queria aqui, os outros bem podiam morrer... Por favor volta, não aguento mais esta solidão... Por uma vez mais que fosse, gostava de sentir a tua mão... Encostar a cara ao teu peito, ouvir teu coração... Dormir junto contigo, embalados pela nossa canção... Mas sei que tal não é possível, que estupidez a minha... Teimo em viver no passado, encarcerado nas lembranças... Mas o caminho que percorres agora, não queria que o fizesses sozinha... Não me importo de te ter, mesmo que em falsas esperanças... Assim faço do passado o meu efémero presente... Sei que estou desgastado, cada vez mais demente... Mas não me censurem, em paz deixem-me somente... Pois cá no meu mundo, vou sobrivendo contente... Aqui tudo são fantasmas, espectros errantes... Almas penadas, espíritos deambulantes... Mas a paz é total, acabaram-se os sofrimentos constantes... E para todo o sempre, eu e ela continuaremos a ser amantes...
 
Toque de Luz

Cínico espelho meu

 
És tão promíscuo...
Olho para ti e dá-me vontade de chorar...
Pervertido também...
Tornas-te nojento...
Na tua cabeça desenrolam-se batalhas carnais...
E os soldados, belas amazonas lutam sem armadura...
Dilacerando-se; o sangue, a nu...
E tu, que baba...
Repugnante...
Já nem pensas claramente...
Despes tudo e todas a olho nu...
Já não contolas os teus instintos...animalescos...
A beldade do erotismo passa-te ao lado...
A pornografia?! Ah, doce pecado...
À noite, os teus lençois mais não são que peles macias...
Tacteiam-te a silhueta, intoxicando-te...
Belo sonho que não queres abandonar...
E deixas-te dormir...
Embalado por aromas tépidos e suados...
És marinheiro navegando num mar de mulheres...
Mas não comandas...
És sim comandado, hipnotizado...
És Ulisses sem amarras, ouvindo o cântico das sereias...
Mas de mitológico ou lendário nada tens...
És um simples mortal...
Nada mais...
Emanas um cheiro a fervor, a testosterona e excitação...
Como se quisesses demarcar um território...
Besta selvagem...
Olho para ti e dá-me vontade de rir...
Tenho pena de ti...
Nunca mais te quero ver...
Meu reflexo...
 
Cínico espelho meu