Poemas, frases e mensagens de Álvaro

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Álvaro

A Dor

 
A Dor
 
A DOR

Oh! Dor, tu és a tácita estradeira
Desbravando as montanhas grandiosas
Dos turbilhões de almas orgulhosas
Que se erguem ao clarão da luz primeira.

Sucumbem à tua ordem costumeira
No apogeu das honrarias ruidosas,
E gritam, e choram temerosas
Antevendo a sentença derradeira.

Apagam-se as luzes... Descem trevas
Entre as sendas íngremes e rudes...
Surgem outros Adãos, novas Evas.

E o mundo segue no mesmo estertor,
Até que essas almas sem virtudes
Compreendam a grande lição da dor.

Álvaro Silva
 
A Dor

Perene Amor

 
Perene amor

Perene será este amor
Que em meu peito vive já morto,
Que alimenta a dor,
Que esvazia o cálice dos sentidos,
Que recama de espinho meus vergéis floridos,
Em imensurável torpor.

Perene como o céu absoluto!
Na mais longa e injusta das batalhas
Eu não mais luto...
Traga-me como resto de um cigarro
Afoga-me no teu rio fundo de escarros
No derradeiro minuto!

Álvaro Silva ©
 
Perene Amor

Sinto Apenas

 
Sinto Apenas
 
SINTO APENAS

Importo ao meu verso simples, o sentimento!
- Flor imarcescível das auroras infindas.
Sinto a gleba densa e o etéreo firmamento,
A natureza das coisas em gotículas lindas.

Não sou poeta, mas encanta-me a poesia,
Como tenro pássaro que sem plumas estivesse.
Ah! Se o vento vigoroso do estro em extasia
Este pássaro implume altaneiro o mantivesse! ...

Sei das críticas, do desdenhar das caras,
Sei das imperfeições e das perfeições raras.
Meu verso as contém, tão grandes quão pequenas.

Não ligo, não sou poeta, por mim confesso,
Sou anormal simbiose – eu e o verso;
Sou homem-emoção, sinto apenas.

Álvaro Silva.

Este "soneto" está do jeito que o concebi, não empreendi nenhum esforço em metrificá-lo, fiz questão de que assim fosse pelo que exponho nos versos e o coloquei na categoria dos sonetos, porque como todos sabem, sou amante deles!
 
Sinto Apenas

Teu Meu Brasil

 
Teu Meu Brasil
 
Teu Meu Brasil

Cumpre seja todo fim mais belo que o meio
Não é a presença, mas a falta que faz....
Exprime-se, a arte, por variados canais
E nesta questão mediocremente permeio.

Nada espero dum povo que avessa altura
Atado ao solo só de vermes entendem,
Balcões e bares são para isso que tendem.
Que curtem os “drinkes”, aversão a cultura?

O teu Brasil dos carnavais e do samba
Uns às fantasias, outros, anéis de bamba.
Na verdade outro Brasil desejo pra mim.

O meu Brasil seria da cultura e da arte
Mas ai delas, meu Deus, nesse país de aparte!
Como o lírio e a rosa num plantio de capim.

Álvaro Silva
 
Teu Meu Brasil

Nesse Mundo

 
Nesse Mundo

Vênia às celebridades mundanas!
Suas guerras, empáfias e mentiras...
Que exacerbem o calor das iras
Nas caldeiras quiméricas, profanas.

Consterne-se a virtude e as hosanas!
Drogas, concupiscência – quem prefira,
Acres temperos ao molho que inspira
O vil desejo das escórias veteranas.

Mas não será a terra eterna hospedeira:
Dessa turba de asnos em asneiras,
Dessa casta de vermes imundos!

Quebram-se nas suas carnes os ossos
Que aqui deixarão como destroços
De uma vã existência nesse mundo.

Álvaro Silva.
 
Nesse Mundo

E Das Vezes

 
E Das Vezes

Quero-te sem medo e sem receios!
Condensarei teu murmúrio ao meu alcance
Na mais pura extasia desse lance
Quando a perfeita simetria dos teus seios

Alcançar minha pele então desnuda,
Nada mais entre nós, nada mais...
Só o belo arrebol dos pantanais
A querer-te mais que eu e mais sisuda...

E das vezes que o beijo incoercível
Sulcá-la às raias do inconcebível,
Certamente novo beijo pedirá;

E das vezes que seu corpo estremecer
Em choques delirantes de prazer,
Novamente a outro extremo se dará.

Álvaro Silva.₢

Peço desculpas pela falta de métrica. Sou apenas um amante dos sonetos e apenas isso, não domino essa técnica. sei que métrica é uma das regras para a escrita de sonetos, mas vos confesso nunca a estudei!
 
E Das Vezes

Despedaçado

 
Despedaçado
 
Despedaçado

À guisa de inefável desencanto
Fostes vós -fina flor do holocausto,
A ruína vagarosa do meu fausto
Indiferente ante o eco do meu canto.

Acaso sabeis do coração exausto,
Desta dor pungente que a senti tanto?
Foi longa a trilha percorrida em pranto,
De peito arfante e constrangido hausto.

Se te afigurei demasiado insano,
E como um louco apenas relegado
Na triste vala daquele triste ano,

Ah! Não entendestes o significado...
Morri pouquinho a cada desengano
E renasci, porém, despedaçado.

Álvaro Silva©
 
Despedaçado

ARREPENDIDO

 
ARREPENDIDO

Envenenado cedi às ilusões descabidas.
Oh! A deixei, sem porquês... Indiferente...
Não mais um coração, só marcas e feridas,
Quando súplice voltei, envergonhadamente:

“Perdoa-me, doce amada, as sinuosas curvas
Traçadas por mim em tua reta existência...”
E seus olhos como fonte de águas turvas
Gotejara em minh'alma a sua rica essência:

“Perdoei-te, querido, as bebidas, as mulheres...
Amo-te ainda, e ainda mais se quiseres!
Não cessa de pulsar um coração entristecido...”

Não pude encarar-lhe o semblante orvalhado!
Ferido de remorso, eu, um cego culpado,
Um trânsfuga do amor... Arrependido.

Álvaro Silva.©
 
ARREPENDIDO

Como Eu

 
COMO EU

Vivo a inquietante turba das falências,
A imperfeição complexa do fracasso...
Falaz e verdadeiro num só abraço
Na contramão de todas as evidências;

Ora o heroico infante em excelências,
Ora em covardes defeitos me enlaço!
Cada minuto e sempre a cada passo
Mato e revivo tais inconsequências.

Como eu, fazem parte dos numéricos,
Vivos em estados cadavéricos
No exercício voraz da necrofagia,

Amálgama dos pútridos conceitos
Com a noção perfeita dos direitos,
Existindo por lei de fisiologia.

Álvaro Silva.₢
 
Como Eu

HUMANA REDENÇÃO

 
HUMANA REDENÇÃO
 
Humana Redenção

Onde se encontram as salivas cuspidas,
O ricto torpe e mordaz do ufano cenho?
E por onde a injúria, o escárnio e o lenho,
Que fizeram do cristo o fanal das feridas?

Nada restou! As mãos limpas de Pilatos,
O fel farisaico, publicanos e ébrios;
Aboliu-se a vergasta atroz, e os sinédrios
-Abrigo das lendas, hospício dos fatos.

Judas que da perfídia fez seu consorte,
Célere marchou para os braços da morte.
Olvidara insano o rabi da Galiléia.

Humanidade aflita, redimirás,
Por injusta liberdade a Barrabás
Na cena triste e longínqua da Judéia.

Álvaro Silva©
 
HUMANA REDENÇÃO

Rogativa

 
Rogativa
 
ROGATIVA

Oh! Pai, criador do criminoso e do justo...
Fazei dessa terra, esfera incandescente
Sob os influxos do amor, eternamente
Morada da paz, aconchegante arbusto;

Teu é o ilimitado poder, eterno, augusto
Esmeraldina estrela de luz clemente,
Dissipando os negrumes, inda pungente,
Dos corações que buscam o mal vetusto!

Porquanto, confiante, aqui me vejo abrindo
Meu coração, das agruras emergindo,
Em meio à prece fervorosa e compassiva

Pelo lar terreno, pelos bilhões de irmãos...
Entregarei, humildemente, em vossas mãos
As espinhosas flores dessa rogativa.

Álvaro Silva
 
Rogativa

Orgulho e Vaidade

 
Orgulho e Vaidade
 
Orgulho e Vaidade

Recua ante o orgulho que te exalta o lume,
Cessa a vaidade tola neste mundo
Onde as mazelas de ser infecundo
Já corroeram-te o inexpressivo cume.

Deserta das fileiras – e te assume,
Deste lôbrego ócio tão profundo...
Volta, Mas abandona o lodo imundo
Que te serve por vagas de perfume.

O tempo não te espera desta alcova
E exige imperativo que se mova
À humilde condição de ser homem,

Outro César que a vida retempera!
E grita na lápide, vocifera...
Qual relegado aos vermes que lhe comem.

Álvaro Silva
 
Orgulho e Vaidade

A Jenário

 
A Jenário

Desde origem informe de embrionário
Quando foste cerebralmente torto
- Livre da culminância vil do aborto,
Quiseste ser homem, poeta e Jenário.

Como poucos, formou-se o maquinário,
Avantajado no efeito do absorto,
Enche de vida qualquer verso morto
Se alvo de seu fértil imaginário.

A Jenário que não creio seja gente
Mas a forma poética dos arrebóis
Que sempre toca e toca intimamente...

Que bom neste mundo estejais entre nós...
De grande alegria gozam teus docentes,
Infinitamente felizes teus lençóis!

Álvaro Silva. ©



Este singelo soneto já o fiz a algum tempo em homenagem a um grande poeta do qual sou admirador: Jenário de Fátima.
 
A Jenário

Amada Sara

 
Amada Sara
 
Amada Sara

Sei que muito te amaria se pudesse
Quão ansioso nos teus braços me poria
E quando breve o fim chegasse de um dia
Sem fim seria o doce beijo que a desse.

Sem você a noite escura mais parece
E tudo em mim é confusão, é anarquia...
Que faço agora sem a tua companhia,
Se teu afago e teu jeitinho não se esquece?

Te desejei amor, e de tal forma eu a quis,
Que tanta dor a nada se compara
Dado o aceno amarfanhado que te fiz.

Perdi então a quem eu sei que mais amara
Foi tão profundo, tão intenso, e sem raiz.
Amei somente, e só a ti, amada Sara!

Álvaro Silva

Este soneto é ímpar para mim. Curiosamente o fiz, à época, julgando ter perdido o grande amor da minha vida, o qual sou casado com ele hoje: Sara. Graças a Deus o mundo dá muitas voltas.
 
Amada Sara

A Lua

 
A Lua
 
A Lua

Há na lua um arco-íris sem as cores
A tez monocromática das eras
O feitiço nos olhos das panteras
Um sutil hipnotismo dos horrores.

Há na lua a contrição dos desertores
À luz minguante cuja noite gera
A certeza da morte que te espera
Há na lua dos mistérios, dos temores...

Outra há, por luzeiro mais afeita,
Recanto das paixões e dos amantes
Dessas noites que a vida a tudo enfeita,

Inumada no céu como se fora
Eterna testemunha dos instantes
E visão inalcansável das masmorras.


Álvaro Silva©
 
A Lua

Amor Alimento

 
Amor Alimento
 
Amor Alimento

Aquela dor, a maior que há na vida,
Entranhada no peito fortemente
Alimentou de cinza a minha mente
Feito restinho de brasa esmaecida.

Sendo intensa, trágica, imerecida...
A Perguntei, talvez, inutilmente:
“O que te fiz, ó dor, tão gravemente,
Que me destróis, assim, enraivecida?”

E, Me respondeu a dor como se fora
Aniquilar-me à luz abrasadora
Mostrando todo seu contentamento:

“A fome induz o caçador à caçada,
O choro atrai minha sutil emboscada...
Enlevo-te o amor, e enfim, me alimento.”

Álvaro Silva
 
Amor Alimento

Nunca o Perdi

 
Nunca o Perdi
 
Nunca o Perdi

Em tenra idade a orfandade paternal
Rompeu a porta sem divisar a tramela.
Foi coisa cruel ter a companhia dela
Que me levou o herói, meu poema lirial.

Quem dera sua presença mais durasse!
Vê-lo velhinho, de cuidados precisando
Vendo seu braço no meu se apoiando
“Filho querido!”, fosse assim que exclamasse...

A verdade é que o amor transcende a morte.
Das cinzas foscas almejei o meu suporte
E em prantos, jubiloso, o recebi:

Pai zeloso, nos meus sonhos me visita,
Está tão belo! Uma beleza indescrita,
A prova cabal que eu nunca o perdi.

Álvaro Silva

Singela homenagem ao meu pai!
 
Nunca o Perdi

Enganos

 
Enganos
 
ENGANOS

Fui completa ruína dos seres que amam
Enorme alegria destes mesmos seres,
Fui ainda daqueles que se muito enganam
Dos que se enganam tive seus prazeres.

Tola paixão é dardo comburente
E em meu corpo ateei fogo sem sabê-lo.
Mas se outrora fui larva incandescente,
Hoje um ‘‘iceberg’’ em célere degelo...

As vezes me deprime este fantasma
E questiono: quantas vezes hei de errar,
Se fundo estou, e envolto neste plasma?

Quando entrevejo na resposta o limiar:
É que o amor não faz as vezes de miasma,
E coração foi feito mesmo p’ra amar.

Álvaro Silva
 
Enganos

Conduzindo Desalentos

 
Conduzindo Desalentos
 
CONDUZINDO DESALENTOS

Dizem, os corações ainda empedernidos,
Certo serei ao esquecimento destinado
Pelo prisioneiro extremo dos sentidos;
Pelo vulto insanamente emocionado

Que sou! De espírito e corpo estremecidos
Perto dos arcanos celestes alçado
Se acorrer ao cérebro assim, espargidos
O ressoar das rimas num coro poetado...

Ah! Vós, malsinadas línguas tão falantes,
Sorvereis o fel das ditas infamantes...
Leve parecerão os féretros nojentos,

Serventes à morte das palavras vossas,
Enterradas, jamais ressuscitem nossas,
Como zumbis conduzindo desalentos.

Álvaro Silva
 
Conduzindo Desalentos