Poemas, frases e mensagens de ÔNIX

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de ÔNIX



Novos Rumos

 
Se eu pudesse
Admoestar os oceanos
E voltar com o corpo marcado
E o sol tatuado nos olhos…

Se eu pudesse avivar o olhar
Acentuando o círculo
Decalcando novos rumos
Firmando os meus passos
Ao encontro da tua voz...

Mas de que vale sentir a presença
De uma linguagem fora de tempo
Se a marca deixada nas minhas mãos
É alegoria descontente
Nos cubículos onde os olhos se escondem

Se eu pudesse
Atingir o cabo do infinito
Sempre em tempo marcado
Pelos meus dedos

Desmistificava um mito
Rebuscava um rito
Para que uma nova história
Recontasse sem voz
As memórias emolduradas
Num momento criativo
Onde o futuro é um marco
A separar o tempo

Amanho-me em terras distantes
Que teus pés pisaram
E semeio um novo ponto equidistante
Para que no ir
Encontre um novo equilíbrio
E no vir
Te sinta uma nova linha
A traçar novos encontros comigo
 
Novos Rumos

As palavras que sempre te direi...

 
Livres no pensamento são todos os que puderem assimilar a verdade da única sílaba tónica que sem poder acentuar palavras, se desprende de um voo lento para cair nas correntes fortes de um rio. Na verdade, serão únicas, as várias tonificações das palavras que se encolhem e se preparam para novos voos mais profundos. Lá, estaremos nós para as acolher nas suas verdades, nos seus propósitos de serem fontes inesgotáveis, enquanto mantivermos esta força única de um ponto. Viver além da dor, é sentir no corpo esta força viva, pronta para desflorar num pensamento pontificado. Será ele que nos leva para um local desprotegido, se não mantivermos a ligação à chama que sempre se mantém acesa, para dela recebermos todos os ingredientes que necessitamos e deixarmos a vida passar, sem dela fazermos grande aparato. Ter presente na nossa mente, que há nós que se desatam e outros que se assemelham a formas continuadas e enroladas à nossa cintura, é sabermos igualar os gestos de um corpo.

Quero muito ser livre, quero muito encontrar-te nessa tua realidade, quero que tudo o que venha desse ponto minúsculo, se mantenha como rastilho na minha mente. Preciso dessa leveza solta nas minhas ideias, para que te possa sentir a viajar por todas as artérias que transportam as correntes sanguíneas do meu corpo. Sem isso nada poderei dizer-te porque não te sinto certeza na minha verdade, nem verdade na minha realidade. Vejo-te eu, sem saber de mim, sinto-me tu sem saber de ti, e não aguento esta dor perfilada no meu pensamento quando te penso solto(a) por aí. Gostava de poder deixar-te ir, mas não estou ainda preparada para essa verdade que já existe desde que nasci. Este medo, esta loucura presente, esta lucidez inconsequente, que me transforma anulando-me por completo, são o cárcere onde habito, se não souber encontrar o ponto fulcral onde tive início. Preciso saber-me na cor deste espaço fechado, encontrar-me com esta solidão e questioná-la sobre as nossas mais exactas verdades, num momento expandido nos nossos corpos, compostos por fragrâncias, fiéis depositárias de novos conhecimentos da vida, por detrás de vidas. Sei que há um deles que só eu poderei conhecer, se dele me aproximar no preciso momento em que souber deixá-lo ir.

Serei sempre aquela que te disse um dia de um amor presente, de uma dor constante, de uma vida que sem ser vida num instante, é aquela que escolhi para te dizer de mim. Viverás nesse encolher de ombros, ou nessa expansão dos gestos, sempre que quiseres lançar para a atmosfera, um sentimento que nada te diz, e eu feliz por assim ser, voo junto e fico sentada à tua espera, porque sei que um dia chegarás lá, nesse ponto minúsculo, mas gigante na leveza de um olhar feliz. Esse não terá cor, nem te trará o sol, nem a lua nem tão pouco as estrelas, mas tão só, a vida que escolhi para mim, quando te disser:

AMOR – a única palavra que me faz viver em liberdade, em busca da harmonia de um corpo que se abrirá sempre, e fará de todas as estações, a Primavera dos Tempos. A única palavra que transformará as minhas ideias, num sentimento capaz de te dizer que te AMO, quando conseguir fazer-te a saudação de dentro da minha solidão e te disser que a chama que me alimenta, vem de ti, porque nela fiz nascer esta paixão que sempre me acompanha, tonificando todos os pontos que já começam a formar novos traços, na composição aquosa do meu corpo.

MEDO – a única palavra que me faz querer, sem saber o quê, por não poder ter o que não me pertence. Sentir que este sentimento que me alimenta, é composto por partículas desagregadas de um todo que nos uniu, mas que, também elas, por se terem perdido, criam este efeito paralisador, alternado com o pensamento. Não te quero(a) perdido(a) por aí, porque para me sentir bem, terei que saber de ti. Fica então neste patamar onde guardo todos os meus segredos, mas não sejas segredo para mim, porque não quero perder-me quando pensar em te procurar.
 
As palavras que sempre te direi...

Dor de mim

 
Esse som que se arrasta incólume
Essas gotas de orvalho miudinho
Esse deslocamento da retina
Em frente ao sol maior
Esse lado obscuro do silêncio
Esse marasmo
De se entregar ao medo
E enfrentar a nova corrente
Sobre um corpo molhado

Esse toar revelador
De silêncios antigos
Um afago pela manhã
Sempre que a noite
Se vai de mansinho
E a dor de mim
Por não me sentir
A cair num abismo
Longe, tão longe
Quanto o meu sonho
A quebrar todos os cansaços
 
Dor de mim

A rosca, a víbora e a lágrima

 
Perfurando à queima roupa
Trazendo na extremidade
O antídoto já pronto
Afoga-se no seu próprio veneno

A víbora…

Tiram-se as medidas
Em comprimento
No cumprimento
Do dever cumprido
E limpam-lhe a pele
Com uma lágrima

Mas de tanta poeira
Na atmosfera onde vive
Ante o antídoloto
Ela morre

A lágrima…

Sub-entenda-(se):
Dor lacrimejante
Abonando as medidas
Mais que desajustadas
À sua silhueta curvilínea

Firme, tão firme
Como as curvas
De uma rosca afiada
Laminando-lhe os pontos
Luminosos

Da lágrima…

http://novoolharomeu.blogspot.com/201 ... sca-vibora-e-lagrima.html
 
A rosca, a víbora e a lágrima

Um Ser Apenas

 
Eu não sei onde te encontrar
Se no caminho que trilho
Se na dança do meu corpo
Que se enleia aos sonhos
Que te espreitam
Do alto da minha torre de vigília

Peregrina neste sítio ermo
Onde rastejam
As minhas dúvidas terrenas
Que é saber-te pronto para chegar

(Vagabundo não come
Não se lava
Não se veste
Não se remedeia
Não tropeça nas pedras do caminho
Não demora para chegar
E nem verbaliza os traços
Que o fazem demorar)

E quero muito saber-me
Digna do meu corpo
Para contigo dançar
E comunicar em outros lugares
De um saber
Que me é dado à nascença
Para te escrever
Sobre um sorriso a bailar
No meu olhar

Tenho-te na ponta dos dedos
Quase a tocar as altas esferas
De um reino que há-de vir
Para te dizer de mim
Neste meu habitat natural
Nas noites e nos dias
Em que de um poema
Se compõe um sorriso
E de um sorriso
Se acaba um poema

E tu um Ser apenas
Que breve se fez semente
A cair sobre o meu colo de mulher

Menção Honrosa no XV Concurso da APPACDM de Setúbal - Um sorriso um Poema
 
Um Ser Apenas

Tão-somente eu

 
Porquê?
Porquê eu
E porque não a noite
Se a vejo tão nítida
Tão brilhante
Tão terna e refrescante
E eu neste retiro
Que me engasga as palavras
E me toma de um jeito tão seu

O céu é um círculo aberto
Visto da minha janela
E eu
Tão-somente eu
Trémula na voz
Que não me diz de mim
Em lugar nenhum

Porquê?
Porquê eu
Neste longínquo espaço
Onde me procuro
E não me encontro
Não sinto os braços
Nem as pernas
E não ouço os meus passos

Os olhos
Tranquei-os por dentro
Deste frenesim
Que me toma de um jeito tão meu

Não me sei perto de um farol
E as luzes são tão intensas na rua
E eu tão alucinadamente, eu
Nas vistas da minha janela

O rio ao fundo, dorme
E eu não sonho
Nem nada que me faça sentir pelo menos
Um nada, somente…

Porquê eu
Se me apego às estrelas caídas
E nem elas me seguem
Neste caminhar contra o tempo

Porquê eu?
 
Tão-somente eu

Declama um poema

 
Declama um poema
chora com ele
ri-te com ele
zanga-te com ele
faz amor com ele
mas afasta-te dele
se não te provocar
sensação e alma
nesse teu jeito
dominador do Verso
que fez do poema
o único Verbo
a encher-te a boca

Dolores Marques
 
Declama um poema

Escorre-se-me por dentro

 
Escorre-se-me nas veias
Este frouxo alento
Vírus embriagado na minha dor
A intensificar-me o desejo

(Sim, este forte implante, cravado em mim)

Há um portal no mundo
E um nome à espreita
Há uma hora tardia
E um tempo já morto
Há uma noite aberta
Onde me estendo ao comprido

Espero-te no início de tudo
E quero-te:
Meu princípio
Meu fim
Na soma do mundo

(Tenebrosos os gentios
que me deixam só, no Universo)

Um mundo
Que me é o inverso
A cair-me madrugada
Um mundo
Em puro devaneio
É dor da minh’alma
Um mundo
Que me esquece
Na flor que brota dos montes

(Alecrim benfazejo, à espera do sol da manhã)

Escorre-se-me por dentro
Este frouxo alento
Que me tem
Só…sempre só
Até ao último suspiro
 
Escorre-se-me por dentro

Até que me oiçam...sonho

 
E Corro
E grito
E sofro
E aperta-se-me o peito
Este grito
Que ninguém ouve
Nem eu
Nem os céus
Percorrem este sonho
A cair de madrugada

E faz-se bréu
Faz quente nos meus pés de chumbo
E quero voar
Para que me ouças gritar
E nada
Nada nem ninguém me ouve

E a morte surgiu de repente
Como abutre
Picando a minha alma

É de noite e faz escuro na minha pele
É de cera ainda mole
Quase a derreter de novo
Junto ao cálice da verdade imaginada
Por mim
Só por mim
Porque ninguém me ouve

E quero gritar
E grito
Já o som da minha voz
Em desespero
Num degredo espacial
Intemporal
Não me ouço também eu

E bato à tua porta
E dormes
Porque é de noite
E sonhas porque eu sonho
E gritas em outros mundos
Porque este por agora
É só meu
Só meu
Até que me oiçam
 
Até que me oiçam...sonho

Eram rosas os meus olhos

 
De costas no sobrado
E o corpo cansado
Com os olhos no tecto
Só o tecto… o mesmo tecto
Onde rabiscam sonhos por alcançar

Com os braços caídos
Os joelhos erguidos
E as mãos sobre o ventre
No ventre, e só o ventre
Concavo lugar de uma lágrima minha
A escorrer nas tábuas lisas
Do meu cansaço

Vermelhos os tempos
Em que as rosas me desfloravam o véu
Rosas, eram rosas os meus anos de menina
A saltar sobre todos os ventrículos
De uma terra vã

Rosas, eram rosas os meus olhos de menina
A desviarem-se dos tempos escusos
A contemplar os templos
Onde descansam os corpos
E desfilam as almas
Por todos os cantos
Onde se guardam os braços
Que ceifaram todos os tempos
 
Eram rosas os meus olhos

Haveria de ser, sim…

 
 
Haveria de ser, sim
Um paraíso
Quando me acorrentassem
E se continuassem
Nos meus olhos

Enterraria o meu corpo no chão
Para que nele se deitassem
E se espreguiçassem
Como o sol se espreguiça na eira
Após as colheitas de Outono

(Esse Outono verde nas pupilas dos meus olhos ainda em sangue
Pelos mendigos que nunca viram o mundo)

Haveria de ser, sim
Um paraíso
Se neles encontrasse o tamanho das searas
Se deles desenterrasse as boas marés
Restolho de uma santa fé
A rolar, sempre a rolar na tômbola sagrada

Formas encontradas em vórtices giratórios
Cristais e mais pedras preciosas
No centro da terra
Cristalizadas por Júlio
Ou por um paraíso de nome Verne
Que de tanto esmiuçar o ar
Caiu, caiu
Em cima de um velho
E desmistificado centro

Vem comigo
Levo-te a ver
Aquele ponto escondido
Que foi meu e teu
Quando nos perdemos
No paraíso de Galileu

Vou contigo
Sempre que queiras
Amar um corpo
Que já não é meu
Por ser só, uma açucena
A esvoaçar no deserto

Tão perto que estaria desse mar que é teu
Se me dissesses onde fica o meu
Tão longe, tão longe, desse céu
Que foi oceano
E terra
E se perdeu
 
Haveria de ser, sim…

Vultos

 
Assegurei-me que te sacudirias
Tão breve quanto a luz que nasce dos teus olhos
E sim, chegaste tão tu
Tão somente virgem e inalterável
E eu, fiquei a ouvir-te
Sentada no morro que me sufocava
Reorganizando-me
E concentrando-me
Nesse sonambulismo grotesco
Nessa masmorra sinuosa
Onde as ideias te sangravam a mente

Galguei muros, e imbui-me de foros novos
Mas não atingiste a verdade dos meus olhos
E caíste do alto
Como pedra acossando os lobos
E abalaste pelos matagais
Adentro de uma imensa conjuntura
Onde os momentos se declinam
Por verem um mundo inteiro a cair no vazio

Por fim assomaste-te o inverso da única certeza
Que há em nós
Militantes de uma guerra há tanto tempo esquecida

Mas eu não me evadi
Queria saber de ti
Entrar no teu círculo
Saber-te na tua fantástica viagem
Aos confins de um mundo
Que já foi teu
E que agora me queres doar
Sem dívidas a cobrar

Confundi as cores dos teus olhos
E não atingi a tua verdade
Aquela que rolava pela tua face rubra
De ódio contido onde os vultos se escondem
 
Vultos

Além dos limites do eu

 
Há flores num espaço aberto
Molho com a minha saliva, as pétalas roxas
Cubro com os meus lábios, os caules já avermelhados

Há um lugar ermo, amparo de um sonho distante
Ergo os braços ao encontro de um punho fechado
Há um pensamento abstracto a roçar no sobrado onde me deito

Bajulação de um momento
E eu...figura desenhada nas tábuas polidas pelo tempo

Há nas memórias a antemanhã que me diz - Sim !
Um amontoado de células vivas, amarrotadas no sótão dos afectos
Que me diz - Não !

A dor contrai-se perante o som agudo, onde o existir é um puro manifesto
Mas há um corpo deitado na acalmia da terra, coalhando o sereno da noite

Sobre o dorso um caminho estreito
Na longitude dos braços, um carreiro oblíquo
Nas pernas, a fortaleza a caminhar para o vazio ainda virgem
No peito, um batimento incerto como um relógio a emendar o tempo
No rosto, as rugas escancarando a única certeza das estátuas caídas
Nos olhos, dois sinais que indicam um olhar a perder-se no escuro

Ali se propaga e se desmembra por todos os quadrantes do seu universo
Ali se entrega ao submundo e se cruza com os fogos que o consomem

E eu, atendendo à nova teoria do pensamento
Escondo-me
Rendo-me aos contrários
Sustento o manto que me cobre a alma

Há no topo da montanha, um sem-fim de terra
Ponto de passagem a um corpo que balança sob as nortadas baixas
Encontros que espelham a dor
Desencontros ameaçadores das fugas por entre dentes
Uma boca que reluz no escuro

(Um quilate de ouro a mais na dentição genuína e demolida na boca do mundo)

Há um sonho que acorda a madrugada
E eu... póstuma constelação à espera de outra marca do tempo:
- Que me conte os ossos e me endireite o corpo
- Que me remende a sorte, para eu caminhar a Norte
- Que me reconte as sobras que ficaram perdidas
nos bolsos e me refaça o meu inverso

E o mar...
Sempre o mar a galgar sobre a terra orvalhada
Sem resistir ao mundo que o fez mar salgado

Tempero dos que falham no ponto
Onde o lusco-fusco se fez vida
Alem dos limites do eu...
 
Além dos limites do eu

Pedra Tumular

 
Porque me prendem aqui
Neste corredor sombrio
E tu
Corpo debilitado
Que te sinto os contornos
Debaixo desse lençol sem cor ?

E os sons nas alas frias a Norte
Onde não há mais espaço para a dor
E os gritos nos cantos escuros a Sul
À espera de um pouco de luz
Onde reside o amor

È noite
Está frio
E sim, chegou o Inverno
Nesse teu gélido oscilar das mãos
E clamas por um pico de energia
Que do alto te cubra por inteiro

Esboçam nas paredes
Novos grafitis brancos desbotados
Fincam-se os corpos nas cadeiras
As mentes já robotizadas
Olhares alucinados
Almas em fileiras desarmadas
E as mãos que escondem a dor
A descansar sobre o peito

Alguns desligam-se deste mundo ignóbil
Os monitores calaram-se
E já a madrugada a retratar-se:
Nas paredes sujas
Nos olhos a reluzir na escuridão
Dos corredores frios
Nas mãos que se unem por debaixo dos lençóis
Em jeito de oração

E tu anjo débil
Esperas
Só esperas….
Que a dor se erga da pedra tumular
E baixe a tempo de te convidar a sair

Por todos os doentes que sofrem nos Hospitais...
 
Pedra Tumular

Comunicar(dimensões XI)

 
Antes de mais, agradeço. Imensamente agradecida pela sua comunicação, que me entrou como ponto certeiro, num Domingo de sol, de praia e de mar. Uma missiva que veio de alguém com a imensa capacidade de doar-se até ao limite, sendo que, considero que não há limite para qualquer forma de dizer-se e ser-se, e doar-se quando a génese é, sempre lá esteve e nunca se esvai. Simplesmente É, um conjunto de várias formas moldadas a nosso jeito. Tal como o homem molda o barro com as mãos, os nossos sentidos moldam as formas, formando um conjunto de emoções que nos faz ir longe. Tal como o voo do condor, assim eu me sinto, levitando na sua sombra até ao limite que ele me impuser, mas sempre tentando criar mais e mais limites, até atingir um estado que não pode ser medido por qualquer ponto na altura. (Será sempre desajustada ao soalho esgaço onde danço, e me enlaço, e me refaço). Por isso deixo-o voar alto e vou até ao ponto, onde encontro o meu voo, aquele que me direccione em sentido inverso, ao encontro de uma atmosfera que me faça respirar de novo e dizer que quero, mas quero muito elevar-me à plenitude de todos os seres que comigo queiram respirar.

Há nessa sua vontade, uma vontade minha, um querer demasiado, um sentir que me leve para longe, estando perto. Foi sempre essa, uma força minha de me encontrar em palavras que me são familiares, que me digam - fica, para comigo dançares a melodia intrínseca ao nosso caminhar. Há nas pontas dos nossos dedos um toque sereno, para que ao levantarmos um dedo, os outros o sigam em silêncio. Melodias de um corpo pronto para dançar e se enlevar, através do toque, e também de tons vários em sintonia com o mundo que somos. Preparar os ouvidos para esse exercício, quando as melodias nos entram e as deixamos penetrar-nos, sentindo a força do mar, trazendo-nos ondulações em vários tons, cores e sabores, é deitar-nos na areia, dançar, e deixar o corpo seguir até passar a linha do horizonte. Um corpo deitado na areia a dançar: primeiro balançando as pernas e com os pés desenhando pautas de música na areia; segundo oscilando o tronco, desenhando melodias num espaço aberto a quem lhe quiser tocar; terceiro, levantar os braços e desenhar no céu, um conjunto de versos; de letras prontas para nos levantar, e por último, com os dedos pentear os cabelos e decifrar-lhes as cordas de uma guitarra, viola, bandolim ou violino, e com elas tocar, até que as ondas do mar, afinem as cordas vocais atingindo por fim, um estado emergente, que nos faça alcançar todos os tons. Mergulhar no mar e sentir que a água que nos molha o corpo, molda-nos também a alma, pronta para perceber, que quando o sol se for, as cores ficaram através de uma escala maior, que toca a par com as cores do arco iris, São sete, assim como sete os ciclos que nos fazem ir, sem parar para depois regressar.

Penso que agora sou eu que estou aqui a pensar, ao perceber que está aí alguém pronto para me dar o imenso prazer de o ver melhor, de o sentir através de uma comunicação mar adentro, para comigo dançar uma ondulação diferente, onde as palavras sejam as notas musicais para uma melodia, onde os sentidos estejam alerta. Fui ouvi-lo nos seus “Barqueiros de Volga” e vi-me consigo a duas vozes, se eu tivesse ainda voz para o alcançar e olhos para o poder visitar “sem entrar por meandros”. Irei tentar. Prometo estar atenta ao seu pensar, à sua forma de comunicar, que por sinal, veio na hora certa. Sempre que penso em ir-me para perto do mar, ouvi-lo nos seus profundos sinais, alguém me diz: Vai mas volta porque aqui há mais, muito mais para ouvires, sempre que te deites sobre as palavras e lhes dês formas, alterando-lhes as formas iniciais.

(De uma mulher, para um Homem amigo)

Texto serviu de resposta a um comentário a Luciusantonius. É com com imenso prazer que lho dedico.

Um bem haja a todos os que fizeram das minhas palavras um encontro de novas palavras:

Carlos Teixeira Luís
Vony Ferreira
Haeremai
Ana Coelho
José Antunes
Saozinha
José Luis Lopes
Arfemo
ConceiçãoB
Nitoviana
Liliana Maciel
Roque Silveira
António Martins
Cleo
MariaLuz
Jomasipe
Egéria
Amora
Maria Verde
Edilson José
Ulysses
Horroriscausa
Albertos
Betha Costa
Angela Lugo
José Silveira
Xavier Zarco
Freitas Antero
José Torres
António Martins
Luis F
Nanda
Sterea
Rosafogo
Avozita
Caopoeta
sommerville
Frederico Salvo
Vania
Karla Bardanza
nvidal
Romma
Ana Martins
Clarisse
beija-flor
Helen de Rose
Analyra
Joaosurreal
Gel-Vaques
Divum
Runa

e tantos outros....
 
Comunicar(dimensões XI)

Afagos

 
Sentir que cabem nos meus olhos
Lágrimas correntes
Orvalhadas
Dissecadas
Disseminadas
E eu sem um poema
Para tas descrever…

São como os gestos gastos
No silêncio das palavras
São veios carregados de suor
De corpos sofridos
Da dor do amor
Que nunca foi
Senão uma fonte
De gotículas em cascata
Pelo mundo dos meus sonhos

Loucura é saber dizer o que não quero
É escrever-te versos
Que te mentem
E te sangram por dentro
Loucura é caminhar no tempo
Em que as palavras eram ternas
Afagos soltos pela manhã

Ameniza este sentir
Este corpo que sente
Que nas palavras há tanto
Mas tanto medo
Que se revezam sempre
Nas noites em segredo

Escrevo-te agora
Neste bailado acrobático
Onde as palavras ganham formas
É Ser EU e TU
Sempre que às portas da morte
Nos encontramos
E ainda assim sorrimos…
 
Afagos

Revolução Celular Interna

 
Convidei-te para te sentares à minha mesa, saboreares do meu banquete e beberes do mesmo cálice que me traz a vida, que me tem vida em todos os licores doces que bebo quando sentes a sua suavidade, o seu cheiro proveniente das uvas maduras, esmagadas pelas minhas próprias mãos. Tenho-te em todos os momentos que meu corpo me pede em jeito de oração, para que as noites sejam só um mero episódio no tempo, e que esse mesmo tempo, seja a dádiva presente, o amor que reside em mim desde que o mundo é mundo. Amo, não quem a vida te transformou desde que aqui chegaste, mas tudo o que te deu origem – a própria vida que brota agora das tuas mãos, e que também te fez Homem a caminhar sobre a terra, onde eu também estou.

Tens a força das terras altas, onde as pedras são detentoras de uma magistral forma elevada de ser. Por isso, te sinto assim, uma força a rasgar todas as frias emoções que me extravasam a mente, colidindo com o meu corpo e aconchegando a minha alma aos teus dedos ainda virgens, aos traços coniventes com o meu olhar onde te encontro, sempre que faço da minha entidade viva, a força que me há-de levar inteira a um reino ainda a existir. É um lugar onde as palavras se encolhem sempre que as esquento, para caberem nas minhas mãos. Sentir-te nas minhas palavras, conhecendo-lhes a verdadeira sensação que provocam em todas as células do meu corpo, formando uma pequena revolução celular interna, talvez… Sou genuinamente uma leve ornamentação colhida de primaveras de outros tempos, de outras madrugadas ainda em renovação, para que o dia seja aquele traço infinito a decalcar-me a longitude dos meus braços, a transformar em ramos as minhas mãos e em folhas os meus dedos. Serei sempre uma duradoura imitação barata de uma figura tua, prestando-se a seguir viagem por todos os lugares onde já estive. Deixaram-me seduzir pelas gloriosas lutas de outros homens, que já caíram e que e a terra absorveu como raízes doutros tempos, em que a força era uma forma de atingir os céus. Agora nada me fará acatar outras formas de vida que caibam nas tuas mãos. Sou só uma lenda nos teus olhos de lince a barafustar a terra em busca de um novo solo, e grão a grão, semearás novas sementes, e novos caminhos se abrirão.

Caminho só, e tão-só como nasci hei-de morrer e renascer em cada momento que me fez mulher enquanto força sobre a terra: mãe tornado, mãe vento, mãe serra, mãe rio (do meu rio), mãe lava de um mesmo vulcão a seduzir todas as águas dos oceanos, mãe terra a esburacar a mundo e a levar novas missivas, detentoras de coragem a quem quiser todas as formas de vida moldadas nas suas mãos.
 
Revolução Celular Interna

Uivos famintos dos sem terra, sem pão

 
Rio aberto
Morada acesa
Cheias de estios
Desgovernadas
Estouvadas
Tresloucadas
Cantam ao vento
O seu novo alento

Nas serras
Roubam aos céus
O arremesso
Do voo alto dos falcões
Pardacentos
Malhados e tresmalhados
Exímios na arte
De tão bem saberem voar
Chocalham as pedras do monte
Graníticas no seu pastorear

Cajados à solta
Berros que largam ecos pelo chão
Em vez do pregão
Ao tempo
Pelos que vão
Nos uivos famintos
Dos sem terra
Dos sem pão

Poema inspirado nos ainda resistentes, que vivem na Serra do Montemuro e se dedicam á pastorícia
 
Uivos famintos dos sem terra, sem pão

Pontos de encontro

 
Demorei tanto para chegar aí
E tu tão genuinamente Pessoa
Terna, e bela
E tu tão subtilmente Tu
Num doce sorriso
A construir novos horizontes
No meu olhar

Esquecer um mundo que ruiu
E que há sempre novas pontes
A alcançar os sonhos
Do outro lado do mundo
Onde a verdade
É feita de abraços
E poemas escritos
Com doces favos de mel

(Sentir, que me estão
A cobrir de mimos
E não conseguir ver
O AMOR
No meu lento caminhar)

Demorei tanto para te ver chegar
E chegaste assim tão leve
Tão breve na passagem
Onde o saber, é só….
Um hipotético desafio
Desafiando a vida
A escorregar no ventre
De quem tem sede
Expirando os verdes prados
Ensaiando a doce leveza
De um trago morno
Que é saber conduzir-me
Por um fio de luz
Acentuando os dias
Prontos para receber a vida
Em todas as formas únicas

(Saber-te no meu sonho distante
A reescrever novos temas
Afagos no meu corpo só
Originais formas de se saber
De um sorriso, e um poema
De uma força e uma vida cheia
De uma razão alheia
Nos vários pontos de encontro)

Este poema foi também participativo no concurso de poesia - "Um sorriso, Um Poema" da APAACDM, de Setúbal
 
Pontos de encontro

Sim, Amor

 
Sou eu assim
Na procura de mais
Um signo
Em outro caminho

Sei-te tão distante
Quanto a profundeza
De um rio
Sei-te assim
Como um olhar
Que se afunda
Dentro de mim

Sou eu sim
Recordando
As nossas pegadas
Na terra quente
Onde perfumes outros
Eram jasmins em flor

Encostada ao teu corpo
Que me toma
Com um ritmo ardente
Sou eu assim
Inteira
E cair-me em ti

Beija-me amor
Os lábios mirrados
E dá-me um sinal d’ouro
Quanto o meu amor
O é por ti
Só por ti
Amor
 
Sim, Amor