Poemas, frases e mensagens de Raule

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Raule

Ver e Verter Poesia

 
Abismado de ver-me
Verter-me em poesia
Eu me verto ao abismo
De poesia vestido

E me refaço com barro
raspando os cantos
Molhando com lágrimas
Aos prantos, aos solavancos.

Cacos de inspiração
O dia inteiro juntando-os
Depois meu mosaico perfeito.

Minha poesia...Meu unguento
Pois só se pode verter
O que se traz por dentro.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Ver e Verter Poesia

Faz e Refaz

 
Faz e Refaz

Faz de conta que o distante é o aqui ao lado
Vem e me leva para o teu lugar que de mim não sei.
Traz teu sorriso grande invadindo-me, casa e quarto e tudo.
Quantos beijos eu te dei implorando para que ficasses?
Faz as contas. Faz de conta. Faz de tudo.
Refaz meu mundo
Ainda contemplo nossas fotos ao som de Cannonball de Damien Rice e choro de bruços sobre o chão frio de minha sala.
Quantas promessas naquela noite?
Faz as contas. Faz de conta. Faz de tudo
Refaz meu mundo
Mentira! O tempo não te levou de mim.
Você não aprendeu o inglês e não foi morar no exterior, mentira!
Meu amor não foi uma barganha.
Ainda estás aqui por dentro revirando tudo.
Contraditório: ir embora e ficar em todos os cantos.
Quanto falta para voltares?
Faz as contas. Faz de conta.
Refaz meu mundo.
 
Faz e Refaz

Teimosia

 
Talvez seja o sol insistente invadindo as frestas, o barulho das ruas e das gentes,
O pão dos dias, de cada dia. Os olhos mendigando migalhas de luz...
Talvez seja a cama que também não me quer completamente, para sempre.
As exigências de coragem, o medo da covardia e da desistência
Talvez seja qualquer força, qualquer movimento... Quem sabe seja O Deus.
Deve ser um impulso qualquer que me põe de pé
Pois, sinceramente, vontade de viver não é.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Teimosia

Janelas

 
À janela sou uma recorte
Uma moldura, colagem, decoupagem
Sobressaio-me do que há em volta.

Passa a vida e me encara
Assim mesmo, de meio corpo
Braços sobrepostos.

Que é pra Solidão
Não me levar por completo
Não estragar o rascunho

Um dia sonhei que havia uma pessoa em cada janela do mundo e que janelas eram portas.
Confesso,
Foi o sonho e o mundo mais feliz de minha vida.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Janelas

Menino do Rio

 
-Mamãe, não vou à escola porque tenho medo de bala perdida.

A mãe com cara de tacho:

- Eu também meu filho, eu também.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Menino do Rio

Mil

 
Mil segredos te contei
Mil vidas te daria.
De amar-te grande e com amor infindo
Padeço em meu quarto-noite
Invado a casa gritando um verso
E me invade uma saudade grande
Grande como uma prosa.
Mil muros pra não te ver
Se mil memórias tivesse
Todas me trariam você.
Turvo o olhar de quem ama
Curvo o caminhar de quem vazio anda
Soluço abafado de amar e amar
E chorar pra o mar
Enegrecer:
Vida e alma e tudo.
Tudo quanto mais outrora claro,
Hoje noite.
Mil noites numa só
Mil pedaços de um coração que é teu.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Mil

Tempo de decomposição do Lixo

 
Corpo (Carne e vísceras): de 1 a 2 anos.
Ossos e dentes: milhares de anos.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Tempo de decomposição do Lixo

Novembro

 
O fim do dia assemelha-se ao fim da vida.
A cama é estreita
O quarto é sem ar
A solidão é viva
Se os mortos sonhassem, sonhariam com flores, rezas e velas.
Sem saber se tudo isso existia.
Há escuridão e silêncio na vida dos vivos que param de sonhar, na vida dos que abandonam o desejo das oferendas e o valor das lágrimas.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Novembro

Festa de ti

 
Daquela curva virá teu vulto
Tua volta num dia festivo
E meu sorriso rasgado
Braços abertos
Meu abraço tem tua forma
Vem e encaixa.

Espero-te com o queixo
A repousar nos joelhos
Olhos baixos
Desenho no chão
Com um graveto.

Acontecerá.
Um dia levantarei meu olhar
E ao te contemplar
Vindo, sorrindo e vindo.
Meu impulso não sei bem
Deverá ser de voar.

É.
Voar...
Que é pra não pisar o chão
E os desenhos de nós
Não apagar.
 
Festa de ti

Quietude

 
Meu coração continua sendo aquele mesmo que esteve em tuas mãos, você sabe o que fazer se ainda quiser tocá-lo novamente.
Só por você eu atravesso esse tempo de incompreensão. Escolhi essa espera por acreditar em nós dois quando se desfizerem nossas dúvidas, medos e desrespeito com o sentir. Violar o amor é esmagar as chances e decidir ser infeliz. Eu escolho o contrário. Escolho o contrário do mundo, mas ao seu lado.

Raule Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Quietude

Toque de mãos

 
Unir-se
Munir-se de afeto
Beijar
Afagar
Sanar a mais pungente dor
Suprir a falta de.

Dedos entrelaçados
Antes,durante e depois do medo
Só muda a intensidade
Aperto forte
Toque frio tem gosto de primeira vez.

Mãos fazem tudo
Vão a todo lugar
Enxugam até prantos
Mas o que fazem de melhor
É em outras tocarem.

Mãos que entrelaçadas
se afagam com ternura
Enxugam prantos, são fadas!
Têm das flores a frescura.

Fazem vento se preciso
Sabem aquecer
Trêmulas nos avisam
Que chegou a hora.

Que o amor vem
Que o susto passou
Que precisas de alimento
Que já não tens nervos.

A tudo se atrevem
Mas o que fazem de melhor
É em outras tocarem.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Toque de mãos

Diluir-te em Poesia

 
Preciso fazer um poema que fale de ti.
Que volta e meia, entre versos e expressões
Grite teu nome.
Transceda um mero escrito
Vá além de óbvios rabiscos
E sem temor, vergonha ou dor...
Fale de ti.

Nas entrelinhas, no transpirar,
No dançar valsa de olhos atentos,
Na interpretação e inquietação...
Clame por ti.

Meu poema precisa escorrer lágrimas
No verso que diz: SAUDADE
Arrepiar a pele e encolher os nervos
No verso que diz: PAIXÃO

De lado a rima, a estética,
O estilo e as letras garrafais.
Ousaria até não precisar de inspiração
Não fosse teus olhos invasivos
O meu poema perfeito e inacabado
Só precisa falar de ti.

Meu poema só precisa te descobrir
Ter tua forma e jeito raro.
Numa estrofe o cheiro de tua pele,
Noutra, o dos teus cabelos.
Na última, o frio rosáceo dos teus lábios
Meu poema basta diluir-te em todo ele.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Diluir-te em Poesia

Mudar de Janela

 
Enquanto se enrolava num roupão roto e encardido, Cândida olhava pela janela umas casas tortas de sua rua torta, na qual morava também ela torta, rota e suja.
Subiu-lhe à face um arrepio de querer mais, de vencer na vida, como dizia sua mãe.
Pensou desejosa e num transe que lhe pungia o seio por pouco nú:
- Um dia este roupão será de seda e esta vista será o mar.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Mudar de Janela

Elipse.

 
Qualquer coisa te procuro.
Qualquer coisa te encontro
Qualquer coisa me entrego.
Qualquer coisa me perco.
(Eu) Qualquer coisa

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Elipse.

Casinha no Sertão

 
Viajar de ônibus
Sempre durante a noite
Para ver estrelas de perto.
Casinha no campo
No escuro uma luz perdida
Há mata em volta
Mas não se vê
Só plantação de noite.

Casinha no campo
Um sinal de vida
Ao longe, na escuridão
Só um vaga-lume perdido
Daqui de dentro eu sei.

Casinha no sertão
Parece mesmo
É uma estrela no chão.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos autorais reservados/Lei n. 9.610 de 19.02.1998.
 
Casinha no Sertão

Dolor

 
Escrever definitivamente não é o que faço de melhor.
É apenas o que ainda faço de menos dolorido, menos pungente.
Só dói de verdade quando não sei ao certo como dizer o que sinto, ou quando digo de modo velado o Sentir que dentro em mim ergue a face com olhar forte e me encara, me encara com uns olhos de quem quer gritar mas não pode. Somente eu, através do que digo, grito e finjo ser pouco doído meus sussuros traduzidos em palavras, meu dizer, meu esconder-se acuado nuns versos errantes.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Dolor

Cheiro

 
Retorcia os lábios antes de rir ou de falar uma frase engraçada.
Era seu jeito peculiar e eu observava pronto para flexar-lhe na boca-flor
Sua boca infantilizava-se quase sempre e eu amava
Não podia ser diferente, saíra da infância a pouco.
E no entanto me deixava idiota a apaixonar-me
Quase a ponto de me envolver, me comprometer.

Uns olhos grandes e pretos
Um corpo aflorando
As mãos grandes
Os pés perfeitos

Minhas narinas experimentaram da cabeça aos pés inocência
E depois bebi o que lhe escorria doce pela pele trêmula.
Me ligou alguns dias depois, mas eu já estava frio demais.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Cheiro

Visita

 
Quem me dera os dias leves, frios e na tua companhia sempre, como hoje.
Medo nenhum resiste à luz que teu sorriso espelha e espalha pela casa inteira.
Da tua chegada a tua saída o coração pulsa numa frequência só. Forte e aquecido.
A vida dentro das horas e teu cheiro no ar.
Um perfume que não vai embora.
Nunca.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Visita

Pipas e Pais

 
Logo hoje que fui ao cemitério no final da tarde e olhei demoradamente a foto do meu pai na lápide, logo hoje que quis nutrir um sentimento excessivamente amoroso por aquele homem tão parecido comigo, encontrei na calçada da minha casa um menino, já era noite e ele havia fugido de casa de bicicleta desde meio dia porque seu pai havia quebrado suas pipas com a justificativa de que o menino estava passando tempo considerável na rua, soltando-as e além do mais não era só uma, eram várias e estavam ocupando espaço por cima dos móveis e no chão do quarto.
Adultos não entendem que crianças tem suas tralhas e elas são pertences valiosíssimos. Destruir qualquer brinquedo que uma criança possua, ainda que os de papel, equivale, a um adulto, a destruir sua casa, seu casamento, a ser demitido... A angústia é a mesma, morando em sensibilidades diferentes.
O menino se chamava Luiz Antonio e tinha dez anos, só o vi pelas costas, ele era loiro e magro.
Ouvi quando a vizinha gritou:
_Volta pra casa Luiz Antonio que sua mãe está preocupada!
Depois me contou a história completando que ele era uma menino rebelde.
Não revidei, fiquei calado, mas faria o mesmo que ele fez, fugiria de bicicleta ou a pé mesmo.
Agradeci baixinho porque não tive pai com suas mãos brutas para quebrar as toscas pipas que fiz.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Pipas e Pais

Ração Humana

 
Eu vivo só de amor porque alimento bom é aquele que você come apenas migalhas e se farta.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
Direitos Autorais Reservados
Lei N° 9.610 de 19/02/1998
 
Ração Humana