Poemas, frases e mensagens de poecida

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de poecida

Estranho

 
Um pedaço de muro
numa lua distante
O arremesso de um dardo
uma ferida, um rumor, um relógio
andante
Tique
há um taque
longe
soa como
um baque
estranho
O arremesso de um dardo
a árvore que cai
é o vento, é a tempestade
é a esfera que rodopia
e não pia
nem um instante
Um pedaço de muro
numa lua distante
O pião a girar
à corda saltar
sou pequeno
de novo
saí
do ovo
O galo já não canta
a cidade afronta
uma ferida, um rumor, um relógio
estranho
Perco a noção
Perco o sentido
eu estou deitado
no capim
o que vai ser de mim?
Os olhos, a fala, o silêncio
a ponte dobrada, quebrada
a outra margem
mais longe
estranho
Um pedaço de muro
numa lua distante
Estarei eu lá?
longe
escondido
estou num ninho
à espera
da brisa que me leve
para outro lado
mais lado do que este
e estranho
muito estranho.

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Estranho

Voa alto

 
São as tuas asas a bater
Ouvidos muitos que as escutam
Nada nem ninguém te fará parar
Idos os tempos de má fortuna
Agora só a bonança paira
Tantas paisagens e gentes e coisas
Unhas desejosas a desbravar caminhos
Vês o que a vista não vê
Arranhas a pele que se sente
Imploras o que te é devido
Sem nada em troca pedires
Voa alto, voa, voa alto
Onde mais ningém se atreve
Alcanças as montanhas e as estrelas
Reclamas as tuas futuras odisseias.
 
Voa alto

==> Aponta o caminho <==

 
Aponta o caminho
para ali ==>
mas se ele te enganar nas curvas
torce-o para aqui O
Mas há mais obtáculos
e engulhos
e abismos
Mas todos eles são apenas
pequenos pontos
. . .
É fácil evitá-los
Só . tens . de . saltar . por . cima . deles .
Simples, não é?
Mas já outros dilemas estão à espreita
lá mais no alto
^ ~ '
Então, rasteja
_ _^_ _~_ _'_ _
Passa baixo, de mansinho
e aponta o caminho
para ali ==>
Para onde quiseres

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
==> Aponta o caminho <==

Plenitude do tempo

 
Roer as unhas nas horas mortas é enganar a plenitude do tempo.
O raio que a parta!
 
Plenitude do tempo

Sarcasmo, pasmo e manteiga de amendoim

 
Sarcasmo, pasmo e manteiga de amendoim.
Roem-me os ossos, limpos, sem tutano.
É de escárnio o monstro avariado.
E eu sou de peças feito de roças.

Na cadeia as almas livram-se.
De repente o mundo fecha-se.
Não o vejo mais pela claridade.
Toda a noite se torna baça.

Tique o som do taque.
No relógio dá-me um toque.
Não olhes para mim assim.
É cedo de mais para me artilhar em ti.

Ausente numa breve eternidade.
Sei de um gato que te topa.
Alcança-me por dentro mas demora.
Chegares a mim a solidão não deixa.

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Sarcasmo, pasmo e manteiga de amendoim

indecifrável

 
Pracamossos de otambunatos liófibos
que em trezandigos de rosmilares
se fastugam na plogitamia de fustos,
tralmitando-se em rúdios de binarutos.

Dinanótias em sorbejos de flantis
glimatam-se em compusdigas rómifis.
Lafagitados e jalórmicos nistos
resplacem as suditezas e sibstos.

Varrúlios de cesticinados enólmicos,
ariotentinos e sistómis em gliva.
Ninamoritam as vetruas bulsatimares
e desgilham as denutas aquistenares.

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
indecifrável

Dias de veludo

 
Até ao fim do mundo num copo de vinho
Salto e corro e brindo à névoa dos dias de veludo
É como o galope de um cavalo selvagem.
Vai para onde quer mas ninguém o escuta.
O mar que vejo por entre a folhagem das copas das árvores
É a mesma folhagem que decora os meus sonhos.
Agita-se ao ritmar do vento
Tal como se agita um copo cheio de vinho.
Uma guitarra toca portuguesa
Toca no outro lado do Atlântico
E longe se escutam os seus trinados
Lá longe no Haiti, longe num qualquer lado do mundo.
É a névoa dos dias de veludo pelas estrelas que nos brilham
O rio vai azul e com flocos brancos a saltar de espuma
Agita-se ao ritmar do vento
A crina do cavalo, ela assobia e molda-se no ar.
Quero que os candeeiros se acendam
Quero que as máquinas se calem.
Deixem a luz entrar pelas nossas frestas
E que vivam em nós os mais belos dias de veludo.

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Dias de veludo

AlToS e BaIxOs

 
AsSiM nÃo FiCa FáCiL eScReVeR.
MaS aSsIm A eScRiTa FiCa MaIs PaReCiDa CoM a VidA,
cOm Os SeUs AlToS e BaIxOs,
CoM oS sEuS aVaNçOs E rEtRoCeSsOS,
cOm As SuAs PaRaGeNs E dEsViOs.
E tRaNsViOs.
AsSiM nÃo FiCa FáCiL eScReVeR.
mAs É aSsIm QuE sE aVaNçA e ReCuA.
aOs AlToS e BaIxOs.
CoMo Na ViDa.

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
AlToS e BaIxOs

Atira-me ao ar

 
Atira-me ao ar e deixa-me cair
Sou mais leve que uma pedra
Mais pesado que uma pena
Atira-me ao ar
Mas não me ampares
Deixa-me estatelar
E sentir dor
Deixa-me cair
Não me levantes do chão
Deixa-me ver um pouco do teu escuro
Deixa-me ver um pouco do teu pranto
Atira-me ao ar
Mas com encanto
Sinto o som da queda
O som do coração
Sou mais leve que uma pedra
Mais pesado que uma pena
No ar olho para ti
No chão olho para ti
E vejo-me sempre a mim
Deixa-me cair
Eu quero partir
Num voo alto e calmo
Num planar sem rumo
Sempre no ar
E depois cair
Passo da luz para as trevas
Com toda a facilidade
A pique entrego-me
E nem ponho as mãos na cabeça
Vou ser um estrondo
Um carro que choca no muro
O avião que colide na montanha
O comboio que não trava a tempo
Atira-me ao ar e deixa-me cair
Bate palmas
Faz o pino
Grita o que puderes
Faz isso sem tino
Ri-te
Chora de felicidade
Com o meu baque
Atira-me ao ar
Lá para o meio das nuvens
Deixa-me cair
No chão mais duro que houver
Algodão
Chumbo
Tem de ser este o meu mundo?
Atira-me ao ar
E deixa-me cair.

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Atira-me ao ar

F ugi de mim

 
F ugi de mim um dia
A ssim sem mais nem menos
Z arpei da minha memória
E rrei pelo pensamento
R ecuei para a frente

A marrei o meu lado mau
M atei o desconsolado
O uvi a minha voz
R umei a ti sem destino

É s um ser delirante

B uscas o que te apetece
O cupas os meus sentidos
M oras em mim quando fujo para ti.

(acróstico de Bruno Cunha)
 
F ugi de mim

eu desço

 
eu
desço
seguro
o degrau
passo a passo
caminho descendente
talvez a caminho de nada
com os olhos postos no seguinte
degrau, passo a passo, passo a passo
não corro, para não me estatelar e magoar
para não soltar ais e uis e rebolar até ao fim
eu
desço
de novo
o degrau
passo a passo
caminho descendente
talvez a caminho de nada
com os olhos postos no seguinte
degrau, passo a passo, passo a passo
não corro, para não me estatelar e magoar
para não soltar ais e uis e rebolar até ao fim
eu
desço
.
....
.......
..........
.............
................
...................
......................
.........................
............................
...............................

(poema de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
eu desço

Santinho

 
Santinho,
o espirro
do diabo,
o cerco
do malfadado,
o estrondo
do coroado.
Santinho,
estás
perdoado.

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Santinho

Outros tempos

 
Fugiu o arranhão para a cara dele. Não foi de propósito mas dois fios de sangue engrossaram e os pingos cairam na t-shirt azul clara. Era velha, mal passada, puída de alguns verões.

"Gosto tanto de ti."

Seguiu-se uma chapada, uma resposta firme, culatra puxada atrás. Na cara dela uma mão ficou marcada e as lágrimas cuspiram-se dos olhos.

"Obrigado, fica-me tão bem esta cor."

O corpo maciço do homem projectou-se para a frente, encurralando-a no canto da divisão vazia. E de novo a sua mão silvou no ar, atingindo a mesma face, agora ainda com mais violência. A cabeça dela bateu com estrondo na parede mas não disse ai nem ui.

"Tu fazes-me tão feliz, sabias?"

O medo e a humilhação puseram força e toneladas de ódio no seu joelho. Atingiu-o com toda a força, ali, onde a sua virilidade se concentra mas pateticamente, quando atingida, se dobra num urro e num tombo no chão.

"Amor, ficaremos juntos para sempre."

Um momento em suspensão, um silêncio a prenunciar tragédia? Quem sabe...
Ele, no chão, impotente para se erguer. Ela, pregada à parede, a cara num inchaço escarlate.
No ar as memórias esvoaçam, escapulindo-se por todos os buracos e frinchas. Aquele Verão de promessas já ia bem longe, escamando-se da pele em alegrias que agora não eram mais do que uma caspa a sacudir.

"Até que a morte nos separe?"

Só a morte os poderá separar.

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Outros tempos

Entre

 
.Entre pontos.
,ou entre vírgulas,
– Entalo-me entre travessões –
Abro um parentêses ( mas não o fecho
e a caixa baixa dá lugar à CAIXA ALTA
Aborreço-me e suspendo este exercício.
Ele tem algumas reticências...

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Entre

ardem-me os olhos

 
:´(
ardem-me os olhos,
sobem por eles os vapores
da lixívia.
e a esfregona desliza
para depois provar
que o algodão não engana
e tu foste-te embora
como a poeira que deixa
a água do balde
barrenta
e que depois se despeja
sem remorsos.
mais choram os meus olhos
:´( :´(
na descasca da cebola.
e pela minha face
desliza uma bola
salgada,
transparente,
tempero de refogados,
no corte do dedo,
coração com medo
que também chora
a tua partida
e o sangue vertido,
cabidela ou sarrabulho
do nosso separar,
descascar
na cozinha vazia
e sentir o teu antigo
espaço
também vazio.
:´(
e eu cozinho só para mim
e não me resta nada mais
do que salgar ainda mais
o repasto que depois
será demais
pois irá sobrar
com a tua ausência
que eu mastigo sozinho
:´(

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
ardem-me os olhos

Distância

 
Custa-me esta

distância.
Preferia estar muitojuntoati,tãojunto,semnosdescolar-mos1dooutro.
Mas o medo FALA MAIS ALTO.
E assim a nossa distância

aumenta.
Até ao infinito.

Ou lá perto disso.

(de Bruno Cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com)
 
Distância

Fugaz

 
Fizeste aquele teu olhar, o que me tramou
Eu falei e falei e fingi não reparar
Irritação fugaz, reparei sem que reparasses

Trazias pedaços de fruta madura no corpo
"Isso será bom de provar?", matutei...

Coube a mim decifrar essa tua magia
E eu fui um joguete para a tua pele tostada
Incorporar-te em mim seria o tal delírio

Razão que me foge da alma e corpo feito sensível
Afinal, amanhã, já me esqueci de ti e de mim.

(poema de Bruno Cunha, dedicado à Elsa)
 
Fugaz

Perfilados em formatura

 
o o o o
/\/\/\/\/\
Perfilados em formatura
Soldados aguardam ordens
Não perdem a compostura
Vão batalhar desordens.
:| :| :| :| :|
Todos hirtos, em sentido
Calam o medo na expressão
Sabem todos o perigo
Mas gritam "Sim, meu capitão!"

(de bruno cunha, in http://1-por-dia.blogspot.com/)
 
Perfilados em formatura