Poemas, frases e mensagens de Raul Cordeiro

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Raul Cordeiro

UM POEMA QUE NÃO ESCREVI

 
Tu és para mim
Uma vida que não vivi
Um amor que perdi
Um beijo que não dei
Um abraço que não tive
O calor que não senti
O gelo que não quebrei
Tu és para mim
O carinho que ficou
De uma vida por viver
De um amor por perder
De um beijo por dar
De um abraço por ter
De um calor por sentir
De um gelo por quebrar
Tu és para mim
De tudo o que perdi
Apenas
Um poema que não escrevi
 
UM POEMA QUE NÃO ESCREVI

UM SORRISO

 
Fechados com chave mestra
Estão os caminhos da tua alma
Ninguém a pode abrir
Qual segredo bem guardado
De como alguém
Pode fazer-te sorrir
Lutam por ti até cansar
A alegria e a tristeza
Por uma ou outra
Te deixas levar
Em ritmo de embalar
Perdes a tua beleza
Mesmo triste ou alegre
Olha para a vida e sorri
Que ela não tem medo ti
 
UM SORRISO

sou mesmo eu

 
sou mesmo eu
há apenas um pouco de mim em tudo o que faço
há apenas um pouco de mim no que disfarço
há apenas um pouco de mim que desfaço
há apenas um pouco de mim palhaço

o resto sou mesmo eu
 
sou mesmo eu

O VERMELHO DA PAIXÃO

 
Vermelho de paixão
Verde de esperança
Azul de temperança
Amarelo de ilusão
Pintado de todas as cores
Fica meu coração
Quando num instante breve
O pintas com a tua mão
Fazes misturas na paleta da vida
Numa tela por pintar
Numa vida por viver
Num amor para amar
O teu coração acalenta
Doce esperança de paixão
Num tom de cor magenta
Pintarás tua ilusão
Assim misturadas as cores
Na tela cairão
Bem juntinhas
Belo jeito da tua mão.
 
O VERMELHO DA PAIXÃO

fatal

 
fatal
seria viver
viver sem dor?
seria envelhecer
envelhecer sem angústia?
seria morrer
morrer sem desespero?
e não procurar encontrar sentido para a vida?
seria sentir
sentir sem pensar?
sou um ser uno, poeta do real
objetivo, estático e metafísico
leitor indolente, fatal
 
fatal

O tempo da vida

 
Na bruma submersa da manhã
Acordo com o cintilar da luz lá fora
Não oiço agora as andorinhas
Regressam para longe daqui
Está na hora de se irem embora
Levanto-me a custo da preguiça
Lavo a cara com desdém
Não interessa o cuidado
Pois não me espera ninguém
Visto-me com os mesmos trapos
Já rotos pelo uso e gastos pela vida
Ninguém olhará para mim
Quando passar na rua
A minha figura singela e magra
Caminha vagarosamente
Meio viva meio perdida
No meio da multidão desatenta
A olhar para dentro de si
Gozo estes pequenos momentos
Tiro deles o proveito de quem
Julga que a vida tem pouco tempo
 
O tempo da vida

Descanso

 
E nasce assim um poema criança
Pardo pelas palavras
Um poema que dança
Na beleza da alvorada
Um poema de crença
De palavras rejeitadas
Um poema que a folha amansa
Apesar de mal amada
Nasce um poema
Perfeito e desarvorado
Salta a tinta
Dilui-se a ilusão
Suja a folha e a mesa
Tatua a minha mão
Marca a cadência
Ignora a frequência
Descansa a folha e a pena
Em poesias pequenas
E espera ao pino do Sol
Por novas palavras
Mais doces, mais amenas.
 
Descanso

O SOL E A LUA AMAM-SE

 
Escondida ao fim da tarde
Quando o Sol se vai deitar
Acorda a Lua a chorar
Por não ter a quem amar
O Sol e a Lua
São amantes irreais
Não se veêm nem se tocam!
Quem foi que tal disse?
Seu amor como o nosso
Acontece em dia de eclipse
Assim tão raro e tocante
Um amor vive e renasce
Passa as tormentas da ausência
Mas revive sempre algum dia
Não é só coincidência
 
O SOL E A LUA AMAM-SE

Menino outra vez

 
Voltava agora a ser menino outra vez
A olhar o pôr-do-sol naquela charneca dourada
Voltava agora a ser menino outra vez
Só para não pensar na dor de mais uma alvorada
Amanheço…
Entardeço…
Anoiteço…
Voltava agora a ser menino outra vez
Não é muito o que peço
Voltava agora a ser menino outra vez
Só para não sofrer esta dor que habita em nós
Só para não ter que ouvir ao longe
A melodia da tua voz
Amanheço…
Entardeço…
Anoiteço…
Voltava agora a ser menino outra vez
É apenas o que mereço
Num ritmo circadiano de absurdez
Nesta eterna infância sem maldade
Amanheço…
Entardeço…
Anoiteço…
Finto veloz a idade
Para voltar a ser agora menino outra vez
E desfrutar de um amor volátil
Na minha pura ingenuidade
Amanheço…
 
Menino outra vez

Barba grande e lágrimas

 
De barba grande e face pequena
Arranho os dias
À procura de uma hora
Na esperança de uma dezena
É na face que pico
E nos olhares que me fico
Sou inofensivo
Mole e leve nos gestos
Suave nos manifestos
Poucos protestos
E muitos suspiros
Silencioso
Até quando respiro
Não admira que não reparem
Que estou aqui
De barba grande e face pequena
O olhar na chuva
A desfrutar a cena
E que pique quem se aproxima
Num olhar triste numa lástima
Como se a chuva
Transportasse a minha lágrima
 
Barba grande e lágrimas

POESIA DO NADA E DE COISA NENHUMA

 
Só me ocorrem rimas pobres sem sentido
Que falam de quase nada
Como me sinto perdido, desnorteado
Fico desesperado
Quero escrever e não penso em rima alguma
Não olho outra solução
Senão escrever sobre coisa nenhuma
Da poesia vejo a espuma
Que sobra da lavagem dos dias
Espuma suja das vidas lavadas
Pobres, algumas não rimadas
Como esta pobre poesia
Que fala de coisa nenhuma
Pode-se ler ao revés
Ou então de cima abaixo
Não vão encontrar nada que rima
Ainda que a leiam de baixo a cima
Fico mesmo sem jeito
Ao escrever esta enormidade
Ainda que seja verdade
E que lhe possa espremer a espuma
Este poema fala mesmo de verdade
De nada e de coisa nenhuma.
 
POESIA DO NADA E DE COISA NENHUMA

Geometria de um poema

 
Por mais que te ame
E que sejas meu lema
Não caberá o meu amor
Na geometria de um poema
Será impossível
Encolher as letras e as frases
Esconder que apenas um poema mente
Será dificil
Continuar ingénuo adolescente
Quero-me homem aceso e maduro
Impermeável à chuva do futuro
Quero-te sempre princesa
Rosto em tom de aguarela
Reflexo eterno da minha janela
Impossível olhar-te
Sem abrir a boca de espanto
Sem revelar os meus segredos
À custa das unhas e dos dedos
 
Geometria de um poema

UM AMOR ADIADO

 
Não oiço a tua voz doce
Mas vejo o teu pensamento
E sei que chegou o momento
De falar contigo de nós
Por mais atroz que seja
A verdade é sempre ditadura
Só que tu te escondes em ti
Não queres ver a verdade
Por mais que ela seja dura
Sei que vais sentir saudade
De um amor que não tiveste
Nem olhaste para mim
Nem para o ter fizeste
Não queres ouvir estas sílabas
São facas de gume afiado
Para ouvidos de pedra
De um amor adiado
Para sempre…
 
UM AMOR ADIADO

Já lá vai o tempo em que me escondia

 
Não faço previsões sobre amores certos
Não grito
Não rio
Não minto
Não sei quem sou
Não choro
Não finjo
Não sinto falta de ninguém
Não falo
Não invento histórias
Não sonho
Não chamo amigo a ninguém
Não acredito
Não caio
Não me levanto
Sou eu
 
Já lá vai o tempo em que me escondia

Confissões do tempo

 
Não.
Claramente não.
Por mais que queiras não consegues separar-me dos teus dias. Vi-te ontem quando cruzava os horizontes da minha passagem, quando cruzava montanhas e saudades tamanhas.
Vi-te armada de tuas bagagens á beira da estrada como se
esperasses as minhas viagens.
Cheirei inebriado as rosas do teu cabelo e desfiei o teu novelo de razões na minha teia de emoções.
Confesso…
Chorei…
Mas ri do meu choro e ouvi nas minhas lágrimas o nosso riso em coro
 
Confissões do tempo

TÃO PERTO E TÃO DISTANTE

 
Tão preso
Tão liberto
Tão calado
Tão falante
Tão namorado
Tão amante
Tão perto e tão distante
Me sinto de ti e de mim
Quando não estás estou só
Díficil viver assim
Tão triste
Tão alegre
Tão pobre
Tão rico
Tão povo e tão nobre
Me sinto perto de ti
Quando me fixas com o teu olhar
E me deixas de rastos
A olhar para o teu andar
Tão vivo
Tão morto
Tão são
Tão doente
Tão frio e tão quente
Quando pões a mão na minha
Acaricias lentamente
E me dizes com meiguice
Amo-te…
Tão apaixonado por ti…
 
TÃO PERTO E TÃO DISTANTE

Flash VI - Solidão (devaneios)

 
Há portas na vida que se fecham e se abrem e outras que estão sempre entreabertas como se do outro lado soprasse uma brisa leve que nem fecha a porta nem a abre, mas nos traz beijos de vez em quando.
Alguém disse há uns tempos que a vida é um encontro de solidões.
Eu diria que sim.
É um encontro de solidões que por vezes se encontram e por vezes se separam.
Por muito que quisesse nunca poderei esquecer as brisas que me aquecem a solidão.
Pode ser perigoso abrir ou fechar demasiado a porta.
Agrava a solidão.
 
Flash VI - Solidão (devaneios)

NÃO QUERO QUE NINGUÉM LEIA

 
Olho, olho e não vejo ninguém
Ao redor das minhas fantasias
Escreverei meu poema naquela nuvem
Ou então na espuma dos dias

Não quero que ninguém leia
Estas simples e efémeras linhas
Quem o fizer será tentado
A ternas e simples adivinhas

Nem sempre lemos o que queremos
Nem escrevemos o que somos
Só escrevemos o que queremos
Quando queremos quem amamos

Podes ler então estas linhas
Escritas com carinho no ar
Quando acabares será tempo
Desta folha se evaporar
 
NÃO QUERO QUE NINGUÉM LEIA

BREVIDADES

 
É verdade que te fascino?
Grita baixinho
Um grito dançarino
No repicar de um beijinho
Se me queres
Seja devagarinho
Para me deixares ver como és linda
Que o amor é breve
E a vida mais breve ainda

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BREVIDADES

todos os beijos

 
todos os beijos que há no mundo
que sei dar
que sei oferecer
cabem na tua boca
longe dela é seca a terra
longe dela é triste e oca
a luz dos teus olhos
é nulo o desejo
cabe e sai da minha
boca para a tua
simples
um beijo
 
todos os beijos