POESIA DO NADA E DE COISA NENHUMA
Só me ocorrem rimas pobres sem sentido
Que falam de quase nada
Como me sinto perdido, desnorteado
Fico desesperado
Quero escrever e não penso em rima alguma
Não olho outra solução
Senão escrever sobre coisa nenhuma
Da poesia vejo a espuma
Que sobra da lavagem dos dias
Espuma suja das vidas lavadas
Pobres, algumas não rimadas
Como esta pobre poesia
Que fala de coisa nenhuma
Pode-se ler ao revés
Ou então de cima abaixo
Não vão encontrar nada que rima
Ainda que a leiam de baixo a cima
Fico mesmo sem jeito
Ao escrever esta enormidade
Ainda que seja verdade
E que lhe possa espremer a espuma
Este poema fala mesmo de verdade
De nada e de coisa nenhuma.
Geometria de um poema
Por mais que te ame
E que sejas meu lema
Não caberá o meu amor
Na geometria de um poema
Será impossível
Encolher as letras e as frases
Esconder que apenas um poema mente
Será dificil
Continuar ingénuo adolescente
Quero-me homem aceso e maduro
Impermeável à chuva do futuro
Quero-te sempre princesa
Rosto em tom de aguarela
Reflexo eterno da minha janela
Impossível olhar-te
Sem abrir a boca de espanto
Sem revelar os meus segredos
À custa das unhas e dos dedos
UM AMOR ADIADO
Não oiço a tua voz doce
Mas vejo o teu pensamento
E sei que chegou o momento
De falar contigo de nós
Por mais atroz que seja
A verdade é sempre ditadura
Só que tu te escondes em ti
Não queres ver a verdade
Por mais que ela seja dura
Sei que vais sentir saudade
De um amor que não tiveste
Nem olhaste para mim
Nem para o ter fizeste
Não queres ouvir estas sílabas
São facas de gume afiado
Para ouvidos de pedra
De um amor adiado
Para sempre…
Já lá vai o tempo em que me escondia
Não faço previsões sobre amores certos
Não grito
Não rio
Não minto
Não sei quem sou
Não choro
Não finjo
Não sinto falta de ninguém
Não falo
Não invento histórias
Não sonho
Não chamo amigo a ninguém
Não acredito
Não caio
Não me levanto
Sou eu
Confissões do tempo
Não.
Claramente não.
Por mais que queiras não consegues separar-me dos teus dias. Vi-te ontem quando cruzava os horizontes da minha passagem, quando cruzava montanhas e saudades tamanhas.
Vi-te armada de tuas bagagens á beira da estrada como se
esperasses as minhas viagens.
Cheirei inebriado as rosas do teu cabelo e desfiei o teu novelo de razões na minha teia de emoções.
Confesso…
Chorei…
Mas ri do meu choro e ouvi nas minhas lágrimas o nosso riso em coro
TÃO PERTO E TÃO DISTANTE
Tão preso
Tão liberto
Tão calado
Tão falante
Tão namorado
Tão amante
Tão perto e tão distante
Me sinto de ti e de mim
Quando não estás estou só
Díficil viver assim
Tão triste
Tão alegre
Tão pobre
Tão rico
Tão povo e tão nobre
Me sinto perto de ti
Quando me fixas com o teu olhar
E me deixas de rastos
A olhar para o teu andar
Tão vivo
Tão morto
Tão são
Tão doente
Tão frio e tão quente
Quando pões a mão na minha
Acaricias lentamente
E me dizes com meiguice
Amo-te…
Tão apaixonado por ti…
Flash VI - Solidão (devaneios)
Há portas na vida que se fecham e se abrem e outras que estão sempre entreabertas como se do outro lado soprasse uma brisa leve que nem fecha a porta nem a abre, mas nos traz beijos de vez em quando.
Alguém disse há uns tempos que a vida é um encontro de solidões.
Eu diria que sim.
É um encontro de solidões que por vezes se encontram e por vezes se separam.
Por muito que quisesse nunca poderei esquecer as brisas que me aquecem a solidão.
Pode ser perigoso abrir ou fechar demasiado a porta.
Agrava a solidão.
NÃO QUERO QUE NINGUÉM LEIA
Olho, olho e não vejo ninguém
Ao redor das minhas fantasias
Escreverei meu poema naquela nuvem
Ou então na espuma dos dias
Não quero que ninguém leia
Estas simples e efémeras linhas
Quem o fizer será tentado
A ternas e simples adivinhas
Nem sempre lemos o que queremos
Nem escrevemos o que somos
Só escrevemos o que queremos
Quando queremos quem amamos
Podes ler então estas linhas
Escritas com carinho no ar
Quando acabares será tempo
Desta folha se evaporar
BREVIDADES
É verdade que te fascino?
Grita baixinho
Um grito dançarino
No repicar de um beijinho
Se me queres
Seja devagarinho
Para me deixares ver como és linda
Que o amor é breve
E a vida mais breve ainda
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todos os beijos
todos os beijos que há no mundo
que sei dar
que sei oferecer
cabem na tua boca
longe dela é seca a terra
longe dela é triste e oca
a luz dos teus olhos
é nulo o desejo
cabe e sai da minha
boca para a tua
simples
um beijo