Poemas, frases e mensagens de QUICAS

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de QUICAS

O grão de areia

 
era uma vez
um ínfimo grão de areia

um daqueles triliões e triliões que, por ali,
na fronteira entre terra e mar, se unem
qual tapete dourado,
jogando às escondidas
com o sol,
a espuma das águas salgadas,
os recantos mais íntimos
de enlaçados, descuidados amantes,
os castelos que inocentes mãos deixam ao tempo,
espelho vivo de contos,
histórias de sereias e fadas
jamais sonhados…

um daqueles que, qual exército
alinhado com o pó, em dura argamassa,
enforma casas, estradas ou templos
das belas cidades, criações do homem inquieto…

um daqueles que, cavados
na costa pelas ondas, ora suaves,
ora turbulentas,
se deixam embalar no seu vaivém constante,
indecisos
entre terra e mar…

um desses triliões e triliões
prendeu-se de amores pelo vento
e, embriagado com a sua leveza,
deixou-se levar, ar adentro,
numa infinda viagem, quiçá a mais bela,
mais longa e misteriosa,
buscando a liberdade!...
 
O grão de areia

Os dias são sempre depois dos dias

 
Os dias são sempre depois dos dias
e, entre eles, as noites, os sonhos, o acordar?
e a esperança?
e o acreditar que amanhã também vai ser dia?
e a vida
que não pare em qualquer beco
sem saída?

a vida
os dias
as noites
os sonhos...
... os dias, cada dia, ao acordar!
 
Os dias são sempre depois dos dias

(sorriso)

 
frio está
frio, na estrada,
nos pés descalços
do menino
que sorri:
um sorriso triste,
simples,
distante…
(terá vindo com a neve?)
… mas quente
e... já não neva!
 
(sorriso)

Presente

 
eu luto
dia a dia
entre primaveras
por manter a jovialidade

que permite
renascer
a cada dia

como se fosse o primeiro
como se fora o último

sendo único!
 
Presente

Assim, assim

 
Em tempo de ser
Que não sente
Ou espera, assim
O presente
Ausente
Brinca: assim!

Neve que se esvai
Persistindo
Muito alva, assim
Ao calor
Derrete,
Finge: assim!

Lágrimas de dor
Da partida
Dolorosa, assim
Nossa vida
Amada
Teima: assim!

Assim, assim
Persiste na essência,
Sente a natureza!

Assim, assim
Rouba, da alegria,
Doce canto à vida!
 
Assim, assim

IN MEMORIAM

 
hoje
o céu até pode mostrar todo o seu esplendor...
por entre as aves, vivo que nem elas,
abarcas o mundo todo
tornando-nos do tamanho do infinito!
ao partir, levaste contigo um pedaço de cada um de nós
(esse-pedaço-feito-amor-sem-fim-agora-sempre-vida)
que, afinal, ganhámos:
essa riqueza que nenhuma eternidade apaga
memória inacabada
inabalada
pai sempre, até sempre, até já!...

hoje,
o firmamento só pode mostrar esplendor:
também reflecte a tua luz, mais uma entre as estrelas,
será a mais pequenina, talvez, que nunca precisaste de te fazer grande...

…mas a maior!
hoje, lá e aqui, memória vida!
 
IN MEMORIAM

Cantiga de Amor

 
Mote
A flor que vi em botão
roubou o meu coração!

Glosa

Já findava a Primavera,
de mim, tão querida estação,
flor que parecia quimera
subindo, em mim, como hera,
assaltou meu coração!

Das mais mais belas cores vestida,
logo em si achei prisão:
encheu toda a minha vida,
ao meu amor deu guarida
e dei-lhe o meu coração.

Seus olhos verdes, de esperança,
Mais me acenderam paixão:
p'ra si foi toda a confiança,
jamais quis outra lembrança
- é seu o meu coração!

Na felicidade de amar
pensei: seria ilusão?
Mas, quando a si me fui dar
- oh, como é doce lembrar! -
aceitou meu coração!

Hoje, é tudo para mim,
na minha, tem sua mão
- quão feliz eu sou assim!
Flor mais bela que um jardim
roubou o meu coração!
 
Cantiga de Amor

Desilusão - poema sem nome...

 
Quando te vi não quisera
ver-te, embora o desejasse:
quão bom era estar à espera
mas, melhor fora não esperasse!

Sei que água não conhecera
que tanta mágoa lavasse
mas, logo, à fonte correra,
se meu coração deixasse!

Quis ele, antes, que a quimera,
sonho lindo, em mim, sonhasse,
mesmo morta a confiança:

s'inda em tal dia soubera
amares-me, se eu te amasse,
reviveria uma esperança!
 
Desilusão - poema sem nome...

Saudades do meu amor

 
Quando a distância enlaça os corações
e, de um sorriso, só vive a saudade,
tão leve é o brilho de felicidade
que, de alegria, só dá ilusões!

Nem o soar de suaves canções,
aves louvando sua liberdade,
vence a tristeza que minha alma invade!
Nem verdes árvores nem, do Sol, clarões!

Tudo, na ausência, é solidão agreste,
cair da folha, vento, tempestade,
noite sem estrelas, surda voz distante!

Oh doce amor que a vida me prendeste:
vem, dá alento à chama que em mim arde!
vem, sê aurora em meu peito vibrante!
 
Saudades do meu amor

Donzela formosa

 
Oh donzela mais formosa
das que vê o azul do céu:
de ciúmes chora a rosa
invejando o encanto teu!

Teu olhar, face mimosa,
tudo envolve, como um véu!
Teu sorriso, enlevo meu:
é aurora maravilhosa!

Em teus lábios, doces beijos
são vida, amor e ternura,
de felicidade, ninho!

És dona de meus desejos,
flor suave, branca e pura:
é todo teu meu carinho!
 
Donzela formosa

SE

 
SE, ao menos,
puder imaginar
e encontrar-me
e encontrar-te
e, talvez... (quem sabe?)...SER

Se ao menos puder imaginar,
tudo poderá, talvez, ser... outra vez!

talvez:
imaginar – posso?
 
SE

Sonhando acordado

 
Tarde perdida
nos dias, sem dia:
incerto algarismo na conta
incontável,dos dias
perdidos,
sem tardes...

Gesto sumido
no vago, num dia
incerto,
dos dias, sem tardes
perdidas...

oh, dias ausentes, de presença!
- um dia?!
 
Sonhando acordado

O mundo é belo

 
A chuva que cai
e bate, forte, na minha janela,
o vento que passa
e abana as cortinas do meu quarto,
as negras nuvens
que escondem o azul do céu,
mentem!
Querem dizer-me que é triste este mundo,
tão triste e sombrio tornam este dia!
Querem dizer-me que é feia a paisagem,
monótona e fria no inverno que corre!
Querem dizer-me que é má esta terra
onde tudo morre e quase não há vida!
Mentem!
Mentem porque vem,
já perto, a Primavera!
Mentem porque o Sol
já brilha sobre os campos!
Mentem porque as aves
já cantam em seus ninhos!
Mentem!
Por isso, revivo, não posso ficar:
vou cantar com as aves,
esquecer a tristeza!
Vou viver com as flores,
esquecer dias sós!
Vou dizer bem alto
à chuva,
ao vento,
às nuvens:
é belo, o mundo, é belo!
 
O mundo é belo

Primavera

 
Era um recanto de jardim florido, como se espera, em manhã de primavera! A sinfonia de cores anunciava momentos felizes, encantos de perene jovialidade, gritos de renovada esperança e coragem - ali não havia espaço para tristezas: era um novo dia e cada flor, mais e mais viva, pujante no gozo da luz renascida, era um convite à alegria!

Chegava-se de mansinho e, mergulhando naquela quietude, desafio de promessas por cumprir, ficava-se com desejos de eternidade,

(e como isso de eternidade, por vezes, incomoda!...)

capazes de tudo e do nada, do melhor e do pior, mesmo do sem sentido - consentido, contrariado até mais não poder ser - a doer se parados, a magoar quando agitados, inquietos na curiosidade do devir, esse que sempre e só foi e será na possibilidade de ser, já incapazes de querer mais do que o "quero", calados, quietos, repletos!

será isso que esperam de nós as flores numa manhã de primavera?
será para isto que se perturba o silêncio de um recanto de jardim numa manhã de primavera?
será possível ter-se algo a ver com as flores no recanto do jardim?

Cada gesto, cada grito, cada silêncio, tudo ecoa nessa nesga de eternidade - ou será finitude? - que arrebata, que toca e foge, qual arrepio no âmago do instável, frágil, pequenino! Se ainda é possível sentir algo, talvez só isso, mais nada além ou aqui, mais o quê, ou quem, ou até como, só isso, esse arrepio a fustigar, a desafiar a inércia, a clamar por solidariedade:

ninguém pode ficar nesse recanto assim, sem mais!
ninguém pode ficar impune se incerto!
ninguém!

Quase sem se dar conta, a manhã passou, a tarde escondeu-se com a luz por detrás do horizonte e a noite veio devolver o silêncio perdido ao recanto assustado do jardim. Já não haveria mais espaço para a inquietação nessa experiência de plenitude!

já não haverá mais amanhãs de silêncio nas "primaveras" de cada vida?
já não se voltará a escrever sobre as flores nos recantos de jardins?
já se deixará florir os jardins em cada manhã de primavera?
já ninguém se vai incomodar com os desafios nas manhãs que florescem?

A sinfonia de cores anunciava momentos felizes, encantos de perene jovialidade, gritos de renovada esperança e coragem... ainda é manhã de primavera!
 
Primavera

Se tu soubesses, meu amor...

 
embalado nas ondas do mar,
calmo e silencioso,
em noite calma de verão,
cantei à lua,
pensando em ti:

se tu soubesses
como te amo!...

se tu soubesses,
meu amor,
ah, eu não teria de te dizer:
eu seria noite,
tu serias lua!…

se tu soubesses
do meu amor!...

se tu soubesses,
meu amor,
bastaria amar-te assim,
como a noite à lua,
todas as noites!...

se tu soubesses,
meu amor, minha vida!...

se tu soubesses,
meu amor,
eu seria… o que tu quisesses,
todos os dias da minha vida:
teu eterno amor!...
 
Se tu soubesses, meu amor...

Volta amor

 
Doce amor que, em sonhos beijo,
que será feito de ti?
Eu te amo: como, então,
quase creio te perdi!

Há tanto que te não vejo,
não te falo há mais ainda!
Amor, vem, volta depressa
que esta saudade não finda!

Aqui tão longe, querida,
Sentido não tem a vida,
não posso viver sem ti:

dos teus olhos e sorriso,
para ser feliz, preciso,
amor vem, volta daí!
 
Volta amor

Retrato

 
Pensamentos que se cruzam:
encontro, talvez!
silêncio,
ausência presente,
convergência:
um ponto (negação da abstracção)
rubro,
vivo,
no peito!
 
Retrato

Mensagem ao meu amor

 
Meus olhos, voando, andaram
com o Sol, para poente,
apagado, mas contente
da luz, que os teus lhe roubaram.

No céu, com as aves cantaram!
Na terra, foram semente!
Só não cuidaram de gente
que só, de te ver, cuidaram!

Foram dizer-te o que sente
meu coração e voltaram,
sem o sol: foi meu presente!

Com ele o calor, deixaram,
do meu peito; e, novamente,
ausentes, tristes ficaram!
 
Mensagem ao meu amor

Hino à minha amada

 
Que importam as lindas flores,
as aves voando ao céu,
que importa o sol, as estrelas,
se tudo o que é belo, é teu?

Que importam rios ou fontes,
tudo o que a terra nos deu,
frutos ou peixes dos mares,
se és tu, só, o encanto meu?

Tu és mais que flor ou ave,
que o sol, a lua, as estrelas,
mais que o próprio azul do céu!

Mais do que em palavras cabe,
por mais que digam e belas,
és dona, Amor, do amor meu!
 
Hino à minha amada

Vidas primaveris

 
amanheceu
crivado de andorinhas,
o céu azul do meu jardim:
voo picado sobre
as árvores, quietas,
de calma e paciente esperança!

as viajantes tardaram,
mas cá estão,
de novo, à disputa
da melhor estalagem,
o melhor ramo,
mais folhado e recatado,
para a materna missão!

e o meu jardim,
florido, embora,
dividiu as atenções do dia:

de flores se enfeita o céu mas,
de vida transbordam os ninhos!
 
Vidas primaveris