Aborto

Data 17/09/2007 20:05:48 | Tópico: Poemas -> Tristeza

Arranco os pedaços de versos
que guardo no ventre
e choro a dor lacerante que
me adelgaça a cintura.

Não queria abandoná-los
assim,
ensanguentados,
serenos,
miseráveis,
apaixonados, ainda!

Não queria largá-los
à podridão do tempo
mas o vento que outrora
me desfolhava e os versos levava
fugiu de mim.

Não arrasto sozinha o peso das palavras
que te dedico.
Não amo o suficiente a solidão
das noites em que me sinto pontapeada.
Não suporto mais a veemência
ilusória dos dias partilhados.

Arranco os pedaços de versos
e deito-me no leito
da minha crueldade,
à espera que isso me fortaleça.

Vera Carvalho



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=17780