A minha filha

Data 01/05/2008 23:02:03 | Tópico: Textos

Faz hoje sete anos que fui mãe pela primeira vez. Depois de uma gravidez um bocadito atribulada, em que fiquei a tratar a sanita por tu, e onde andava na rua a marcar o meu espaço, e depois de alguns alarmes falsos, com dia marcado, nasceu a bebé mais linda do mundo e arredores. Notem bem. A bebé mais linda. Porque o bebé mais lindo nasceu cerca de dois anos mais tarde. Sim, claro. Os meus bebés foram os mais lindos. Pelo menos para mim que sou a mãe.
A decisão de ter um filho estava tomada desde sempre. Sempre soube que queria ser mãe. E fui abençoada com duas crianças lindas. Ela é a mais velha, ele o mais novo.
Dele vos falarei quando for o dia de anos dele.
Dela falo-vos hoje. Com orgulho. Com carinho. Com muito amor.
A Margarida nasceu num dia de chuva. Lembro-me de estar no quarto à espera de vez para a cesariana e de olhar para a rua e só via água a escorrer pelos vidros. Quando sai da sala de partos e voltei a olhar estava um sol lindo. Só podia ser um bom pronuncio. Nos primeiros dias era comer e dormir. E sujar fraldas, pois claro. Muita fralda se mudou naquela casa. E o meu marido, que era alérgico a pegar em bebés, “medicou-se” e passou a ser sempre ele a tratar dela quando estava em casa. A mim cabia-me alimentá-la. Rapidamente passou a estar mais horas acordada que a dormir. Sempre com aqueles olhos lindos a olhar para nós, sempre muito atenta a tudo quanto a rodeava.
Enquanto ela crescia, também o nosso amor por ela cresceu. Sim, desenganem-se se acham que o amor de um pai ou mãe pelos filhos é logo completo à nascença. Não é. Vai crescendo na mesma medida em que eles vão crescendo. Uma das causas da depressão pós-parto, segundo os entendidos, é mesmo as mães acharem que amam pouco os seus filhos quando eles nascem.
A minha filha sempre foi uma criança obediente, meiga q.b., mas com personalidade forte. Lembro-me que não era preciso ter os detergentes fechados, nem cuidados excessivos lá por casa. Bastava dizer-lhe que não duas ou três vezes que ela nunca mais lá mexia. Ainda hoje é assim. Posso, por exemplo, contar-vos que, quando vai acampar com os escuteiros, é preciso dar-lhe autorização expressa para se sujar. Assim como não é capaz de pedir ou aceitar alguma coisa em casa de conhecidos sem que nos pergunte primeiro. Por outro lado, se as coisas não são feitas como ela quer ou como acha correcto, amua (ou prende o burro como lhe costumamos dizer).
Desde que começou a sua caminhada escolar que demonstra uma avidez pelo conhecimento, colocando-nos, a todos, numa situação, por vezes delicada, porque nem sempre sabemos responder como ela quer. Prefere ver programas sobre animais, sobre como fazer as coisas, sobre o espaço, enfim, programas educativos a desenhos animados. Agora que aprendeu a ler e a escrever obrigou-nos a um trato. Só faz os trabalhos que traz da escola e os que lhe dão no ATL, durante a semana. Ao fim de semana pode fazer uma ou duas fichas dos livros de exercício que seriam para as férias – e que ela acabaria, em duas semanas se deixássemos.
É uma criança extremamente sensível, e que não se esquece das coisas com facilidade. O meu avô morreu quando ela tinha 18 meses. Ainda hoje ela fala dele e diz que gostava de o ter de volta. Muitas noites fui dar com ela a chorar porque sentia a falta do bisavô.
Carinhosa. Muito. Sempre que se deita gosta de nos dizer, a mim, ao pai e ao mano que nos ama. Intervalado com muitos beijos.
Acima de tudo, e apesar de lhe reconhecer defeitos e virtudes, amo-a mais do que à vida. Tal como amo o meu filho. Sejam eles da forma que forem, com o feitio que tiverem, o importante, é que eu os amo, aos dois, e que apenas lhes desejo que sejam felizes.



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