História de Maria Flor - Parte II - Infância Roubada (Estupro)

Data 08/08/2009 16:25:43 | Tópico: Contos

História de Maria Flor
by Betha Mendonça

Parte II – Infância Roubada (Estupro)

A vida de uma criança sem nome que mora num prostíbulo é algo surreal: brincadeiras com roupas espalhafatosas e maquilagens ordinárias das mulheres. Perseguição a ratos e insetos que se instalavam sob as escadas e meia dúzia de brinquedos que por piedade um ou outro homem trazia e punha em minhas mãos.

Próximo de completar quatro anos veio morar conosco Samara, nove anos, sobrinha de umas das moças que perdera os pais assassinados. Ela passou a ir à escola. Além de brincar comigo ensinou-me as cores e rudimentos das letras e números.

Estava feliz com a sua companhia até que começamos a “brincar de homem”: ela beijava minha boca, meu tórax, partes íntimas e as manipulava de um modo esquisito entre gemidos. Era grande incomodo para mim. Pedia que a gente brincasse de outras coisas. Ela insistia que com o tempo eu ia gostar e que não devia contar para ninguém, pois os adultos não iriam deixar a gente se ver nunca mais. Com medo de voltar a ficar sozinha - sem ter de ninguém atenção - fiz segredo.

Foi nessa época que soube o que as meninas guardavam sob as calcinhas: vendo a intimidade de Samara e a minha própria através de um pequeno espelho. “Brincar de homem” tornou-se uma obsessão para nós duas. A todo oportunidade íamos para debaixo das escadas e lá ficávamos esquecidas...

Em uma das tardes sob as escadas fomos descobertas por um homem que malicioso nos espreitava. Depois, a uma por vez estuprou-nos. Samara não emitiu um som, pareceu gostar e não sangrou. Eu senti forte dor rasgando minhas carnes. Quis gritar. As mãos pesadas daquele homem machucavam-me a boca a ponto de eu quase sufocar. Senti no rosto ele babar-me um boi nojento antes de desmaiar de tanta dor.


Despertei ensanguentada na cama de Dinah que berrava palavrões e coisas inteligíveis... Que ia a polícia dar queixa... As outras prostitutas e a cafetã a demoliram de tal idéia: ia dar problemas. O prostíbulo ficaria visado e os clientes iam se afastar. Chamaram um médico de confiança que cuidou de mim e o caso foi abafado.

Dinah num frêmito maternal lembrou que tinha uma filha sem nome e no meio do chororô falou:

- A minha pequena flor. Tão nova e já despetalada.... A minha Maria Flor... Isso: amanhã registro a menina como Maria Flor Lins. Nada mal! Do sórdido episódio ao menos ganhei um nome...




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