Al Berto : Este Não-Futuro que a Gente Vive
em 29/05/2014 20:01:14 (3593 leituras)
Al Berto

Será que nos resta muito depois disto tudo, destes dias assim, deste não-futuro que a gente vive? (...) Bom, tudo seria mais fácil se eu tivesse um curso, um motorista a conduzir o meu carro, e usasse gravatas sempre. Às vezes uso, mas é diferente usar uma gravata no pescoço e usá-la na cabeça. Tudo aconteceu a partir do momento em que eu perdi a noção dos valores. Todos os valores se me gastaram, mesmo à minha frente. O dinheiro gasta-se, o corpo gasta-se. A memória. (...) Não me atrai ser banqueiro, ter dinheiro. Há pessoas diferentes. Atrai-me o outro lado da vida, o outro lado do mar, alguma coisa perfeita, um dia que tenha uma manhã com muito orvalho, restos de geada… De resto, não tenho grandes projectos. Acho que o planeta está perdido e que, provavelmente, a hipótese de António José Saraiva está certa: é melhor que isto se estrague mais um bocadinho, para ver se as pessoas têm mais tempo para olhar para os outros.

Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)"


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Enviado por Tópico
HelenDeRose
Publicado: 29/05/2014 20:05  Atualizado: 29/05/2014 20:05
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 Re: Este Não-Futuro que a Gente Vive
Talvez, uma forma de não-pensamento possa resultar em algum olhar.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 19/09/2014 06:37  Atualizado: 19/09/2014 06:37
 Re: Este Não-Futuro que a Gente Vive
A ironia disso tudo é a data da entrevista, do jeito que ele fala, é como se fosse ontem por ser tão realista. Tento ser pra frente, n pensar muito, calar o juízo, mas putz que é difícil, não tem síndrome de avestruz certa! Às vezes tenho a sensação de que em vez de caminhar, afundo em areia movediça, principalmente quando saio por ai pelas ruas a esmo, vem aquela sensação de nulidade, um surreal esquisito de pedra no peito e areia nos olhos. Um dia desses me flagrei na zoeira de desenvolver a teoria da cebola, que os seres humanos tem muito de suas camadas, o citrismo, o sentimento dessentido de tanto sentir. Eu compreendi o laconismo do Al berto, quando pinta no coração um desejo de mandar tudo as favas e ir se esconder em um deserto qualquer com ou sem gravata no cérebro. Enfim tudo vai se tornando tão sem sentido que perde o sabor, se trabalha é na pressa da pressão do perfeccionismo, da pontualidade, a corrida de não perder um segundo, pelo risco de perder o cargo ilusório e anestesiante, com isso foge o tempo espantosamente, tudo fica nas pendências das coisas as pessoas, tudo é previamente agendado para agendar e ironia das ironias: admiram a "saúde de ferro" qual que! puro disfarce com o mesmo intuito: não perder a porta que garante o pão que mal se tem tempo de mastigar, nisso vem a velhice, a miopia que paleia a olhada lá pra trás e fica as perguntas estupidas por nascerem sem esperança: pra que foi tudo aquilo? Pra que isso tudo agora, qual é o sentido? Fico pensando que essa maloqueira toda, tem tudo haver com o conceito da individualidade humana, de onde foi e é gerada a filosofia, o fabuloso Miguel Torgas, disse que: "O existencialismo é o faro de uma humanidade que pressente desgraça. É uma reação instintiva e alógica, mas precavida contra a perspectiva do anonimato que a espera. Não há salvação fora do homem, diz Sartre. E o homem, que sente debaixo dos pés o abismo da sua destruição como indivíduo, agarra-se à própria raiz." Poxa me bateu uma sensação chata, dessa que corro léguas pra não descobrir bem o que é porque no fundo sei. Mas ok, td bem, tem que se crescer dia a menos dia a mais, meter a carapuça, fazer ar de coragem ao ver a vida nua e crua, na beleza e na dureza. é isso ai, ao menos se pode contar com erosão dos sentidos rsrsrs, com essa vou indo concordando com o saraiva, essa não tem como meter um ponto final. tb.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/12/2015 12:48  Atualizado: 13/12/2015 13:00
 Re: Este Não-Futuro que a Gente Vive
A tendência natural do ser humano é fingir ou fugir do que lhe doí demais, fugir para não enfrentar o desafio por medo de não haver soluções ou fingir... Sim fingir que não vê,não sente,na ilusão de que assim doerá menos.
Nascemos entre dores,nela vivemos e nela morreremos.

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