sou suspeito para falar de vinícius de moraes. desde a minha adolescência que o admiro. quando visitava são paulo, o poeta da paixão costumava hospedar-se na casa do produtor musical fernando faro, vizinha à minha. da janela do meu quarto, eu namorava vinícius à distãncia, sem, no entanto, nunca ter-me aproximado dele. aprendi a fazer sonetos lendo vinícius. e foi ele, com suas letras fantásticas, que a bossa-nova tornou-se um movimento conhecido e respeitado no mundo inteiro. antes de vinícius, a bn era apenas uma brincadeira de meninos ricos da zona sul carioca, que iam tocar violão no apartamento da cantora nara leão.vinícius deu dignidade ao letrista de música. acho, porém, que o site não foi feliz, talvez por falta de conhecimento da obra do poeta, ao colocar chega de saudade, embora marco da bossa-nova, entre as grandes produções de vinícius. se a primeira parte da letra, que recebeu música de tom jobim, é perfeita, a segunda deixa a desejar. e vinícius sabia disso. escreveu-a às pressas, para atender compromissos no uruguai, que sua carreira de diplomata, tão tumultuada em face do seu comportamento, exigia - peixinhos com beijinhos, meus caros, não é digno da pena de quem fez canções como apelo, amor em paz, berimbau, canto de ossanha e tantas outras. na poética de livro, bem caberia balada do mangue, a rosa de hiroxima, poema dos olhos da amada e até o quase épico operário em construção. por outro lado, na lista dos brasileiros, causa-me estranheza a ausência de nomes como murilo mendes, hilda hilst e ferreira gullar - este ainda vivo e apontado, quase que por unanimidade, como o maior poeta brasileiro.

júlio