Florbela Espanca : Vida e Obra
em 30/07/2008 14:10:00 (13828 leituras)
Florbela Espanca

Senhoras e Senhores a "Dama" dos sonetos:

Florbela Espanca,


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, no dia 8 de Dezembro de 1894 e faleceu em Matosinhos, no dia 8 de Dezembro de 1930, batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, foi uma poetisa portuguesa.

Mesmo antes de seu nascimento, a vida de Florbela Espanca já estava marcada pelo inesperado, pelo dramático, pelo incomum.

Seu pai, João Maria Espanca era casado com Maria Toscano. Como a mesma não pôde dar filhos ao marido, João Maria se valeu de uma antiga regra medieval, que diz que quando de um casamento não houver filhos, o marido tem o direito de ter os mesmos com outra mulher de sua escolha. Assim, no dia 8 de dezembro de 1894 nasce Flor Bela Lobo, filha de Antónia da Conceição Lobo. João Maria ainda teve mais um filho com Antónia, Apeles. Mais tarde, Antónia abandona João Maria e os filhos passam a conviver com o pai e sua esposa, que os adotam.

Florbela entra para o curso primário em 1899, passando a assinar Flor d’Alma da Conceição Espanca. O pai de Florbela foi em 1900 um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal. A mesma paixão pela fotografia o levará a abrir um estúdio em Évora, despertando na filha a mesma paixão e tomando-a como modelo favorita, razão pela qual a iconografia de Florbela, principalmente feita pelo pai, é bastante extensa.

Em 1903, aos sete anos, faz seu primeiro poema, A Vida e a Morte. Desde o início é muito clara sua precocidade e preferência a temas mais escusos e melancólicos.

Em 1908 Antônia Conceição, mãe de Florbela, falece. Florbela então ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, fazendo com que a família se desloque para essa cidade. Foi uma das primeiras mulheres a ingressar no curso secundário, fato que não era visto com bons olhos pela sociedade e pelos professores do Liceu. No ano seguinte casa-se no dia de seus 19 anos com Alberto Moutinho, colega de estudos.

O casal mora em Redondo até 1915, quando regressa à Évora devido a dificuldades financeiras. Eles passam a morar na casa de João Maria Espanca. Sob o olhar complacente de Florbela ele convive abertamente com uma empregada, divorciando-se da esposa em 1921 para casar-se com Henriqueta de Almeida, a então empregada.

Voltando a Redondo em 1916, Florbela reúne uma seleção de sua produção poética de 1915 e inaugura o projeto Trocando Olhares, coletânea de 88 poemas e três contos. O caderno que deu origem ao projeto encontra-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, contendo uma profusão de poemas, rabiscos e anotações que seriam mais tarde ponto de partida para duas antologias, onde os poemas já devidamente esclarecidos e emendados comporão o Livro de Mágoas e o Livro de Soror Saudade.

Regressando a Évora em 1917 a poetisa completa o 11º ano do Curso Complementar de Letras, e logo após ingressa na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Após um aborto involuntário, se muda para Quelfes, onde apresenta os primeiros sinais sérios de neurose. Seu casamento se desfaz pouco depois.

Em junho de 1919 sai o Livro de Mágoas, que apesar da poetisa não ser tão famosa faz bastante sucesso, esgotando-se rapidamente. No mesmo ano passa a viver com Antônio Guimarães, casando-se com ele em 1921. Logo depois Florbela passa a trabalhar em um novo projeto que a princípio se chamaria Livro do Nosso Amor ou Claustro de Quimeras. Por fim, torna-se o Livro de Soror Saudade, publicado em janeiro de 1923.

Após mais um aborto separa-se pela segunda vez, o que faz com que sua família deixe de falar com ela. Essa situação a abalou muito. O ex-marido abriu mais tarde em Lisboa uma agência, “Recortes”, que enviava para os respectivos autores qualquer nota ou artigo sobre ele. O espólio pessoal de Antônio Guimarães reúne o mais abundante material que foi publicado sobre Florbela, desde 1945 até 1981, ano do falecimento do ex-marido. Ao todo são 133 recortes.

Em 1925 Florbela casa-se com Mário Lage no civil e no religioso e passa a morar com ele, inicialmente em Esmoriz e depois na casa dos pais de Lage em Matosinhos, no Porto.

Passa a colaborar no D. Nuno em Vila Viçosa, no ano de 1927, com os poemas que comporão o Charneca em Flor. Em carta ao diretor do D. Nuno fala da conclusão de Charneca em Flor, e fala também da preparação de um livro de contos, provavelmente O Dominó Preto.

No mesmo ano Apeles, irmão de Florbela, falece em um trágico acidente, fato esse que abalou demais a poetisa. Ela aferra-se à produção de As Máscaras do Destino, dedicando ao irmão. Mas então Florbela nunca mais será a mesma, sua doença se agrava bastante após o ocorrido.

Começa a escrever seu Diário de Último Ano em 1930. Passa a colaborar nas revistas Portugal Feminino e Civilização, trava também conhecimento com Guido Batelli, que se oferece para publicar Charneca em Flor. Florbela então revê em Matosinhos as provas do livro, depois de tentar o suicídio, período em que a neurose se agrava e é diagnosticado um edema pulmonar.

Em dois de dezembro de 1930, Florbela encerra seu Diário do Último Ano com a seguinte frase: “… e não haver gestos novos nem palavras novas.” Às duas horas do dia 8 de dezembro – no dia do seu aniversário Florbela D’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos, ingerindo dois frascos de Veronal. Algumas décadas depois seus restos mortais são transportados para Vila Viçosa, “… a terra alentejana a que entranhadamente quero”.

Cronologia:

1894: No princípio da madrugada de 08 de dezembro, nasce, em Vila Viçosa (Alentejo), Florbela d’Alma da Conceição Espanca, na casa de sua mãe Antônia da Conceição Lobo, à Rua do Angerino. O pai, o republicano João Maria Espanca, casado com Mariana do Carmo Ingleza, providenciará para que a esposa se torne madrinha de batismo da filha, em 20 de junho de 1895, oferecendo-lhe como padrinho o amigo Daniel da Silva Barroso.
Embora nos registros da Igreja Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa conste Florbela ser “filha ilegítima de pai incógnito��?, será a menina criada pelo pai e pela madrasta desde o nascimento. Igual procedimento se verá da parte de João Maria para com Apeles, o único irmão da poetisa, filho da mesma mãe e do mesmo pai, que vai nascer em 10 de março de 1897. Também como Florbela, Apeles será registrado “filho ilegítimo de pai incógnito��?.

1899: Florbela freqüenta a escola primária em Vila Viçosa. O pai viaja muito, trabalhando, nessa altura, como antiquário, e já em 1900, torna-se um dos introdutores do cinematógrafo em Portugal, projetando, por todo o país, filmes em salas particulares, graças ao recém adquirido “Vitascópio de Edson��?. A paixão pela fotografia o levará também, a abrir um estúdio em Évora, o “Photo Calypolense de J. M.. Espanca��?, despertando na filha o gosto pelo retrato e elegendo-a o seu modelo predileto, visto que a iconografia de Florbela Espanca, sobretudo a da sua lavra é bastante farta.
João Maria Espanca e o pai de Milburges Ferreira (a amiga e vizinha Buja, também afilhada de Mariana Ingleza) serão, como republicanos ferrenhos, num tempo em que tal era suspeito, perseguidos ao longo de diversas ocasiões, como inimigos do regime monárquico.

1903. Data de 11 de novembro o poema “A vida e a morte��?, provavelmente a primeira peça escrita por Florbela, e a poesia parece ter-se constituído, na infância da jovem, num meio particular de aproximação com os outros, espécie de doação generosa de si mesma, de original presente que ela oferece, sobretudo ao pai e ao irmão, ambos foco de seu carinho e de toda a sua atenção.

1908: O rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Felipe são, em 1º de fevereiro (dia do aniversário de João Espanca), assassinados em Lisboa, quando voltavam do Palácio Ducal de Vila Viçosa (residência de férias da Coroa), e este é um dos acontecimentos que vão precipitar a instauração revolucionária da República em 05 de outubro de 1910.
Florbela ingressa no Liceu de Évora, onde permanece até 1912, de modo que a família muda-se nesse ano para Évora, a fim de facilitar-lhe a permanência nos estudos. Ainda em 1908, falece em Vila Viçosa, a terra natal que a regressara, Antônia da Conceição Lobo, então com vinte e nove anos de idade.

1913. Flobela batiza, em 08 de maio, o primo Túlio Espanca, a quem se dedicará sempre com desvelos de assídua madrinha. Este, recentemente falecido, tornar-se-á editor de A Cidade de Évora e importante autoridade nos meios intelectuais portugueses, graças à sua competência de profundo conhecedor de história da arte, vogal das Academias Portuguesas de História e Nacional de Belas Artes, tendo sido encarregado de elaborar, dentre outras obras, o Inventário Artístico de Portugal- Distrito de Évora.
No dia do seu aniversário, Florbela casa-se, na Conservadoria do Registro Civil de Vila Viçosa, com Alberto de Jesus Silva Moutinho, um ano mais velho que ela, rapaz que, desde o primário era seu colega de estudos.

1914: Logo em janeiro, Florbela e o marido vão morar em Redondo; ali atravessarão um período econômico difícil, já que se sustentam dos parcos rendimentos das aulas particulares a alunos de Colégio. Por isso, em setembro de 1915, o jovem casal regressará a Évora, para viver em casa de João Maria Espanca e para dar aulas no Colégio de Nossa Senhora da Conceição. Por essa época, Mariana Ingleza já se acha doente (ela morrerá em dezembro de 1925), e o pai de Florbela, sob os olhares complacentes da mulher, vive livremente na mesma casa com a empregada Henriqueta de Almeida. João Maria vai divorciar-se de Mariana em 09 de novembro de 1921 e casar-se com Henriqueta em 04 de julho de 1922. Em 03 de julho de 1954, João Maria Espanca virá a falecer, depois de, na Conservadoria do Registro Civil de Vila Viçosa, ter perfilhado Florbela em 13 de junho de 1949.

1916: Em meados de abril de 1916, vivendo novamente em Redondo, Florbela seleciona, dentre a sua produção poética cerca de trinta peças produzidas a partir de 10 de maio de 1915, com as quais inaugura o projeto e o manuscrito Trocando Olhares.Esse caderno (32,2 X 11cm), contendo capa dura e apresentando quarenta e sete folhas, encontra-se hoje depositado no seu espólio da Biblioteca Nacional de Lisboa. Compreende oitenta e oito poemas e três contos e parece se impor, da maneira como subsiste, como uma expressiva ��?oficina literária��?, acolhendo projetos poéticos de distintas naturezas, anotações, refundições de poemas em páginas que por vezes, se assemelham a palimpsestos. Prestou-se ele também como matriz a duas antologias dali retiradas na altura, como importante foco irradiador de peças que emigrarão, refundidas, para o Livro de Mágoas e para o Livro de Sóror Saudade, e, enquanto campo temático, como precioso propulsor para o restante da obra de Florbela.
Datam também de 1916, os primeiros esforços da jovem poetisa para ser publicada , e a sua correspondência com Madame Carvalho, diretora do suplemento “Modas e Bordados��? de O Século de Lisboa, tem início em 08 de janeiro desse ano. Ao longo de 1916, Florbela inicia colaboração no mencionado Suplemento, em Notícias de Évora e em A Voz Pública de Évora. Muitos desses poemas, enviados a Júlia Alves (com quem enceta correspondência a partir de junho de 1916 e que se alonga até 05 de abril de 1917), serão recuperados e publicados no póstumo Juvenília.
Portugal inicia a sua intervenção na Primeira Grande Guerra Mundial em 09 de março de 1916, e Florbela, entusiasmada com a causa republicana, começa a partir de princípio de junho, a se ocupar de um novo projeto poético, A Alma de Portugal, em “homenagem humilíssima à pátria que estremeço��?, como o registra a sua correspondência e segundo o atestam os poemas do referido manuscrito. Logo após 18 de julho, ela está enviando a Raul Proença, por meio do pai, que é amigo de Luís Sangreman Proença (irmão do intelectual republicano), a sua antologia Primeiros Passos. A apreciação do importante Conservador da Biblioteca Nacional de Lisboa, de que Florbela toma conhecimento nos dias imediatamente anteriores a 12 de agosto, será fundamental para o auto-reconhecimento do que produzia até então, bem como valiosa para a definição da sua personalidade poética. O exame do parecer de Proença demonstra ter sido ele o único crítico efetivamente competente com que Florbela deveras dialogou, acontecimento verdadeiramente isolado nos minguados horizontes literários da sua existência. A crer nas únicas duas peças da correspondência de Florbela com o republicano (depositada no espólio de Proença na Biblioteca Nacional de Lisboa), a interlocução crítica que com ele manteve deve ter-se alongado pelo menos até 1927 (quando Proença foi exilado em virtude de sua publicaçãoPrimeiro panfleto contra a ditadura militar, e foi decisiva para o engendramento e seleção dos sonetos que perfariam o Livro de Mágoas e, quem sabe, também o Livro de Sóror Saudade, visto que nessa obra se acham traços da continuada epistolografia (o Prince Charmant…, é a ele dedicado, tendo sido antes publicado, em 1º de agosto de 1922, no n.º 16 da Seára Nova, revista literária que se tornou o símbolo da resistência ao salazarismo e do qual Proença era um dos fundadores e integrantes do corpo diretivo).
Por volta de 28 de julho, Florbela reavalia o seu manuscrito e elege peças que, ao lado de outras que comporá, perfarão mais um dos seus projetos poético:O Livro d’Ele.
Em outubro do mesmo ano, a poetisa está de volta a Évora como explicadora no mesmo Colégio. Por essa altura, engendra um novo projeto poético, indicado no manuscrito, apenas pelo título das duas partes que o compõe: Minha Terra, Meu Amor, condensando nele a essência dos abandonados Alma de Portugal e O Livro d’Ele. Apenas em novembro retoma o liceu interrompido, de maneira que concluirá o Curso Complementar de Letras em 24 de julho de 1917.

1917: Florbela encerra o manuscrito Trocando Olhares em 30 de abril desse ano (quando se dá a mencionada interlocução com a poética de Américo Durão), regressando posteriormente a ele para anotações acerca de uma nova antologia, a Primeiros Versos (provavelmente destinada a leitura de Raul Proença), e para rascunhar refundições de poemas presentes ou não no caderno.
Apeles, que tem dotes artísticos e que pratica sensivelmente a pintura, está seguindo carreira oposta em Lisboa: em 19 de agosto, termina o Curso da Escola Naval, graduando-se aspirante.
Em 09 de outubro, Florbela, vivendo desde setembro na capital do país subsidiada pelo pai, matricula-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que abandonará em meados de

1920: dentre os trezentos e quarenta e sete alunos inscritos, é de apenas quatorze o número de mulheres. Conhecerá aí José Schimidt Rau, Américo Durão, João Botto de Carvalho, por intermédio de Apeles, que também se aplica em mostrar para a irmã a vida artística de Lisboa, acompanhando-a na visita a exposições. Embora Florbela tenha sido colega de Alfredo Pedro Guisado na Universidade, ligado, portanto, ao grupo Orpheu, não há nenhum indício de que ela tenha tomado conhecimento da existência do Modernismo em Portugal nem dos seus mentores, embora a temática da “despersonalização��? atravessasse, mas como condição feminina, a sua obra, que, nesse aspecto da “fragmentação��?, aparenta-se sobretudo com a de Mário de Sá-Carneiro.

1918: Em abril, Florbela que se encontra adoentada, vai com o marido a Quelfes (Algarve) para repouso, permanecendo o casal hospedado em Olhão, na casa de Dorothea Moutinho. A carta que envia dali a Proença, em 07 de maio, atesta a efabulação do volume que se tornaria O Livro de Mágoas.

1919: Em junho vem à luz, pela Tipografia Maurício de Lisboa, o O Livro de Mágoas, dedicado “A meu Pai. Ao meu melhor amigo? e “A querida Alma irmã da minha. Ao meu irmão? e, já em seguida, Florbela começa a trabalhar num novo projeto que, entre essa data e pelo menos o final de 1922, terá seu título oscilando entre Livro do Nosso Amor e Claustro de Quimeras, conforme o atestam dois diferentes manuscritos depositados na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Durante toda a fase em Lisboa que intermitentemente, se prolonga até novembro de 1923, Florbela está sempre em contato com Buja, que ali reside então, e trabalha como explicadora particular de português. Data de tal experiência profissional a amizade com Aurélia Borges que, após sua morte e por ocasião do moroso affaire, se transformará em empenhada defensora da causa florbeliana, publicando, entre outras obras, o Florbela Espanca e sua obra (1946).

1921 Apeles é graduado guarda-marinha pela Escola Naval. Em 30 de abril é decretado, em Évora, o divórcio de Florbela com Moutinho. Em 29 de junho, Florbela se casa, na Conservadoria do registro Civil do Porto, com o alferes de artilharia da Guarda republicana, Antônio José Marques Guimarães, então com 26 anos, e o novo casal vai residir naquela freguesia, transferindo-se, em março de 1922, para uma Quinta na Amadora e, já em junho do mesmo ano, para Lisboa.

1922 Apeles que está em vias de tornar-se segundo tenente, presta serviços no cruzador “Carvalho Araújo?, que transporta, de Portugal para o Brasil, um dos aviões utilizados para a célebre travessia aérea de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Corresponde-se assiduamente com a irmã, que acompanha pelos jornais os acontecimentos e que conserva fotos da façanha, em algumas das quais Apeles se acha presente. Também das incursões do cruzador pela ?frica o irmão lhe dá notícias em cartas bem humoradas, em que se compromete, por exemplo a trazer, das caçadas pelo interior de Luanda, umas “penas para um chapéu para Bela?.

1923 Em janeiro vem a lume pela Tipografia A Americana de Lisboa o Livro de Sóror Saudade, refundição dos dois manuscritos anteriores: as provas tipográficas do volume se acham depositadas na Biblioteca Nacional de Lisboa. Também lá se encontram, entre recortes ou apreciações manuscritas de outrem a respeito da publicação do Livro de Mágoas, sete peças; a propósito do Livro de Sóror Saudade outras sete, além de duas outras que atestam comentários de passagem sobre a sua poesia- que Florbela conservou. Tal montante certifica, pois, que ela acompanhou com atenção, recortando e guardando para si, a pífia repercussão das usas obras.
Em novembro, a poetisa se encontra novamente adoentada e segue para Gonça (Guimarães) a fim de tratar-se.

1924 A 4 de abril, em Lisboa, Antônio Guimarães entra com o pedido de divórcio contra Florbela Espanca, na 6ª Vara Cível, que será deferido em 23 de junho de 1925. Em setembro de 1925, Antônio Guimarães se casa com Rosa de Oliveira Roma Leão e, muito mais tarde, ele fundará em Lisboa uma importante agência, a de “recortes��?, que se aplica em através de assinaturas, enviar para os respectivos autores qualquer matéria publicada que lhes diga respeito. Não deixa de ser curioso que o espólio pessoal de Antônio Guimarães se componha do mais abundante material que sobre Florbela se publicou desde 1945 até 1981, ano em que faleceu em Lisboa: são cerca de cento e trinta e três recortes.

1925 Em 15 de outubro, ela se casa, na Repartição do registro Civil de Matosinhos (e a 29 do mesmo mês na Igreja do Bom Jesus de Matosinhos), com Mário Pereira Lage, médico que contava então trinta e dois anos, passando o casal a residir em Esmoriz e transferindo-se em junho de 1926, para a casa dos pais de Lage, em Matosinhos (Porto). Data dessa época uma foto sua, ao lado e outras senhoras numa campanha para angariar fundos para a Cruz Vermelha.

1926 É publicado o decreto ditatorial, com força de lei, que dissolve o Congresso da República.
Apeles gradua-se primeiro-tenente da Marinha.

1927: Durante esse ano, Florbela começa a colaborar no D. Nuno de Vila Viçosa (cujo diretor é José Emídio Amaro), e os poemas ali estampados são por ela indicados como pertença de Charneca em Flor.Inicia também o seu trabalho de tradutora de romances franceses para a Civilização do Porto, função que desempenhará até a morte, e em 15 de maio, numa carta a José Emídio Amaro, dá notícias de Charneca em Flor, que diz ter pronto, e de um livro de contos que está preparando, provavelmente O Dominó Preto.
Em vôo de treino com o hidroavião Hanrior 33, em 06 de junho, Apeles mergulha no Tejo, diante de Porto Brandão, cumprindo, presumivelmente, a decisão que expusera a irmã em carta imediata a morte da noiva (Maria Augusta Teixeira de Vasconcelos), ocorrida em dezembro de 1925.
Florbela reage heroicamente pondo-se a produzir com afinco um livro de contos, à memória dele dedicado - “A meu Irmão, ao meu querido morto��?- , o As Máscaras do Destino. Mas desde então, embora continue a colaborar no D. Nuno, a escrever poemas que provavelmente, já constituem o póstumo Reliquiae; embora se esforce por fazer publicar o último livro de contos, e embora permaneça com a tarefa das traduções - ela se declara quase permanentemente deprimida, doente dos nervos, fumando em demasia e emagrecendo sensivelmente.

1930: Inicia a colaboração no recém-fundado Portugal Feminino com poemas e contos, na revista Civilização e no Primeiro de Janeiro, ambos de Porto; deslocando-se de vez em quando para Évora ou para Lisboa, onde participa das reuniões da revista feminina (e há mesmo uma foto publicada na altura pelo Portugal Feminino, que registra esse acontecimento, na qual Florbela se acha presente ao lado de outras intelectuais e feministas, como Elina Guimarães, Maria Amélia Teixeira, diretora da revista, Branca da Gonta Colaço, Ana de Castro Osório, Alice Ogando, Maria Lamas, Thereza Leitão de Barros, Laura Chaves e Fernanda de Castro).

O seu Diário do último ano, encetado em 11 de janeiro, dá conta do estado de solidão em que Florbela está mergulhada: “O olhar dum bicho comove-me mais profundamente que um olhar humano. Há lá dentro uma alma que quer falar e não pode, princesa encantada por qualquer fada má. Num grande esforço de compreensão, debruço-me, mergulho os meus olhos nos olhos do meu cão: tu que queres? E os olhos respondem-me e eu não entendo…Ah, Ter quatro patas e compreender a súplica humilde, a angustiosa ansiedade daquele olhar! Afinal…de que tendes vós orgulho, ó gentes? E certamente não é em vão que Florbela se faz acompanhar, durante esse último percurso, por essa imagem: não é o cão mitológico guardião da morte?

Em 18 de julho, dá início à correspondência com Guido Battelli, que, entre 18 de novembro até a última peça, de 5 de dezembro, apenas registra a sua preocupação pelo aspecto estético e comercial do Charneca em Flor, que se encontra no prelo, e pelas provas tipográficas da obra, das quais ela chaga a revisar mais de uma dúzia de folhas.
Seu Diário se encerra em 02 de dezembro com uma única frase “e não haver gestos novos nem palavras novas!? Na passagem de 07 para 08 de dezembro, Florbela d’Alma da Conceição Espanca suicida-se em Matosinhos e é enterrada, no mesmo dia 08, no Cemitério de Sedin. Seus restos mortais serão, em 17 de maio de 1964, transportados para o Cemitério de Vila Viçosa, “a terra alentejana a que entranhadamente quero?, como à terra natal tiveram oportunidade de se referir na mencionada carta a José Emídio Amaro, em 15 de maio de 1927.


Obras:

Livro de Mágoas.
Lisboa, Tipografia Maurício, 1919.

Livro de Sóror Saudade.
Lisboa, Tipografia A Americana, 1923.

Charneca em Flor.
Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

Charneca em Flor.
(com 28 sonetos inéditos). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

Cartas de Florbela Espanca.
(a Dona Júlia Alves e a Guido Battelli). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1931.

As Máscaras do Destino.
Porto, Editora Maranus, 1931.

Sonetos Completos.
(Livro de Mágoas, Livro de Sóror Saudade, Charneca em Flor, Reliquiae). Coimbra, Livraria Gonçalves, 1934.

Cartas de Florbela Espanca.
Lisboa, Edição dos Autores, s/d, prefácio de Azinhal Abelho e José Emídio Amaro(1949).

Diário do último ano.
Lisboa, Bertrand, 1981, prefácio de Natália Correia.

O Dominó Preto.
Lisboa, Bertrand, 1982, prefácio de Y. K. Centeno.

Obras Completas de Florbela Espanca.
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1985-1986, 08 vols., edição de Rui Guedes.

Trocando Olhares.
Lisboa, Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1994; estudo introdutório, estabelecimento de textos e notas de Maria Lúcia Dal Farra


Florbela Espanca por outros poetas:

Florbela Espanca causou grande impressão entre seus pares e entre literatos e público de seu tempo e de tempos posteriores. Além da influência que seus versos tiveram nos versos de tantos outros poetas, são aferidas também algumas homenagens prestadas por outros eminentes poetas à pessoa humana e lírica da poetisa.

Manuel da Fonseca, em seu "Para um poema a Florbela" de 1941, cantava: "(...)E Florbela, de negro,/ esguia como quem era,/ seus longos braços abria/ esbanjando braçados cheios/ da grande vida que tinha!".

Também Fernando Pessoa, em um poema datilografado e não datado de nome "À memória de Florbela Espanca", descreve-a como "alma sonhadora/ Irmã gêmea da minha!".


*fonte: pesquisa feita em sites da internet..

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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 30/07/2008 14:12  Atualizado: 30/07/2008 14:12
 Re: Vida e Obra...aviso p/ todos
Olá amigos do Luso,

Os textos de Florbela foram todos revisados e estão disponíveis para leitura.

Até mais ler..

Helen De Rose.

Enviado por Tópico
jessé barbosa de oli
Publicado: 30/07/2008 14:20  Atualizado: 30/07/2008 14:21
Da casa!
Usuário desde: 03/12/2007
Localidade: SALVADOR, Bahia
Mensagens: 334
 Re: Vida e Obra
a dor de amar nunca fora retratada com tamanha
densidade,vigor, visceralidade e maestria como
ela retratava.


Enviado por Tópico
Ledalge
Publicado: 30/07/2008 14:30  Atualizado: 30/07/2008 14:31
Colaborador
Usuário desde: 24/07/2007
Localidade: BRASIL
Mensagens: 6868
 Re: Vida e Obra
FALAR EM MINHA QUERIDA BELA É ME ELEVAR AO MAIS PURO SENTIMENTO. AGORA AQUI SÓ ME RESTA MOSTRAR O SONETO DELA QUE MAIS AMO. LÁGRIMAS AQUI, HELEN!!!



A NOITE DESCE...

Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce… Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!

Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!

A noite em sombra e fumo se desfaz…
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!

E a noite vai descendo, sempre calma…
Meu doce Amor tu beijas a minh’alma
Beijando nesta hora a minha boca!

Florbela Espanca - Livro de Soror Saudade

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