Carlos Drummond de Andrade : Privilégio do mar
em 03/10/2008 14:20:00 (18715 leituras)
Carlos Drummond de Andrade

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.



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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 03/10/2008 17:03  Atualizado: 03/10/2008 17:03
 Re: Privilégio do mar
Ou, como o diria O bandido da luz vermelha (de Rogério Sganzerla, cineasta joaçabense): "Quando a gente não pode fazer nada, a gente avacalha, avacalha e se esculhamba." rs

Enviado por Tópico
jessébarbosadeolivei
Publicado: 05/10/2008 13:24  Atualizado: 05/10/2008 13:24
Da casa!
Usuário desde: 14/09/2008
Localidade: SALVADOR, Bahia ---- BRASIL
Mensagens: 368
 Re: Privilégio do mar
penso que neste poema drummond,
de forma brilhantemente irônica,
critica a mecanização do mundo,
personificada pelo avanço asfixiante
das selvas de pedra.

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