Viagem |
em 03/10/2007 21:00:00 (5030 leituras) |
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revôlta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
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O maior bem |
em 30/09/2007 15:40:00 (9441 leituras) |
Este querer-te bem sem me quereres, Este sofrer por ti constantemente Andar atrás de ti sem tu me veres Faria piedade a toda a gente.
Mesmo a beijar-me a tua boca mente... Quantos sangrentos beijos de mulheres Poisa na minha a tua boca ardente, E quanto engano nos seus vãos dizeres!...
Mas que me importa a mim que me não queiras. Se esta pena, esta dor, estas canseiras, Este mísero pungir, árduo e profundo
Do teu frio desamor, dos teus desdéns, E, na vida, o mais alto dos meus bens? É tudo quanto eu tenho neste mundo?
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Morro do que há no mundo |
em 28/09/2007 16:10:00 (4614 leituras) |
Morro do que há no mundo: do que vi, do que ouvi. Morro do que vivi. Morro comigo, apenas: com lembranças amadas, porém desesperadas. Morro cheia de assombro por não sentir em mim nem princípio nem fim. Morro: e a circunferência fica, em redor, fechada. Dentro sou tudo e nada.
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Confissão |
em 28/09/2007 16:10:00 (9008 leituras) |
Não amei bastante meu semelhante, não catei o verme nem curei a sarna. Só proferi algumas palavras, melodiosas, tarde , ao voltar da festa.
Dei sem dar e beijei sem beijo. (Cego é talvez quem esconde os olhos embaixo do catre.) E na meia-luz tesouros fanam-se, os mais excelentes.
Do que restou, como compor um homem e tudo o que ele implica de suave, de concordâncias vegetais, múrmurios de riso, entrega, amor e piedade?
Não amei bastante sequer a mim mesmo, contudo próximo. Não amei ninguém. Salvo aquele pássaro -vinha azul e doido- que se esfacelou na asa do avião.
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A uma rapariga |
em 28/09/2007 16:00:00 (8039 leituras) |
Abre os olhos e encara a vida! A sina Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes! Por sobre lamaçais alteia pontes Com tuas mãos preciosas de menina.
Nessa estrada da vida que fascina Caminha sempre em frente, além dos montes! Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes! Beija aqueles que a sorte te destina!
Trata por tu a mais longínqua estrela, Escava com as mãos a própria cova E depois, a sorrir, deita-te nela!
Que as mãos da terra façam, com amor, Da graça do teu corpo, esguia e nova, Surgir à luz a haste de uma flor!...
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Além da terra. além do céu |
em 28/09/2007 16:00:00 (20142 leituras) |
Além da Terra, além do Céu, no trampolim do sem-fim das estrelas, no rastro dos astros, na magnólia das nebulosas. Além, muito além do sistema solar, até onde alcançam o pensamento e o coração, vamos! vamos conjugar o verbo fundamental essencial, o verbo transcendente, acima das gramáticas e do medo e da moeda e da política, o verbo sempreamar, o verbo pluriamar, razão de ser e de viver.
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A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios |
em 27/09/2007 22:20:00 (5662 leituras) |
A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios
Camões, grande Camões, quão semelhante Acho teu fado ao meu quando os cotejo! Igual causa nos fez perdendo o Tejo Arrostar co sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges sussurrante Da penúria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vãos, que em vão desejo, Também carpindo estou, saudoso amante:
Lubíbrio, como tu, da sorte dura, Meu fim demando ao Céu, pela certeza De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!... Se te imito nos transes da ventura, Não te imito nos dons da natureza.
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A lamentável catástrofe de D. Inês de Castro |
em 27/09/2007 22:20:00 (6727 leituras) |
Da triste, bela Inês, inda os clamores Andas, Eco chorosa, repetindo; Inda aos piedosos Céus andas pedindo Justiça contra os ímpios matadores;
Ouvem-se inda na Fonte dos Amores De quando em quando as náiades carpindo; E o Mondego, no caso reflectindo, Rompe irado a barreira, alaga as flores:
Inda altos hinos o universo entoa A Pedro, que da morte formosura Convosco, Amores, ao sepulcro voa:
Milagre da beleza e da ternura! Abre, desce, olha, geme, abraça e c'roa A malfadada Inês na sepultura.
Bocage
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O amor antigo |
em 27/09/2007 17:10:00 (23042 leituras) |
O amor antigo vive de si mesmo, não de cultivo alheio ou de presença. Nada exige, nem pede. Nada espera, mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona aquilo que foi grande e deslumbrante, o antigo amor, porém, nunca fenece e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro, tanto mais velho quanto mais amor.
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Destruição |
em 27/09/2007 17:00:00 (8057 leituras) |
Os amantes se amam cruelmente e com se amarem tanto não se vêem. Um se beija no outro, refletido. Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados pelo mimo de amar: e não percebem quanto se pulverizam no enlaçar-se, e como o que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma que os passeia de leve, assim a cobra se imprime na lembrança de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre. deixaram de existir, mas o existido continua a doer eternamente.
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O seu santo nome |
em 27/09/2007 16:50:00 (6155 leituras) |
Não facilite com a palavra amor. Não a jogue no espaço, bolha de sabão. Não se inebrie com o seu engalanado som. Não a empregue sem razão acima de toda a razão ( e é raro). Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem remissão de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra. Não a pronuncie.
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Em Hydra, evocando Fernando Pessoa |
em 21/09/2007 15:57:48 (3498 leituras) |
Quando na manhã de Junho o navio ancorou em Hydra (E foi pelo som do cabo a descer que eu soube que ancorava) Saí da cabine e debrucei-me ávida sobre o rosto do real - mais preciso e mais novo do que o imaginado
Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto Ante a meticulosa limpidez dessa manhã num porto de uma ilha grega
Murmurei o teu nome O teu ambíguo nome
Invoquei a tua sombra transparente e solene Como esguia mastreação de veleiro E acreditei firmemente que tu vias a manhã Porque a tua alma foi visual até aos ossos Segundo a lei de máscara do teu nome
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Odalisca |
em 21/09/2007 15:51:40 (4176 leituras) |
Contam que se entrega aos ventos favoráveis do amor. Estátua de mármores nocturnos, assistiu a uma debandada de desejos na pele dos amantes. No olhar calcinado pela espera, derrama-se o fogo já frio das vésperas inúteis. Para que lhe servem os braços, agora que todos partiram, e só uma corrente de silêncio a prende ao leito?
No entanto, deito-me com ela. Um degelo de pálpebras limpa-nos de uma cinza de solidão. E diz-me: «Quero perder-me numa encruzilhada de abraços; afogar-me num poço de gemidos; esquecer-me de mim no fundo da tua memória.» Deixo-a entregue a si própria; e pergunto o que fazer do calor dos seus lábios, da ânsia que os seus dedos soltam, do tempo que estremece no seu corpo?
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Amar |
em 21/09/2007 14:00:00 (14418 leituras) |
Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: aqui... além... Mais este e aquele, o outro e a toda gente... Amar! Amar! E não amar ninguém!
Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disse que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente!
Há uma primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar.
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que eu saiba me perder... pra me encontrar...
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Soneto do amor total |
em 21/09/2007 14:00:00 (7794 leituras) |
Amo-te tanto meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade. Amo-te enfim, de um calmo amor prestante E te amo além, presente na saudade. Amo-te, enfim, com grande liberdade Dentro da eternidade e a cada instante. Amo-te como um bicho, simplesmente De um amor sem mistério e sem virtude Com um desejo maciço e permanente. E de te amar assim, muito e amiúde É que um dia em teu corpo de repente Hei de morrer de amar mais do que pude.
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Quero |
em 21/09/2007 13:52:35 (16653 leituras) |
Quero que todos os dias do ano todos os dias da vida de meia em meia hora de 5 em 5 minutos me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo, creio, no momento, que sou amado. No momento anterior e no seguinte, como sabê-lo? Quero que me repitas até a exaustão que me amas que me amas que me amas. Do contrário evapora-se a amação pois ao não dizer: Eu te amo, desmentes apagas teu amor por mim. Exijo de ti o perene comunicado. Não exijo senão isto, isto sempre, isto cada vez mais. Quero ser amado por e em tua palavra nem sei de outra maneira a não ser esta de reconhecer o dom amoroso, a perfeita maneira de saber-se amado: amor na raiz da palavra e na sua emissão, amor saltando da língua nacional, amor feito som vibração espacial. No momento em que não me dizes: Eu te amo, inexoravelmente sei que deixaste de amar-me, que nunca me amastes antes. Se não me disseres urgente repetido Eu te amoamoamoamoamo, verdade fulminante que acabas de desentranhar, eu me precipito no caos, essa coleção de objetos de não-amor.
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Inconstância |
em 21/09/2007 13:50:00 (9097 leituras) |
Procurei o amor, que me mentiu. Pedi à vida mais do que ela dava; Eterna sonhadora edificava Meu castelo de luz que me caiu!
Tanto clarão nas trevas refulgiu, E tanto beijo a boca me queimava! E era o sol que os longes deslumbrava Igual a tanto sol que me fugiu!
Passei a vida a amar e a esquecer... Atrás do sol dum dia outro a aquecer As brumas dos atalhos por onde ando...
E este amor que assim me vai fugindo É igual a outro amor que vai surgindo, Que há-de partir também... nem eu sei quando...
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Abaixo o mistério da poesia |
em 18/09/2007 23:00:00 (7408 leituras) |
Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé Para ver quem é, Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas E correr pelos interstícios das pedras, pressuroso e vivo como vermelhas minhocas Despertas; Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas, Órfãos de pais e mães, Andarem acossados pelas ruas Como matilhas de cães; Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente, Num silêncio de espanto Rasgado pelo grito da sereia estridente; Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas Amassando na mesma lama de extermínio Os ossos dos homens e as traves das suas casas; Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade, Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia, O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:
ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA
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O sonho |
em 18/09/2007 22:51:18 (12882 leituras) |
Pelo sonho é que vamos, Comovidos e mudos. Chegamos? Não chegamos? Haja ou não frutos, Pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo Que talvez não teremos. Basta que a alma demos, Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
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Conselho |
em 16/09/2007 13:50:00 (6028 leituras) |
Sê paciente; espera que a palavra amadureça e se desprenda como um fruto ao passar o vento que a mereça.
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Meio-dia |
em 16/09/2007 13:44:20 (3643 leituras) |
Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém. O sol no alto, fundo, enorme, aberto, Tornou o céu de todo o deus deserto. A luz cai implacável como um castigo. Não há fantasmas nem almas, E o mar imenso solitário e antigo, Parece bater palmas. |
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Apagar-me |
em 13/09/2007 22:32:32 (12399 leituras) |
apagar-me diluir-me desmanchar-me até que depois de mim de nós de tudo não reste mais que o charme |
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Um poema |
em 13/09/2007 22:32:04 (6080 leituras) |
um poema que não se entende é digno de nota
a dignidade suprema de um navio perdendo a rota
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Moinho de versos |
em 13/09/2007 22:31:39 (14766 leituras) |
moinho de versos movido a vento em noites de boémia
vai vir o dia quando tudo que eu diga seja poesia
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Poema que aconteceu |
em 12/09/2007 23:15:24 (10686 leituras) |
Nenhum desejo neste domingo nenhum problema nesta vida o mundo parou de repente os homens ficaram calados domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema não sabe o que está escrevendo mas é possível que se soubesse nem ligasse.
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A noite na ilha |
em 12/09/2007 12:10:00 (4318 leituras) |
Dormi contigo a noite inteira junto ao mar, na ilha. Selvagem e doce eras entre o prazer e o sono, entre o fogo e a água. Talvez bem tarde os nossos sonos se uniram na altura e no fundo, em cima como ramos que um mesmo vento move, em baixo como raízes vermelhas que se tocam. Talvez o teu sono se separou do meu e pelo mar escuro me procurava como antes, quando nem existias, quando sem te enxergar naveguei a teu lado e teus olhos buscavam o que agora - pão, vinho, amor e cólera - te dou, cheias as mãos, porque tu és a taça que só esperava os dons da minha vida. Dormi junto contigo a noite inteira, enquanto a escura terra gira com vivos e com mortos, de repente desperto e no meio da sombra o meu braço rodeava a tua cintura. Nem a noite nem o sonho puderam nos separar. Dormi contigo, amor, despertei, e a tua boca saída do teu sono deu-me o sabor da terra, de água-marinha, de algas, de tua íntima vida, e recebi o teu beijo molhado pela aurora como se me chegasse do mar que nos rodeia.
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Desencontrários |
em 12/09/2007 12:04:23 (16733 leituras) |
Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto.
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Tortura |
em 12/09/2007 00:20:00 (6224 leituras) |
"Tirar dentro do peito a Emoçao, A lúcida Verdade, o Sentimento! - E ser, depois de vir do coração, Um punhado de cinza esparso ao vento!...
Sonhar um verso de alto pensamento, E puro como um ritmo de oração! - E ser, depois de vir do coração, O pó, o nada, o sonho dum momento...
São assim ocos, rudes, os meus versos: Rimas perdidas, vendavais dispersos, Com que eu iludo os outros, com que minto!
Quem me dera encontrar verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!"
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Em todas as ruas te encontro |
em 11/09/2007 14:20:00 (6594 leituras) |
Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco conheço tão bem o teu corpo sonhei tanto a tua figura que é de olhos fechados que eu ando a limitar a tua altura e bebo a água e sorvo o ar que te atravessou a cintura tanto, tão perto, tão real que o meu corpo se transfigura e toca o seu próprio elemento num corpo que já não é seu num rio que desapareceu onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro Em todas as ruas te perco
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Razão de ser |
em 11/09/2007 14:18:28 (16528 leituras) |
Escrevo. E pronto. Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto. Ninguém tem nada com isso. Escrevo porque amanhece, E as estrelas lá no céu Lembram letras no papel, Quando o poema me anoitece. A aranha tece teias. O peixe beija e morde o que vê. Eu escrevo apenas. Tem que ter por quê?
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O Amor |
em 01/10/2007 19:26:54 (12812 leituras) |
O amor
MOTE
Amor é chama que mata, Sorriso que desfalece, Madeixa que desata, Perfume que esvaece.
(popular)
GLOSAS
Amor é chama que mata, Dizem todos com razão, É mal do coração E com ele se endoidece. O amor é um sorriso Sorriso que desfalece.
Madeixa que se desata Denominam-no também. O amor não é um bem: Quem ama sempre padece. O amor é um perfume Perfume que se esvaece.
Mário de Sá-Carneiro
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Os meus versos |
em 30/09/2007 15:40:00 (6602 leituras) |
Rasga esses versos que eu te fiz, Amor! Deita-os ao nada, ao pó ao esquecimento, Que a cinza os cubra, que os arraste o vento, Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor, Que volte ao nada o nada dum momento. Julguei-me grande pelo sentimento, E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei! Tantos penaram já o que eu penei! Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasga os meus versos... Pobre endoidecida! Como se um grande amor cá nesta vida Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...
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Infância |
em 28/09/2007 16:10:00 (11800 leituras) |
A Abgar Renault
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia. Eu sozinho menino entre mangueiras. lia a história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu chamava para o café. Café preto que nem a preta velha café gostoso café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu...Não acorde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito. E dava um suspiro...que fundo!
Lá longe meu pai campeava no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
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Sem título |
em 28/09/2007 16:10:00 (4281 leituras) |
É assim que te quero, amor, assim, amor, é que eu gosto de ti, tal como te vestes e como arranjas os cabelos e como a tua boca sorri, ágil como a água da fonte sobre as pedras puras, é assim que te quero, amada, Ao pão não peço que me ensine, mas antes que não me falte em cada dia que passa. Da luz nada sei, nem donde vem nem para onde vai, apenas quero que a luz alumie, e também não peço à noite explicações, espero-a e envolve-me, e assim tu pão e luz e sombra és. Chegastes à minha vida com o que trazias, feita de luz e pão e sombra, eu te esperava, e é assim que preciso de ti, assim que te amo, e os que amanhã quiserem ouvir o que não lhes direi, que o leiam aqui e retrocedam hoje porque é cedo para tais argumentos. Amanhã dar-lhes-emos apenas uma folha da árvore do nosso amor, uma folha que há-de cair sobre a terra como se a tivessem produzido os nosso lábios, como um beijo caído das nossas alturas invencíveis para mostrar o fogo e a ternura de um amor verdadeiro.
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Ódio? |
em 28/09/2007 16:00:00 (7442 leituras) |
Ódio por ele? Não... Se o amei tanto, Se tanto bem lhe quis no meu passado, Se o encontrei depois de o ter sonhado, Se à vida assim roubei todo o encanto...
Que importa se mentiu? E se hoje o pranto Turva o meu triste olhar, marmorizado, Olhar de monja, trágico, gelado Como um soturno e enorme Campo Santo!
Ah! nunca mais amá-lo é já bastante! Quero senti-lo d’outra, bem distante, Como se fora meu, calma e serena!
Ódio seria em mim saudade infinda, Mágoa de o ter perdido, amor ainda. Ódio por ele? Não... não vale a pena...
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Soneto de Amor |
em 28/09/2007 16:00:00 (9418 leituras) |
Talvez não ser é ser sem que tu sejas, sem que vás cortando o meio-dia como uma flor azul, sem que caminhes mais tarde pela névoa e os ladrilhos,
sem essa luz que levas na mão que talvez outros não verão dourada, que talvez ninguém soube que crescia como a origem rubra da rosa,
sem que sejas, enfim, sem que viesses brusca, incitante, conhecer minha vida, aragem de roseira, trigo do vento,
e desde então sou porque tu é, e desde então é, sou e somos e por amor serei, serás, seremos.
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Visão realizada |
em 27/09/2007 22:20:00 (3911 leituras) |
Sonhei que a mim correndo o gnídeo nume Vinha coa Morte, co Ciúme ao lado, E me bradava: <<Escolhe, desgraçado, Queres a Morte, ou queres o Ciúme?
>>Não é pior daquela fouce o gume Que a ponta dos farpões que tens provado; Mas o monstro voraz, por mim criado, Quanto horror há no Inferno em si resume.>>
Disse; e eu dando um suspiro: <<Ah, não m'espantes Coa a vista dessa fúria!... Amor, clemência! Antes mil mortes, mil infernos antes!>>
Nisto acordei com dor, com impaciência; E não vos encontrando, olhos brilhantes, Vi que era a minha morte a vossa ausência!
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Aquele que aproxima os que sempre estarão |
em 27/09/2007 22:20:00 (4460 leituras) |
Aquele que aproxima os que sempre estarão distantes e desunidos e separa os que pareceriam para sempre unidos e semelhantes enxuga meus olhos no alto da noite de mil direcções. Encostada a seu peito, contemplo desfigurada o negro curso da vida como, um dia, do alto de uma fortaleza vi a solidão das pedras milenares que desciam por suas arruinadas vertentes.
Cecília Meireles
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Invocação à Noite |
em 27/09/2007 17:00:00 (4240 leituras) |
Ó deusa, que proteges dos amantes O destro furto, o crime deleitoso, Abafa com teu manto pavoroso Os importantes astros vigilantes:
Quero adoçar meus lábios anelantes No seio de Ritália melindroso; Estorva que os maus olhos do invejoso Turbem d'amor os sôfregos instantes:
Tétis formosa, tal encanto inspire Ao namorado Sol teu níveo rosto, Que nunca de teus braços se retire!
Tarda ao menos o carro à Noite oposto, Até que eu desfaleça, até que expire Nas ternas ânsias, no inefável gosto.
Bocage
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Tuas mãos |
em 27/09/2007 17:00:00 (9399 leituras) |
Quando tuas mãos saem, amada, para as minhas, o que me trazem voando? Por que se detiveram em minha boca, súbitas, e por que as reconheço como se outrora então as tivesse tocado, como se antes de ser houvessem percorrido minha fronte e a cintura?
Sua maciez chegava voando por sobre o tempo, sobre o mar, sobre o fumo, e sobre a primavera, e quando colocaste tuas mãos em meu peito, reconheci essas asas de paloma dourada, reconheci essa argila e a cor suave do trigo.
A minha vida toda eu andei procurando-as. Subi muitas escadas, cruzei os recifes, os trens me transportaram, as águas me trouxeram, e na pele das uvas achei que te tocava. De repente a madeira me trouxe o teu contacto, a amêndoa me anunciava suavidades secretas, até que as tuas mãos envolveram meu peito e ali como duas asas repousaram da viagem.
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Ó tu, consolador dos malfadados |
em 25/09/2007 14:50:00 (3040 leituras) |
Ó tu, consolador dos malfadados, Ó tu, benigno dom da mão divina, Das mágoas saborosa medicina, Tranquilo esquecimento dos cuidados:
Aos olhos meus, de prantear cansados, Cansados de velar, teu voo inclina; E vós, sonhos d’amor, trazei-me Alcina, Dai-me a doce visão de seus agrados:
Filha das trevas, frouxa sonolência, Dos gostos entre o férvido transporte Quanto me foi suave a tua ausência!
Ah!, findou para mim tão leda sorte; Agora é só feliz minha existência No mudo estado, que arremeda a morte.
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Inicial |
em 21/09/2007 15:54:54 (5538 leituras) |
O mar azul e branco e as luzidias Pedras: O arfado espaço Onde o que está lavado se relava Para o rito do espanto e do começo Onde sou a mim mesma devolvida Em sal espuma e concha regressada À praia inicial da minha vida
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Epigrama gastronómico |
em 21/09/2007 15:49:20 (3377 leituras) |
Há mil e cem anos de poesia num só dia, mil e cem palavras numa só sílaba, mil e cem páginas numa linha
- quando abro o livro do teu corpo, e provo mil e cem receitas num só amor.
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Pela luz dos olhos teus |
em 21/09/2007 14:00:00 (10283 leituras) |
Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar Ai que bom que isso é meu Deus Que frio que me dá o encontro desse olhar Mas se a luz dos olhos teus Resiste aos olhos meus só pra me provocar Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar Meu amor, juro por Deus Que a luz dos olhos meus já não pode esperar Quero a luz dos olhos meus Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará Pela luz dos olhos teus Eu acho meu amor que só se pode achar Que a luz dos olhos meus precisa se casar.
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Meu Deus, eu quero a mulher que passa |
em 21/09/2007 14:00:00 (10654 leituras) |
Seu dorso frio é um campo de lírios Tem sete cores nos seus cabelos Sete esperanças na boca fresca! Oh! como és linda, mulher que passas Que me sacias e suplicias Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia Teus sofrimentos, melancolia. Teus pelos leves são relva boa Fresca e macia. Teus belos braços são cisnes mansos Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas Que vens e passas, que me sacias Dentro das noites, dentro dos dias! Por que me faltas, se te procuro? Por que me odeias quando te juro Que te perdia se me encontravas E me concontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas? Por que não enches a minha vida? Por que não voltas, mulher querida Sempre perdida, nunca encontrada? Por que não voltas à minha vida Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa! Eu quero-a agora, sem mais demora A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacífica Que é tanto pura como devassa Que bóia leve como a cortiça E tem raízes como a fumaça.
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Amor e seu tempo |
em 21/09/2007 13:51:40 (5137 leituras) |
Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto, o prêmio subterrâneo e coruscante, leitura de relâmpago cifrado, que, decifrado, nada mais existe valendo a pena e o preço do terrestre, salvo o minuto de ouro no relógio minúsculo, vibrando no crepúsculo. Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde.
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Um poema |
em 19/09/2007 00:20:00 (11671 leituras) |
Não tenhas medo, ouve: É um poema Um misto de oração e de feitiço... Sem qualquer compromisso, Ouve-o atentamente, De coração lavado. Poderás decorá-lo E rezá-lo Ao deitar, Ao levantar, Ou nas restantes horas de tristeza Na segura certeza De que mal não te faz. E pode acontecer que te dê paz...
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Não posso adiar o amor |
em 18/09/2007 23:00:00 (16396 leituras) |
Não posso adiar o amor para outro século Não posso Ainda que o grito sufoque na garganta Ainda que o ódio estale e crepite e arda Sob montanhas cinzentas E montanhas cinzentas Não posso adiar este abraço Que é uma arma de dois gumes Amor e ódio
Não posso adiar Ainda que a noite pese séculos sobre as costas E a aurora indecisa demore Não posso adiar para outro século a minha vida Nem o meu amor Nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
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Bucólica |
em 16/09/2007 13:50:00 (34184 leituras) |
A vida é feita de nadas: De grandes serras paradas À espera de movimento; De searas onduladas Pelo vento;
De casas de moradia Caiadas e com sinais De ninhos que outrora havia Nos beirais;
De poeira; De sombra de uma figueira; De ver esta maravilha: Meu Pai a erguer uma videira Como uma mãe que faz a trança à filha.
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Motivo |
em 16/09/2007 13:50:00 (4129 leituras) |
Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.
Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada.
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Leituras |
em 16/09/2007 13:42:09 (3203 leituras) |
“Um número reduzido de indivíduos vê os objectos com outros olhos, chama-lhes outros nomes, pensa de maneira diferente, encara a vida de modo diverso. Como estão em minoria, são doidos... “
In: “Loucura” Mário Sá Carneiro |
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Parem |
em 13/09/2007 22:32:16 (5581 leituras) |
parem eu confesso sou poeta
cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face
parem eu confesso sou poeta
só meu amor é meu deus
eu sou o seu profeta
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Entre a dívida externa |
em 13/09/2007 22:31:52 (5720 leituras) |
entre a dívida externa e a dúvida interna meu coração comercial alterna
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Poema de sete faces |
em 12/09/2007 23:17:40 (13659 leituras) |
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos , raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.
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Se cada dia cai |
em 12/09/2007 12:10:00 (9955 leituras) |
Se cada dia cai, dentro de cada noite, há um poço onde a claridade está presa.
Há que sentar-se na beira do poço da sombra e pescar luz caída com paciência.
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Amor, então |
em 12/09/2007 12:04:36 (13807 leituras) |
Amor, então, também, acaba? Não, que eu saiba. O que eu sei é que se transforma numa matéria-prima que a vida se encarrega de transformar em raiva. Ou em rima.
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Castelã da tristeza |
em 12/09/2007 00:20:00 (4549 leituras) |
"Altiva e couraçada de desdém, Vivo sozinha em meu castelo: a Dor! Passa por ele a luz de todo o amor... E nunca em meu castelo entrou alguém!
Castelã da Tristeza, vês?... A quem?... - E o meu olhar é interrogador - Perscruto, ao longe, as sombras do sol-pôr... Choro o silêncio... Nada...Ninguém vem...
Castelã da Tristeza, porque choras Lendo, toda de branco, um livro de horas, à sombra rendilhada dos vitrais?...
À noite, debruçada, plas ameias, Porque rezas baixinho?... Porque anseias?... Que sonho afagam tuas mãos reais?..."
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Lembra-te |
em 11/09/2007 14:20:00 (5765 leituras) |
Lembra-te que todos os momentos que nos coroaram todas as estradas radiosas que abrimos irão achando sem fim seu ansioso lugar seu botão de florir o horizonte e que dessa procura extenuante e precisa não teremos sinal senão o de saber que irá por onde fomos um para o outro vividos
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Autografia |
em 11/09/2007 14:20:00 (3180 leituras) |
sou um homem
um poeta
uma máquina de passar vidro colorido
um copo uma pedra
uma pedra configurada
um avião que sobe levando-te nos seus braços
que atravessam agora o último glaciar da terra
o meu nome está farto de ser escrito na lista dos tiranos: condenado
à morte!
os dias e as noites deste século têm gritado tanto no meu peito que
existe nele uma árvore miraculada
tenho um pé que já deu a volta ao mundo
e a família na rua
um é loiro
outro moreno
e nunca se encontrarão
conheço a tua voz como os meus dedos
( antes de conhecer-te já eu te ia beijar a tua casa )
tenho um sol sobre a pleura
e toda a água do mar à minha espera
quando amo imito o movimento das marés
e os assassínios mais vulgares do ano
sou, por fora de mim, a minha gabardina
e eu o pico Everest
posso ser visto à noite na companhia de gente altamente suspeita
e nunca de dia a teus pés florindo a tua boca
porque tu és o dia porque tu és
a terra onde eu há milhares de anos vivo a parábola
do rei morto, do vento e da primavera
Quanto ao de toda a gente - tenho visto qualquer coisa
Viagens a Paris - já se arranjaram algumas.
Enlaces e divórcios de ocasião - não foram poucos.
Conversas com meteoros internacionais - também, já por cá
passaram.
Eu sou, no sentido mais enérgico da palavra
uma carruagem de propulsão por hálito
os amigos que tive as mulheres que assombrei as ruas por onde
passei uma só vez
tudo isso vive em mim para uma história
de sentido ainda oculto
magnifica irreal
como uma povoação abandonada aos lobos
lapidar e seca
como uma linha-férrea ultrajada pelo tempo
é por isso que eu trago um certo peso extinto
nas costas
a servir de combustível
e é por isso que eu acho que as paisagens ainda hão-de vir a ser
escrupulosamente electrocutadas vivas
para não termos de atirá-las semi-mortas à linha
E para dizer-te tudo
dir-te-ei que aos meus vinte e cinco anos de existência solar estou
em franca ascensão para ti O Magnifico
na cama no espaço duma pedra em Lisboa-Os-Sustos
e que o homem-expedição de que não há notícias nos jornais
nem
lágrimas à porta das famílias
sou eu meu bem sou eu
partido de manhã encontrado perdido entre
lagos de incêndio e o teu retrato grande!
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Saiba morrer o que viver não soube |
em 10/09/2007 20:30:00 (7944 leituras) |
#Meu ser evaporei na lida insana do tropel de paixões que me arrastava. Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava em mim quase imortal a essência humana. De que inúmeros sóis a mente ufana existência falaz me não dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava ao mal, que a vida em sua origem dana. Prazeres, sócios meus e meus tiranos! Esta alma, que sedenta e si não coube, no abismo vos sumiu dos desenganos. Deus, ó Deus!... Quando a morte à luz me roube ganhe um momento o que perderam anos saiba morrer o que viver não soube."
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