Vida e Obra

Publicado em 10/06/2008 10:57:57 | Tópico: Luís de Camões

Hoje, 10 de junho de 2008, quero homenagear Luis Vaz de Camões, e o Dia da Língua Portuguesa aqui no Brasil.

Senhoras e Senhores, com vocês Luis Vaz de Camões:

QUANDO TUDO ACONTECEU...

1524 ou 1525: Datas prováveis do nascimento de Luís Vaz de Camões, talvez em Lisboa.
- 1548: Desterro no Ribatejo; alista-se no Ultramar.
- 1549: Embarca para Ceuta; perde o olho direito numa escaramuça contra os Mouros.
- 1551: Regressa a Lisboa.
- 1552: Numa briga, fere um funcionário da Cavalariça Real e é preso.
- 1553: É libertado; embarca para o Oriente.
- 1554: Parte de Goa em perseguição a navios mercantes mouros, sob o comando de Fernando de Meneses.
- 1556: É nomeado provedor-mor em Macau; naufraga nas Costas do Camboja.
- 1562: É preso por dívidas não pagas; é libertado pelo vice-rei Conde de Redondo e distinguido seu protegido.
- 1567: Segue para Moçambique.
- 1570: Regressa a Lisboa na nau Santa Clara.- 1572: Sai a primeira edição d’Os Lusíadas.
- 1579 ou 1580: Morre de peste, em Lisboa.

PASSAGEM PARA A ÍNDIA

1552. Corpus Christi. No Largo do Rossio dois mascarados lutam com Gaspar Borges, funcionário da Cavalariça Real. Camões aproxima-se, reconhece os mascarados, são amigos seus. Não hesita, mete a mão no bolso e parte para a rixa. Faca em punho, movimento nervoso, cutilada no pescoço do adversário. A noite acaba em sangue. Camões é preso e levado para a cadeia do Tronco.

A mãe, Dona Ana de Macedo, chora a prisão do filho. Vive em súplica de perdão para Luís: visita ministros reais e o próprio Borges. Passados nove meses a vítima, já restabelecida do ferimento, resolve atender ao pedido.

É dia de alguma liberdade para Camões. O poeta deixa as masmorras sob duas condições: primeiro tem de pagar multa de 4 mil réis ao esmoler d’El-Rei; depois, embarcar para a Índia e servir por três anos na milícia do Oriente.

Em Março de 1553 o poeta parte para Goa na São Bento, nau incorporada à frota comandada pelo capitão Fernão Álvares Cabral. É soldado raso. Chega à capital da Índia portuguesa seis meses depois. Pena e papel sempre à mão, o poeta escreve sobre o que vê:

"(...) Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana;
(...) Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!" (1)

Camões participa numa expedição punitiva contra o Rei de Chemba, na Costa do Malabar, enviada pelo Vice-Rei D. Afonso de Noronha. Vitória. O poeta regressa a Goa. Em Fevereiro de 1554 parte novamente sob o comando de D. Fernando de Meneses. Desta vez em perseguição a navios mouros que comercializavam entre a índia e o Egipto, prejudicando o monopólio mercantil dos portugueses. A frota só volta à Índia em Novembro do mesmo ano.

Chegam as férias militares, fim do soldo. Para ganhar alguns trocados, Camões escreve versos e autos por encomenda de um poderoso senhor que os apresenta como seus à pretendida. Em troca, restos de comida. O poeta também se torna escriba público. São muitos os soldados analfabetos. Camões escreve cartas para os seus familiares no Reino. Assim vive em Goa até 1556: "Junto de um seco, duro, estéril monte"(2). "Numa mão sempre a pena e noutra a espada".(3)

O NAUFRÁGIO

Fim do estágio obrigatório na milícia do Oriente. Camões é nomeado provedor-mor em Macau, entreposto comercial de portugueses na China. É encarregado de arrolar e administrar provisoriamente os bens de pessoas falecidas ou desaparecidas. Lá, descobre uma estreita gruta, refúgio. Passa horas a escrever, Os Lusíadas: a viagem épica de Vasco da Gama e, no extremo sul da África, o gigante Adamastor a tentar impedir o avanço dos nautas portugueses:

«Eu sou aquele oculto e grande Cabo
A quem vós chamais de Tormentório.»

Heróis trágico-marítimos; deuses mitológicos, paixões, intrigas, batalhas, aventuras e cobiças. Histórias de um minúsculo Portugal em expansão, «mais do que prometia a força humana»...

Não tarda e é acusado, por compatriotas, de apropriação de dinheiro alheio. Camões tem de ir a Goa para responder a inquérito judicial.

No regresso, o susto, o naufrágio. Está na Costa de Camboja, próximo do Rio Mecom. Camões salta do barco. Os Lusíadas colados ao corpo. Braçadas. Mais braçadas. Turbilhão de água, escassez de ar. Camões nada, incansavelmente. Terra firme. Ainda não perdeu os sentidos. Sabe que está vivo. Olhar de soslaio, o manuscrito está salvo. Já pode desmaiar. O corpo a transpirar, ardência, febre. A infância, paixões e conflitos, lampejos. Mazelas.

TRISTE VIDA SE ME ORDENA...

Fidalgo pobre, de família arruinada, tem uma infância cheia de privações. O pai, Simão Vaz de Camões, deixa filho e esposa, em busca de riquezas nas Índias. Morre em Goa. A família desamparada. O menino Luís Vaz assiste ao novo casamento da mãe. Um estranho ocupa o lugar do falecido.

É educado em Lisboa por dominicanos e jesuítas. Vive um período em Coimbra, onde faz o curso de Artes no Convento de Santa Cruz. O tio, D. Bento de Camões, é prior do Mosteiro e chanceler da Universidade. Camões frequenta os centros aristocráticos, onde tem acesso às obras de Petrarca - a quem toma por modelo -, Bembo, Garcilaso, Ariosto, Tasso, Bernardim Ribeiro, entre outros. Domina a literatura Clássica da Grécia e Roma; lê latim, sabe italiano e escreve o castelhano.

Conta-se que o poeta é levado a frequentar o Paço por D. António de Noronha, cuja morte é citada num soneto. Ali conhece Dona Caterina de Ataíde, Dama da Rainha, por quem se apaixona perdidamente. O objecto de paixão é imortalizado na sua lírica sob o anagrama de Natércia. Há quem diga ainda que o autor d’Os Lusíadas se enamora da própria Infanta D. Maria, irmã de D. João III, Rei de Portugal.

Talvez boatos, como tantos outros acerca de sua vida. O que se sabe ao certo é que os seus amigos são vadios que se amotinam pelas ruas da cidade; as suas mulheres, meretrizes. O Malcozinhado, bordel de má fama lisboeta, é o lugar preferido para refastelar-se. Gosta de fitar o sexo oposto. Assedia, fala, canta. É jocoso. Convida a dançar, cheiro a cravo. Saiotes a girar, contentamento. Inspiração:

"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente ;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer..."(4))

Mas a vida do poeta não é feita só de encontros fortuitos. Alterna pequenos momentos de regozijo com indagações profundas sobre si mesmo. Nos seus pensamentos, os apetites carnais entram em colisão com a visão platónica que tem da mulher e dos sentimentos amorosos. Transfere a contradição para a lírica. Compõe o amor no seu mais alto anseio espiritual, afectivo. O amor transcendente, imaculado:

"Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar,
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada." (3)

Mas também evoca o erotismo, os desejos e a arte de tão bem seduzir. Dirá mais tarde, n’Os Lusíadas:

"Oh! Que famintos beijos na floresta,
E que mimoso choro que soava!
Que afagos tam suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que Vénus com prazeres inflamava,
Melhor é exprimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode exprimentá-lo." (5)

Num plano mais terreno, Camões tem outras inquietações. É apontado como sujeito folgado e briguento. Ganha a alcunha de Trinca-Fortes. As suas desavenças dão origem ao desterro, em 1548. Segue para o Ribatejo. No bolso, nem um vintém. Amigos afortunados garantem-lhe cama e comida.

Vive seis meses na província, de favores. Resolve alistar-se na milícia do Ultramar. Embarca para Ceuta no Outono de 1549. Perde o olho direito numa escaramuça contra os mouros inimigos de Cristo. Em 1551, volta a Lisboa. Amargura, desilusão:

"(...) Que castigo tamanho e que justiça.
(...)Que mortes que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimenta."(6)

O poeta anda muito calado. Reflexões. Confessa aos amigos que sente despedaçados todos os valores em que acredita, ele, homem de princípios cristãos. Aflito com as diferenças entre utopia e realidade, aspiração e recompensa. Já escrevera sobre a contradição entre o que julga ser moral, racional e o que realmente testemunha e vive. É o "desconcerto do Mundo, em que os bons vê sempre passar no mundo graves tormentos, os maus vê sempre nadar em mar de contentamentos" (1). Tais injustiças passam a ser tema constante na sua lírica. Descreve os seus infortúnios, aponta com desprezo a sede cobiçosa, o querer tiranizar (1). Também não lhe escapam as transformações às quais os homens estão sujeitos:

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o Ser, muda-se a confiança;
Todo mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades." (3)

AQUELA CATIVA...

Camões acorda na praia. Tudo embaçado, imagens sem sentido. Sonho e realidade confundem-se. Abandona-se. Chora a perda da mulher amada: Dinamene, a chinesa, "aquela cativa que me tem cativo"... Ela, que viajou em sua companhia, não sobreviveu ao naufrágio.

Luís Vaz levanta-se, caminhar trôpego, desconsolo:

"Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste." (3)

Permanece na região em companhia de monges budistas, até que um dia é levado de volta a Goa num navio português.

NASCE A OBRA

Em Goa, sempre as atribulações: um empréstimo aqui, outro acolá. Finta. Um credor zanga-se. Cadeia. Do cárcere, Camões invoca os bons ofícios do Conde de Redondo, vice-Rei da Índia Portuguesa, nuns versos humorísticos escritos por volta de 1562. O vice-rei concede-lhe a liberdade. O poeta é ainda distinguido com a sua protecção.

Nesta época mantém contactos com outras figuras importantes. Representa o auto do Filodemo ao governador Francisco Barreto. Compõe uma ode a favor do vice-rei D. Constantino de Bragança, defende-o contra críticas. Também é amigo do vice-rei Francisco de Sousa Coutinho. Ganha de um deles a nomeação para a feitoria do Chaul, mas não chega a ocupar o cargo. Convive com Diogo do Couto, o continuador das "Décadas", e com Garcia de Orta. O médico, naturalista e ex-catedrático de Lisboa pede-lhe uma ode para acompanhar a primeira edição dos "Diálogos dos Simples e Drogas".

Apesar das boas relações, Camões queixa-se da vida difícil. Resolve então celebrar as próprias desgraças, é o que diz aos companheiros. Banquete. Mas na mesa, não há iguarias nem bom vinho.

"Heliogábalo zombava das pessoas convidadas,
E de sorte as enganava,
Que as iguarias que dava
Vinham nos pratos pintadas.
Não temais tal travessura,
Pois já não pode ser nova;
Que a ceia está segura
De não vos vir em pintura,
Mas há de vir toda em trova." (3)

Em 1567, Camões conhece Pêro Barreto. Nomeado capitão para Moçambique, Barreto promete-lhe um emprego e adianta-lhe o pagamento da passagem. Dívida prolongada. Os dois brigam. O Capitão manda prendê-lo, rotina.

Fome. Os amigos mais uma vez ajudam-no. Inverno. Camões fecha-se na poesia. Retoca os seus Lusíadas. Deseja muito imprimi-los. Nestes dias de frio, o poeta nunca larga a sua pena: compõe o "Parnaso Lusitano", colectânea de poemas líricos. Obra de muita erudição, consideram os amigos. Um ladino leva-a, fim desconhecido.

Finais de 1569. Nos últimos meses, o poeta fala muito na Pátria, que tanto exalta em seus cantos. Saudades. Diogo do Couto junta uns amigos, compram roupas a Camões, pagam-lhes as dívidas e ajudam-no a deixar Moçambique.

Camões chega a Lisboa na Santa Clara, em 1570. Traz com ele Jau, um escravo javanês comprado em Moçambique, e os dez cantos d’Os Lusíadas. Na capital portuguesa vai viver com a mãe, na Mouraria. A sua penúria é ainda maior. O poeta abatido pousa a cabeça na escrivaninha e queixa-se em voz baixa: "Ah! Fortuna cruel! Ah! Duros Fados! (7)

EDIÇÃO D’ OS LUSIADAS

Apenas uma ambição: editar Os Lusíadas. Macambúzio, roupa apertada e esgarçada, restos de altivez, o poeta pede ajuda ao Conde de Vimioso, D. Manuel de Portugal. Permissão real para levar adiante o seu projecto. Júbilo. O censor, Frei Bartolomeu Ferreira, concede-lhe o imprimatur. Mas antes, lê o poema e faz algumas modificações: limpeza de certos indícios de impiedade.

Na oficina do Mestre António Gonçalves, à Costa do Castelo, a obra de Camões ganha corpo. Desatenção: duzentos exemplares cheios de erros tipográficos. Correm os primeiros meses de 1572.

Após a publicação, D. Sebastião, o jovem monarca, concede ao poeta uma tença trienal de 15 mil réis, ou seja 40 réis por dia, "em respeito aos serviços prestados na Índia e pela suficiência que mostrou no livro sobre as coisas de tal lugar". Vale lembrar que, nesta época, um carpinteiro ganha em média 160 réis por dia. A pensão é renovada em 1575 e novamente em 1578. Conta-se que o poeta sobrevive juntando estes proventos às esmolas recolhidas pelo escravo javanês.

O seu nome começa a fazer eco. Composições líricas e até cartas suas - uma escrita em Ceuta, outra na Índia e mais duas escritas em Lisboa - passam a ser recolhidas em cancioneiros particulares manuscritos.

MORRE O AUTOR

Em 1579 a peste assola Lisboa. Num quarto escuro, Camões estirado na cama. Tem muita febre e já ninguém duvida que é mais uma vítima da doença. Na boca, um gosto, misto de gengibre, canela, cominhos e açafrão: remédio contra a pestilência. Dona Ana de Macedo segue todas as receitas conhecidas: sangria e até sumo de serpilho misturado com leite de mulher. Na casa, o fogo sempre aceso para queimar o ar que tresanda.

O autor d’Os Lusíadas está muito fraco, mas insiste em escrever. Remete uma carta a D. Francisco de Almeida, referindo-se ao desastre de Alcácer-Quibir, à ruína financeira da Coroa portuguesa, à independência nacional ameaçada. "Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela".

A mãe deixa o quarto, prato de comida intacto nas mãos. O poeta já não reage. Desvanece.

"Foge-me, pouco a pouco, a curta vida,
Se por acaso é verdade que inda vivo;
(...) Choro pelo passado; e, enquanto falo,
Se me passam os dias passo a passo.
Vai-se-me, enfim, a idade e fica a pena." (3)

OS ERROS E A FORTUNA

O seu corpo é sepultado num canto qualquer da banda de fora do cemitério do Convento de Santana. E ainda assim graças à Companhia dos Cortesãos, que paga as despesas do funeral. Segundo os amigos mais próximos, os últimos anos de Camões são vividos na mais absoluta miséria. À mãe deixa apenas a tença que lhe foi atribuída e a ela transferida.

Depois da sua morte cresce o interesse pelos seus poemas - apenas três deles publicados em vida - e pelos seus autos e comédias: Auto dos Anfitriões, Auto d’El Rei-Seleuco e o Auto de Filodemo.

Em 1548 sai a segunda edição d’Os Lusíadas, chamada "Dos Piscos". Expurgada pela censura, que a mutila, principalmente por motivos religiosos, até à quarta edição em 1609. Em 1670, contam-se 18 edições dos cantos. O tempo passa, estudiosos de vários pontos do mundo debruçam-se sobre a sua vida e obra. É elevado a herói nacional. O poeta ainda vivo, apesar do seu fado. Vivo pelo seu amor à Pátria, pela epopeia, pel’Os Lusíadas. Vivo pela sua angústia existencial, pela sua lírica: a mulher como anjo, porém a carne; a razão, porém o desejo; as ideias, porém o dia-a-dia; o espírito, porém o corpo. Luís Vaz dilacerado, violência, violência:

"Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.
Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso dos meus anos;
Dei causa a que a fortuna castigasse
As minhas mais fundadas esperanças.
De amor não vi se não breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!"(1)


(1) "Rimas,1616 - (2) "Os Lusíadas", canto VII - (3) "Rhitmas, 1595 - (4) "Rimas", 1598 - (5) "Os Lusíadas", Canto IX - (6) "Os Lusíadas", canto IV - (7) "Rimas", 1668

Sobre Os Lusiadas:

Os Lusíadas é considerada a principal epopéia da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. As realizações de Portugal desde o Infante D. Henrique até à união dinástica com Espanha em 1580 são um marco na História, marcando a transição da Idade Média para a Época Moderna. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopéia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer e nas exigências de uma visão heróica.

A obra lírica de Camões foi publicada como "Rimas", não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta e quanto à autoria de algumas das peças líricas. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos paradoxos, prenunciam o Barroco.

O ESTILO POÉTICO:

É fácil reconhecer na obra poética de Camões dois estilos não só diferentes, mas talvez até opostos: um, o estilo das redondilhas e de alguns sonetos, na tradição do Cancioneiro Geral; outro, o estilo de inspiração latina ou italiana de muitos outros sonetos e das composições (h)endecassílabas maiores. Chamaremos aqui ao primeiro o estilo engenhoso, ao segundo o estilo clássico.

O estilo engenhoso, tal como já aparece no Cancioneiro Geral, manifesta-se sobretudo nas composições constituídas por mote e voltas. O poeta tinha que desenvolver um mote dado, e era na interpretação das palavras desse mote que revelava a sua subtileza e imaginação, exactamente como os pregadores medievais o faziam ao desenvolver a frase bíblica que servia de tema ao sermão. No desenvolvimento do mote havia uma preocupação de pseudo-rigor verbal, de exactidão vocabular, de modo que os engenhosos paradoxos e os entendimentos fantasistas das palavras parecessem sair de uma espécie de operação lógica.

As obras dele foram dividas em líricas e amorosas. Um exemplo das obras líricas foi Os Lusíadas, dividido em 10 cantos, exalta a conquista de Portugal na rota das índias.


OBRAS

1572- Os Lusíadas (texto completo)

Lírica

1595 - Amor é fogo que arde sem se ver
1595 - Eu cantarei o amor tão docemente
1595 - Verdes são os campos
1595 - Que me quereis, perpétuas saudades?
1595 - Sobolos rios que vão
1595 - Transforma-se o amador na cousa amada
1595 - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
1595 - Quem diz que Amor é falso ou enganoso
1595 - Sete anos de pastor Jacob servia
1595 - Alma minha gentil, que te partiste

Teatro

1587 - El-Rei Seleuco
1587 - Auto de Filodemo
1587 - Anfitriões

Bibliografia

"Os Lusíadas". Catálogo da Exposição Bibl., iconogr. e medalhística de Camões. Intr., sel. e notas de José V. de Pina Martins. Lisboa, 1972;
Col. Camoniana de José do Canto. Lisboa, 1972.

Bibliografia activa

Anfitriões. Pref. e notas de Vieira de Almeida. Lisboa, 1942;
El-Rei Seleuco. Id. Ib., 1944;
Obras completas. Com prefácio e notas de Hernâni Cidade. Lisboa, 1946-1947;
Obra completa. Org., intr., com. e anotações de A. Salgado Júnior. R. de Janeiro, 1963;
Os Lusíadas. Leitura, prefácio e notas de Álvaro J. da Costa Pimpão. Lisboa, 1992;
Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão. Coimbra, 1994

Bibliografia passiva

Rebelo Gonçalves, Dissertações Camonianas. S. Paulo, 1937;
António Salgado Júnior, Os Lusíadas e a viagem do Gama. O tratamento mitológico de uma realidade histórica. Porto, 1939;
B. Xavier Coutinho, Camões e as artes plásticas. Porto, 1946-1948;
J. Vieira de Almeida, Le théâtre de Camões dans l'histoire du théâtre portugais. Lisboa, 1950;
H. Cidade, L. de Camões. Os Autos e o teatro do seu tempo. As cartas e o seu conteúdo biográfico. Lisboa, 1956;
Jorge de Sena, Uma canção de Camões. Lisboa, 1966; id., Os sonetos de Camões e o soneto quinhentista peninsular. Lisboa, 1969;
Georges le Gentil, Camões. Lisboa, 1969;
Roger Bismut, La Lyrique de Camões. Paris, 1970;
Vítor M. de Aguiar e Silva, Maneirismo e Barroco na poesia lírica portuguesa. Coimbra, 1971;
M.ª Isabel F. da Cruz, Novos subsídios para uma ed. crítica da Lírica de Camões. Porto, 1971;
Visages de L. de Camões. Paris, 1972;
António José Saraiva, Camões. Lisboa, 1972;
XLVIII Curso de Férias da Faculdade de Letras de Coimbra. Ciclo de lições comemorativas do IV Cent. da publ. de "Os Lusíadas". Coimbra, 1972;
Luciano Pereira da Silva, A Astronomia de "Os Lusíadas". Lisboa, 1972;
Ocidente (n.º especial). Nov. 1972;
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J. A. Cardoso Bernardes, O Bucolismo português. Coimbra, 1988;
M.ª Helena Ribeiro da Cunha, A dialéctica do desejo na Lírica de Camões. Lisboa, 1989;
A. Costa Ramalho, Camões no seu e no nosso tempo. Coimbra, 1992;
Actas das Reuniões Internacionais de Camonistas: I (Lisboa, 1973); III (Coimbra, 1987); IV (Ponta Delgada, 1984) e V (S. Paulo, 1992);
Revista Camoniana (S. Paulo, 10 vols publ. desde 1964).
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