Soneto da Porta
Publicado em 17/04/2015 23:40:10 | Tópico: Lêdo Ivo
| Quem bate à minha porta não me busca. Procura sempre aquele que não sou e, vulto imóvel atrás de qualquer muro, é meu sósia ou meu clone, em mim oculto.
Que saiba quem me busca e não me encontra: sou aquele que está além de mim, sombra que bebe o sol, angra e laguna unidos na quimera do horizonte.
Sempre andei me buscando e não me achei: E ao pôr-do-sol, enquanto espero a vinda da luz perdida de uma estrela morta,
sinto saudades do que nunca fui, do que deixei de ser, do que sonhei e se escondeu de mim atrás da porta.
De: IVO, Ledo. "Plenilúnio". In: Poesia completa (1940-2004). Rio de Janeiro: Topbooks, 2004.
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