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2º Campeonato Nacional de Poesia

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2/3/2007 19:42
De Queluz
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A quem interessar:

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O 2º Campeonato Nacional de Poesia inicia-se a 18 de Fevereiro de 2013.

As inscrições são limitadas.

Se quiser reservar desde já a sua, basta preencher e enviar a ficha que envio em anexo, bem como o comprovativo de pagamento (encontra o NIB para o fazer na referida ficha).

Pode consultar o regulamento do campeonato e o blog dos textos vencedores aqui:

http://www.escritacriativa.org/camp_nacx/0001.html



http://campeonatodepoesia.blogspot.pt/

Criado em: 13/2/2013 21:51
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Re: Os "Canalhíadas"

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2/3/2007 19:42
De Queluz
Mensagens: 3731
Bem que gostaria de ter sido eu a escrever isto, mas lamento desiludir-vos, meus amigos... não fui eu.
Encontrei algures por aí.
Mas claro, sendo este um site de poesia, não poderia deixar de aqui vir partilhar convosco aquilo que também a mim me encheu o olho!

De qualquer das formas, agradeço as vossas leituras e comentários. O Luiz, o tal que vai sem tostões, decerto que se sentiria vaidoso se aqui viesse, pois é merecedor deste vosso reconhecimento pela sua obra.

Bem hajam todos

Criado em: 3/2/2013 21:51
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Os "Canalhíadas"

Membro desde:
2/3/2007 19:42
De Queluz
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Se Camões fosse vivo, escreveria, assim os "Canalhíadas":

I

As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!

II

E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!

III

Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.

IV

E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!

Luíz Vais Sem Tostões

Criado em: 2/2/2013 0:30
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Re: ana drago (deputada) no seu melhor

Membro desde:
2/3/2007 19:42
De Queluz
Mensagens: 3731
Ainda a propósito de política:

"Tenho uma triste notícia para dar aos comentadores e analistas políticos:
Podem todos passar a dedicar-se à agricultura, porque António Costa, em menos de 3 minutos, disse tudo, na "quadratura do círculo".
E aqui está textualmente o que el...e disse (transcrito manualmente):
“A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil. Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir. E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável. Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado. E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer… podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das suas possibilidades, é um enorme embuste. Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
Quem viveu muito acima das suas possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o orçamento do estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção. Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público. Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas. Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público--privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos... Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando e castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade a que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia."

Texto transcrito a partir do que disse António costa no programa de televisão - quadratura do círculo - SIC Notícias

Criado em: 26/1/2013 13:40
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Re: ana drago (deputada) no seu melhor

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2/3/2007 19:42
De Queluz
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Ah, mulher d'um raio!
O homem até deve ter ficado gago...
Houvessem mais meia dúzia como esta por lá. na assembleia, que nos defendessem destes miseráveis, e talvez a esperança regressasse ao nosso horizonte. A pena é que não há!
Estamos entregues a esta cambada que nos desgraçou e ainda se riem à socapa.
Enfim, deve ser o que merecemos por os ter metido lá, no poleiro a cantar de galo.

Em reforço da primeira, deixo mais esta(mais soft), mas igualmente merecedora de atenção:

http://www.youtube.com/embed/58ZT9PeozzU

Criado em: 24/1/2013 16:06
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Re: já alguém se apercebeu que quem lê merece respeito?

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2/3/2007 19:42
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Não serei, por certo, nenhum exemplo para ninguém também. Mas uma coisa é certa, foi com a força do querer que por aqui fui aprendendo, lendo e tentando emendar os meus erros, observando os erros dos outros e cuidando para nesses também não cair, que fui polindo as minhas palavras, que, julgo, hoje serem melhores. É trabalhando e acatando os conselhos dos outros, que se vai aprendendo a desbravar caminho e não assobiando para o lado, como se tem visto tanto por cá nos últimos tempos.

Criado em: 22/1/2013 17:11
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Re: Faz um poema

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2/3/2007 19:42
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Já não me enganam
Os lobos manhosos
E as raposas
De olhos doces
Com quem me cruzo
Nos caminhos

Conheço-lhes o cheiro
Na distância de milhas
Ainda que disfarçados
Venham
De cachorrinhos
Inofensivos...

Desenganem-se!
São matilhas de cães raivosos
Escanzelados
Esfaimados
E de aguçadas dentuças
Prontas a esfacelar
Quem lhes ofereça perigo

Cuidado!
São ferozes
Devorarão a carne
E enterrarão os ossos
Para mais tarde...

Até o pobre coitado
Que (e pensando ser da sua espécie)
Certa vez
Caiu no erro
E lhes lambeu as feridas...

Criado em: 21/1/2013 23:05
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Re: Coisas que nasceram aqui

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2/3/2007 19:42
De Queluz
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cao
Outros haverá, sim. Alguns ainda por cá andam e outros virão, mas dos que se foram e levaram as malas carregadas com as suas letras, desses... sente-se a falta!

Um abraço igual para ti tb.

Criado em: 21/1/2013 21:27
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Coisas que nasceram aqui

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2/3/2007 19:42
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A estranha história de Júlio Chuva

Júlio Chuva devia o apelido ao pai, madeireiro da zona do Vez. Homem corpulento, capaz de com duas machadadas deitar abaixo um pinheiro.
O progenitor era assim chamado pelos da aldeia, que brincavam com o facto de a sua altura roçar as nuvens, trazendo por isso chuva.
Manuel, do alto da sua bonomia, sempre achou piada a essa hipérbole, principalmente em dias de sol…
Sua mulher Zeza, era herdeira de um legado de curandeira que atravessou várias gerações da família, e muito respeitada por todos. Os que a veneravam por curas milagrosas à custa de ervas e rezas, e aqueles que conheciam os seus dons e forte espiritualidade.
Júlio Chuva desde menino que se habituara a que a casa fosse um corrupio de gente, uns amparados nos outros, com pernas e braços estropiados, mais aqueles de olhar esgazeado, rodeados de velhas de xaile preto na cabeça, soturnas e estranhas.
Muitas vezes o rapaz assistiu à expulsão dos demónios dos corpos. E foram tantas as vezes, que isso era já coisa normal na sua vida. Razão do dia se sobrepor à noite e causa.
Frequentou a escola, mas cedo a abandonou, não encontrando prazer em cumprir regras ou aprender coisas que não fossem aquelas que se ligavam ao seu mundo, místico, povoado de histórias e personagens.
As autoridades competentes ainda tentaram que regressasse para cumprir a escolaridade obrigatória, mas assim que os avistava subindo o monte, logo se
punha a léguas, regressando só quando fosse seguro.
Era filho da floresta, de tantas vezes se embrenhar nela para levar o almoço ao pai, ou para o ajudar na lide, logo que os braços se tornaram mais fortes e rijos.
Mas também era filho de Zeza Miranda, e isso viria a revelar-se nele a cada dia da sua vida.
Tudo começou num dia em que sem razão aparente, Júlio, já homem feito, começou a cantar uma canção desconhecida, numa língua completamente estranha, feita quase só de sons nasalados.
Esteve da alvorada ao pôr-do-sol a trautear aquela melodia doce, quase canção de embalar.
No dia seguinte, logo pela manhã, tocaram os sinos por João Carroça, encontrado morto no seu leito.
A princípio, ninguém se deu conta. Ninguém reparou que sempre que Júlio cantava aquela estranha canção, alguém morria no povoado no dia seguinte.
Ninguém, não é bem assim.
Logo da primeira vez, sua mãe chamou-o até junto do fogo onde preparava umas infusões, e disse-lhe:
- Júlio. Hoje cumpriu-se um destino anunciado desde sempre na minha família.
Escreveu-se há muito tempo que um homem carregaria nos ombros o pesado fardo de ser o arauto da morte. Sempre que cantares a melodia de hoje, alguém morrerá próximo de ti. Estejas tu onde estiveres.
Assim foi. De todas as vezes em que alguém morreu, nos tempos que depois vieram, Júlio sempre entoou a canção da morte, avisando de véspera que alguém se preparava para partir.
O mais fantástico, é que era tão suave aquele cantar, e tão prolongado aquele transe, que as pessoas começaram a procurar Júlio para o ouvir sempre que o
fenómeno acontecia, como que encantadas, envolvidas nas sonoridades que
extraía da alma e que ecoavam pelo vale como nevoeiro musical.
Nem a perspectiva de poderem ser o próximo a descer à terra os demovia.
Autênticas peregrinações de gente, faziam o caminho íngreme que conduzia até aquela simpática casa amarela no cimo do monte, para ouvir o cântico do além.
Um dia, Júlio acordou com uma estranha sensação e começou a cantar, porém o cântico era mais sofrido e custavam-lhe os sons, que eram intercalados dentro de si por uma profunda tristeza.
A mesma que sentiu no dia seguinte quando seu pai morreu esmagado por um tronco que se soltou do camião de transporte.
Sentia-se o mais infeliz dos homens, pois não tinha podido fazer nada por ele, nem interpretara como próxima se si aquela sensação de desconforto que experimentara.
Nunca mais foi o mesmo. Fechou-se num silêncio de rezas, sempre junto de sua mãe, que com o decorrer dos anos foi perdendo visão, até ficar completamente cega e dependente de si.
Viviam os dois numa comunhão plena, deixando também progressivamente de receber pessoas, a cada dia mais donos do seu espaço, que os da aldeia desconfiavam ser o mundo.
Este e o outro.
De tempos a tempos, Júlio aparecia no povoado, vestido com uma capa negra e um chapéu de aba larga de onde escorriam fartos caracóis do seu cabelo escuro, para fazer algumas compras.
Criou-se á sua volta uma aura de terror, contrária aquela que em tempos chamou as pessoas até si. Agora todos o olhavam com medo, como se o simples cruzar de um olhar fosse capaz de provocar a morte.
Júlio sentia isso, mas não fazia a mínima questão de se importar. Parecia estar desligado do mundo, falando o suficiente para ser compreendido, não dando azo a conversas, até porque delas fugiam temerosos os habitantes da aldeia.
Numa tarde estival em que desceu para se abastecer de alguns bens, recomeçou a cantar, desta vez com uma sonoridade que chegava a todo o lado. Todos se assustaram e começaram a fechar as portas dos estabelecimentos e das casas, na tentativa de escaparem ao canto premonitório.
Só um homem veio ter com ele. Seu conhecido. Trazia o rosto lavado em lágrimas, sulcado pelo sofrimento. Disse-lhe:
- Júlio, a minha filha Vera está muito mal, os médicos já me desenganaram e desconfio que o teu canto é por ela… Haverá alguma coisa que possas fazer?
Júlio Chuva levantou com a mão esquerda o chapéu de aba longa, olhou-o com seus olhos de mel, denunciando o seu rosto magro como há muitos anos ninguém via.
- Leva-me até ela. – Disse, soltando novamente a melodia.
A jovem encontrava-se no seu leito de morte, ardendo em febre. Á sua volta uma azáfama de panos frios e mulheres de faces rubras.
Júlio retirou a capa e o chapéu, mostrando o corpo musculado que herdou do pai.
As mulheres só não coraram mais devido à delicadeza da situação.
Observou o contraste na face pálida da bela rapariga. Tocou a sua pele para lhe levantar as pálpebras. Juntou o ouvido ao seu peito quente, sentindo um coração em ligeiro bater. Algo como nunca havia experimentado nos seus trinta anos de vida. Era como se aquele coração quisesse cantar com ele a melodia. No tom mais suave de sempre, numa quase escala de sonho.
Pediu que a transportassem até à sua morada. Sua mãe haveria de encontrar unguento ou poção que a trouxessem à vida, mais agora que se sentiu tão próximo daquela mulher, respirando por segundos com ela, na ânsia de um cântico a dois. Zeza não perguntou quem lá vinha porque sabia ler os passos, sabia identificar os cheiros. Não perguntou sequer o que se passava, logo ordenando que colocassem Vera na cama.
Iniciou-se um estranho ritual de palavras ditas, envoltas em cheiros de ervas. Um frenesim de gestos baptismais, feitos com piaçabas de plantas, num cerimonial que trouxe consigo a noite sem que ninguém notasse.
A velha curandeira, a determinado momento pediu que todos saíssem. Que a deixassem a sós com a moça. Fazendo igual pedido a Júlio que insistia em ficar.
Disse-lhe fitando-o nos olhos, mesmo que a sua cegueira os tornasse baços:
- Nasceste com um destino terrível pesando sobre ti, mas não sabes o que os
Deuses te prepararam para se redimirem. Escuta o vento, a sua melodia. Nela te embrenharás perscrutando o infinito e a beleza da vida. Ouve com o coração e serás feliz…
E fechou atrás de si a porta do quarto.
A madrugada aconchegou-se orvalhando sobre os caminhos. Cada um dos que esperavam foi cedendo ao sono, recostando-se pelos cantos da casa.
Um puxador abre devagar a porta do quarto, atrás de si uma estranha melodia que ainda ninguém tinha ouvido por aquelas bandas. Era Vera quem a cantava, etérea na sua camisa de linho branco. Os pés descalços.
Todos correram para ela, mas os olhos de Vera pertenciam a Júlio, doces e eternos. E só se desviaram porque este procurou a sua mãe na habitação, encontrando-a recostada na sua cadeira de baloiço, sem vida, mas com um sorriso nos lábios e um cheiro a flores do campo por todo o lado.
Envolveu-se nessa paz e enterrou-a no jardim da propriedade no dia seguinte.
Passou algum tempo. Certo dia, Júlio recebeu uma visita na sua velha casa amarela do monte. Uma mulher grata tomou-lhe as mãos, acariciou-lhe o rosto, beijou-lhe os lábios finos. Falaram durante horas pela coração, como se conhecessem o seu destino desde sempre.
E ali, naquela casinha amarela, onde um pinheiro alto deixa pingar seus ramos sobre as telhas, passaram a viver unidos por um amor nascido na adversidade.
Hoje, quando descem juntos ao povoado, abrem-se as flores nos campos ao seu caminhar, e uma melodia suave e doce espelha-se no céu, afastando a morte para outro lugar.
Dizem os da terra que sempre que o fazem, uma criança nasce no Vale.

Texto de José Ilidio Torres (ex- morador desta casa)

Criado em: 20/1/2013 12:06
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Re: Faz um poema

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2/3/2007 19:42
De Queluz
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Não pertenço aqui

Não sou da terra
Nem do mar
Viajo p'lo infinito...


Sou o âmbar antigo
Incrustado
Na resina sem idade


O elixir da vida
Para sempre
Perdido


... e da alquimia
O segredo
Ainda por desvendar...


Sou o almocreve
Do tempo


Um mago errante
Que busca
P'la encantada

Mágica planície
Dos seus sonhos...


Criado em: 20/1/2013 11:56
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