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Re: QUEM FOI QUE DISSE QUE O AMOR É UM TEMA "BATIDO", COMUM, MUITO EXPLORADO?
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26/7/2009 18:46
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Bom dia Roque Silveira!!!
Discordo de você porque acredito que o Amor pode (sempre)possibilitar uma abordagem nova, nuca será um tema "batido".
Agradeço pela leitura.
Abraços.

Criado em: 23/8/2013 14:40
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Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
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QUEM FOI QUE DISSE QUE O AMOR É UM TEMA "BATIDO", COMUM, MUITO EXPLORADO?
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26/7/2009 18:46
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DEFINIÇÃO DO AMOR
(fragmentos)
(Gregório de Matos)

Mandai-me Senhores, hoje
que em breves rasgos descreva
do Amor a ilustre prosápia,
e de Cupido as proezas.
Dizem que de clara escuma,
dizem que do mar nascera,
que pegam debaixo d’água
as armas que o amor carrega.

...................................................

(...)
O arco talvez de pipa,
a seta talvez esteira,
despido como um maroto,
cego como uma toupeira

.....................................................

E isto é o Amor? É um corno.
Isto é o Cupido? Má peça.
Aconselho que não comprem
Ainda que lhe achem venda (...)

....................................................

O amor é finalmente
um embaraço de pernas,
uma união de barrigas,
um breve tremor de artérias
Uma confusão de bocas,
uma batalha de veias,
um reboliço de ancas,
quem diz outra coisa é besta.

____________________________________________________________



Quem foi que disse que o Amor é um tema “batido”, comum, muito explorado?

Errou feio e muito feio!...

Podemos citar como exemplo de que esse tema é inesgotável a obra poética do barroco (Gregório de Matos e Guerra – 1636/1695 – Brasil Colônia) como prova irrefutável de que nunca o Amor será um tema comum, “batido”, muito explorado, cansativo, etc.

Sempre haverá um Romeu e uma Julieta, um Dante e uma Beatriz, um Peri e uma Ceci (Cecília), um Bentinho (Bento Santiago) e uma Capitu (Capitolina), etc.

Segundo o poeta baiano o Amor é tudo (união de pernas, barrigas, artérias, bocas, veias, balanço de ancas...), e diz tudo isso sem beirar ao exagero, sem chegar ao calão (linguagem medíocre, chula), sem nenhuma ofensa, diz com a beleza de quem sabe dizer.

Com os fragmentos acima entendemos claramente toda a força de sua poesia e também o porquê de sua alcunha “Boca do Inferno” ou “Boca de Brasa”, fato que lhe causou muitas perseguições e exílios.

Essa poesia completa tem cento e sessenta e nove versos divididos em vinte e uma estrofes de oito versos (oitavas) e uma de nove, colhi apenas as mais interessantes para o tema (assunto, motivo) em questão:

O Amor é um tema “batido”, comum, muito explorado?

E o poeta do Barroco (1601 – 1778) ainda ironiza o Romantismo brasileiro (1836 – 1881): “Quem diz outra coisa é besta...”



Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
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Criado em: 23/8/2013 10:59
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O SONETO MAIS BONITO E MAIS SENTIDO DA LITERATURA BRASILEIRA: HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS...
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26/7/2009 18:46
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O SONETO MAIS BONITO E MAIS SENTIDO DA LITERATURA BRASILEIRA:

HÃO DE CHORAR POR ELA OS CINAMOMOS...
(ALPHONSUS DE GUIMARÃES)

Hão de chorar por ela os cinamomos,
Murchando as flores ao tombar do dia.
Dos laranjais hão de cair os pomos,
Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria.. . "
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"


Alphonsus de Guimarães.
(1870 - 1921)
Escola literária: Simbolismo/Neo-Romantismo.

___________________________________________________________


É o mais bonito e mais sentido soneto da nossa Literatura...

Soneto (= pequeno som) é um tipo de poesia de forma fixa (tem origem na Itália - entre os séculos XII e XIII) composta de catorze versos, divididos em quatro estrofes, sendo dois quartetos (quatro versos) e dois tercetos (três versos), geralmente, decassílabos (dez sílabas poéticas) com rimas no seguinte esquema de rimas: a-b-a-b/a-b-a-b/c-d-c/e-d-e.

No primeiro quarteto, a perda da amada é tão sentida que o poeta projeta na natureza todo o seu sofrer, ou seja, os cinamomos, aqueles que choram, murcharam até o final do dia, os laranjais, vão deixar cair os pomos quando sentirem a falta daquela que os colhia.

No segundo quarteto até as estrelas sentem a perda da amada (do poeta) e choram "a irmã que lhes sorria".

No primeiro terceto a Lua também sofre com a perda.

No segundo terceto, os arcanjos, no céu, ao vê-la, vão lamentar a perda dele:

-"Por que não vieram juntos?"


Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
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Criado em: 22/8/2013 12:30
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LUÍS DE CAMÕES - RENASCIMENTO OU CLASSICISMO EM PORTUGAL (1527 - 1580) - DOIS SONETOS: COMENTÁRIOS
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26/7/2009 18:46
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SONETO: "Eu cantarei o amor tão docemente"

Obs: quando o soneto não tem um título nomeado pelo autor, convencionou-se de que o título será o primeiro verso do quarteto inicial.

Eu cantarei o amor tão docemente,
por uns termos em si tão concertados,
que dois mil acidentes namorados
faça sentir ao peito que não sente.

Farei que o amor a todos avivente,
pintando mil segredos delicados,
brandas iras, suspiros magoados
temerosa ousadia e pena ausente.

Também, senhora do despreza honesto
de vossa vista branda e rigorosa,
contentar-me-ei dizendo a menos parte.

Porém, para cantar de vosso gesto
a composição alta e milagrosa,
aqui falta saber, engenho e arte.


In Rimas.
Edição de A. J. da Costa Pimpão.
Coimbra, Atlântida Editora, 1973.



No soneto (poesia de forma fixa e de origem italiana, que significa “pequeno som” composto de quatorze versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos) o poeta se propõe a cantar o Amor (maiúsculo, espiritual, idealizado) e não, o amor físico (minúsculo), e pretende cantá-lo de maneira suave (“docemente”), usando palavras em harmonia (“concertadas”), ou seja, que combinam, encaixam..., sem esquecer-se dos vários sinais de amor (“acidentes namorados”) que fazem “doer” o peito (“que não sente”) isto é, aquele que se define como “imune” aos ataques (infelizmente, certeiros) do Cupido e também aquele (teimoso) que insiste em dizer: Eu não amo! Eu não amarei! Eu não amo! Eu não amarei!

No segundo quarteto um reforço de sua intenção, isto é, fazer com que o amor a todos dê vida “Farei que o amor a todos avivente...”, ou seja, que tenham felicidades e saibam cultivar o sentimento divino.

Pretende também falar da saudade (sentimento constante na poesia portuguesa) isto é, a dor da ausência, a dor da perda, o sentimento que fica quando a pessoa amada não está próxima. O autor do poema não se esquece de admirar em sua amada a questão do recato (pureza) e do decoro (bom comportamento), e no final, expressa, em curtas palavras, a sua grande modéstia ao cantar o rosto (“gesto”) da pessoa desejada, diz que não possui inspiração (talento) e nem eloquência (“arte”), fato que sabemos não ser verdadeiro, uma vez que, possui uma obra universal, admirável, talentoso, eterna (Poesia lírica: Rimas, publicada em 1595 – Epopeia: Os Lusíadas de 1572 – Teatro: Anfitriões, El-Rei Seleuco, Filodemo – comédias).


PEQUENO VOCABULÁRIO:

“Concertados – harmoniosos.
Acidentes namorados – manifestações exteriores do amor, sinais de amor.
Aviventar – dar vida.
Pena ausente – saudade, sofrimento pela ausência.
Desprezo honesto – recato, decoro.
A menos parte – a parte menos importante.
Gesto – rosto.
Engenho – inspiração talento.
Arte – eloquência”.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

LEITE, Ricardo... (et al.). Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. V. 1.
São Paulo: FTD, 1997, pág. 76. (Coleção Novas palavras)
Outros autores: Emília Amaral, Mauro Ferreira, Severino Antônio (obra em três volumes).

SONETO: "Busque o Amor novas artes, novo engenho"

Busque o Amor novas artes , novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei por quê.

(IDEM)


No primeiro quarteto do soneto (poesia de forma fixa, de origem italiana que significa - pequeno som - sendo composta de quatorze versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos) o poeta fala da busca (incessante) do Amor (maiúsculo) e que, o mesmo, está sempre a procurar maneiras de vencer, ou seja, de encontrar novos adeptos; pois está sempre a imaginar novos meios (arte= eloquência) para convencer, magnetizar, escravizar todo aquele que não tiver amado, isto é, todo aquele que não quer se submeter ao poder do Amor, mas continua a ter esperanças de um dia o encontrar, por méritos próprios e de maneira indolor...

No segundo quarteto (conjunto de quatro versos), ele fala das esperanças que tem (de encontrar o Amor, ou fugir dele), diz que sua segurança para resistir é mínima ("perigosa") e que mesmo que enfrente o amor ("bravo mar") e venha a perder a direção, não temerá os contrastes e nem mudanças de direção, mesmo que tenha perdido todo o sentido, continuará firme em sua decisão favorável ao encontro do Amor...

No primeiro terceto (estrofe de três versos) diz, mesmo que não haja desgosto, onde não houver esperança, neste local é que se esconde o Amor ("um mal") que "mata", mas aquele que ama permanece "vivo" e ninguém vê...

Na conclusão do segundo terceto e de todo o poema, percebe-se toda a genialidade do poeta: há dias em que a alma está intranquila, e ninguém consegue explicar de onde vem essa intranquilidade, intranquilidade que dói, e não se sabe por quê.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

Criado em: 21/8/2013 16:27
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Re: TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - SONETO DA FIDELIDADE (VINÍCIUS DE MORAES)
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26/7/2009 18:46
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Bom dia!!!

1. Corretíssimo - SONETO DA FIDELIDADE.

2. A estrutura ds rimas pode mudar sim, geralmente é:(AbbA - AbbA - cde - cde). No soneto em questão (AbbA - AbbA - cde - dec). Mas, nunca devemos esquecer de que o soneto é uma poesia de forma fixa (14 versos, divididos em 4 estrofes de 2 quartetos e 2 tercetos - isso é imutável).

3. Pequeno poeta é "LICENÇA POÉTICA" para "POETINHA", no fim acaba sendo a mesma coisa. Mas, o importante é observar que o poeta é "GIGANTESCO".

4. A vírgula existe, consultei, além da ANTOLOGIA citada,
as seguintes obras:

a) TEMPOS DA LITERATURA BRASILEIRA - B. A. Júnior e S. Y. Campedelli. São Paulo: Editora Ática, 2004.

b) LITERATURA BRASILEIRA - W. R. Cereja e T. C. Magalhães.
São Paulo: Atual, 2005.

5. Observação corretíssima.

6. Observação corretíssima.

Abraços.

Criado em: 20/8/2013 10:51
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Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
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ROMANCES DA LITERATURA BRASILEIRA - COMENTÁRIOS - A MÃO E A LUVA (JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS)
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26/7/2009 18:46
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Dos romances da primeira fase de Machado de Assis, “A mão e a luva”, é o segundo (1874). Essa fase denominada de romântica é composta também por outros romances: Ressurreição (1872), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878). Segundo a crítica as grandes características machadianas ainda estão precoces nessas obras, isto é, estão presentes, mas em menor grau, são elas: conversas com o leitor, o sarcasmo, o pessimismo, etc.

Mas, já se percebe que seu estilo fluente já se faz presente (frases curtas e bem construídas, vocabulário diversificado, análises e criação de tipos, etc.).

Em “A mão e a luva” percebemos claramente a tônica dos romances dos anos mil e oitocentos (século XIX), ou seja, a ascensão social através do casamento, geralmente por interesse e nunca por amor verdadeiro.

No texto citado temos: Guiomar, jovem de origem modesta que vê no matrimônio uma forma de ascensão social.

Três pretendentes: Estêvão (o protótipo do herói romântico) sonhador, sincero e previsível; Jorge, primo de Guiomar, superficial, preguiçoso, vive a custa da família; e Luís Alves (“único com nome e sobrenome”) ambicioso, astuto e político no sentido real da palavra (primeiro candidato e depois deputado).

Após uma pequena complicação (a baronesa, uma espécie de mão adotiva de Guiomar quer vê-la casada com Jorge, mas “induzida” por Mrs. Oswald, sua dama de companhia, “consente” o casamento com Luís Alves, fato apreciado por Guiomar).

Realiza-se o casamento entre Luís Alves e Guiomar (é o encontro da mão com a luva) como está no último capítulo do romance (“... Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido, e as duas ambições trocaram pó ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.”).

E assim, o autor finalizou o romance, apresentou uma aparente complicação, mas no final, a solução simples e previsível. Mesmo assim, a mão do Gênio, que a partir de 1881 tomará outra direção.


Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
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Criado em: 20/8/2013 2:01
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ROMANCES DA LITERATURA BRASILEIRA - COMENTÁRIOS - A VIUVINHA (JOSÉ DE ALENCAR)
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26/7/2009 18:46
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Romance de leitura agradável, leitura que faz prisioneiros. Não concordamos côa a opinião do autor que diz ser o “romance” uma pequena história de amor.

O texto é instigante, transformador de conceitos, acreditamos que essa leitura passará aos milênios, e continuará contribuindo na formação de leitores.
Na verdade, no conceito de Literatura está embutida a sobrevivência da escrita e “A viuvinha” (1860) de José Martiniano de Alencar (1/05/1929 a 12/12/1877) tem todos os ingredientes para sobreviver.

Podemos incluir a obra juntamente com Diva, Lucíola e Senhora como romance urbano, sendo ambientado no Segundo Reinado Brasileiro (1831 – 1889), e narrado na Cidade do Rio de Janeiro (Morro de Santa Teresa, Bairro da Glória, Rua do Ouvidor, Rua do Sabão, Rua da Lapa, etc.).

Seus personagens principais possuem nomes fictícios, isto é, fantasiosos, imaginários, Jorge da Silva, para o herói romântico, que depois de muitas trapalhadas, recupera o raciocínio e vai à procura de sua amada e Carolina (mocinha sonhadora, romântica, fiel e casadora) e, como todo romance romântico, depois de muitas aventuras (e desventuras), as personagens principais, terminam em seu happy end.

Alencar, como em grande parte de sua obra, é maravilhosamente descritivo, detalhista em seus ambientes e paisagens.

A alma do romance é bem simples: Jorge da Silva herda a fortuna de seu pai e vive por três anos uma vida dissoluta e destrói um patrimônio de duzentos contos de réis (guardada a devida proporção, seria como se uma pessoa, atualmente, gastasse no mesmo espaço de tempo a soma de duzentos mil reais), até que um dia descobre-se falido, endividado e totalmente pobre, isto é, desprovido de mínimos recursos (fato comunicado por seu tutor e amigo, o Sr. Almeida).

Para sua infelicidade maior, está de casamento marcado com a jovem e bela Carolina, menina de aproximadamente uns quinze anos, bela e faceira, olhos castanhos e expressivos (“A viuvinha” que nomeia o romance) para não manchar-lhe a honra, casa-se com ela, mas na noite de núpcias embebeda, com licor e algumas gotas de ópio, a jovem esposa e foge, com intuito de suicídio, pouco tempo depois é encontrado nas construções da Santa Casa de Misericórdia um cadáver desfigurado e com o seguinte bilhete dentro de uma carteira no bolso da sobrecasaca:

"Peço a quem achar o meu corpo o faça enterrar imediatamente, a fim de poupar à minha mulher e aos meus amigos esse horrível espetáculo. Para isso achará na minha carteira o dinheiro que possuo.
Jorge da Silva
5 de setembro de 1844”.


Por ser o cadáver, presumivelmente de um homem jovem, tudo indica tratar-se de Jorge.

Então, nesse ponto, o romance dá um salto de cinco anos no tempo
nessa parte, podemos encontrar uma definição interessante de José de Alencar para “negociante”, ou seja, o homem que tem por profissão gerir os seus próprios negócios.

A grande surpresa só é revelada no final da história, quando a viuvinha, que se tornara a sensação dos salões da época é cortejado por um homem desconhecido, Carlos Freeland, ou seja, o próprio Jorge da Silva que “regressara” da morte, pagara todas as suas dívidas, recuperando assim o bom nome da família.

A emoção fica para o capítulo final (XVI) onde Jorge da Silva revela-se, Carolina, finalmente entrega-se à paixão pelo marido, D. Maria, mãe de Carolina, ao tomar conhecimento do fato sofre um desmaio ao ver o sogro “vivo”, o casal muda-se para uma fazenda (não há referências sobre o nome) e são felizes para sempre.

Este romance de Alencar, e sua principal personagem feminina, como muitos outras seguem a linha das atuais telenovelas, poderíamos também “classificar” a personagem Carlota como mais um dos perfis femininos de José de Alencar (Diva, Lucíola e Senhora) na linha clássica do Romantismo (1836 – 1881).


Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)




Criado em: 20/8/2013 1:48
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ROMANCES DA LITERATURA BRASILEIRA - COMENTÁRIOS - A MORENINHA (JOAQUIM MANUEL DE MACEDO)
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26/7/2009 18:46
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JOAQUIM MANUEL DE MACEDO (1820 – 1882)
E “A MORENINHA” O PRIMEIRO ROMANCE BRASILEIRO

A crítica direcionada à obra de Macedo (1820 - 1882) é unânime em afirmar que o romancista de A moreninha (1844) não evoluiu em nada a sua técnica literária, mesmo após um decurso de prazo de quase quarenta anos e vários romances (cerca de dezessete), ou seja, não modificou suas observações, não acompanhou a evolução dos tempos, manteve-se descritivo em relação à sociedade do seu tempo, também não evoluíram as peripécias dos seus romances (esquema básico: um casal de namorados, que por algum impedimento imediatista não pode realizar o amor, mas logo em seguida aparece uma solução e o mal entendido é desfeito e o casal, após o matrimônio, torna-se feliz para sempre, fato este constante nas atuais novelas televisivas, mostrando assim, alguma atualidade em Macedo).

Nas suas tramas também há sempre um enjeitado, muitos furtos, aventuras de finais previsíveis, grandes segredos que quando revelados acabam contribuindo para um final feliz.

Mesmo assim, uma parte da obra de Macedo (A moreninha, O moço loiro, A luneta mágica, Mulheres de mantilha e algum teatro) superou as barreiras do tempo, conseguiu relativa fama e notoriedade, despertando à atenção também da crítica e de um considerável número de leitores. Com romances de agradáveis leitura em que mostra alguma realidade de seu tempo e sociedade, no dizer de Antonio Candido o “pequeno realismo”, isto é, como uma sociedade mostrada sem mazelas sociais, como se tudo fosse mostrado pela fresta de uma janela “fechada”, ou seja, como se o Autor não pudesse ou não quisesse mostrar a realidade do tempo.

O romance A moreninha (1844) tem a primazia de ser apontado como o primeiro romance da Literatura Brasileira, ou seja, no sentido de romance (personagens sociais, mesmo sem profundidade psicológica; história unida, amarrada, com conflitos e clímax – mesmo sendo de fácil resolução, isto é, sem caráter imaginativo; e final feliz como uma das correntes românticas, ou seja, o casamento ou a morte para as personagens principais).

Por tudo que foi anotado o romance A moreninha (1844) sobrevive até os nossos dias e, ainda é considerado boa leitura, uma vez que, através dele foram fixados todos os outros, podemos considerá-lo como uma espécie de introdução para os grandes romances da literatura brasileira, uma vez que, com certeza muitos romancistas beberam nesta fonte como, por exemplo, o Machado romântico, ou seja, o da primeira fase e até, talvez, Alencar (mesmo que fosse para avaliar o que iria escrever).

O cerne do romance é mais ou menos este: quatro estudantes de medicina (Fabrício, Filipe, Augusto e Leopoldo, fazem uma aposta de que Augusto não consegue ficar mais de quinze dias com o mesmo Amor, se perder deverá escrever um romance, vão a ilha, provavelmente a Ilha de Paquetá, onde mora a avó de um deles, lá conhecem D. Carolina – a Moreninha – que enamorada fica logo de Augusto, mas o que atrapalha o final feliz é uma promessa de ambos que os prende a outra pessoa, depois de algumas trapalhadas, fica esclarecido que ambos são os mesmos prometidos e aí, ocorre o final feliz: D. Carolina é a menina da promessa e Fabrício o rapaz, casam-se e são felizes para sempre). Essa é uma das tônicas dos romances de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882).

O “romance” O filho do pescador (1843) de Antônio Manuel Teixeira e Sousa (1821 – 1891) não possui as características que definem uma obra como romance, apesar de um indicativo na capa da 2ª edição (romance brasileiro original – 1977) e por isso é considerado inacabado, pois faltam detalhes como: uma história seguida como início, meio, clímax e conclusão, isto é, falta aquela essência que aprisiona o leitor; deixando assim para o romance de Macedo esse honroso título.

Dos capítulos interessantes deste pequeno-grande livro, podemos destacar o primeiro (“Aposta imprudente”) onde é narrado de como surgiu o fato que gerou o romance, ou seja, a aposta dos quatro estudantes de medicina e, o perdedor deverá escrever um romance e o passeio à Ilha de..., onde o romance é desenvolvido, temos o capítulo décimo sexto (“O sarau”) que nada mais é do que uma reunião em família realizada no século XIX, com música e dança e tem um valor social de peso, em seguida o capítulo de número vinte e três, considerado o clímax, ou seja, o ponto máximo do romance onde é revelada a identidade dos jovens enamorados e com grande tensão emocional e finalmente o epílogo, ou seja, o de número vinte e quatro, em que tudo é esclarecido, inclusive o nome do romance em questão, isto é, A moreninha.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

Criado em: 20/8/2013 1:34
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O HUMOR E ALEGRIA DO MANECO (MANUEL ANTÔNIO ÁLVARES DE AZEVEDO - 1831/1852)
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26/7/2009 18:46
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO..............................................03

HUMOR

I. Ai Jesus!....................................................07
II. A cantiga do sertanejo................................08
III. Vagabundo.................................................12
IV. A lagartixa...........................................14
V. Luar de verão..........................................15
VI. É ela! É ela! É ela! É ela!...........................16
VII. Namoro a cavalo......................................18
VIII. Dinheiro..................................................20
IX. Toda aquela mulher tem a pureza.......................21

ALEGRIA

X. No mar.......................................................23
XI. Amor......................................................25
XII. Na várzea....................................................28
XIII. Meu desejo..........................................32
XIV. Terza rima...........................................33
XV. Soneto....................................................34
XVI. Soneto....................................................35
XVII. Fui um doudo em sonhar tantos amores................36
XVIII. Cismar....................................................37


APRESENTAÇÃO

Manuel Antônio Álvares de Azevedo (nascido a 12 de setembro de 1831 em São Paulo e falecido em 25 de abril de 1852 no Rio de Janeiro – Maneco – como era chamado em família) é o poeta do mal do século, do spleen (melancolia), do cemitério, do sepulcro, da morte, do cadáver, do
Ultrarromântismo (pessimismo em relação à vida).

Foi assim que o jovem poeta (morto antes de completar vinte e um anos) passou à literatura brasileira, acreditamos que este fato carece revisão. Para que esta pequena análise literária seja compreendida em seu cerne, precisamos apreender o significado das palavras humor no sentido de graça, ironia e alegria como euforia, contentamento.

Todos os poemas pertencem ao livro “Lira dos vinte anos” (1853), obra máxima do Autor. Podemos dividi-los, para este trabalho, em poemas que mostram humor e ironia: e poemas que mostram euforia e contentamento.

Segundo Álvares de Azevedo, os poemas estão divididos em duas “faces”, que representam a contradição existente entre o Bem (face Ariel – 1ª e 3ª partes – poemas ingênuos, castos, inocentes de Lira de vinte anos) e o Mal (face Caliban - 2ª parte).

Assim teremos:

Ai Jesus! A cantiga do sertanejo (1ª parte: face Ariel – poemas ingênuos e inocentes), Spleen e charutos: Vagabundo, A lagartixa e Luar de verão (2ª parte: face Caliban – poemas irônicos e sarcásticos), É ela! É ela! É ela! É ela! Namoro a cavalo, Dinheiro e Toda aquela mulher tem a pureza (como determinam os ensinos literários, toda a vez que o Autor não nomear o poema o primeiro verso será o nome do mesmo).

Em alegria teremos: No mar (1ª parte – face Ariel), Amor (3ª parte: face Ariel), Na várzea (3ª parte: face Ariel), Meu desejo (3ª parte: face Ariel), Terza rima (influência de A divina comédia de Dante Aliguiere – 1350 a 1412 – 3ª parte: face Ariel), Soneto “Um mancebo no jogo se descora” (3ª parte – face Ariel), Soneto “Ao sol do meio-dia eu vi dormindo” (3ª parte: face Ariel), Fui um doudo em sonhar tantos amores (3ª parte: face Ariel) e Cismar (3ª parte: face Ariel).

Com esse olhar sobre a obra de Álvares de Azevedo, principalmente sobre as poesias de Lira dos vinte anos (1853), obra máxima do autor, tencionamos dizer o contrário, ou seja, o jovem não é somente “sepulcral”, aproximado aos cemitérios, aos cadáveres, ao lado negro da vida, em suma, podemos também, encontrar em sua obra humor, divertimento e alegria.

Em outras poesias o jovem é divertido, mas exatamente no final, retorna ao seu estado “depressivo”, não servindo então, para esse estudo (Ex.: Cantiga – Lira dos vinte anos – 1ª parte). Aqui apresentamos dezoito poesias, que devem (esta é a nossa tentativa) reabilitar esse interessante autor brasileiro.

Esperamos que este pequeno estudo “produza” outros trabalhos e ajude a desmistificar e destruir a “aura negra” que envolve o jovem Álvares e possa revelar, também, a sua face humorística e alegre.

HUMOR

AI JESUS!

Ai Jesus! não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai Jesus!

Que por um olhar, donzela,
Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! que morte bela!
Antes seria viver!
Ai Jesus!

Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh’alma se afogaria?
Ai Jesus!


A CANTIGA DO SERTANEJO

Love me, and leave me not.
SHAKESPEARE, Merch. Of Venice.

Donzela! Se tu quiseras
Ser a flor das primaveras
Que tenho no coração:
E se ouviras o desejo
Do amoroso sertanejo
Que descora de paixão!...

Se tu viesses comigo
Das serras ao desabrigo
Aprender o que é amar...
— Ouvi-lo no frio vento,
Das aves no sentimento,
Nas águas e no luar!...

Ouvi-lo nessa viola,
Onde a modinha espanhola
Sabe carpir e gemer!...
Que pelas horas perdidas
Tem cantigas doloridas,
Muito amor, muito doer...

Pobre amor! o sertanejo
Tem apenas seu desejo
E as noites belas do val!...
Só o ponche adamascado,
O trabuco prateado
E o ferro de seu punhal!...

E tem as lendas antigas
E as desmaiadas cantigas
Que fazem de amor gemer!...
E nas noites indolentes
Bebe cânticos ardentes
Que fazem estremecer!...

Tem mais... na selva sombria
Das florestas a harmonia,
Onde passa a voz de Deus,
E nos relentos da serra
Pernoita na sua terra,
No leito dos sonhos seus!

Se tu viesses, donzela,
Verias que a vida é bela
No deserto do sertão:
Lá têm mais aroma as flores
E mais amor os amores
Que falam do coração!

Se viesses inocente
Adormecer docemente
À noite no peito meu!...
E se quisesses comigo
Vir sonhar no desabrigo
Com os anjinhos do céu!

É doce na minha terra
Andar, cismando, na serra
Cheia de aroma e de luz,
Sentindo todas as flores,
Bebendo amor nos amores
Das borboletas azuis!

Os veados da campina
Na lagoa, entre a neblina,
São tão lindos a beber!...
Da torrente nas coroas
Ao deslizar das canoas
É tão doce adormecer!...

Ah! Se viesses, donzela,
Verias que a vida é bela
No silêncio do sertão!
Ah!... morena, se quiseras
Ser a flor das primaveras
Que tenho no coração!

Junto às águas da torrente
Sonharias indolente
Como num seio d’irmã!...
— Sobre o leito de verduras
O beijo das criaturas
Suspira com mais afã!

E da noitinha as aragens
Bebem nas flores selvagens
Efluviosa fresquidão!...
Os olhos têm mais ternura
E os ais da formosura
Se embebem no coração!...

E na caverna sombria
Tem um ai mais harmonia
E mais fogo o suspirar!...
Mais fervoroso o desejo
Vai sobre os lábios num beijo
Enlouquecer, desmaiar!...

E da noite nas ternuras
A paixão tem mais venturas
E fala com mais ardor!...
E os perfumes, o luar,
E as aves a suspirar,
Tudo canta e diz — amor!

Ah! vem! amemos! vivamos!
O enlevo do amor bebamos
Nos perfumes do serão!
Ah! Virgem, se tu quiseras
Ser a flor das primaveras
Que tenho no coração!...


VAGABUNDO

Eat, drink and love; what can the rest avail BYRON

Eu durmo e vivo no sol como um cigano,
Fumando meu cigarro vaporoso,
Nas noites de verão namoro estrela;
Sou pobre, sou mendigo, e sou ditoso!

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Mas tenho na viola uma riqueza:
Canto à lua de noite serenatas,
E quem vive de amor não tem pobreza.

Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Nas cavernas do peito, sufocante,
Quando à noite na treva em mim se entornam
Os reflexos do baile fascinante.

Namoro e sou feliz nos meus amores;
Sou garboso e rapaz... Uma criada
Abrasada de amor por um soneto
Já um beijo me deu subindo a escada...

Oito dias lá vão que ando cismado
Na donzela que ali defronte mora.
Ela ao ver me sorri tão docemente!
Desconfio que a moça me namora!..

Tenho por meu palácio as longas ruas;
Passeio a gosto e durmo sem temores;
Quando bebo, sou rei como um poeta,
E o vinho faz sonhar com os amores.
O degrau das igrejas é meu trono,
Minha pátria é o vento que respiro,
Minha mãe é a lua macilenta,
E a preguiça a mulher por quem suspiro.

Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.

Sinto me um coração de lazzaroni;
Sou filho do calor, odeio o frio;
Não creio no diabo nem nos santos.
Rezo à Nossa Senhora, e sou vadio!

Ora, se por aí alguma bela
Bem doirada e amante da preguiça
Quiser a nívea mão unir à minha
Há de achar me na Sé, domingo, à Missa.


A LAGARTIXA

A lagartixa ao sol ardente vive
E fazendo verão o corpo espicha:
O clarão de teus olhos me dá vida
Tu és o sol e eu sou a lagartixa.

Amo te como o vinho e como o sono,
Tu és meu copo e amoroso leito
Mas teu néctar de amor jamais se esgota,
Travesseiro não há como teu peito.

Possa agora viver: para coroas
Não preciso no prado colher flores;
Engrinaldo melhor a minha fronte
Nas rosas mais gentis de teus amores.

Vale todo um harém a minha bela,
Em fazer me ditoso ela capricha;
Vivo ao sol de seus olhos namorados,
Como ao sol de verão a lagartixa.

LUAR DE VERÃO

O que vês, trovador?—Eu vejo a lua
Que sem lavor a face ali passeia;
No azul do firmamento inda é mais pálida
Que em cinzas do fogão uma candeia.

O que vês, trovador?—No esguio tronco
Vejo erguer se o chinó de uma nogueira.
Além se entorna a luz sobre um rochedo
Tão liso como um pau de cabeleira.

Nas praias lisas a maré enchente
S'espraia cintilante d'ardentia
Em vez de aromas as doiradas ondas
Respiram efluviosa maresia!

O que vês, trovador?—No céu formoso
Ao sopro dos favônios feiticeiros
Eu vejo—e tremo de paixão ao vê las—
As nuvens a dormir, como carneiros.

E vejo além, na sombra do horizonte,
Como viúva moça envolta em luto,
Brilhando em nuvem negra estrela viva
Como na treva a ponta de um charuto.

Teu romantismo bebo, ó minha lua,
A teus raios divinos me abandono,
Torno me vaporoso, e só de ver te
Eu sinto os lábios meus se abrir de sono.

É ELA! É ELA! É ELA! É ELA!

É ela! é ela!—murmurei tremendo,
E o eco ao longe murmurou—é ela!
Eu a vi—minha fada aérea e pura—
A minha lavadeira na janela!

Dessas águas furtadas onde eu moro
Eu a vejo estendendo no telhado
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono,
Vê la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! que profundo sono! . . .
Tinha na mão o ferro do engomado. . .
Como roncava maviosa e pura!. . .
Quase caí na rua desmaiado!

Afastei a janela, entrei medroso:
Palpitava lhe o seio adormecido...
Fui beijá la. . . roubei do seio dela
Um bilhete que estava ali metido. . .

Oh! de certo. . . (pensei) é doce página
Onde a alma derramou gentis amores;
São versos dela. . . que amanhã de certo
Ela me enviará cheios de flores.

Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
Eu beijei a a tremer de devaneio. .

É ela! é ela!—repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta. . .
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!

Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou a assim mais bela,—eu mais te adoro
Sonhando te a lavar as camisinhas!

É ela! é ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela. . .
É ela! é ela!—murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou—é ela!


NAMORO A CAVALO

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça
Que rege minha vida malfadada
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.

Alugo (três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote (que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai se em flores
E em lindas folhas de papel bordado
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito. . . mas furtado.

Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento. . .
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a comédia—em casamento.

Ontem tinha chovido. . . que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...

Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada. . .

Mas eis que no passar pelo sobrado
Onde habita nas lojas minha bela
Por ver me tão lodoso ela irritada
Bateu me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoros
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia se, pula, e dá me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada. ..

Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!


D I N H E I R O

Oh! argent! Avec toi on est beau, jeune,
adoré; on a consideration, honneur,
qualités, vertus. Quand on n'a point d'argent,
on est dans la dépendance de toutes ces
choses et de tout le monde.
CHATEAUBRIAND


Sem ele não há cova—quem enterra
Assim gratis a Deo? O batizado
Também custa dinheiro. Quem namora

Sem pagar as pratinhas ao Mercúrio?
Demais, as Dánaes também o adoram.
Quem imprime seus versos, quem passeia,
Quem sobe a Deputado, até Ministro,
Quem é mesmo Eleitor, embora sábio,
Embora gênio, talentosa fronte, Alma
Romana, se não tem dinheiro?
Fora a canalha de vazios bolsos!

O mundo é para todos.... Certamente,
Assim o disse Deus—mas esse texto
Explica se melhor e doutro modo.
Houve um erro de imprensa no Evangelho:
O mundo é um festim—concordo nisso,
Mas não entra ninguém sem ter as louras.

TODA AQUELA MULHER TEM A PUREZA


Toda aquela mulher tem a pureza
Que exala o jasmineiro no perfume,
Lampeja seu olhar nos olhos negros
Como, em noite d’escuro, um vagalume...

Que suave moreno o de seu rosto!
A alma parece que seu corpo inflama...
Simula até que sobre os lábios dela
Na cor vermelha tem errante chama...

E quem dirá, meu Deus! que a lira d'alma
Ali não tem um som — nem de falsete!
E, sob a imagem de aparente fogo,
É frio o coração como um sorvete!


ALEGRIA


NO MAR
Les étoiles s’allument au ciel, et la brise du soir erre doucement parmi les fleurs: rêvez, chantez et soupirez.GEORGE SAND

Era de noite: — dormias,
Do sonho nas melodias,
Ao fresco da viração,
Embalada na falua,
Ao frio clarão da lua,
Aos ais do meu coração!

Ah! que véu de palidez
Da langue face na tez!
Como teus seios revoltos
Te palpitavam sonhando!
Como eu cismava beijando
Teus negros cabelos soltos!

Sonhavas? — eu não dormia;
A minh’alma se embebia
Em tua alma pensativa!
E tremias, bela amante,
A meus beijos, semelhante
Às folhas da sensitivas!

E que noite! que luar!
E que ardentias no mar!
E que perfumes no vento!
Que vida que se bebia
Na noite que parecia
Suspirar de sentimento!

Minha rola, ó minha flor,
Ó madresilva de amor,
Como eras saudosa então!
Como pálida sorrias
E no meu peito dormias
Aos ais do meu coração!

E que noite! que luar!
Como a brisa a soluçar
Se desmaiava de amor!
Como toda evaporava
Perfumes que respirava
Nas laranjeiras em flor!

Suspiravas? que suspiro!
Ai que ainda me deliro
Entrevendo a imagem tua
Ao fresco da viração,
Aos ais do meu coração,
Embalada na falua!

Como virgem que desmaia,
Dormia a onda na praia!
Tua alma de sonhos cheia
Era tão pura, dormente,
Como a vaga transparente
Sobre seu leito de areia!

Era de noite — dormias,
Do sonho nas melodias,
Ao fresco da viração;
Embalada na falua,
Ao frio clarão da lua,
Aos ais do meu coração.


AMOR
Quand la mort est si belle,
Il est doux de mourir.
V. HUGO
Amemos! quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!

Quero em teus lábios beber
Os teus amores do céu!
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança!
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!

Vem, anjo, minha donzela,
Minh’alma, meu coração...
Que noite! que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento,
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
MINHA MUSA
Minha musa é a lembrança
Dos sonhos em que eu vivi,
É de uns lábios a esperança
E a saudade que eu nutri!
É a crença que alentei,
As luas belas que amei
E os olhos por quem morri!

Os meus cantos de saudade
São amores que eu chorei,
São lírios da mocidade
Que murcham porque te amei!
As minhas notas ardentes
São as lágrimas dementes
Que em teu seio derramei!

Do meu outono os desfolhos,
Os astros do teu verão,
A languidez de teus olhos
Inspiram minha canção...
Sou poeta porque és bela,
Tenho em teus olhos, donzela,
A musa do coração!

Se na lira voluptuosa
Entre as fibras que estalei
Um dia atei uma rosa
Cujo aroma respirei...
Foi nas noites de ventura,
Quando em tua formosura
Meus lábios embriaguei!

E se tu queres, donzela,
Sentir minh’alma vibrar,
Solta essa trança tão bela,
Quero nela suspirar!
E dá repousar-me teu seio...
Ouvirás no devaneio
A minha lira cantar!

NA VÁRZEA

Como é bela a manhã! Como entre a névoa
A cidade sombria ao sol clareia
E o manto dos pinheiros se aveluda...
E o orvalho goteja dos coqueiros...
E dos vales o aroma acorda o pássaro...
E o fogoso corcel no campo aberto
Sorve d’alva o frescor, sacode as clinas,
Respira na amplidão, no orvalho rola,
Cobra em leito de folhas novo alento
E galopa nitrindo!

Agora que a manhã é fresca e branca
E o campo solitário e o val se arreia...
Ó meu amigo, passeemos juntos
Na várzea que do rio as águas negras
Umedecem fecundas...

O campo é só: na chácara florida
Dorme o homem do vale e no convento
Cintila a medo a lâmpada da virgem,
Que pálidas vestais no altar acendem!
Tudo acorda, meu Deus, nestas campinas!
Os cantos do Senhor erguem-se em nuvens,
Como o perfume que evapora o leito
Do lírio virginal!

Acorda, ó meu amigo: quando brilha
Em toda a natureza tanto encanto,
Tanta magia pelo céu flutua
E chovem sobre os vales harmonias,
É descrer do Senhor dormir no tédio,
É renegar das santas maravilhas
O ardente coração não expandir-se
E a alma não jubilar dentro do peito!

Lá onde mais suave entre os coqueiros,
O vento da manhã nas casuarinas
Cicia mais ardente suspirando,
Como de noite no pinhal sombrio
Aéreo canto de não vista sombra,
Que enche o ar de tristeza e amor transpira...
Lá onde o rio molemente chora
Nas campinas em flor e rola triste...
Alveja, à sombra, habitação ditosa,
Coroa os frisos da janela verde
A trepadeira em flor do jasmineiro
E pelo muro se avermelha a rosa.
Ali quando a manhã acorda a bela,
A bela, que eu sonhei nos meus amores...
Ao primeiro calor do sol d’aurora
Entorna-se da flor o doce aroma,
Inda mais doce em matutino orvalho,
Nas tranças negras da donzela pálida,
Mais bela que o diamante se aveluda,
Camélia fresca, inda em botão, tingida
De neve e de coral... no seio dela
Não reluz o colar... em negro fio
A cruz da infância melhor guarda o seio,
Que o amor virginal beija tremendo
E os ais do coração melhor perfuma...

Vem comigo, mancebo: aqui sentemo-nos...
Ela dorme: a janela inda cerrada
Se enche de rosas e jasmins, à noite...
E as flores virgens com o aberto seio
Um beijo da donzela ainda imploram.

Mais doce o canto foge de mistura
Co’as doces notas do violão divino!
Anjo da vida te verteu nos lábios
O mel dos serafins que a voz serena,
Que a transborda de encanto e de harmonia
E faz no eco propulsar meu peito!

Suspire o violão: nos seus lamentos
Murmura essa canção dos meus amores,
Que este peito sangrento lhe votara,
Quando a seus pés, acesa a fantasia,
Em doce engano derramei minh’alma!

Quando a brisa seus ais melhor afina,
Quando a frauta no mar branda suspira,
Com mais encanto as folhas do salgueiro
Debruçam-se nas águas solitárias
E deixam, gota a gota, o argênteo orvalho
Como prantos nas folhas deslizar-se.

Quando a voz do cantor perder-se, à noite,
Na margem da torrente, ou nas campinas,
Ou no umbroso jardim que flores cobrem...
Mais doce a noite pelo céu vagueia,
Melhor florescem as noturnas flores...
E o seio da mulher, que a noite embala,
Pulsa quente e febril com mais ternura!

Se o anjo de meus tímidos amores
Pudesse ouvir-te os cândidos suspiros,
Que a minha dor de amante lhe revelam...
Se ela acordasse, nos cabelos soltos
Inda o semblante sonolento e pálido
E o seio seminu e os ombros níveos
E as trêmulas mãos cobrindo o seio...
Se esta janela num instante abrisse
A fada da ventura, embora apenas
Um instante... sequer... Meus pobres sonhos,
Como saudosos vos murchais sedentos!
Flores do mar que um triste vagabundo
Arrancou de seu leito umedecido
E grosseiro apertou nas mãos ardentes,
Eu morro de saudade! e só me nutre
Inda nas tristes, desbotadas veias
O sangue do passado e da esperança!


MEU DESEJO

Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta,
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta...

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra...
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra...

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios de teu leito,
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escumilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro...

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!


TERZA RIMA

E, belo de entre a cinza ver ardendo
Nas mãos do fumador um bom cigarro,
Sentir o fumo em névoas recendendo,

Do cachimbo alemão no louro barro
Ver a chama vermelha estremecendo
E até perdoem respirar lhe o sarro!

Porém o que há mais doce nesta vida,
O que das mágoas desvanece o luto
E dá som a uma alma empobrecida,
Palavra d'honra, és tu, ó meu charuto!


SONETO

Um mancebo no jogo se descora,
Outro bêbedo passa noite e dia,
Um tolo pela valsa viveria,
Um passeia a cavalo, outro namora.

Um outro que uma sina má devora
Faz das vidas alheias zombaria,
Outro toma rapé, um outro espia...
Quantos moços perdidos vejo agora!

Oh! não proíbam, pois, no meu retiro
Do pensamento ao merencório luto
A fumaça gentil por que suspiro.

Numa fumaça o canto d'alma escuto...
Um aroma balsâmico respiro,
Oh! deixai-me fumar o meu charuto!

SONETO

Ao sol do meio-dia eu vi dormindo
Na calçada da rua um marinheiro,
Roncava a todo o pano o tal brejeiro
Do vinho nos vapores se expandindo!

Além um espanhol eu vi sorrindo,
Saboreando um cigarro feiticeiro,
Enchia de fumaça o quarto inteiro...
Parecia de gosto se esvaindo!

Mais longe estava um pobretão careca
De uma esquina lodosa no retiro
Enlevado tocando uma rabeca!...

Venturosa indolência! não deliro
Se morro de preguiça... o mais é seca!
Desta vida o que mais vale um suspiro?

FUI UM DOUDO EM SONHAR TANTOS AMORES

Dorme, meu coração! Em paz esquece
Tudo, tudo que amaste neste mundo!
Sonho falaz de tímida esperança
Não interrompa teu dormir profundo!
Tradução do Dr. Octaviano.

Fui um doudo em sonhar tantos amores...
Que loucura, meu Deus!
Em expandir-lhe aos pés, pobre insensato,
Todos os sonhos meus!

E ela, triste mulher, ela tão bela,
Dos seus anos na flor,
Por que havia de sagrar pelos meus sonhos
Um suspiro de amor?

Um beijo — um beijo só! eu não pedia
Senão um beijo seu
E nas horas do amor e do silêncio
Juntá-la ao peito meu!


CISMAR
Fala-me, anjo de luz! és glorioso
À minha vista na janela à noite
Como divino alado mensageiro
Ao ebrioso olhar dos frouxos olhos
Do homem, que se ajoelha para vê-lo,
Quando resvala em preguiçosas nuvens,
Ou navega no seio do ar da noite.
ROMEU
Ai! quando de noite, sozinha à janela
Co’a face na mão te vejo ao luar,
Por que, suspirando, tu sonhas, donzela?
A noite vai bela,
E a vista desmaia
Ao longe na praia
Do mar!

Por quem essa lágrima orvalha-te os dedos,
Como água da chuva cheiroso jasmim?
Na cisma que anjinho te conta segredos?
Que pálidos medos?
Suave morena,
Acaso tens pena
De mim?

Donzela sombria, na brisa não sentes
A dor que um suspiro em meus lábios tremeu?
E a noite, que inspira no seio dos entes
Os sonhos ardentes,
Não diz-te que a voz
Que fala-te a sós
Sou eu?

Acorda! Não durmas da cisma no véu!
Amemos, vivamos, que amor é sonhar!
Um beijo, donzela! Não ouves? no céu
A brisa gemeu...
As vagas murmuraram...
As folhas sussurram:
Amar!



Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)


































Criado em: 20/8/2013 1:12
_________________
Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

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TEXTOS COMENTADOS DA LITERATURA BRASILEIRA - POESIAS - INFÂNCIA (CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE)
Super Participativo
Membro desde:
26/7/2009 18:46
De Rio de Janeiro - RJ.
Mensagens: 111
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que a minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1988.
Robinson Crusoé – novela do escritor inglês Daniel Defoe (1660 – 1731).



Os temas (assuntos, idéias) da poesia de Carlos Drummond de Andrade (1902/1987 - Modernismo) são as reminiscências (lembranças, impressões que ficam de uma experiência passada) da infância, a tranquilidade da vida no interior e a segurança oferecida por seu núcleo familiar no tempo em que o poeta-menino vivia em Itabira (MG).

O autor relata sua infância na pequena fazenda de sua família, registrando o dia-a-dia de todos: o pai montado a cavalo indo para o campo (Zona fora do perímetro urbano das grandes cidades, no qual predominam as atividades agrícolas), a mãe cosendo e prestando atenção ao sono reparador do irmão menor, e ele próprio, entre as mangueiras, lendo (valorizando o hábito da leitura desde os tempos de menino) e fazendo comparações entre a sua história e a de Robinson Crusoé (Daniel Defoe – 1660/1731 – escritor inglês).

Relembra também, ao meio-dia de sol forte (“...branco de luz...”) a preta velha, livre, longe da senzala, que faz um café muito bom, muito gostoso e sinal de hospitalidade. Notamos certa analogia com a história de Robinson Crusoé, que devido a um naufrágio fica afastado da civilização, ou seja, solitário, isolado do contato humano, fato que o poeta relaciona com sua infância (“Eu sozinho menino...”), não em virtude de acidentes, mas, talvez pelo fato de viver no interior de Minas Gerais, onde grandes distâncias de terras apresentam ou apresentavam baixos índices populacionais, ou ainda, em virtude da idade, isto é, pelo fato de ser criança.

Finaliza com a observação de que toda história é bonita, e que para isso, basta felicidade para seus “personagens”, a de Robinson Crusoé, mas também a nossa, são histórias belas, comoventes, interessantes.

Temos nessa poesia uma obra confessional, onde o autor utilizou fatos reais de sua vida como matéria literária, ou seja, “retornou” ao seu passado para retratá-lo de forma poética.

Augusto de Sênior.
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

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BIBLIOGRAFIA:

O1) AMARAL, Emília.../ et. al./ Novas palavras: literatura, gramática, redação e leitura. v. 1.
São Paulo: FTD, 1997, pág. 13/14. (Coleção Novas palavras)
O2) FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda.
Miniaurélio eletrônico versão 5.12. 6ª ed. 2004.

Criado em: 20/8/2013 0:54
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Augusto de Sênior
(Amauri Carius Ferreira)
(FERREIRA, A. C.)

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