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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
31/3/2008 17:45
De Braga
Mensagens: 8104
Assim como quem diz que se o leitor não gosta deve passar à frente, venho dar o mesmo recado a quem se manifesta desagradado com esta ideia. Não gostem não participem.
Continuem na vossa, publicando e trocando beijos, que o espaço permite. Se alguém comentar e não gostarem apaguem, é simples. Pode até ser por ter só uma cara feia, não importa se veio beijos, apaguem o que quiserem.
O mesmo recado serve para quem se manifestou contra o movimento pró-luso; só participou quem quis e de boa vontade.
Ó pró-luso nunca chegou a fazer nada de relevante, nem para agradar, nem para desagradar, de modo a virem agora dar avaliações ocas baseadas em nada.
Aliás, já foi ridículo demais, antes do movimento agir, as críticas que fizeram.
Por último, se acham lamentável alguém criticar um poema, mostrando pontos que gostou ou não, o que aceito até ser uma presunção de quem o faz, acho muito mais lamentável alguém criticar pessoas de nojentos, e outros nomes.
Ser presunçoso, não é nojento, nem viola o regulamento do luso-poemas.
Há um regulamento, respeitem-no.

Criado em: 22/11/2012 12:42
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Re: proposta luso-poética (os sinais)
Membro de honra
Membro desde:
28/9/2011 23:22
De Olinda, Pernambuco
Mensagens: 898
zeca, diga-me lá, já que é a segunda vez
que o vejo citar o extinto pró-luso
sem razão aparente:

- o que o pró-luso fez de mal,
já que nem chegou a pôr em prática
a grande maioria dos seus projetos?


"aqui, o que é proposto no anúncio do site, não vigora mais, já que somente para poetas, escritores e críticos profissionais."

sério, zeca, em que parte da proposta
você viu algo que denotasse isso?

poetas, escritores e críticos profissionais?

não, zeca, não há nada nessa proposta
que eu fiz, eu, caio de matos vital,
que possa sequer sugerir a extirpação
do amadorismo - a alma desse site.

eu sou um confesso amador, e sempre serei.
por profissão mesmo, corro eu proutra área.

só não entendo o porquê de tanta animosidade,
zeca, se você mesmo me deu apoio quando trouxe
minha primeira crítica (a da merda) ao fórum,
além de sempre demonstrar ser um dos que eram
(e são) inflexivelmente contra a função "apagar".



"se vê a olhos largos desde os assumidos interventores, como subiu a qualidade das postagens, dos comentários e das prometidas críticas literais."

aqui, como prefiro citar nomes logo de uma vez,
deve remeter a mim, a roque e ao fotograma,
se não muito me engano. três pessoas, vozes,
falando abertamente o que pensam sobre textos,
veja bem, textos, conseguem elevar a qualidade
das publicações assim, "do dia pra noite"?
você sabe muito bem que não. é preciso ser
renitente, contínuo, chato... fórmico até.

agora falar das "críticas entre si":
eu mesmo já critiquei a roque e o fotograma,
só precisa ir lá ver. critiquei a teresa, também,
sempre com honestidade. nem se pode afirmar
que nenhum deles me criticou: pode tirar a prova.

um abraço, zeca.

Criado em: 22/11/2012 12:57
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alguns anos de solidão - blogue

"ah, meu deus do céu, vá ser sério assim no inferno!"
- Tom Zé
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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
20/5/2008 17:39
De Porto
Mensagens: 2999
(provavelmente já estou atrasada, mas... aí vai:)



Bom, eu estava aqui a alinhavar uma resposta para si, Caio, sobre o que é a Literatura - uma resposta ingénua, porque, como já disse, eu nada sei, apenas disfarço bem ;). Mas o Filipe já teve o saber e a prontidão de lhe dar uma, bem lúcida, porque fundamentada na verdade de que a Literatura não é uma ciência que se represente por fórmulas consensuais.

Posso é dizer de mim, do como eu sinto o que é Literatura:

primeiro, um texto literário deve (a não ser que por desvio criativo que deixe ao leitor a certeza disso mesmo) respeitar a Língua em que é escrito - se vejo erros grosseiros de linguagem, sejam eles ortográficos ou de sintaxe, simplesmente descarto.

atento:

não tanto à clareza de ideias, mas ao fio condutor com que o autor estrutura o trabalho.

à conexão que o autor estabelece comigo, leitora: a mensagem.

à riqueza da construção das frases. sejam elas de linhas estilizadas ou de floreado artístico a raiar o rococó, o que interessa é o autor passar-me a nítida certeza de que sabe o que pretende e o que consegue.

à originalidade das imagens.

à essência viva do escrito.

ao impacto emocional e/ou à força do efeito.

à utilidade "pública" (desculpem-me, esta soa-me um bocadinho, sei lá, descartável... mas, mesmo assim, gosto de extrair informação do que leio, seja ela didáctica, de realidades, de conscîência, de ideais...)

...

poderia dizer muitas mais coisas, mas sinto que estou a resvalar para a subjectividade e é melhor parar por aqui. O que digo, podem crer, é mais inocência que sofisma.

Sendo assim, a minha peneira é, e sempre será, aqui e em qualquer outro lado, muito própria - de humildade consciente. E por ser consciente, também não posso deixar de intervir, aqui e ali, quando o espaço em que me movo me serve de laboratório de aprendizagem, de manancial de leituras e de mercado livre de ideias - é isto, no fundo, o que é o Luso-Poemas.

Costumava eu dizer: Não comento tudo o que gosto, mas o que comento, gosto. Mas isso é uma frase (mal)feita. A verdade é que eu (como tantos), comento quem gosto, nem tudo o que comento, gosto: comento quem me atrai com piscares de néon, e não gosto de tudo o que comento; comento quem posso e nunca todos os que deveria; comento quem não precisa de comentários (porque às vezes o silêncio é o melhor aplauso), nem sempre quem precisa (porque o ruído é necessário; comento para não acrescentar nada, quando deveria deixar algo realmente válido - a crítica construtiva. E, finalmente, comento quem quero, porque quero quem me comente.

Confessados os meus pecados, tenho uma proposição que me redime:

Tudo o que comento, leio.

ah, e outra! - respeito todas as críticas que me deixam, porque quero sempre crescer e porque tenho consciência que, ao publicar o que escrevo, mantenho os direitos de autor - mas cedo os direitos de interpretação.

Defendo que devemos (e espero que possamos), como Pessoas e Autores que somos todos, conciliar as coisas: criticar com respeito quem merece e precisa da crítica; e aceitar, com dignidade, as críticas que nos fizerem - se fundamentadas, temos sempre a aprender com elas; se sem fundamento, podemos aproveitar o ensejo para sermos nós a dar a lição de volta; se ofensivas, devemos denunciá-las e contestá-las, como é nosso direito e dever.

Mas, por outro lado, temos que reconhecer que a caixinha aos pés do santo, não diz, realmente, "Críticas". Diz "Comentários" - e devemos respeitar a vontade de cada santo e a interpretação que cada um dá ao verbo "Comentar" e ao verbo "Criticar"... porque há um preconceito arreigado que liga a crítica ao pecado, e cada um professa a fé que quer. (mas essa fé, claro, só se sabe atirando a primeira moeda).


Resumindo: sou a favor do Luso e da Lusofonia, nunca do abuso e da lusofagia. Escrevam e deixem escrever. Leiam e deixem de ler. Criem e deixem criticar. comentem e deixem quem mente. Apagar...? deixem, que o tempo (a)paga.

Quanto às propostas, Caio, acho que respondi, de certa maneira a algumas. Gosto sobretudo da dinamização que pequenos concursos dariam ao site e defendo também essa ideia já exposta de participações anónimas.

Uma proposta minha: levar um texto, escolhido aleatoriamento do arquivo do site, a tópico, e desafiar os lusuários a descobrir o autor.

(vou almoçar, que isto de lusetras não alimenta ninguém, eheh)


Boa tarde.

Criado em: 22/11/2012 13:07
_________________
Teresa Teixeira
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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
31/3/2008 17:45
De Braga
Mensagens: 8104
Eu falei acima numa de aborrecida com tanta niquice, mas gostei muito desta intervenção da Teresa; também faço assim, umas vezes, um pouco mais além. Tudo o que comento leio, mas leio com carinho e sem preconceito. Depois digo o que penso. Mas também aceito que me digam o que pensam com a dignidade que mereço e me merecem.
Nunca critiquei um escrito que me parecesse mau; posso até não o ter referido, mas se o fiz foi porque vi potencial no poeta; pena que nalguns casos o potencial na escrita não tenha sido o mesmo em dignidade e humildade de quem recebeu a crítica. Antes de sermos poetas temos de ser gente inteira, pessoas com defeitos e qualidades e consciência disso, sabendo conhecer-se e reconhecer-se.
Uso a velha máxima, não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem; faz aos outros o que gostarias que te fizessem.
Quando comecei a escrever, reconheço, escrevia mesmo mal, coisas que hoje deitaria no lixo. Quase sempre recebi comentários elogiosos, e poucas vezes críticas. Nunca rechacei ninguém e hoje estou grata a todos, mesmo a quem me critica as atitudes.

Criado em: 22/11/2012 13:29
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Re: amadores
Colaborador
Membro desde:
16/10/2012 16:18
Mensagens: 1473
eu me pergunto o que seriam poetas profissionais

Homero era profissional, se é que existiu? nem mesmo escrevia! cantava, lira em punho e só muito depois escribas menores compilaram em papiros. Fernando Pessoa ganhou alguma grana escrevendo livros?

a maioria dos grandes poetas teve na poesia atividade paralela, feita pelo prazer, pelo amor à palavra

amador é quem ama dor e gosta de se queixar e queixar e nunca crescer, só chorar feito criança, de birrinha

abs

Criado em: 22/11/2012 13:45
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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
31/3/2008 17:45
De Braga
Mensagens: 8104
Quando era jovem, digo, mais jovem (rss) havia como que um respeito enorme para com os poetas que estudávamos; ninguém se atrevia a escrever algo e chamar-lhe de poema; eram sempre os leitores a classificar o que liam. Hoje não, qualquer um faz isso, escreve e se acha. E embora haja quem escreva e se possa achar por o fazer bem, o pior, é que há quem o faça sem respeito nenhum pela língua, pelo pensamento e mesmo assim se ache.
Por isso mesmo, não me acho no que escrevo, perco-me sempre,e não consigo deixar de me rir de quem se acha, quando se acha (até de mim). rss

Criado em: 22/11/2012 14:06
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Re: proposta luso-poética
Colaborador
Membro desde:
16/10/2012 16:18
Mensagens: 1473
bom achado

eu me acho em rachaduras

abs

Criado em: 22/11/2012 14:10
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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
31/3/2008 17:45
De Braga
Mensagens: 8104
A Poesia:
Transformadora do Mundo

José Carlos Fernández

«Para Platão a Poesia está relacionada com o Belo e o Resplendor do Verdadeiro.
Deste modo, haveria um fundo de verdade e de magia em toda a autêntica poesia».
Jorge Angel Livraga
«A verdadeira Poesia»
Revista NA, Junho 18983

Uma afirmação assim - a poesia como transformadora do mundo - terá feito sorrir, sem dúvida, a muitos dos leitores.
Os gregos do Século de Ouro de Péricles não pensariam assim, quando as vidas e os conhecimentos estavam formados seguindo o ritmo dos versos da Ilíada ou da Odisseia.
Tão-pouco os guerreiros celtas e os seus sacerdotes druidas, que confiavam a elaboração dos seus «cânticos mágicos» às suas profetisas, mulheres inspiradas pela Divindade. A vida da sua sociedade encontrava-se também ritmada por estes cantos, que na língua velada expressavam aos mortais ensinamentos que a sua razão não conseguia alcançar.

O próprio Platão afirmaria, pela boca de Sócrates, que o verdadeiro poeta é porta-voz de um deus. Que a sua alma é um instrumento musical que o deus toca quando quer dar a sua mensagem aos homens. Que os sábios não podem rebater o canto de um poeta, pois encontra-se mais além dos seus conhecimentos. Platão recorda que o poeta canta, mas que não ensina, que ele mesmo não pode explicar o mágico e sublime conteúdo dos seus versos alados.
Os primeiros livros da Humanidade são livros de poemas; de hinos aos deuses, ou de Cantos da Sabedoria. Na Índia, o seu livro religioso «revelado» aos Rishis (sábios poetas, semi-deuses), os Vedas, são uma colecção de hinos aos deuses.

Na primitiva língua védica (depois no sânscrito), bem como no hebreu e, atrevemo--nos a afirmar, em todas as línguas das culturas iniciáticas, os textos possuem sempre um tom musical. Os seus livros não se lêem, cantam-se. São majestosas colecções de poemas sagrados.
O Antigo Testamento é um livro de poemas, como também é o Poema Babilónico da Criação; ou os hinos que constituem o livro religioso dos escandinavos, o Kalevala. Todos os códices aztecas, bem como possivelmente os mayas, eram «cantados». As imagens serviam de recordação para litanias e poesias longuíssimas que conservavam todo o saber da sua raça.
O Império Romano sustentou a sua «consciência nacional» nos versos da Eneida mas mais do que as declarações amorosas de infinitos amantes foi a doçura dos cantos de Ovídio ou de Catulo.

O ardor guerreiro de povos como o espartano crescia e encontrava um leito religioso nos seus famosos peans, os cantos marciais a Apolo.
Cícero explica nos seus tratados que quando o fogo do céu se apodera do verbo do orador aparece no seu discurso uma estrutura rítmica e musical; deixa de «falar» para começar a «cantar», mas é este encantamento que desperta as paixões no auditório, que o faz vibrar com as suas palavras.
É natural pensar que num mundo tão prosaico como aquele em que vivemos se encontre desterrada a verdadeira poesia. Um mundo sem poetas é um mundo sem beleza, pois são os poetas quem faz inteligível para os homens a formosura da Natureza.

Confúcio, no seu esforço de fazer uma pedagogia integral, um ensinamento que faça dos homens príncipes e cavaleiros, e das mulheres, damas e princesas, faz uma recompilação das melhores poesias da antiguidade clássica chinesa no chamado Livro dos Versos. Poesias de alto conteúdo moral, destinadas a despertar nos seus discípulos a sensibilidade diante da natureza, amor e tudo o que é nobre, justo e bom.
Quando o homem sente estalar no seu peito Deus, não fala mas canta. Quando as emoções são tão intensas como inexprimíveis, somente a canção e a poesia (música e palavra) podem ser fiéis à exaltação.
Os ensinamentos do místico tibetano Milarepa são cantos, que sobressaltam as montanhas sempre cobertas de neve dos Himalaias.
Shakespeare, quando quer referir-se, nas suas obras, a mistérios demasiado profundos, faz com as suas personagens os formulem com poemas cantados.

Os exemplos poderiam multiplicar-se mais e mais, mas a teses é a mesma: em todas a culturas que se valorizam como tal, a poesia, o canto (na Antiguidade poesia e canto são praticamente sinónimos) é a que configura as consciências, a que desperta os homens para a sabedoria. Recordemos os belíssimos e tão eficazes ensinamentos de Confúcio: «Desperta-te com a poesia, educa-te com a música e funda o teu carácter no Li». (Li é a Lei de Harmonia que une o Céu e a Terra. No plano moral é a Regra de Ouro de conduta, aquela pela qual o homem actua de acordo com a Natureza).
Mas se, efectivamente, a poesia tem um imenso poder educativo, como poderemos usá-la? A primeira coisa, indubitavelmente, é voltar às fontes da poesia. Não é por partir a prosa que encontramos o verso; não é pelo facto de «rimarmos» os parágrafos que damos nascimento ao canto e à magia das estrofes.

Platão explica que os verdadeiros poetas - e devido à disposição particular da sua alma - entram em ressonância com os Arquétipos da Natureza. Ele compara-os a um íman que se impregna de força especial e transmite-a, «magnetizando» todos aqueles que se aproximam a ele. Aquele que recita a poesia volta a dar-lhe vida, mas antes deve participar e sentir dentro de si essas mágicas ondulações que o seu criador cristalizou em versos.
Todos os verdadeiros poetas são amados das Musas. Estas não são uma «imagem poética» antes, pelo contrário, são mais reais do que podemos imaginar.

Conferem ao poeta o fluxo especial que vivifica as suas criações mentais através do ritmo. O ritmo ou encantamento vem, pois, da essência da Musa. O ritmo é a alma da poesia. Os filósofos antigos explicavam que as Musas estavam intimamente relacionadas com os distintos céus ou com as distintas órbitas planetárias, e com o reflexo destas na Alma do poeta. O mago renascentista Cornelio Agripa afirmaria que «As Musas são as almas das esferas celestes» e «O primeiro furor místico é o que provém das Musas», desperta aqui e modera o espírito e diviniza-o, atraindo, pelas coisas naturais, as coisas superiores. São as nove Cámenas ou Cantoras, conduzidas por Apolo, o Sol, a Harmonia. Cada poeta seria o «filho» de uma Musa.
O professor Livraga, no seu artigo «A verdadeira poesia» explica: «Os antigos concebiam que todo o Universo era harmónico, regido pelos números e proporções de ouro. Isto reflecte-se na ordenação dos sons, os quais alternados com os silêncios, deram origem à música, ao canto e à poesia, todos eles expressão do Homem que tratou desde sempre de fazer surgir da sua Alma as misteriosas sementes que os deuses tinham depositado nela, para uma melhor e mais justa compreensão de si próprio, da Natureza e de Deus. E como o modelo que podemos chamar 'clássico' tem por característica o facto de unir o Bom, o Belo e o Justo - segundo o divino Platão -, os ritmos e as rimas foram utilizadas com o muito prático fim de ajudar à memória em recordação de ensinamentos arcaicos».

Giordano Bruno explica que «A poesia não nasce da regras, mas muito acidentalmente. São as regras que derivam da poesia e, por isso, há tantos géneros e espécies de regras verdadeiras quantos géneros e espécies de poetas verdadeiros há».
Na sua obra Os Furores Heróicos perguntam-lhe: «Como, então, serão conhecidos os verdadeiros poetas?», ao qual responde «pelo seu canto; basta que com o seu canto deleitem ou seja úteis, ou então sejam úteis e deleitem». Continua a explicar que as regras de poesia (por exemplo, as de Aristóteles) servem para aqueles que «por não terem Musa própria quiseram fazer o amor com a de outro».
Deste modo, certamente, as formas rítmicas da poesia, por exemplo, de Virgílio, são diferentes das de Vyasa, no Mahabharata e, no entanto, ambas se ajustam à Proporção de Ouro que governa a Natureza inteira.

Cervantes, em D. Quixote, explica que a única ciência que supera a Poesia é a Cavalaria Andante e que a mais terrível maldição que um engenho mesquinho pode experimentar é «que as Musas jamais atravessem os umbrais das suas casas». Também recomenda cuidar da vaidade e do perigo de ajuizar as próprias poesias. «Sendo poeta, poderia ser famoso se se guia mais pelo parecer alheio do que pelo próprio, porque não há pai nem mãe a quem os filhos lhes pareçam feios, e naqueles que o são do entendimentos ocorre mais este engano».
A palavra «poesia» vem do grego poiesis, que significa «criação». «Verso» é uma palavra latina que vem de vertere, e é «o que se move e gira» ou «o que imprime ritmo e movimento». É que a verdadeira Poesia é uma criação que imita a Natureza e extrai dela o essencial. A imaginação do poeta converte-se em espelho da Natureza, alentada pela bondosa Musa.
Não mente o poeta quando diz à sua amada: «Poesia és tu», mas que a sua alma percebe verdades e relações que aos nossos olhos e entendimento estão vedadas.
Porque é que a Poesia não faz girar a Roda do Mundo? Porque é que não desperta e transforma as consciências? Simplesmente porque está desterrada. Não se faz um culto ao Belo, mas ao feio e ao vulgar. E assim dormem os versos na alma dos verdadeiros poetas, esperando um tempo novo e vivo que alente as suas criações.

«Aquela que chamamos verdadeira Poesia deve ser transcendental, facilmente compreensível e bela» (Jorge Angel Livraga, artigo ibidem).

Deve elevar a Alma e não submergi-la no lamaçal das paixões animais. As imagens que utiliza devem ser simples, para que a Alma siga com facilidade o seu curso. Deve ser bela porque «a vida é bela e deve ser cantada bela e naturalmente. E quem não possa dar esse contributo à sociedade em que vive, é melhor que procure outros caminhos de expressão» (Jorge Angel Livraga, artigo ibidem).
Quando o homem deixar de «"brincar» com o sagrado e voltar os olhos da sua alma para o Belo, os poetas voltarão, a Poesia voltará e, de novo, esta comoverá o coração do Homem.



Criado em: 22/11/2012 18:21
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Re: proposta luso-poética
Membro de honra
Membro desde:
28/9/2011 23:22
De Olinda, Pernambuco
Mensagens: 898
atrasada? nunquinha, o assunto é sempre atual

suas palavras lembram-me outras, do paulo freire,
grande educador com quem tenho a honra de dividir
a origem (coisa minha esse ufanismo da terra haha):


"Todos nós sabemos alguma coisa.
Todos nós ignoramos alguma coisa.
Por isso, aprendemos sempre."

e também, de certa forma,

"Não é no silêncio que os homens se fazem,
mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão."


por não podermos definir o que é um texto literário,
devo assumir então que todo texto aqui publicado
tem a intenção de ser literário simplesmente por ser
esta uma página de escritores - amadores ou não -
que desejam partilhar suas obras e também aprender,
ensinar e criar as possibilidades de desenvolvimento.

por me considerar um experimentador,
sou também de lua: ora gosto disto,
ora gosto daquilo, mas sempre com
uma base mais difícil de modificar.

o luso-poemas oferece tantas possibilidades
de aprendizado, que às vezes não consigo crer
que há gente cega para isso. mas devo respeitar.

hoje em dia comento indiscriminadamente,
desde que haja em mim vontade genuína.

quando vejo alguém que considero com potencial,
comemoro; quando chega alguém que diz querer
aprender, sinto nele um pouco do que vejo em mim.

comentar é a melhor ação que se pode tomar
a favor dos que tomam o luso como oficina,
casa de literatura, espaço de livre criação.


"porque tenho consciência que, ao publicar
o que escrevo, mantenho os direitos de autor
- mas cedo os direitos de interpretação."

ah, que essa filosofia deveria caber
em todos as cabeças presentes no luso!

que tal o comentário "crítico"
ou "analítico"? cabem na caixinha...




"Escrevam e deixem escrever. Leiam e deixem de ler. Criem e deixem criticar. comentem e deixem quem mente. Apagar...? deixem, que o tempo (a)paga."

concordo plenamente.


os miniconcursos posso administrar.
creio que um por mês já seja suficiente,
desde que haja diversificação em temas.

essa proposta de texto-mistério é boa,
mas tem seu lado ruim porque pode haver
quem cate o texto e o pesquise, estragando
a brincadeira, mas pode servir para incentivar
a leitura de autores menos conhecidos do público.

e também esta dos textos anônimos,
vou falar com o trabis quando tudo
estiver mais calmo, findas as obras.

obrigado, etar-se


aproveitando o gancho, deixo mais uma pergunta:


"onde você pode deixar um pouco de si"

o que quer dizer esta frase?

Criado em: 23/11/2012 0:33
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"ah, meu deus do céu, vá ser sério assim no inferno!"
- Tom Zé
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Re: proposta luso-poética
Colaborador
Membro desde:
16/10/2012 16:18
Mensagens: 1473
gostei muito do artigo, Roque. por aí mesmo é a poesia, canto e encanto, embora discordem frenéticos os arquitetos poetas concretos. e grandes poetas transformam até merda em ouro com seu toque de midas

mas cá entre nós, na República de governantes-filósofos de Platão, poetas seriam banidos, justamente porque não sabiam o que diziam e o que diziam não era necessariamente a verdade. que bola fora :p

comentário da Teresa perfeito

abs

Criado em: 23/11/2012 1:03
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