Não discuta com Burros |
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NÃO DISCUTA COM BURROS. O burro disse ao tigre: - ′′ A grama é azul ". O tigre respondeu: - ′′ Não, a grama é verde ". A discussão aqueceu, e os dois decidiram submetê-lo a uma arbitragem, e para isso correram perante o leão, o Rei da Selva. Já antes de chegar à clareira da floresta, onde o leão estava sentado em seu trono, o burro começou a gritar: - ′′ Sua Alteza, é verdade que a grama é azul?". O leão respondeu: - ′′ Certo, a grama é azul ". O burro apressou-se e continuou: - ′′ O tigre discorda de mim e contradiz-me e incomoda, por favor, castigue-o ". O rei então declarou: - ′′ O tigre será punido com 5 anos de silêncio ". O burro pulou alegremente e seguiu o seu caminho, contente e repetindo: - ′′ A grama é azul "... O tigre aceitou a sua punição, mas antes perguntou ao leão: - ′′ Vossa Majestade, por que me castigou?, afinal a relva é verde ". O leão respondeu: - ′′ Na verdade, a grama é verde ". O tigre perguntou: - ′′ Então, por que você me pune?". O leão respondeu: - ′′ Isso não tem nada a ver com a pergunta de se a grama é azul ou verde O castigo acontece porque não é possível que uma criatura corajosa e inteligente como você perca tempo discutindo com um burro, e ainda por cima venha me incomodar com essa pergunta ". A pior perda de tempo é discutir com um tolo e fanático que não se importa com a verdade ou realidade, mas apenas com a vitória de suas crenças e ilusões. Jamais perca tempo em discussões que não fazem sentido... Há pessoas que por muitas evidências e provas que lhes apresentamos, não estão na capacidade de compreender, e outras estão cegas pelo ego, ódio e ressentimento, e a única coisa que Desejam é ter razão mesmo que não a tenham. Quando a ignorância grita, A inteligência cala. A nossa paz e tranquilidade valem bem mais.
Criado em: 6/1 15:15
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Re: Para Roque Silveira |
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A arte da intriga onde muitos se tornaram peritos é assim: Levianamente a pessoa lança a dúvida e simplesmente a intriga está feita.
Ainda por cima cria perfis para insultar, que apaga logo de seguida, para que pensem que é o azke (não acredito que seja este, a não ser que este venha confessar) Roque Silveira, prove ou cale vossa fala infame, simples assim. RoqueSilveira Re: Ao Jorge Santos, Namastibet #19 Colaborador Membro desde: 31/3/2008 18:45 De Braga Mensagens: 8328 Diz este autor (sendoluzmaior- a lesma) o seguinte: "Enquanto você espera eu aprender a escrever uma língua já putrefeita, morta, esquelética, que bicho já comeu e já a defecou, já publiquei 206 livros meu caro. A linguagem cósmica é viva e não coisa mental, petrificada. Olha os comentários deste livro A guerra de órion seu energúmeno e depois venha aqui latir. Apenas largue do meu pé, simples assim. Que Deus lhe dê mil vezes mais o que para mim desejares. Vai escrever um livro, plantar uma arvore, acolher crianças em situação de risco, ajude seus semelhantes e me esquece. Vai fazer algo melhor na vida do que ficar indo atrás de mim. Toda vez que for nas minhas redes sociais me assediar, eu irei te denunciar publicamente. Comigo não tem nada nas sombras, tudo é as claras, à luz." Mas quem é este animal para dizer que a nossa língua é putrefeita, morta, esquelética? Que é uma língua que o bicho já comeu e já defecou? Que nojo de ser é este que só pensa em merda, só faz merda, só publica merda e só comenta textos de outros com merda e com imagens de merda? Ainda por cima cria perfis para insultar, que apaga logo de seguida, para que pensem que é o azke (não acredito que seja este, a não ser que este venha confessar) Este ser abjecto, que não respeita uma língua, um povo, não merece andar por aqui. A língua portuguesa é uma das mais completas que existe, uma das mais belas e uma das mais faladas no mundo e respeitada como tal. Portanto, esta lesma, que vá para a sua nave espacial e se escafeda no espaço sideral de uma vez por todas.
Criado em: 6/1 15:22
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Re: Não discuta com Burros |
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Oh raios e nao é que tens razão? Ainda há pouco me perguntava se não estaríamos a lidar com um doente mental. Se não o fosse já teria caído em si e mudado de atitude. Realmente uma lesma sera sempre uma lesma e nunca chega a borboleta.
Criado em: 6/1 16:33
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Prefiro minha loucura do que vossa sanidade de: Dementes contentes na dor alienados. Ganhou o martelinho de ouro. Qual atitude quer que eu mude? Calar-me? Quer por mordaça na minha boca? hahaha Vou publicar vídeos onde bem entender, é só não vir provocar-me, não venha as minhas páginas. Ok?
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Criado em: 6/1 18:09
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Celebre a cada dia a morte de um eu indesejável dentro de ti.
Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=360994 © Luso-Poemas
Criado em: 8/1 14:13
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Nunca discuta com o Barros |
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A VIDA SEGUNDO MANOEL DE BARROS KELSON GÉRISON OLIVEIRA CHAVES* LUIZ CARVALHO DE ASSUNÇÃO∗ 1. INTRODUÇÃO: O texto que se segue é parte de uma pesquisa de doutorado, em andamento, que tem como foco compreender a dimensão da experiência social na prática artística, especificamente na obra poética de Manoel de Barros. O tratamento da obra desse poeta como documento histórico levou-me a perceber nela a recorrência de certos valores e ideias sobre a vida, a natureza, a sociedade, o ser humano e o mundo que, em conjunto, denotam uma ampla reflexão acerca da sociedade em que vivemos. Tal “reflexão”, em última instância, traduz-se numa reivindicação de transformação do mundo para se conquistar a uma vida de liberdade e plenitude. A maneira pela qual se articula na poesia de Manoel de Barros uma interpretação da sociedade contemporânea é por meio da construção de noções sobre o que constituiria a sociedade e a natureza, ou melhor, o “estado de sociedade” e o “estado de natureza”. É por meio de uma relação dialógica entre essas duas noções que Manoel de Barros dá seu testemunho e sua visão sobre a época em que vivemos. É discutindo a constituição dessas noções em sua poesia, e a relação dialógica entre elas, que se pode compreender tal testemunho e visão. Ao falar aqui de natureza, remeto à conceituação mais básica e ampla que é, com LÉVI-STRAUSS (2011), a noção de que tudo o que é inato, logo, universal, pertence à natureza, e tudo o que é adquirido, apresentando atributos do relativo e variável, pertence ao domínio da cultura (e sociedade). * Graduado em História pela Universidade Estadual do Ceará; mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN; doutorando em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. ∗ Doutor em Antropologia pela Pontifícia Universidade Católica/PUC-SP. Professor adjunto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. 2 Não tenho, com isso, nenhuma intenção de impor a noção antropológica da inseparabilidade entre natureza e cultura à poesia de Manoel de Barros, onde o fato funciona de maneira distinta. Não se pretende discutir o fato de que quase sempre há uma integração entre natureza e cultura e que é impossível, conforme LÉVI-STRAUSS (2011), encontrar na humanidade a ilustração de tipos de comportamentos pré-culturais (feito buscado pelo poeta em estudo). O importante é ver como a distinção entre estado de natureza e estado de sociedade (e de cultura) se faz presente na poesia de Manoel de Barros como um dos elementos basilares na construção de uma crítica social. Funcionando, portanto, como “recurso literário” para provocar o mundo, pois, como diria GADAMER (2010), um texto literário nunca é apenas expressivo; ele é expressivo e, ao mesmo instante, faz algum tipo de reivindicação sobre o mundo. Essa reflexão em Manoel de Barros, sobre as noções de sociedade e natureza e “estado de sociedade” e “estado de natureza”, leva sempre à crítica e à negação de valores e instituições sociais do mundo contemporâneo, tais como as relações mediadas pelo utilitarismo, o tempo encarado como útil, veloz e lucrativo, o valor da tecnociência, o autoritarismo das relações sociais, etc. Em contrapartida, é oferecida a valorização da liberdade, do não utilitário, da experiência sensorial e de tudo que for visto como primordial no ser humano. O tapete que se borda, em Manoel de Barros, traz iluminuras de um ser humano que estaria corrompido pela sociedade e pela cultura, contaminado por valores considerados mesquinhos da civilização, e afastado de um possível estado de plenitude poética. E a única maneira de regenerar-se, alcançando novamente o estado de existência poética, seria retornando ao tempo anterior ao surgimento da civilização e, mais longe ainda, anterior à criação da própria sociedade e cultura. Ao tempo mítico de uma humanidade poeticamente em estado natural. Eis a tese que defendo. Segundo Edgar Morin, é preciso reconhecer que, seja qual for a cultura, o ser humano cria, a partir de uma língua, duas linguagens: uma, racional, empírica, prática, técnica; outra, simbólica, mítica, mágica. A primeira tende a precisar, denotar, definir, apoia-se sobre a lógica e ensaia 3 objetivar o que ela mesma expressa. A segunda utiliza mais a conotação, a analogia, a metáfora, ou seja, esse halo de significações que circunda cada palavra, cada enunciado e que ensaia traduzir a verdade da subjetividade. Essas duas linguagens podem ser justapostas ou misturadas, podem ser separadas, opostas, e a cada uma delas correspondem dois estados. O primeiro, também chamado de prosaico, no qual nos esforçamos por perceber, raciocinar, e que é o estado que cobre uma grande parte de nossa vida cotidiana. O segundo estado, que se pode justamente chamar de “estado segundo”, é o estado poético (MORIN, 1998: p.35- 36). O que Manoel de Barros faz é desejar a eliminação do primeiro estado, e fazer com que o “estado segundo” seja o primeiro e, mais ainda, o único. É preciso destacar, e isso é crucial para esta tese, que ele associa esse “estado segundo”, poético, ao “estado de natureza” da humanidade. Assim, para fazer do “estado segundo” o único, está sempre em busca de um retorno do ser humano ao seu estado de natureza. Um dos pontos-chave da elaborada “reflexão” em torno da constituição e distinção entre estado de natureza e estado de sociedade/cultura, em Manoel de Barros, é este fato: o de enxergar a sociedade e a cultura como elementos prejudiciais para nossa existência. O estado de natureza, estado adâmico, primordial, primitivo, seria poético por excelência. Ao ser humano “civilizado”, em estado de sociedade, sobram restos de poesia, pois tudo fora devorado pelo “estado prosaico”. Para Manoel, é preciso demolir esse mundo, para criar um novo a partir dos escombros. Se esses dois estados, o prosaico e o poético, correspondem, como pensa MORIN (1998), a dois seres em nós, Manoel quer fazer desaparecer o primeiro ser, para o segundo ressurgir e imperar. Apesar disso, cabe ressaltar que a reflexão elaborada em torno da distinção entre “estado de natureza”, este poético, e “estado de sociedade”, em Manoel de Barros, não trabalha com categorizações valorativas do tipo bem e mal, ou bom e mau. Se o humano em estado de natureza não é o “lobo do homem” de Hobbes, também não é o “bom selvagem” de Rousseau. Não é bom, nem mau. Ele apenas existe. Poeticamente. Em puro estado de fruição, sem conceitos, sem ideias, sem simbolização, conforme desejo expresso em poema do livro Menino do Mato: Eu queria fazer parte das árvores como os pássaros fazem. 4 Eu queria fazer parte do orvalho como as pedras fazem. Eu só não queria significar. Porque significar limita a imaginação. E com pouca imaginação eu não poderia fazer parte de uma árvore. Como os pássaros fazem (…) (BARROS, 2010: p.465). Fazer parte de uma árvore, ser escolhido por um passarinho para árvore, transformarse numa árvore. Essa é uma metáfora contundente (do ser humano transformar-se em árvore) encontrada em vários versos na obra de Manoel de Barros, para indicar essa realização: do ser humano abandonar por completo os estado de sociedade e cultura para viver unicamente no estado de natureza. É evidente que essas “reflexões” (termo que utilizo porque ainda não me veio outro melhor), ideias, valores e visões de mundo veiculadas na poesia de Manoel, ou na de qualquer poeta, não tem de ser intencionais, e em Manoel de Barros é nitidamente provável que não sejam. A arte é social em dois sentidos: por um lado, na influência dos fatores do meio exprimindo-se na obra, por outro, no efeito que a mesma produz nos indivíduos, “modificando a sua conduta e concepção do mundo, ou reforçando neles o sentimento dos valores sociais. Isto decorre da própria natureza da obra e independe do grau de consciência que possam ter a respeito os artistas e os receptores de arte” (CÂNDIDO, 2006: p.30). Ou seja, a relação entre literatura e sociedade nunca é de autonomia sublunar, nem de “reflexo” mecanicista; é sempre de interação, tanto do ponto de vista de sua produção quanto de sua recepção (FACINA, 2004). E, além disso, precisamos sempre considerar que, independentemente da intenção do autor, existe a intenção do texto, conforme defende Umberto Eco em Interpretação e Superinterpretação: Em alguns dos meus escritos recentes, sugeri que entre a intenção do autor (muito difícil de descobrir e frequentemente irrelevante para a interpretação de um texto) e a intenção do intérprete (…) existe uma terceira possibilidade. Existe a intenção do texto (ECO, 2012: p.29). 5 A ideia é, portanto, não a de defender uma única interpretação, ou uma única leitura correta, mas colocar critérios que limitem certos exageros, considerando, e esta é a noção fundamental, que entre “a intenção inacessível do autor e a intenção discutível do leitor está a intenção transparente do texto, que invalida uma interpretação insustentável” (ECO, 2012: p.93). Quando proponho um estudo sobre a poesia de Manoel de Barros é a intenção do texto, e não a do autor, a que busco compreender. Ademais, mesmo que Manoel de Barros tenha sempre afirmado que o “negócio” dele é com a linguagem, com a palavra, enfatizando o elemento expressivo e colocando-o acima de qualquer vontade de transmitir ideias, ele jamais poderia fugir disso. Em outras palavras, e usando os termos menos apropriados, mas que servem neste parágrafo, uma obra literária, por seu próprio caráter de produto histórico e social, nunca pode ser somente “forma”, sempre haverá “conteúdo”. Como enfatiza Antônio Cândido (2006: p.31), até mesmo a “literatura hermética apresenta fenômenos que a tornam tão social, para o sociólogo, quanto a poesia política ou o romance de costumes, como é o caso do desenvolvimento de uma linguagem pouco acessível, com a consequente diferenciação de grupos iniciados, e efeitos positivos e negativos nas correntes de opinião”. O problema que me propus a discutir perpassa toda a obra de Manoel de Barros. O que significa, inclusive, que existe certa unidade em sua obra poética. Como bem colocou a crítica Berta Waldman (1990), a poesia de Manoel de Barros não evolui, amadurece. Sua coerência é, nas palavras de WALDMAN, como a da árvore, que se transforma, mas não se desloca, de modo que a “biopoesia” de Manoel de Barros é a história de um tema e suas variações. Diante disso, é impossível no pequeno especo desse texto explorar de maneira extensa o problema exposto. o fato, porém, não impossibilita que se discuta, de maneira breve, um tema exemplificador. Por isso, escolhi um dos personagens de Manoel (entre tantos outros), para realizar essa tarefa. Este personagem é O Andarilho. 2. APRESENTANDO O ANDARILHO: 6 Ao trilhar a obra poética de Manoel de Barros é comum cruzarmos com andarilhos solitários colocando um pé atrás do outro em estradas sem fim. Apesar do poeta nos dar a conhecer alguns de seus nomes, umas tantas vezes essas figuras são chamadas apenas pelo epíteto de “andarilho”. Talvez, essa generalização se dê porque o que diferencia uns andarilhos de outros, afora seus nomes, são detalhes minúsculos. Os andarilhos de Manoel, sejam quais forem, são um andarilho, o andarilho: sujeito único e que carrega consigo característica poéticas e favoráveis para reaver ao mundo o estado de poesia. O andarilho não tem casa nem lugar fixo. Tudo o que precisa está por aí: os caminhos e o mundo. Na bolsa, carrega nada mais que “desobjetos”, tais como “pregos enferrujados, pregos de veludo, latas, guizos de cobra para dar sorte e outros amuletos”. Certa vez Manoel chegou a ver até mesmo um pedaço de formiga frita na sacola de Joaquim Sapé. Acreditou, então, que o dito andarilho guardara esta boia para comer depois. Joaquim Sapé era aquele andarilho que tinha o olhar furado de inocência e vestia um “paletó sebento, velho, que teria sido um dólmã que ganhara de algum soldado. O dólmã era bosteado de passarinho”. Joaquim Sapé usava ainda um chapéu de palha, nas palavras de Manoel, também bosteado, e umas calças rasgadas. Os pés, por sua vez, estavam sempre descalços. E assim andava. Já Zarasteu é um andarilho que, segundo Manoel, escreve “em idioleto manoelês archaico. (Idioleto é um dialeto que os idiotas usam para falar às paredes e às moscas)”. Sobre suas andanças, Zarasteu explica que não precisa de fim para chegar. Quando escreve, diz que “quer chegar ao borrão das palavras, ao desperdício delas”. E diz ainda, com sua singular “mania de limpeza”: “para tirar das palavras o ranço das solenidades – usarei bosta”. Segundo Manoel, o idioleto usado por Zarasteu fica perto do coaxo (BARROS, 2010: p.115). Fica próximo, então, da animalidade, do som dos bichos sujeitos à determinação da natureza. Em entrevista, Manoel revelou que seu fascínio por essas figuras vem de uma experiência de infância: Os andarilhos são como Tirésias sem Sófocles. São sábios sem instrução, sem Aristóteles. São poetas que não fazem versos, mas se fazem videntes. Conheci um andarilho na minha infância. É nele que penso quando uso esses seres de personagem. Era o Joaquim Sapé. Andava pelo Pantanal. Nunca se sabia de onde chegava. Com as pernas comia léguas. Certa vez pediu quatro pedaços de couro cru 7 a meu pai. Fez uma mala com alças. Jogava a mala nas costas e ia pelas fazendas. Tinha panela, caneca, pratos, rede, coberta, fósforo, trouxa de mate e um pareio de roupa. Chamavam pra ir embora: botava a casa nas costas e ia. Tinha 12 cachorros. Parava muito na fazenda de meu pai. Eu teria cinco anos quando o conheci. Ouvia a prosa dele no galpão até escurecer. Ele não tinha solidão por dentro. Só por fora. Na estrada os cachorros pegavam caça para ele. Ouvi-lo era um deslumbramento para mim. Era um vidente. Era um poeta. Era um fascínio para os meus cinco anos. Conhecia a voz das pedras e do Sol. Se você é um homem, você sabe a dor do homem – ele dizia. E se você é uma árvore você sabe a dor da árvore. Ele era a natureza (BARROS, 2010-b: p.134). Tal andarilho é sábio, mas não acadêmico. A sabedoria configura-se como uma virtude valorizada nesses personagens, virtude que fora esquecida e relegada em nossa sociedade, onde o conhecimento especializado tem mais legitimidade e status. Esses andarilhos de Manoel são poetas, no sentido mais amplo e filosófico da palavra, porque são próximos da natureza, porque fala com a natureza, escuta a natureza, compreende a natureza, é a natureza. O andarilho realiza uma vontade pessoal. E, mais que isso, é uma fantasia que não existe nesse mundo. É um homem natural. Um tipo ideal a ser atingido. É um modelo de como se pode voltar da cultura à natureza. Deixo aos meus alteregos a tarefa de realizar os sonhos meus frustrados. Coisas que não fui capaz de fazer realizo através deles. Por exemplo: eu quis muito ser andarilho no Pantanal. Mas nunca agi no sentido de ser um andarilho. Então inventei alguns que fizeram isso por mim. Que dormiam debaixo de árvores, que usavam ornamento de trapos e eram aceitos pelos pássaros nas estradas. Eu nunca pude fazer essas coisas porque minha inércia remove montanhas. E porque acho que o andarilho é um ser humano que faz comunhão completa com os orvalhos da manhã, com a tarde e suas garças, com as cores do Sol, e com o chão, e com as águas, e com as chuvas, árvores e ventos. Durante as viajens(sic) sem rumo dos andarilhos eles são instalados na natureza igual se fossem uma aurora, uma pedra, um rio (BARROS, 2010-b: p.155). Nessa passagem, Manoel de Barros destacou a comunhão entre esses personagens e a natureza. Noutro momento ele usa a expressão “intimidades com a natureza”, característica que dota os andarilhos não de conhecimento, mas de sabedoria. E não sabedoria senil, mas “sabedoria infantil”: Falo muito dos andarilhos por motivo que eles têm com a natureza uma tal intimidade que é, em último caso, uma intimidade de Deus. E porque se implanta neles, por esse motivo, uma sabedoria infantil. A ponto que o amanhecer faz glória 8 sobre eles quase todos os dias, como faz os passarinhos. Ao ponto que eles sabem que para exercer a liberdade total eles precisam de ser maiores do que os adultos como os insetos são maiores do que os firmamentos… E porque eles carregam a liberdade deles nos passos que não têm onde parar. Com as águas dos rios, com o Sol, com as pedras, eles dão a mim um exemplo de comunhão. As águas gostam deles, e os dias passam sobre eles sem sobressaltos. Se a gente jogar uma pedra neles só quebra o silêncio deles. O chão respeita seus passos. Eles conhecem os caminhos que as garças percorrem de tarde. Eles sabem moda São Francisco de Assis o canto do sal. São essas intimidades com a natureza que me seduzem nos andarilhos. Eu bem quisera sê-los. Mas eu não tenho essa tanta força de amor (BARROS, 2010-b: p.168-169). No Livro Sobre Nada, há o poema O Andarilho. Nele, Manoel de Barros pôs uma nota de rodapé. O poema apresenta algo geral do que falei até aqui. A nota, entretanto, sugere um mote para uma guinada mais radical no que diz respeito à aproximação do ser humano à natureza: Eu já disse quem sou ele. Meu desnome é Andaleço. Andando devagar eu atraso o final do dia. Caminho por beiras de rios conchosos. Para as crianças da estrada eu sou o Homem do Saco. Carrego latas furadas, pregos, papéis usados. (Ouço harpejos de mim nas latas tortas.) Não tenho pretensões de conquistar a inglória perfeita. Os loucos me interpretam. A minha direção é a pessoa do vento. Meus rumos não têm termômetro. De tarde arborizo pássaros. De noite os sapos me pulam. Não tenho carne de água. Eu pertenço de andar atoamente. Não tive estudamento de tomos. Só conheço as ciências que analfabetam. Todas as coisas têm ser?* Sou um sujeito remoto. Aromas de jacintos me infinitam. E estes ermos me somam. 9 * Penso que devemos conhecer algumas poucas cousas sobre a fisiologia dos andarilhos. Avaliar até onde o isolamento tem o poder de influir sobre os seus gestos, sobre a abertura de sua voz, etc. Estudar talvez a relação desse homem com as suas árvores, com as suas chuvas, com as suas pedras. Saber mais ou menos quanto tempo o andarilho pode permanecer em suas condições humanas, antes de se adquirir do chão a modo de um sapo. Antes de se unir às vergônteas como as parasitas. Antes de revestir uma pedra à maneira do limo. Antes mesmo de ser apropriado por relentos como os lagartos. Saber com exatidão quando que um modelo de pássaro se ajustará à sua voz. Saber o momento em que esse homem poderá sofrer de prenúncios. Saber enfim qual o momento em que esse homem começa a adivinhar ( BARROS, 2010: p.353) Uma questão que quero chamar atenção é precisamente esta: “Saber mais ou menos quanto tempo o andarilho pode permanecer em suas condições humanas”. Em outras palavras: quanto tempo leva para o andarilho se desfazer das regras e valores sociais, de sua dimensão cultural, suas “condições humanas”, e atingir a condição de pura natureza? A pergunta é importante, pois esta via significa exatamente o encontro com uma vida melhor do que esta que se nos oferece. 3. ANDARILHO – O JEITO DE SER LIVRE MODA AVE Em dezembro de 2012, quando Manoel completou 96 anos de idade, a revista Cult publicou uma entrevista inédita, respondida por escrito, e que fora conduzida pelo escritor Douglas Diegues. O bom foi que Douglas, aparentemente, é apaixonado pelos personagens andarilhos, presentes em toda a obra de Manoel, pois ele dedicou mais da metade de suas perguntas ao tema destes sujeitos. Ao responder, Manoel acabou descrevendo de maneira crucial o que caracteriza esses seus personagens: Cult – O que é um andarilho? Manoel de barros – É um mensageiro que me entrega, de graça, o jeito de ser livre moda ave. Cult – Poderia fazer uma descomparação entre a linguagem do poeta – a aventura errática – e o andar dum andarilho? Manoel de barros – O andarilho é um ser desajustado no mundo, por isso provoca estranhezas por onde vai, e o poeta (falo de mim), eu não gosto das normas do idioma, eu procuro fazer distúrbios no idioma. Nós somos insatisfeitos com as 10 normas: ele com as normas da sociedade e eu com as normas da linguagem (desfazer o normal é uma norma poética) (BARROS, 2012). Ambos os personagens desafiam o normal, transgridem a norma, para atingir o poético. Encontrar o jeito de ser livre, a liberdade, exige que se “desfaça” o normal, tanto na língua, quanto na sociedade. Quando Manoel associa a liberdade a não obedecer a normas, cola no andarilho a virtude de ser livre, pois este é desajustado do mundo justamente por não conseguir seguir as normas. Se olharmos para as especulações de Lévi-Strauss sobre a “origem da cultura”, veremos que ele entende cultura como fixação de regras, de normas. O estabelecimento de regras seria o fato variável e não biológico que nos diferenciaria dos demais animais. Para este pensador, a cultura começara, portanto, com a criação da primeira regra: nenhuma análise real permite apreender o ponto de passagem entre os fatos da natureza e os fatos da cultura, além do mecanismo da articulação deles. Mas a discussão precedente não nos ofereceu apenas este resultado negativo. Forneceu, com a presença ou a ausência da regra nos comportamentos não sujeitos às determinações intuitivas, o critério mais válido das atitudes sociais. Em toda parte onde se manifesta uma regra podemos ter certeza de estar numa etapa da cultura. Simetricamente, é fácil reconhecer no universal o critério da natureza. Porque aquilo que é constante em todos os homens escapa necessariamente ao domínio dos costumes, das técnicas e das instituições pelas quais seus grupos se diferenciam e se opõem. Na falta de análise real, os dois critérios, o da norma e o da universalidade, oferecem o princípio de uma análise ideal, que pode permitir – ao menos em certos casos e em certos limites – isolar os elementos naturais dos elementos culturais que intervêm nas sínteses de ordem mais complexas. Estabeleçamos, pois, que tudo quanto é universal no homem depende da ordem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que tudo quanto está ligado a uma norma pertence à cultura e apresenta os atributos do relativo e do particular (LÉVI-STRAUSS, 2011: p.45). Nas palavras de Lévi-Strauss, um modelo cultural universal compõe-se de linguagem, instrumentos, instituições sociais e sistema de valores estéticos, morais ou religiosos. Cada componente deste está eivado de suas regras. Nenhum escapa delas. Mas o andarilho, desajustado por excelência, não se adapta e abandona esse mundo, para livrar-se de todas as regras e ser “livre moda ave”. Desapega-se das coisas e do mundo social por ser apegado à liberdade: Cult – Andarilhos dão flor? 11 Manoel de barros – Conheci um que tinha o gosto de encher os bolsos de gás. Era o Mário Pega Sapo. Ele era mórbido. Gostava de esfregar a barriga fria das gias (sic) no rosto. Esse era um andarilho de cidade. O que caracteriza os andarilhos é o desapego das coisas do mundo. Seguem, sem saber, os conselhos de São Francisco das aves. Eles se apegam à liberdade, ao nada. Cult – Qual a diferença entre andarilhos e mendigo? Manoel de barros – Os mendigos são parados e vivem de esmolas e os andarilhos procuram a liberdade. Os andarilhos do Pantanal, sobretudo, não dependem de esmolas, eles comem frutas selvagens, pescam, abatem caça, etc. não sei se estou certo. Pode ser que os mendigos sejam mais livres. Eles sabem. Eu não sei (BARROS, 2012). Esse é, inclusive, o motivo pelo qual, entre os pássaros, o urubu não é considerado um genuíno andarilho: Cult – Existem passarinhos andarilhos? Sabe a biografia de algum? Quais outros bichos do mato são andarilhos? Manoel de barros – Passarinho mais andarilho que conheço é andorinha mesmo. Elas mudam de lugar nas estações do ano. Depois vêm voltando. Urubus dizem que viajam muito, mas só viajem quando sentem presença de carniça. Não seriam nunca andarilhos legítimos porque os andarilhos legítimos não são interesseiros. Viajam por destinação. Por vocação de nada ter (BARROS, 2012). O andarilho de Manoel é uma crítica ácida ao autoritarismo das relações sociais. O foco deles é a liberdade. Sempre considerados mais próximos do estado de natureza, do estado de coisa, deixa sugerido que nunca existe liberdade no “estado de sociedade”. E, ainda, que, se o estado de natureza é o estado poético por excelência, que não há como chegar ao estado poético enquanto se estiver carente de liberdade, e que tal estado só existe fora da sociedade. A especulação de Lévi-Strauss (“Onde acaba a natureza? Onde começa a cultura?”), seriam respondidas por Manoel de Barros assim: a natureza acaba onde a liberdade (e, consequentemente, a poesia) acaba; esse fim é o começo da cultura. 12 Em que consiste a liberdade dos andarilhos? Consiste em não ter normas, fronteiras, finalidades, necessidade de acúmulo, de comportamento condicionado, de produzir, etc. É a liberdade de apenas ser, como uma árvore apenas é. Cult – O que os caminhos ensinam aos andarilhos? Manoel de barros – Acho que os caminhos dos andarilhos ensinam a não chegar, a ir em frente com o corpo até ser planta de novo, até ser pedra de novo. Isso prega a renovação. (…) Cult – Andarilhos podem virar árvore? Manoel de barros – Bernardo virou árvore várias vezes. Ele tinha dor de árvore. Solidão de árvore seca. Tristeza de árvore sem pássaro. Bernardo passou de árvore a pássaro, de pássaro a rio, de rio a sol, de sol a gente. Vagou muitos anos sem identidades. Aliás, andarilho não tem identidade, pode de repente adquirir gosto de flor. Andarilho é plural sempre (BARROS, 2012). É neste sujeito plural que se encontra uma das pontas da crítica social, da poesia de Manoel de Barros, à nossa sociedade. Neste instante, crítica à ausência de liberdade, por meio da relação entre as noções de natureza e cultura. Importante se faz destacar que até mesmo a noção de “liberdade” do andarilho de Manoel de Barros foge do lugar comum, como no poema O Olhar: Ele era um andarilho. Ele tinha um olhar cheio de sol de águas de árvores de aves. Ao passar pela Aldeia Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos. O silêncio honrava a sua vida. (BARROS, 2010: p.445) A “liberdade em trapos” não é uma liberdade esfarrapada. É, sim, a assertiva de que a liberdade não é uma conquista do paletó e da gravata. A liberdade não é a imagem 13 mercadológica do sucesso. A liberdade não é um novo emprego bem remunerado nem o triunfo comemorado em traje de gala. Quem se deixa a trapos, não por tristeza, mas por desapego aos bens, às regras, ao status, libertou-se. De que? Ora, dos valores e regras sociais. A ligação entre a liberdade, conquistada pelos andarilhos de Manoel de Barros, e o estado de natureza, é justamente o fato de tal liberdade só poder ser alcançada entrando-se nesse estado. A liberdade, portanto, seria uma escolha; escolha de abandonar o mundo sociocultural. De se abandonar como humano, e caminhar para o rumo do nada, até ser árvore de novo. Essas são algumas das considerações que desenvolvo em minha pesquisa. Para finalizar, gostaria de dizer que minha maior motivação para realizar esse estudo e discutir esse problema é ajudar a combater com firmeza a ideia de que os poetas estejam emudecendo. Em texto publicado em 1970, intitulado justamente Os Poetas Estão Emudecendo?, Hans-Georg Gadamer colocou que a questão principal “não é a constatação de que os poetas estejam emudecendo, mas antes saber se os nossos ouvidos ainda são sutis o suficiente para ouvir” (GADAMER, 2010: p.394). Uma obra como a de Manoel, poeta que busca e declara ter como exclusiva preocupação a expressão da linguagem, que afirma que seu “negócio é com a palavra”, é ao mesmo instante uma das mais ferrenhas críticas à nossa condição social e talvez pouco se tenha notado isso. É uma crítica profunda, e política, mas não panfletária e muito menos partidária. Não é clichê. E por isso não pode ser entendido como “engajado”, como tradicionalmente se entende esse termo. E, no entanto, é uma reivindicação de liberdade e crítica às agruras que vivemos em sociedade muito mais contundente do que a de alguns pretensos engajados, repetidores de protestos consagradamente prontos, sejam poetas, militantes, ou sujeitos razoáveis.
Criado em: 9/1 18:02
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Jorge Santos/Joel Matos |
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