Manual de versificação
sem nome
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Manualzinho de versificação, por Matheus Mavericco[/url]

não se deixem enganar pelo título Um vasto e erudito tratado sobre o assunto, acho que ele não entende que blogs não são para a publicação de um livro por post. Realmente formidável e agradabilíssima leitura, embora venha a levar um tempo até terminar. Como não é estritamente técnico, vou lendo aos poucos.

Esse sujeito conheci anos atrás quando postava haikais e poemas em sites por aí e desde então acompanho vez ou outra. Parece ter sumido com seus poemas e enveredado mais por traduções e crítica, com uma prosa e sapiência que dá gosto de ler. Diz-se jovem e estagiário, mas tenho minhas dúvidas de que tanta experiência caiba em um.

Criado em: 8/7/2017 16:41
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Re: Manualzinho de versificação

Membro desde:
7/8/2009 23:29
De Brasil
Mensagens: 16070
Muito bom texto, de fácil compreensão, que instiga e ensina. Ontem li uma parte boa. Apenas não entendi por qual motivo o autor não explicou a escansão do verso nas palavras "dava ocasião". Ele ensinou a elisão de duas vogais, " da/va o/ca/sião", mas não explicou o porquê da elisão em "sião" pois se pronuncia as sílabas separadamente si/ão, já que as duas vogais são tônicas, acho eu. Também reparei que nos versos de Alberto de Oliveira, "nas águas da corrente", o autor do texto separou assim: " nas/ á/guas/ ..." . No blog de Maria Lúcia Maragon eu vi assim: "A/s a/ves/ que a/qui/ gor/jei/am". Repare na primeira sílaba, como o "s" dá som de z com o "a", " a/za/ves..." .Então a sílaba poética se divide de forma diferente. O verso de Alberto de Oliveira, seguindo esse esquema, deveria ser assim: " na/s a/ guas...". Mas, se reparar, tanto nessa forma como naqueloutra, a contagem é a mesma e não se erra. Adiantemos. No texto proposto, até onde eu li, não vi os críticos nem o autor, chegarem a um consenso do que é poesia ou sequer do que é um verso. Se verso é musicalidade, se se tem a rigidez da métrica e a dança das tônicas, nem sequer tocaram na riqueza dos sentimentos. Acho interessante a disciplina, mas como diria Machado de Assis, mais a solta, sem suspensórios. Também o poema "Os sapos" dito na Semana de Arte Moderna, em 1922, de Manuel Bandeira , já indicava o desligamento desse "engessamento" causado pelas regras tão rígidas como queriam os Parnasianos que são ironizados no poema. Veja o poema, que, apesar de tudo usa a medida antiga, a redondilha menor: "Enfunando, os papos

Saem da penumbra,

Aos pulos, os sapos.

A luz os delumbra.



Em ronco que a terra,

Berra o sapo-boi:

— “Meu pai foi à guerra!”

— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”



O sapo-tanoeiro

Parnasiano aguado,

Diz: — ” Meu cancioneiro

É bem martelado.



Vede como primo

Em comer os hiatos!

Que arte! E nunca rimo

Os termos cognatos.



O meu verso é bom

Frumento sem joio.

Faço rimas com

Consoantes de apoio.



Vai por cinquenta anos

Que lhes dei a norma:

Reduzi sem danos

A formas a forma.



Clame a saparia

Em críticas céticas:

Não há mais poesia,

Mas há artes poéticas…”



Urra o sapo-boi:

— “Meu pai foi rei” — “Foi!”

— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”



Brada em um assomo

O sapo-tanoeiro:

— “A grande arte é como

Lavor de joalheiro.



Ou bem de estatutário.

Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,

Canta no martelo.”



Outros, sapos-pipas

(Um mal em si cabe),

Falam pelas tripas:

–“Sei!” — “Não sabe!” — “Sabe!”



Longe dessa grita,

Lá onde mais densa

A noite infinita

Verte a sombra imensa;



Lá, fugido ao mundo,

Sem glória, sem fé,

No perau profundo

E solitário, é



Que soluças tu,

Transido de frio,

Sapo-cururu

Da beira do rio…



1918

—-



Os melhores poemas de Drummond são libertos e estão " enraigados" na memória do povo da mesma forma do " Batatinha quando nasce...". Nada pode "tolher" o sentimento. Mais importante do que qualquer regra é a estética ( não as estatísticas) e o sentido. As regras ajudam na estética. Mas as regras não devem nos reger no ato de "poetar". Já quebraram os grilhões e essas espessas correntes que nos prendiam, há quase um século atrás. Elas, as regras, servem para o olhar dos críticos, não para o leitor do dia a dia que só procura algo que goste para que possa se distrair na falta do que fazer ou por prazer. No mais, hoje em dia, com toda essa correria e dinamismo, poucos são os leitores de poesia. Quase não se vende livros. Então quem pisa nesse terreno é um público seleto e apaixonado. Alberto de Oliveira, Parnasiano de carteirinha, seguindo todas as regras rígidas, foi considerado um poeta menor ( já não pode se dizer o mesmo de Olavo Bilac, nem de Raimundo Corrêa). Vou continuar lendo o texto até o fim. Obrigado por trazer um pouco de luz para o site. É benéfico para qualquer aspirante a "poeta" dominar o conhecimento da língua escrita ( e falada) e das rígidas regras. Todavia, segui-las...

Criado em: 9/7/2017 12:03
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Gyl Ferrys
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Re: Manualzinho de versificação
sem nome
um post imenso do qual não li ainda nem metade. Porém, antes de enveredar por regras, por versos, por métricas e ritmos, ele se pergunta por exemplos vários o que é o rádioe da poesia em si, e umas primeiras definições é uma das mais sucintas e felizes, pelo poeta francês Paul Valéry:


Como, portanto, sei que não vou conseguir definir o que seria poesia de maneira que contente a mais de cinco pessoas no aposento (supondo que existam mais de cinco, é claro), gostaria, apenas pra não ficarmos nesse tipo de desolação, de exibir aquela que é a minha preferida: a que o poeta francês Paul Valéry expôs em seu Tel Quel: "Le poeme ― cette hésitation prolongée entre le son et le sens". O poema: esta hesitação prolongada entre o som e o sentido. A intuição, é certo, ecoa na basílica mallarmaica, onde se lê que o verso possui uma "têmpera alternada entre o sentido e a sonoridade", bem como na dantesca, que concebe o poema como uma "invenção disposta em figuras e música". Mas segue admirável, não acha? Afinal de contas não basta achar que o poema se perfaz apenas de sentido, tratando a forma como um biscoito chinês a que você descarta logo que descobre o bilhetinho. Em muitos casos o que é magnífico é a forma com que aquilo foi dito, especialmente se considerarmos quão monótona tende a ser a lenga-lenga dos poetas.


ele dá outros bons exemplos. Tinha um livro de José Miguel Wisnik sobre música e todo o fenômeno sonoro chamado O Som e O Sentido, muito bom, aliás. Talvez tenha tirado o título daí.

não vi todos os exemplos dele de escansão, mas azáguas realmente é tão de lei quanto ozói. Bola fora dele. "ocasião" ele explicou como ditongos podem virar hiatos e vice versa, usando a própria palavra "hiato": embora gramaticalmente fique hi/a/to, como a átona hi é seguida da tônica á, o i segue elidido na pronúncia, vira um ditongo crescente: h'a/to, o/ca/s'ão. Eu frequentemente elido ditongos crescentes. O Bandeira elide o hiato do sapo também. E certamente não o fez em prol da ignorância.

Mesmo na poesia livre de metro, há o ritmo dado pelas sílabas e pela forma como o poeta arranja os versos (aliás, interessante a origem do termo como "retorno"). Os poemas de Drummond na boca do povo parecem ser os mais regulares, como a pedra, aquele em que todo mundo ama todo mundo, etc. Poema pode ter metro irregular, mas o ritmo dado pelas sílabas está sempre lá.

poesia é um fenômeno sonoro próprio da fala, da declamação, do coaxar, dos ecos do ego. Talvez só poemas concretos enquanto fenômeno visual numa página sejam realmente livres. Ou talvez liberdade seja só ilusão mesmo, sonora ou ótica. Quando hesito entre som e sentido prolongo o êxito tido.

Manualzinho muito útil, mas mais que útil, enriquecedor...

Criado em: 9/7/2017 16:35
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