Poemas : 

o lugar da besta

 


não tirem o vento às gaivotas - sampaio rego sou eu


este livro que trazia toda a esperança nas primeiras páginas. é afinal um bluff. sabia-o desde o início. há coisas na vida que encontramos ao nascer. talvez uma marca do diabo – já procurei por todo o meu corpo o número da besta. encontrei apenas uma verruga. que uma vez um médico disse. que nenhum mal ao mundo viria dali – não acreditei. cogitei que era ali a porta de toda a maldade. aquela verruga tinha mau aspecto. parecia a porta da bruxa má. aquela que um dia ofereceu a maçã à branca de neve – porque é que eu tenho que saber das coisas se ainda não nasceram aos meus olhos? vejo primaveras que nunca floriram. e campos de descanso ainda sem os mármores cinzas. que emprestam dignidade a vidas que nunca existiram – armei o dedo indicador. agucei-o numa aguça que guardei desde a escola primária. a primeira que me aguçou a vida. atarraxei-o na verruga maldita – procurei lúcifer, tinha esperança de o encontrar sentado numa cadeira. que eu sempre sonhei que havia dentro de mim. de couro vermelho. com dois bilros apontados para uma entrada de luz. que sempre faço questão de manter como saída de emergência de uma qualquer ideia que agonize – mas não. tinha apenas um bilhete a dizer que tinha saído e voltava mais tarde. não dizia quando. apenas que voltava mais tarde – vou estar atento. sei que um dia vou dar com as janelas abertas. e as passadeiras a arejar. agora vem poucas vezes. penso que faz de mim uma segunda casa – de vez em quando. apenas quer saber se eu ainda agonizo. se me contorço com as dores que me entregou ao nascer – nunca me dei bem com este homem que um dia foi aliado de deus – já não lhe quero mal. afinal. pouco me fala. penso que sabe tudo de mim. tudo. até daqueles que andam à minha volta – tirei o dedo da verruga. está igual. feia. disforme. perdeu a forma altiva com o tempo. está moribunda. salvam-se lágrimas de sangue que encerram como lacre a porta para outra existência – vou ver o mar. hoje. há por lá uma estrela de um mar longínquo. veio dentro de uma garrafa de vodka. traz uma esperança nova.
 
Autor
sampaiorego
 
Texto
Data
Leituras
946
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
6 pontos
6
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 06/06/2010 21:52  Atualizado: 06/06/2010 21:52
Colaborador
Usuário desde: 10/02/2007
Localidade: braga.
Mensagens: 1199
 o lugar da besta ao sampaio
tempos houve em que julguei ver a besta todas as manhãs do outro lado do espelho agora acho que vejo a branca de neve.

eh eh eh


gostei, como sempre.
um beijo,
mar.


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 06/06/2010 22:07  Atualizado: 06/06/2010 22:07
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: o lugar da besta
Gostei muito do seu texto.
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 06/06/2010 22:39  Atualizado: 06/06/2010 22:39
Colaborador
Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: o lugar da besta para sampaiorego
eu que gosto de livros & vodka sou,se calhar,muito suspeita para dizer seja o que for.ai a vida...e o que esperamos dela.nunca é o que nos traz.culpa de quem?...dela não é que se cala e segue imperturbável.quer lá saber das nossas manias,esperanças e desilusões....ehehe

beijos.adoro ler-te.

alex