Enviado por | Tópico |
---|---|
Nanda | Publicado: 22/09/2013 16:47 Atualizado: 22/09/2013 16:47 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11191
|
![]() Isabel,
Uma mensagem cálida e perfumada do Douro. Sabor a barro e a vinha. Beijinho Nanda |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
cabide | Publicado: 22/09/2013 17:41 Atualizado: 22/09/2013 17:41 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 22/01/2013
Localidade:
Mensagens: 108
|
![]() as águas do rio cheiram mal.
|
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 07/09/2015 12:33 Atualizado: 07/09/2015 12:33 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() ![]() |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
Juanito | Publicado: 06/05/2020 23:02 Atualizado: 06/05/2020 23:02 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 26/12/2016
Localidade: España
Mensagens: 3018
|
![]() Lindo demais, querida amiga!!
Apenas conheço o Douro quando ele passa por Porto, mas esse lugares de que você fala devem ser muito lindos. Mesmo não os conhecendo gosto muito do vinho verde e do Porto. Meus parabéns e um abraço!! |
Enviado por | Tópico |
---|---|
nereida | Publicado: 07/05/2020 02:12 Atualizado: 07/05/2020 02:12 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 27/08/2017
Localidade: São Paulo
Mensagens: 1857
|
![]() Querida Isabel,tão lindo que da vontade de conhecer.
Quem sabe um dia... Abraço Dourado. |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 07/05/2020 11:26 Atualizado: 07/05/2020 11:26 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() PORTWINE
O Douro é um rio de vinho que tem a foz em Liverpool e em Londres e em Nova-York e no Rio e em Buenos Aires: quando chega ao mar vai nos navios, cria seus lodos em garrafeiras velhas, desemboca nos clubes e nos bars. O Douro é um rio de barcos onde remam os barqueiros suas desgraças, primeiro se afundam em terra as suas vidas que no rio se afundam as barcaças. Nas sobremesas finas, as garrafas assemelham cristais cheios de rubis, em Cape-Town, em Sidney, em Paris, tem um sabor generoso e fino o sangue que dos cais exportamos em barris. As margens do Douro são penedos fecundados de sangue e amarguras onde cava o meu povo as vinhas como quem abre as próprias sepulturas: nos entrepostos dos cais, em armazéns, comerciantes trocam por esterlinos o vinho que é o sangue dos seus corpos, moeda pobre que são os seus destinos. Em Londres os lords e em Paris os snobs, no Cabo e no Rio os fazendeiros ricos acham no Porto um sabor divino, mas a nós só nos sabe, só nos sabe, à tristeza infinita de um destino. O rio Douro é um rio de sangue, por onde o sangue do meu povo corre. Meu povo, liberta-te, liberta-te!, Liberta-te, meu povo! – ou morre. Joaquim Namorado, in 'Antologia Poética' |
|
|
|
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 07/05/2020 14:41 Atualizado: 07/05/2020 14:41 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() «O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta».
Miguel Torga in “Diário XII” |
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 08/05/2020 12:26 Atualizado: 08/05/2020 12:26 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() ![]() Temos que voltar a fazer..... |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 12/05/2020 12:44 Atualizado: 12/05/2020 12:44 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() SÃO LEONARDO DE GALAFURA
À proa dum navio de penedos, A navegar num doce mar de mosto, Capitão no seu posto De comando, S. Leonardo vai sulcando As ondas Da eternidade, Sem pressa de chegar ao seu destino. Ancorado e feliz no cais humano, É num antecipado desengano Que ruma em drecção ao cais divino. Lá não terá socalcos Nem vinhedos Na menina dos olhos deslumbrados; Doiros desaguados Serão charcos de luz Envelhecida; Rasos, todos os montes Deixarão prolongar os horizontes Até onde se extinga a cor da vida. Por isso, é devagar que se aproxima Da bem-aventurança. É lentamente que o rabelo avança Debaixo dos seus pés de marinheiro. E cada hora a mais que gasta no caminho É um sorvo a mais de cheiro A terra e a rosmaninho! Miguel Torga |
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 01/06/2020 18:38 Atualizado: 01/06/2020 18:38 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() ENTRE O SONO E SONHO
Entre o sono e sonho, Entre mim e o que em mim É o quem eu me suponho Corre um rio sem fim. Passou por outras margens, Diversas mais além, Naquelas várias viagens Que todo o rio tem. Chegou onde hoje habito A casa que hoje sou. Passa, se eu me medito; Se desperto, passou. E quem me sinto e morre No que me liga a mim Dorme onde o rio corre — Esse rio sem fim. Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" |
|
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 01/06/2020 19:13 Atualizado: 01/06/2020 19:16 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() ![]() O rio Douro é poesia que lava a alma a quem o ama |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 26/09/2020 15:47 Atualizado: 26/09/2020 15:47 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() “A Bucólica Margem”
Sento-me então a olhar o rio, os pensamentos formam cardumes que contra a corrente se insurgem mas as águas são inexoráveis; olhando-as, a superfície cintila, propaga-se como se fossem notas de um piano na garupa de um cavalo que se dirige para o mar. O Douro bebe as cores da cidade, sobre elas eu abro o coração em que te encontras, as colinas emolduram as raizes que à terra nos ligam. Para os meus olhos é momento de pausa: as coisas que interrogo não resistem à maré, não dão respostas; perdem-se no mar como tudo o que a memória não reteve. Egipto Gonçalves |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 26/09/2020 16:13 Atualizado: 26/09/2020 16:15 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 14/10/2020 19:23 Atualizado: 14/10/2020 19:24 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
CatyLovely | Publicado: 14/10/2020 21:28 Atualizado: 14/10/2020 21:28 |
Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 28/02/2020
Localidade:
Mensagens: 20
|
![]() património mundial
|
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 17/10/2020 10:12 Atualizado: 17/10/2020 10:12 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() DOURO, POESIA
Aqui Douro. O Paraíso do vinho e do suor. Dum rio no Verão ossudo e magro como as pessoas, quando a alma se escoa pelos poros; rio também barrento, a cor da terra, para que a alma seja inteira; rio das grandes cheias, do abraço final de troncos de homens, de árvores e sonhos; dum rio agora jovem: a água demora o seu espelho nas barragens, e os barcos cheios de olhos filmam a história dum deus desconhecido. Paraíso dos montes sobre montes, agressivos mas belos, montes que se agigantam, ombros vivos dos violentos ventos e do sol, e montes que se dobram e desdobram com os ribombos, abrindo ribanceiras e fundões. Oh Cachão da Valeira, sepultura de incêndios! Paraíso das hortinhas e pomares: a água é menos esquiva para que os homens sujem bem as mãos de encaixotar num sonho meia dúzia de laranjas, enquanto os melros pintam a carvão sua risada galhofeira e livre. Paraíso dos nove meses de Inverno e três de inferno: Outubro a Junho, é o nevoeiro sanguessuga que morde até aos ossos e às palavras; Julho a Setembro, é o sol em lâmina que fere os olhos até ao pensamento. Paraíso do suor, dos homens de camisas empastadas, a terra a queimar os lábios e a torcer-lhes a fala em raivas humaníssimas, cavando, neles cavando o desespero e o amor também (a noite e o luar) porque no fim de tudo a terra é flor e corpo de mulher. Paraíso da aguarela forte das vinhas que entram em ondas verdes pelos olhos. Vinhas que estão na vida desta gente como grito nos lábios, como flor no desejo, como o olhar nos olhos, vinhas, sei lá, que são a própria vida desta gente. Paraíso dourado das vindimas! Então o Douro é d’ouro. Ouro no sol que põe tudo em labaredas: os cachos e as nuvens de poeira espantadas pelas patas dos cavalos e dos camiões, ron-ron, ladeira acima. Ouro na tagarelice das mulheres que vindimam as uvas e as ideias; um certo ouro no silêncio dos homens que em fila e ferro transportam os cestos. Ouro ainda no regresso do trabalho, ao som dum bombo, duma concertina. Ouro nos cestos, nos lagares, nas pipas, ouro, ouro, suado de sangue, ouro! Ouro talvez nos cálices de quem veio de longe assistir da janela. Ah Paraíso dourado das vindimas, do vinho quente, vinho-gente, que cintila, que é suor e sangue e sol engarrafado! Paraíso também das romarias; Da Senhora da Piedade, do Viso e dos Remédios: gente de gatas como animais porque a Senhora interveio e ante o céu somos uma coisa qualquer por acabar. Há um homem que leva uma facada, mas há também ex-votos, estrelas a germinar nos olhos. Paraíso das sete ermidas! – o céu gotejando no cimo dos montes. De castros e ruínas – o vento do passado colando-se ao rosto. Das minas que devassam o abismo – fui à boca de uma em criança e recuei como se tivesse visto todos os dentes da bicha-das-sete-cabeças. Paraíso dos caminhos tortuosos – pois Deus escreve direito por linhas tortas. Dos duendes nocturnos – ninguém chegue à janela quando passam. Das mouras encantadas – o afiançou minha avó: há uma que se chama Maria e é linda, linda como as manhãs de Junho. Paraíso dos barrancos inconcebíveis, das rogas e dos silêncios, do grandioso silêncio das montanhas! Paraíso! Paraíso! Oh cântico de pedra à esperança! ANTÓNIO CABRAL |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntónioFonseca | Publicado: 17/10/2020 12:37 Atualizado: 17/10/2020 12:37 |
Colaborador
![]() ![]() Usuário desde: 31/05/2013
Localidade:
Mensagens: 1295
|
![]() ![]() As virtudes perdem-se no interesse, tal como os rios no mar. François La Rochefoucauld ![]() |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 22/10/2020 09:39 Atualizado: 22/10/2020 09:39 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() Serenata ao Douro
Ao luar, o Douro dança Esquecendo as mágoas Sem mais lembrança Acalentando, jovens sonhos de estudantes Enamorados, pelo olhar de uma donzela Que os faz cantar assim. Essas ruas velhas são o berço que me embalam noite dia Essas casas sóbrias são senhoras com olhares de nostalgia É, noite cerrada, pela calçada Desce à ribeira. O Porto acorda, raiado e fresco Sentindo orgulho, em cada gesto Em cada casa, loja, tasca ou viela No olhar de uma criança No pregão de uma varina Que teima em desvendar. O Porto namora às escondidas com as águas desse rio Lança o seu olhar de luz corada que ilumina o casario Já, é madrugada, pela calçada Desce à ribeira. de Tuna Feminina de Letras |
|
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 18/11/2020 10:39 Atualizado: 18/11/2020 10:39 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() “Nasci no Porto”
Nasci no Porto. (…) Ali o cais, a Ribeira, os rostos, as vozes, os gritos, os gestos. Uma beleza funda, grave, rude e rouca. (…) Histórias de naufrágios, de barcos perdidos, de navios encalhados. Por isso nas noites de temporal se rezava pelos pescadores. Ouvia-se ao longe o tumulto do mar onde navegavam os pequenos barcos da Aguda tentando chegar à praia. Quando a trovoada estava próxima, a luz apagava-se. Então se acendiam velas e se rezava a Magnífica. (…) Porque nasci no Porto sei o nome das flores e das árvores e não escapo a um certo bairrismo. de Sophia de Mello Breyner Andresen |
Enviado por | Tópico |
---|---|
CarolinaFonseca | Publicado: 18/11/2020 10:48 Atualizado: 18/11/2020 10:48 |
Da casa!
![]() ![]() Usuário desde: 15/08/2018
Localidade:
Mensagens: 237
|
![]() |
Enviado por | Tópico |
---|---|
AntonioCosta | Publicado: 26/11/2020 09:01 Atualizado: 26/11/2020 09:01 |
Super Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 02/05/2020
Localidade:
Mensagens: 181
|
![]() “Balada do Rio Douro”
Que diz além, além entre montanhas, O rio Doiro à tarde, quando passa? Não há canções mais fundas, mais estranhas, Que as desse rio estreito de água baça!… Que diz ao vê-lo o rosto da cidade? Ó ruas torturadas e compridas, Que diz ao vê-lo o rosto da cidade Onde as veias são ruas com mil vidas?… Em seus olhos de pedra tão escuros Que diz ao vê-lo a Sé, quase sombria? E a tão negra muralha à luz do dia? E as ameias partidas sobre os muros? Vergam-se os arcos gastos da Ribeira… […] E o rio passa torturado, aflito, Sulcando sempre o seu perfil nas almas!… de Pedro Homem de Mello |
Enviado por | Tópico |
---|---|
CarolinaFonseca | Publicado: 26/11/2020 09:44 Atualizado: 26/11/2020 09:44 |
Da casa!
![]() ![]() Usuário desde: 15/08/2018
Localidade:
Mensagens: 237
|
![]() |
Enviado por | Tópico |
---|---|
SoledadViñas | Publicado: 28/12/2020 10:38 Atualizado: 28/12/2020 10:38 |
Muito Participativo
![]() ![]() Usuário desde: 14/12/2020
Localidade:
Mensagens: 52
|
![]() A ORILLAS DEL DUERO
Mediaba el mes de julio. Era un hermoso día. Yo, solo, por las quiebras del pedregal subía, buscando los recodos de sombra, lentamente. A trechos me paraba para enjugar mi frente y dar algún respiro al pecho jadeante; o bien, ahincando el paso, el cuerpo hacia adelante y hacia la mano diestra vencido y apoyado en un bastón, a guisa de pastoril cayado, trepaba por los cerros que habitan las rapaces aves de altura, hollando las hierbas montaraces de fuerte olor ?romero, tomillo, salvia, espliego?. Sobre los agrios campos caía un sol de fuego. Un buitre de anchas alas con majestuoso vuelo cruzaba solitario el puro azul del cielo. Yo divisaba, lejos, un monte alto y agudo, y una redonda loma cual recamado escudo, y cárdenos alcores sobre la parda tierra ?harapos esparcidos de un viejo arnés de guerra?, las serrezuelas calvas por donde tuerce el Duero para formar la corva ballesta de un arquero en torno a Soria. ?Soria es una barbacana, hacia Aragón, que tiene la torre castellana?. Veía el horizonte cerrado por colinas oscuras, coronadas de robles y de encinas; desnudos peñascales, algún humilde prado donde el merino pace y el toro, arrodillado sobre la hierba, rumia; las márgenes de río lucir sus verdes álamos al claro sol de estío, y, silenciosamente, lejanos pasajeros, ¡tan diminutos! ?carros, jinetes y arrieros?, cruzar el largo puente, y bajo las arcadas de piedra ensombrecerse las aguas plateadas del Duero. El Duero cruza el corazón de roble de Iberia y de Castilla. ¡Oh, tierra triste y noble, la de los altos llanos y yermos y roquedas, de campos sin arados, regatos ni arboledas; decrépitas ciudades, caminos sin mesones, y atónitos palurdos sin danzas ni canciones que aún van, abandonando el mortecino hogar, como tus largos ríos, Castilla, hacia la mar! Castilla miserable, ayer dominadora, envuelta en sus andrajos desprecia cuanto ignora. ¿Espera, duerme o sueña? ¿La sangre derramada recuerda, cuando tuvo la fiebre de la espada? Todo se mueve, fluye, discurre, corre o gira; cambian la mar y el monte y el ojo que los mira. ¿Pasó? Sobre sus campos aún el fantasma yerta de un pueblo que ponía a Dios sobre la guerra. La madre en otro tiempo fecunda en capitanes, madrastra es hoy apenas de humildes ganapanes. Castilla no es aquella tan generosa un día, cuando Myo Cid Rodrigo el de Vivar volvía, ufano de su nueva fortuna, y su opulencia, a regalar a Alfonso los huertos de Valencia; o que, tras la aventura que acreditó sus bríos, pedía la conquista de los inmensos ríos indianos a la corte, la madre de soldados, guerreros y adalides que han de tornar, cargados de plata y oro, a España, en regios galeones, para la presa cuervos, para la lid leones. Filósofos nutridos de sopa de convento contemplan impasibles el amplio firmamento; y si les llega en sueños, como un rumor distante, clamor de mercaderes de muelles de Levante, no acudirán siquiera a preguntar ¿qué pasa? Y ya la guerra ha abierto las puertas de su casa. Castilla miserable, ayer dominadora, envuelta en sus harapos desprecia cuanto ignora. El sol va declinando. De la ciudad lejana me llega un armonioso tañido de campana ?ya irán a su rosario las enlutadas viejas?. De entre las peñas salen dos lindas comadrejas; me miran y se alejan, huyendo, y aparecen de nuevo, ¡tan curiosas!... Los campos se obscurecen. Hacia el camino blanco está el mesón abierto al campo ensombrecido y al pedregal desierto. Antonio Machado Espero que te guste besos |