Poemas : 

Como derribei o marco da divisão

 
Tags:  cantoria de viola  
 
Eu sempre ouvia falar
no Marco da Divisão
construído para ser
uma fortificação
para a cantoria ter
um apenas campeão

O poeta que ficasse
nesse forte alojado
por colegas da viola
não seria derrotado
porque nunca se veria
seu castelo derribado

Mas quando o encontrei
não vi uma grande obra
e para lhe derribar
tinha talento de sobra
O leitor já vai saber
como findou a manobra

Pra chegar nesse castelo
uma floresta escura
precisei atravessar
aceitando a aventura
com sua fauna selvagem
testando minha bravura

Um enxame de abelhas
de uma colméia gigante
apareceu no caminho
para mim não ir adiante
Enfrentei até leão
um urso e um elefante

Eu vi as garras do urso
e os dentes do leão
Nas abelhas furiosas
em cada uma o ferrão
juntos com o elefante
vindo em minha direção

As abelhas já estão
no meu sítio dando mel
Foi preciso aumentar
as flores do meu vergel
pois a colméia gigante
produz geléia a granel

Eu já deixei o leão
em um parque da cidade
Em um circo itinerante
o urso é a novidade
Nem parece que um dia
mostraram ferocidade

Do elefante africano
já digo qual foi o fim
Ele está domesticado
e comendo amendoim
E depois que o vendi
só fiquei com o marfim

Mas saindo da floresta
avistei a fortaleza
com arqueiros escondidos
nas ameias pra defesa
Resolvi ali fazer
um ataque de surpresa

Descobri que o castelo
por um fosso era cercado
e com muitos jacarés
só com dente afiado
pra impedir o cantador
de chegar do outro lado

Esse fosso perigoso
eu atravessei nadando
e cada um jacaré
que perto ia chegando
só com golpes de pexeira
um a um fui liquidando

Chegando na outra beira
eu já tinha um boné
uma luva em cada mão
e uma bota em cada pé
tudo isso costurado
com couro de jacaré

Os sentinelas me viram
chamando a artilharia
eram cinquenta arqueiros
para cada bateria
que lançava suas flechas
caprichando a pontaria

Antes de ser atingido
usando só um martelo
dei uma forte pancada
na muralha do castelo
sacudindo a estrutura
feito vara de marmelo

Os arqueiros assustados
fugiram em disparada
e deixando a fortaleza
totalmente abandonada
não ficou nenhum vigia
protegendo a entrada

Na frente desse castelo
tinha um pesado portão
mas o pontapé que dei
foi um tiro de canhão
Só deixei a lenha seca
empilhada ali no chão

E entrando no castelo
não achei o construtor
Por certo tinha fugido
pra não ver o vencedor
Nem foi preciso testar
meu estro de cantador

Conforme fui avisado
procurei por um gigante
que estaria no castelo
e era forte o bastante
para ser um defensor
perigoso e atuante

Encontrei só um anão
que para mostrar o zelo
dava golpes acertando
apenas meu tornozelo
Era daqueles que o pé
não alcança o escabelo

Derribei todas paredes
dessa rude construção
A torre botei abaixo
dando só um empurrão
Só ficaram as ruínas
do Marco da Divisão

Do que foi a fortaleza
não restou nem a metade
Entre todos os poetas
não há mais rivalidade
No lugar já levantei
o Marco da Amizade

E nesse novo castelo
se promove a cantoria
Tem poeta declamando
ou cantando em parceria
mas no fim do festival
quem vence é a poesia
 
Autor
CarlosAle
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