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Rogério Beça | Publicado: 09/10/2018 09:48 Atualizado: 25/04/2020 07:43 |
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Re: Menor crença no tempo
Carpe diem.
"sou eu quem escreve os poemas mais bonitos" já disseste num tom desafiador, irónico, fingido, colocando o leitor na pele de quem procura a beleza das rimas, das ideias, sem ter bem a certeza do que é belo. Há beleza quanto baste num murro no estômago. Depois atiras-te sem medo ao sol. Com e sem.. De como hão luzes que nos empurram definitivamente para o abismo. Nos dão vida, onde muitas vezes não devia de haver. Fez-me pensar na "casa branca" de Sophia de Mello Breyner Andresen, na qual faço uma leitura de a realidade do visível nem sempre é o que queremos ou precisamos (escrito em pleno estado novo), mais vale a noite que ela saúda, ou o escuro. O que faríamos sem a iluminação nocturna. Imagens dos egípcios e o seu deus Amon-Rá ou de Apolo, nos gregos. De como o sol é bonança e colheitas fartas. Neste teu caso apresentas um e condenas o apresentado no mesmo momento. Num final fortíssimo. Agora o tempo. Vi em zapping num canal quaquer da tv por fibra um filme chamado Lucy. A um dado momento o insight do cientista representado pelo Morgan Freeman, chega à conclusão que a realidade (e a sua unidade de medida ao nível do cosmos) é o tempo. O tempo é um dos meus assuntos para divagar preferidos. Começas muito bem no primeiro verso com "os meses que não terminam". Gostei dessa unidade de tempo porque o habitual é segundos, dias, anos (com que acabas) e optaste pelo pouco habitual, mas igualmente demonstrativo. E porque efectivamente temos sempre um pouco a ilusão da imortalidade. Mais na juventude e menos na velhice, mas ainda esses... Segues na estrofe com boas metáforas. O papel do ar nas hesitações fez-me ir de encontro ao que procura o poema. Esse desenrolar com uma vida que vivemos sem ela. Sem darmos conta de que não a vivemos no seu pleno e a desperdiçamos. Muito ou quase sempre. Antes de haver o sistema internacional métrico que estabelece o segundo e seus pares, a palavra "momento" foi uma unidade de tempo (equivalente a 90s). Os ingleses falam em momentum, numa força de impulsão. Nós resolvemos cristalizá-lo. Viver intensamente é uma prova de esforço que a nossa preguiça natural dificilmente está disposta a fazer. A menor crença no tempo, é claramente debatível filosófica e poeticamente. Porque o tempo é todo ele uma questão de credo inevitável. Como não acreditar no futuro? O futuro é uma ilusão. É um pressuposto que nós temos, tendo em conta as repetições que se sucedem e que podemos registar através da nossa memória. Até o agora é uma criação. Uma possibilidade do poder da abstração que todos nós temos. Uns mais do que outros. Gosto da tua linguagem. Ao fim do terceiro poema posso afirmar que não é fruto do acaso nem caso de momento de sorte. Espero que continues neste registo. Precisamos de poemas como os teus\estes. Bem-vindo(a) aos meus favoritos. |
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