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e ao máximo denominador comum do estar aqui

 
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e depois daquelas noites em nó,
ao fim de estradas e estradas de
chuva em verso,
que nos tiravam a visão,
deixando nas
bermas os equívocos
alinhados em desilusão,...

aninhaste o fogo
seco do amor
aos meus pés,
razões para que
lá fora nem
se ouvisse o vento,
só os choros
inconsequentes de
quem nem nos conhece,
só ignora,...

e ao máximo
denominador
comum do estar aqui,
escolheste partir,
ficando para
trás um real,
dissecado
no bolor do
choro sem cheiro

 
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theartist_lc
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 04/05/2020 07:56  Atualizado: 06/05/2020 09:30
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1914
 Re: e ao máximo denominador comum do estar aqui
O denominador do título puxa-me para um lado da matemática que poeticamente acho bastante apelativo. Denominar, contudo, é dar um nome.
Estar aqui também tem o que se lhe diga, é quase um pleonasmo. Uma das músicas do António Variações que eu acho delirantes começa no título “Estou além”, é impossível. Estar, é aqui, penso.
Se fosse apenas matemático, o título também apelaria a operações com divisões. Só faltava calcular o mínimo múltiplo comum.
Incomum é o poema.
Eu tenho andado um bocado à nora com o que o pessoal tem escrito neste site ultimamente.
Finalmente!
Estruturalmente este poema é constituido por 3 estrofes com métrica curta, quase a obrigar o leitor a interromper a leitura de cada verso e a linha de raciocínio que vai surgindo, as explicações ou razões do poema ser.
Sem querer menosprezar as restantes, a segunda estrofe, que seria o desenvolvimento de qualquer outro texto, é duma crueza e sensibilidade reparáveis.
A palavra “...amor...” em poesia irrita-me solenemente. Diz demasiado, e quase sempre, tudo. As metáforas, e elipses, e pleonasmos, e anti-teses, entre outros, servem para isso, para dizer amor sem dizer.
A dita podia ser um poema duma só palavra e já significar todas as imagens imagináveis sobre o assunto.
Por isso é que acho que algumas palavras valem mil imagens.
Por ser tão curto de métrica, vejo-me sucessivamente a gaguejar ao longo dum poema que marca-se pela amargura, pelo “...bolor...” das ausências que torna a saudade tão presente.
“...os equívocos\alinhados em desilusão...” vão-nos construindo, matando muito por dentro deixando-nos pouco por fora.
Ao contrário dos anglosaxónicos que misturam ser e estar, os portugueses sabem bem a diferença.
Muitas vezes estamos, mas não somos.

Já o queria ter comentado há mais tempo.
Por graça encontrei no decorrer dele o Equívoco de poemas mais recentes.

Abraço