Há um cansaço líquido a pesar
nos ramos das árvores. De dentro dos muros
uma voz de ave acena segredos
guardados nas pontas dos dedos.
Não sei se foi um sopro
pressentido por mero acaso
ou erro humano.
Talvez um vazio profundo
a passear rumores noturnos
ou apenas a vontade de estender
as mãos para além do corpo.
Ou um silêncio sem rosto
paradoxo de sílabas baloiçando memórias
a escrever o presente
num calendário qualquer.
"Fizeste da tua vida
Uma catedral abandonada
Horas esquecidas
Em adoração nocturna
Pedindo silêncio
A tudo o que perdeste."
Luís Falcão, in "Pétalas negras ardem nos teus olhos"