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Som dissecado

 
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o som da voz,
de contornos efetivos
desenhados pela traqueia,
a frase certa no
movimento gasto pelo cansaço,
num mundo de silêncio,
o afago que um murmúrio
só por vezes, consegue dar,...

e ela a repetir
apelos à luxúria,
como se fosse a sua natureza,
fazia-o com palavras
a agarrarem-se à pele,
desvendando nervos,
tendões,...

e rastejava de
ossos à mostra,
aos olhos molares
do desdém de qualquer um,
até chegar à parcela
solta da mudez,
que o mundo tem mas
esconde,....

lá a regeneração
chegava,
sob a forma
de uma flor,
com que desregulava
os cheiros e vícios do corpo,
e tudo recomeçava

 
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theartist_lc
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 08/06/2020 18:18  Atualizado: 09/06/2020 07:56
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1932
 Re: Som dissecado
A segunda e terceira estrofes são duma imagem visceral e violenta.
Não que os outros lhe escapem muito, mas têm flores para ajudar, ou o murmúrio.

A segundo procura ser sensual, e consegue. Claro que a palavra "...luxúria..." procura-o um pouco, mas todo o resto também o consegue, há muitas tensões e "....tendões...".
A terceira tem um momento particular muito feliz, os quatro últimos versos que falam da mudez com uma eloquência dura.
Porque falamos de voz e silêncio na primeira estrofe, a mudez é terrível (grande escolha), porque não é um capricho auto-imposto. É um defeito dado pela natureza, tantas vezes tão cruel.

Gosto de começos e de recomeços.
Adoro re(s).
A re(lá está)generação é um mito que admito e procuro.
Por isso sou contra a pena de morte, por exemplo. Porque acredito do milagre da mudança e da re(outra vez)abilitação.
Ainda que por serem milagres sejam impossíveis.
É credo meu.

Ainda me estás a dever 2 anos de pérolas como esta.

Obrigado irmã\o