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Tempo apascentado

 
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Talvez no princípio tenha sido sem chuva,
A terra afonica,
Incapaz de gritar o pânico de assumir solidões presas,
De tantos e tantos anos,...

O desvendar do céu começou,
Grosso modo quando os velhos desataram a empacotar histórias de vidro,
Das que se tinham de preservar antes de se esgotarem num horário sem termo,
E cheio de planícies a retroceder no tempo,...

Não me importei que houvesse autores que aflorassem a falta de cheiro,
Disto que chamava envelhecimento apascentado,
Com tanta e tanta ovelha a insuflar a morte,
Regurgitando o alimento com que se brindavam de amor,...

Fim de projeto chamava-se aquela casa,
em que aprendi a falar em voz alta para a parede,
Só ali aprendi o dom de congelar cada momento,
Como efetivamente o último de todas as vivencias sem propósito


 
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theartist_lc
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 17/06/2020 13:07  Atualizado: 17/06/2020 13:07
 Re: Tempo apascentado
aprecio teus poemas.

dizem tantas coisas.

abraço

Enviado por Tópico
Esqueci
Publicado: 17/06/2020 17:52  Atualizado: 17/06/2020 17:52
Membro de honra
Usuário desde: 02/11/2019
Localidade:
Mensagens: 577
 Re: Tempo apascentado
Um grito à vida, boa sorte.

Um belo poema.


Abraço

Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 18/06/2020 11:54  Atualizado: 24/06/2020 04:30
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1932
 Re: Tempo apascentado
Por isso é que, de vez em quando, e já que falamos de gado de pequena dimensão, sou fã dum cabrão.
Perdão, Bode.
O teu poema fez lembrar-me dum meu que chamei de "Um bode de guerra, ou Nirvana, a extinção do fogo", passo, claro, a publicidade.

A metáfora do rebanho seguidor de pastor, está presente em todo o poema de forma vívida.
Até o "...envelhecimento..." não lhe escapa.

Mas como fugir às normas e regras que temos de seguir?
Talvez este seguir "cegamente", é que tão acidamente falas. Tenho efectivamente de seguir as leis. Mas posso mudar o meu sentido de voto se não gostar do estado que as cria.

Essa "...terra afónica..." representa bem um povo sem voz e reprimido, castrado, talvez.

"...autores que aflorassem a falta de cheiro..." para mim o momento mais alto do poema devido ao jogo de palavras no surgir misturado com flor do "aflorassem" e sem "cheiro" que é o que se gosta numa flor, além da visão desta.

Embora real, o cheiro tem laivos de metafísica, concordas?

Depois a contragosto aparece a última estrofe num tom agradecido...
"...falar em voz alta para a parede..." (boa aliteração) também traz conhecimento. Da parede, da própria voz se surgir um eco.

Sempre intrigante e elevado.

Obrigado

Abraço irmã\o