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Rogério Beça | Publicado: 18/06/2020 08:16 Atualizado: 19/06/2020 07:42 |
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Re: Acordar vil
Mais um petisco.
Esta vileza é sobretudo auto-dirigida parece-me numa primeira leitura. E súbito, começo a reparar em repetições, sem padrões. Acordar é um padrão absolutamente vital. A consequência desse acordar é, das duas uma, ou voltar a dormir (e acordar) ou não voltar a dormir. Os meninos da PIDE eram expeditos com uma maldade que pode provocar a morte e a loucura, a tortura do sono. Ao contrário que o nome indica, consistia em nunca deixar o torturado dormir; quando ia pegar no sono valia tudo para o manter acordado. A gotinha de água a cair na testa com regularidade de soro fisiológico, devia ser o ponto mais alto. Acho bastante agradável, no segundo verso, a retirada da noite com "...tira sempre o mesmo casaco...", no mínimo original. Depois, o sujeito poético vê nos outros os mesmos medos, repetidos, igualados e portanto sem mudança prevista, ou já teriam acabado. Um pendor pessimista, mas real. A longe, com a distância de segurança, até podemos pensar melhor neles. Fiquei a saber que há uma parte insegura da cama. Dá o sujeito poético a entender que aquela em que não se levanta. Os dois versos seguintes fazem-me lembrar, um pouco, porque escrevo, e sorrio. No verso do meio da última estrofe surge a minha indignação e se calhar motivo final para este comentário: "...a minha cabeça é sempre a mesma..." E o absoluto da afirmação deixa-me em brasa. O mesmo já conflita um bocado comigo, tenho pelo menos dois poemas contra, e quando é em relação à cabeça, isto é ao pensamento, aos ideiais, ao conhecimento, então acho impossível. Mas pelo que sei do teu estilo, mordaz, provocatório, pode ter sido o objectivo. A antítese, o controverso. Ainda que dum modo disfarçado. Obrigado por mais um comentário. Abraço irmã\o |