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Acordar vil

 
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Do lado que vejo melhor,
A manhã tira sempre o mesmo casaco,
As fases indistintas dos medos das pessoas também,
Apercebo-me da pouca solução para os medos ao longe,...

Levanto-me na parte segura da cama,
A saber que nada ter para dizer,
É o mesmo que refrescar para morrer,...

Emborco a fuligem de sempre,
E saio com um pé mais curto que a criação,
Rima perdida atrás de rima encontrada,
A minha cabeça é sempre a mesma,
Encostada aos lábios,
Diferente das performances indistintas de tudo em cima do qual voltarei a dormir

 
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pleonasmo
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 18/06/2020 08:16  Atualizado: 19/06/2020 07:42
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1932
 Re: Acordar vil
Mais um petisco.
Esta vileza é sobretudo auto-dirigida parece-me numa primeira leitura.

E súbito, começo a reparar em repetições, sem padrões. Acordar é um padrão absolutamente vital.
A consequência desse acordar é, das duas uma, ou voltar a dormir (e acordar) ou não voltar a dormir.

Os meninos da PIDE eram expeditos com uma maldade que pode provocar a morte e a loucura, a tortura do sono. Ao contrário que o nome indica, consistia em nunca deixar o torturado dormir; quando ia pegar no sono valia tudo para o manter acordado. A gotinha de água a cair na testa com regularidade de soro fisiológico, devia ser o ponto mais alto.

Acho bastante agradável, no segundo verso, a retirada da noite com "...tira sempre o mesmo casaco...", no mínimo original.
Depois, o sujeito poético vê nos outros os mesmos medos, repetidos, igualados e portanto sem mudança prevista, ou já teriam acabado. Um pendor pessimista, mas real. A longe, com a distância de segurança, até podemos pensar melhor neles.

Fiquei a saber que há uma parte insegura da cama. Dá o sujeito poético a entender que aquela em que não se levanta.

Os dois versos seguintes fazem-me lembrar, um pouco, porque escrevo, e sorrio.

No verso do meio da última estrofe surge a minha indignação e se calhar motivo final para este comentário: "...a minha cabeça é sempre a mesma..."

E o absoluto da afirmação deixa-me em brasa.
O mesmo já conflita um bocado comigo, tenho pelo menos dois poemas contra, e quando é em relação à cabeça, isto é ao pensamento, aos ideiais, ao conhecimento, então acho impossível.

Mas pelo que sei do teu estilo, mordaz, provocatório, pode ter sido o objectivo.
A antítese, o controverso. Ainda que dum modo disfarçado.

Obrigado por mais um comentário.

Abraço irmã\o