Quando o Santo chamou-me prum jantar,
Preparei o banquete mais bonito.
Pus na mesa saladas a contar,
Vários tipos de carne e um manjar
De sobremesa; tudo pro Bendito.
Conforme ia chegando a hora marcada
Três figuras estranhas surgiram.
Foi delas a primeira a mais levada,
Uma criança de rua, abandonada,
Das que pedem esmola e mendigam.
Bateu-me à porta pedindo comida
De olhar mareado e a barriga roncando.
— Hoje não posso, tenho uma visita
Importante, que me é muito querida!
Dei-lhe adeus com a porta se fechando.
Pouco tempo passou e ouvi batendo
Na minha porta já algum outro alguém.
Ao abrir era um mendigo gemendo
De fome e frio; com os dentes rangendo
Disse:— Não há comida pra ninguém!
Fecho a porta e ela bate a terça vez.
Muito irritado eu grito:— Já falei
Que aqui não tem comida! Tu não vês
Que me perturba? Sê mais cortês!
A porta então parou e eu me calei.
Ceiei aquele banquete sozinho
Pois não veio o Santo me visitar;
Sozinho servi-me de pão e vinho.
Tomei a decisão de ir ao caminho
Do Santo noutro dia e perguntar.
Encontrando-o perguntei:— Santidade,
Por que não veio ontem à minha porta?
Disse ele:— Mas fui três vezes, abade.
Duas vezes rejeitou-me piedade
E na terceira nem abriu-me a porta.