Adão e Eva perderam assim o Paraíso.
Os únicos no Paraíso que ficaram com pena deles foram os que mais Adão chateou, os anjos da DIABO e da SATANAS. Como reclamação, eles abandonaram o Paraíso e vieram se juntar a mim, no Inferno. Não concordaram com a decisão de Deus.
Anos depois, após muito trabalho para construir o novo Paraíso, Adão perguntou a Eva, lembrando-lhe o assunto há muito tempo hibernado. Não falavam disso para não chamar a nostalgia dos tempos passados, quando tinham rádio, televisão, Internet, luz e água canalizada.
– Por que mesmo comeste a fruta, querida?
– Foi a serpente que me enganou, disse que era a fruta do poder.
– Poder? – Adão riu-se, sem graça. – O único poder que ganhámos com isso é que somos nós a garantirmos agora a nossa sobrevivência e a mandarmos em nós mesmos.
Eva calou-se, não gostou nada de levar com a culpa de tudo. Afinal de contas, Adão comeu a fruta da sua livre vontade, não podia e nem devia atirar as culpas nela e dizer: foi a mulher que me deste. Eva sempre se lembrou disso, nunca o conseguiu esquecer, mas... pronto! Adão que falasse dela o que quisesse, por conseguinte, faria dele o que também quisesse.
– Mas como queres que eu soubesse, Adão? A serpente disse-me que eu aprenderia a conhecer o belo e o feio, que teria pessoas que tentariam medir-se comigo, como tentam medir-se com Deus... e acima de tudo, que me irias amar.
O Amor, oh!, o amor.
– Que eu te iria amar? – repetiu Adão. – E não é que não amei... Mas, merda! Querida, fizeste isto tudo para seres a número um?
– Não, fi-lo pelo teu amor – respondeu Eva, chateada.
Adão, de repente, começou a berrar, despejando sobre Eva os nervos há anos contidos. Berrou tanto que começou a perder a voz. Eva não pôde suportar e começou a chorar.
– Fiz tudo por ti e é com isso que me pagas.
Eva chorava e gritava, puxando os cabelos e rolando no chão pedregoso, provocando nódoas no próprio corpo. Adão ficou assustado, e pensou que ela estava a enlouquecer.
– Eva! Querida...
– NÃO! NÃO QUERO SABER DE NADA. VAI-TE EMBORA.
– Querida!
– Vai – voltou ela a gritar. Não quero mais te ver.
– Eva, calma! – conseguiu Adão finalmente dizer. Agarrou-a pelos ombros, sacudiu-a para fazer passar aquela onda de histeria que lhe circulava nos neurónios. – Está bem, aceito – disse, pondo-lhe o indicador sobre os lábios, pedindo atenção. – Acredito que tudo o que fizeste foi por me amares, sei que não sabias que isto ia dar para o torto. – Depois de ver que estava a ser ouvido, explicou: – A minha gritaria não era para ti dirigida, acabei de perceber uma coisa: a nossa expulsão foi coisa planeada. Se calhar estávamos a minar o Paraíso.
Eva franziu o sobrolho, muito admirada. Nunca pensara nisso, e não conseguia acreditar no que disse Adão. Se todos os anjos gostavam dela, como podia ela estar a minar o Paraíso? Não perguntou nada, porque Adão explicou o porquê do que disse:
– Disseste que fora a serpente a autora daquele texto que me mostraste daquela vez. Aquilo não podia ser uma coisa vinda dela própria; mesmo eu tive que ir ao dicionário e invocar Cristo para que me ajudasse a compreender o que queriam dizer as palavras dela. Tudo aquilo fora-lhe ensinado, ela não possuía cérebro suficiente para imaginar tantas coisas e conhecer toda aquela filosofia. Só não sei quem a mandou dizer-te aquilo... mas desconfio que foi o pai; pois, quando os animais foram reclamar, a serpente era a porta-voz, toda convencida de importância, e estava também ali esquecendo-se que fora ela mesma que te enganou... e ainda estava a deitar-te as culpas. Talvez seja mesmo o pai que a mandou, visto que lhe tirou a fala para não ser acusado.
Isto foi o que Adão pensou e disse. No entanto, Eva não acreditou nele, porque não conseguia ver nenhum motivo para que o pai os quisesse expulsar do Paraíso. Defendeu o pai, contando a Adão o que nunca lhe tinha dito, que a serpente usava Internet e era por esse meio que falavam, quando ele as proibiu de se encontrarem, e que talvez ela tivesse lido tudo aquilo lá. Adão não ficou convencido, mas deram o assunto por terminado, principalmente porque acusou Eva de desobediência e ela o acusou de tirania, reclamando a liberdade. Nunca mais voltaram a tocar nele.
Adão e Eva viviam entre dificuldades, mas desenrascavam-se bem no viver. Que valia o Paraíso, perguntavam às vezes, se estavam ao lado um do outro?
E assim acabou a história dos nossos primeiros avós... Quem quiser saber mais deles, que espere pelo relato de CAIM E ABEL.
Marinho de Pina
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[size=small]Se te comentei, subentenda-se que gostei do texto, logo não preciso dizer que gostei.
Se não te comentei, possívelmente não te li, ou então não sei dizer nada sobre...