Queria fazer um verso...
Queria fazer um verso
que pudesse expressar
o retumbar da cascata
as ondas altas do mar
o dia com sua alva
a noite com seu luar
Queria mostrar no verso
a imponência do condor
as nuvens como ovelhas
o vento como pastor
e as abelhas bebendo
o mel na taça da flor
Queria mostrar o sol
acendendo como tocha
despertando a montanha
enxugando cada rocha
e aquecendo a corola
do cravo que desabrocha
Queria ver no meu verso
o resplendor do luzeiro
e num dia de outono
o empenho do barreiro
fazendo sua casinha
no ombro do ingazeiro
Eu queria versejando
falar de uma formiga
que levando uma folha
de capim ou de urtiga
nunca se perde na trilha
nem descansa com fadiga
Eu queria descrever
a lagarta de cor preta
que o carcará procura
com seus olhos de luneta
mas consegue escapar
quando vira borboleta
Queria mostrar a seda
na aranha peçonhenta
que caminha entrelaçando
um fio que não rebenta
mesmo sendo esticado
na ramagem quando venta
Queria saber falar
de um dia nebuloso
onde o sol se escondeu
esperando cauteloso
pra abrir sua cortina
de tecido luminoso
Queria mostrar o vento
desenhando sem modelo
na grande tela do céu
suas montanhas de gelo
desmanchando e refazendo
calmamente e com desvelo
Queria a serenidade
das águas de uma fonte
e a claridade que chega
esboçando atrás do monte
o final da madrugada
nos portais do horizonte
Queria ser um poeta
com o estro mais afim
quando vejo a roseira
vicejando no jardim
cercada de borboletas
pedindo verso pra mim
Eu queria ter o dom
de ilustrar o que eu vi
num certo dia de maio
quando um raro colibri
bailava suavemente
ao redor de um bogari
Eu queria versejar
como canta o sabiá
entre os ramos em flor
de um velho jacarandá
nos momentos de lirismo
que a primavera nos dá
Queria ser um poeta
que mostrasse comovido
no primor da natureza
que por nós é conhecido
um claro remanescente
do paraíso perdido
O que é a paixão?
É aquele sentimento
que em excesso se reprova?
Quando não correspondido
cada dia se renova
ou se guarda em segredo
como faz a lua nova?
É o desejo de viver
um romance permanente
que se quer definitivo
sempre intenso e ardente
e que tenha a expansão
da lua em quarto crescente?
É o caminhar na praia
de um casal que não receia
ter seus passos um por um
apagados na areia
porque vão iluminados
no esplendor da lua cheia?
Ou apenas um ardor
que se almeja constante
mas se mostra com o tempo
uma chama hesitante
que só vai diminuindo
como a lua no minguante?
Vou fumando o cigarro da saudade
Para mais agravar a minha dor
que maltrata que só um enfisema
a bronquite na fase mais extrema
e o derrame que causa o estupor
acendi um Marlboro sem pudor
desejando fumar sem pensar nela
Mas sem ter acabado a cartela
eu percebo já com perplexidade...
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela
Sem jamais esquecer que a nicotina
que eu trago dá câncer na laringe,
na bexiga, nos rins e na faringe,
a trombose, aneurisma e angina,
que também o tabaco contamina
com doença fatal ou com seqüela,
sem falar que existe erisipela
ou infarto maior em gravidade...
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela
Tudo aquilo que é chamado vício
sempre traz a promessa do prazer
Mas o vício aumenta sem trazer
pra saúde sequer um benefício
Quando o gozo se torna um suplício
numa grossa corrente se revela
e na dor punitiva que flagela
o seu corpo sem dó nem piedade
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela
É o corpo que sofre com cigarro
com a hérnia, gangrena e rinite,
catarata, halitose ou gastrite
por efeito do fumo e do sarro
Alternando soluço com pigarro
toda hora passando na goela
eu não quero pensar que é mazela
mas respiro já com dificuldade
Vou fumando o cigarro da saudade
e a fumaça escrevendo o nome dela
Versos diversos
Conheci minha flor na primavera
quando não resisti a seu encanto
Todavia a mulher que amo tanto
hoje está diferente do que era
Margarida que estava na espera
de negar seu perfume ao jardim
E por ela mudar tanto assim
não consigo sentir felicidade
que por ela eu sofro de saudade
mesmo ela estando junto a mim
Poesia em sentido figurado
é um fruto da imaginação
Seu sabor é a interpretação
Sua polpa é o verso inspirado
O pomar onde ele é cultivado
é o grande pomar da estesia
Nesse fruto o leitor se delicia
com a casca, o gomo e a semente
O bagaço é cuspido e somente
a essência do fruto nos sacia
Definir a beleza da mulher
é querer limitar o infinito
e nem mesmo o verso mais bonito
poderia cumprir esse mister
Hoje sei que o poeta o que mais quer
é compor para ela um doce hino
porque ser nossa musa é seu destino
cada dia, semana, mês e ano
É por isso que afirmo sem engano
que sou fã do semblante feminino
Foi no tempo que eu tinha uma rede
que eu buscava um livro para ler
uma água de coco pra beber
e um gancho fixado na parede
Com a água eu matava minha sede
com o livro aprendia uma lição
com o pé eu só dava um empurrão
para ver se a rede balançava
e com esse balanço que ela dava
eu dormia com meu livro na mão
Nesse mundo eu já tinha observado
que a maldade costuma triunfar
e aquele que passa a praticar
a bondade é sempre castigado
E buscar na maldade resultado
essa foi a mancada que eu dei
Quando soube o mundo que errei
num instante o castigo me enviou
Só pra mim é que ele funcionou
Quis bancar o esperto e me ferrei
Se a mulher que me ama possuir
uma herança enorme pra gastar
e meu preço vier me perguntar
seu dinheiro não vai me seduzir
Eu só tenho apenas que sentir
que seu beijo e abraço tem calor
não me dando motivos pra supor
ter somente interesse passageiro
Eu não tenho amor pelo dinheiro
e dinheiro não compra meu amor
Esses versos que estou escrevendo
num estilo medido e rimado
são vagões de sentido figurado
de um trem de poesia se movendo
E as rimas que você está lendo
são paradas em uma estação
O bilhete da interpretação
você paga pra ser um passageiro
da viagem que faz nesse roteiro
pelos trilhos da imaginação
Eu me sinto já quase arrependido
de partir só pensando no regresso
E se eu procurando por sucesso
descobrir que meu sonho foi perdido?
Voltarei lamentando por ter ido
para um canto distante do meu lar
Não deixei o meu pai me ver chorar
no momento que fiz a minha mala
Eu deixei minha rede lá na sala
e parti com vontade de voltar
Quem não sabe cantar improvisado
pode ainda ser um bom glosador
que cantando sozinho o cantador
canta mais do que mal acompanhado
Se for bom pra você ficar calado
nunca perca esta oportunidade
Mostre o cantador facilidade
pra cantar com talento e maestria
e aquele que escreve poesia
faça glosas de muita qualidade
Meu pomar, minha horta e meu jardim
quando lembro me ponho a chorar
Vim pra cá sem vontade de ficar
Voltarei lastimando porque vim
É por isso que estou sempre assim
com saudade apertando o coração
Eu só quero voltar para meu chão
donde fui sem apelo desterrado
Fui menino do mato e fui criado
nos rincões esquisitos do sertão
Só quem pode entender o meu queixume
é quem tem alegria no seu lar
Passo hora e mais hora a lamentar
e queixar-me não era meu costume
O tesouro que tenho se resume
nas lembranças que tenho do passado
Se voltar ao lugar que fui criado
eu não saio nem por decreto-lei
Foi com muita saudade que deixei
meu casebre de taipa abandonado
Não desejo, não quero nem preciso
dessa vida agitada na cidade
Não consigo encontrar felicidade
nesta selva de pedra que eu piso
O lugar que nasci é o paraíso
onde outrora deixei meu coração
Quando eu retornar pro meu rincão
da espera serei recompensado
Vou voltar ao lugar que fui criado
pra matar a saudade do sertão
Não queria sair do meu lugar
pra viver em cidade tão distante
Eu deixei o que é mais importante
obrigado que fui a viajar
Não podia sequer imaginar
que seria distante meu destino
Com o povo que amei desde menino
já perdi até mesmo o contato
Vou falar do sertão pra ver se mato
a saudade do povo nordestino
Não me venha dizer que é preconceito
pois dinheiro não faz minha cabeça
Eu espero que nunca me aconteça
de aceitar a cobiça desse jeito
Com mulher que possui esse defeito
nunca vou dividir meu cobertor
A que só pra riqueza dá valor
só atrai pretendente interesseiro
Eu não tenho amor pelo dinheiro
e dinheiro não compra meu amor
Sei que eu lhe amar não é delito
mas você recusou cumplicidade
Pra privar-me da minha liberdade
seu desprezo me fez um veredito
Esse crime jamais será prescrito
se assim não quiser meu coração
A distância me fez uma prisão
o abandono tá sendo minha grade
Fiz um túnel na cela da saudade
pra tentar escapar da solidão
Quando lembro do tempo que na vida
eu vivi na total simplicidade
acho mesmo que a tal felicidade
foi estar com família reunida
O carinho da minha mãe querida
e o do pai com abraço apertado
Tanta coisa já tenho recordado
sem falar do namoro lá na praça
Não há nada no mundo que me faça
esquecer do sertão que fui criado
Minha flor, minha estrela, minha dama
a quem eu declarei meu sentimento
transformou meu desejo em lamento
apagando o calor da minha chama
Se é um erro amar quem não me ama
esse foi dos maiores que eu fiz
No amor sou apenas aprendiz
Tem segredos que eu não conhecia
Eu deixei de querer quem me queria
pra sofrer por alguém que não me quis
Eu não pude esconder minha tristeza
no momento da nossa despedida
Em meu peito ficou uma ferida
que não sei calcular a profundeza
Quando ela negava com frieza
que estava fazendo a traição
um pedido sincero de perdão
que fizesse a mim já bastaria
Os garranchos da sua covardia
arranharam demais meu coração
Eu deixei se envolver meu coração
num amor passageiro e fugaz
e perdi meu sossego e minha paz
quando foi descoberta a traição
Eu não quis concordar com a razão
nem ouvir os conselhos que ela diz
Mas eu tinha que amar só a matriz
pois quem ama não pode abrir franquia
Eu deixei de amar quem me queria
pra amar a alguém que não me quis
Tão contrário a si mesmo é o amor
já dizia o poeta português
e na definição que ele fez
é ferida que arde sem ardor
Coração é o grande traidor
dos conselhos prudentes da razão
Quem sentiu a pungente aflição
de amar e do amor ser prisioneiro
sabe quanto é penoso o cativeiro
das correntes tenazes da paixão…
O fracasso da causa e a causa do fracasso
O fracasso da causa comunista
promovido em quase o mundo inteiro
sendo efeito do erro mais grosseiro
de se crer numa idéia utopista
ampliando os lesados dessa lista
que tem Laos, Camboja, Rússia, China,
Alemanha cercada na cortina,
a Coréia e países africanos,
repetiu-se aqui com os cubanos
e avança na América Latina...
Por aqui a esquerda brasileira
prometendo fazer muitas mudanças
retirou do país as esperanças
com mãos cheias de óleo e sujeira
Foi não foi levantou sua bandeira
escondida na sombra do gramscismo
A corrente do patrimonialismo
com os anos foi mesmo ampliada
Nossa pátria está sendo acuada
empurrada que vai para o abismo
Engendrando uma vã teologia
disfarçada de crença religiosa
a disputa na igreja foi rendosa
devorando no bolo uma fatia
Resultado de trama tão sombria
foi o lobo ficar mais atrevido
Atacou um rebanho iludido
na de Roma, Lutero e Metodista
pra rezarem cartilha marxista
como se estivessem num partido
Foi Karl Marx na sua juventude
um cristão numa vida desregrada
Caminhando em trilha tão errada
corrompeu-se por sua atitude
Com a alma sofrendo inquietude
conheceu a mudança imprevista
Os relatos dão mais de uma pista
de que a sua fé sofreu revés
aceitando por guia Moses Hess
para entrada na esfera ocultista
Pois é esse o mentor do socialismo
que nas teses que havia formulado
foi de Deus inimigo declarado
para ver triunfar o satanismo
Basta ver nos anais do esquerdismo
o terror do passado mais grotesco
a barbárie em drama gigantesco
genocídios,expurgos, crueldades,
escravismo e demais atrocidades
e a fome em grau sempre dantesco
Bibliografia:
Era Karl Marx um satanista?
Richard Wurmbrand
O Livro Negro do Comunismo
ANDRZEJ PACKZOWSKI,
JEAN-LOUIS MARGOLIN,
JEAN-LOUIS PANNE,
KAREL BARTOSEK,
Nicolas Werth,
e Stéphane Courtois
Hoje é o dia mundial do livro
Dia 23 de abril
Se o livro é a base da cultura
para o povo não pode faltar nada
A leitura é pra ser compartilhada
que é pra isso que serve a leitura
Quem trabalha com a literatura
desenhista, poeta ou escritor
se no texto ele hospeda o leitor
é no livro o lugar que ele mora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
Nesse dia é preciso promover
proteção aos direitos autorais
que os livros nos são essenciais
e é ato importante o de ler
Todo aquele que vive de escrever
nas idéias que passa a expor
da cultura se torna um defensor
com as obras que ele elabora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
Nosso mundo está muito avançado
no progresso da tecnologia
que na mídia aparece todo dia
um recurso pra ser utilizado
mas o livro não foi ameaçado
por aquilo que é inovador
já que ele mantém o seu teor
com o mesmo prestígio de outrora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
Nessa data é preciso promover
uma grande e profunda discussão
onde o povo receba a atenção
no direito de ler e escrever
O acesso aos livros pode ser
uma meta que temos que propor
que se falta escola e professor
é questão que o governo ignora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
Parabéns a quem faz divulgação,
sem visar interesses mercantis,
dos autores que tem nosso país
promovendo a leitura em profusão
Merecida é a comemoração
mas o prêmio quem ganha é o leitor
quando abre um livro de valor
e nos seus cotovelos se escora
Hoje o dia que o mundo comemora
é do livro e direito do autor
O resultado das apostas em jogos de azar
O assunto em questão
é um problema real
São os jogos de azar
que no estágio atual
já estão configurados
num flagelo social
Eu pergunto ao leitor
que aposta seu cascalho
em bozó, briga de rinha,
bingo, bicho ou baralho:
que lucro dá o dinheiro
recebido sem trabalho?
O apostador só quer
se divertir no início
depois fica seduzido
por um lucro fictício
e a praxe da jogatina
termina virando vício
Quem joga pode mostrar
os sintomas de um doente
Onde mora ou estuda
vai se tornando ausente
Ter mais tempo pra jogar
é seu desejo fremente
E quem fica endividado
com os jogos de azar
vende tudo o que tem
mas não para de jogar
que o vício no comando
não dá ordem pra parar
Investir na jogatina
é um processo oneroso
Quando o jogador acerta
com um prêmio fabuloso
paga tudo o que deve
em um ciclo vicioso
Se ganhar dinheiro fácil
era o primeiro incentivo
acaba na bancarrota
porque o vício ativo
conjuga o verbo jogar
sempre no imperativo
Tem muitos jogos de azar
que estão legalizados
onde poucos vencedores
tem sonhos financiados
com dinheiro que foi pago
por milhões de azarados
Quem procura no cassino
um negócio lucrativo
vê a sorte se ofertar
com um preço abusivo
e só premiar os donos
com poder aquisitivo
O freqüentador do bingo
clandestino ou liberado
de cartela em cartela
com o vício é premiado
e só busca o tratamento
quando está endividado
Já no turfe é a paixão
que arrecada o dinheiro
O prêmio passa montado
no cavalo mais ligeiro
e o acaso atropelando
sempre chega em primeiro
Se vê no jogo do bicho
que é comum apostador
sonhar com o resultado
e perder grande valor
e o bicheiro vai fazendo
fortuna com sonhador
Vejam que a loteria
é um estranho rateio
onde o governo promove
com o capital alheio
benefício só pra um
escolhido por sorteio
Foi não foi um pobretão
vai jogar na loteria
compra apenas um bilhete
que o capricho premia
e um novo milionário
vira da noite pro dia
Deslumbrado na riqueza
que não sabe onde gastar
com os seus novos amigos
em tudo quer esbanjar
como se aquela fortuna
nunca mais fosse acabar
Ele passa o ano inteiro
com o pé no aeroporto
Desperdiça nos presentes
da mulher de cada porto
gozando a ostentação,
o prazer e o conforto
Quando as suas despesas
já se tornam abundantes
termina dando um calote
em hotéis e restaurantes
retornando pra miséria
mais arruinado que antes
Se a sorte pode pagar
pra somente um sortudo
o azar sempre consegue
um rendimento polpudo
levando até o dinheiro
daquele que aposta tudo
Outro golpe que a sorte
pode dar na clientela
é entregar a bolada
a quem não precisa dela
e o azar não indeniza
os projetos que cancela
Eu pergunto novamente
que lucro dá o dinheiro
apostado em jogatina
parcelado ou inteiro
se bagunça o processo
do sistema financeiro?
Ascensão, apogeu, declínio e queda de uma paixão
Hoje em dia um rapaz
não deseja ter família,
ser fiel a uma esposa,
educar filho ou filha
Diz até que casamento
é um fardo sem rodilha
Um amigo que casou
ele olha com desdém
Sua vida é uma festa,
a balada é seu harém
Pensa até que liberdade
só quem é solteiro tem
A viver sem compromisso
já está acostumado
mas um dia experimenta
um poder inusitado
Numa troca de olhares
ele fica apaixonado
Os amigos apresentam
a mulher especial
Ele entra na conversa
com assunto trivial
repetindo para ela
a cantada mais banal
A mulher que ele quer
joga com a sedução,
finge até desinteresse,
faz comer em sua mão
É ali que ele conhece
os arroubos da paixão
Começando o namoro
seu tormento é completo,
fica noites sem dormir,
passa o dia inquieto,
conhecendo uma lei
que vigora sem ter veto
Ele diz para os amigos,
mesmo para quem duvida,
que agora encontrou
a mulher da sua vida
pois em antes e depois
sua história é dividida
O sujeito apaixonado
muda até sua rotina
pra estar com a mulher
que lhe ama e alucina
Nessa mente obsessiva
já circula a dopamina
Quando pensa em declarar
tudo o que por ela sente
bota uma faixa na rua:
-Vou te amar eternamente!
como prova desse amor
de paixão entorpecente
Os seus nomes no umbú
ele escreve a canivete
Quando estão no celular
para ela se derrete
Manda flores e bombons
ou e-mail pela net
Ele troca de emprego,
muda pra outra cidade,
pra ficar mais perto dela
e abrandar sua saudade
pois só na sua presença
é que tem felicidade
Cego por essa mulher
pensa nela todo instante
Gasta tudo o que tem
pra comprar um diamante
e lhe dar como presente
que ela aceita radiante
Mas um dia ele descobre
que na trama tinha três
Ela toma a decisão
de voltar para seu ex
e o que sentia por ele
nega de uma só vez
Não querendo aceitar
ele começa a beber
Com a língua enrolada
diz que quer lhe esquecer
Quando fala da amada
dá risadas sem querer
Ele diz que quando bebe
sabe a hora de parar
divertindo os amigos
que estão naquele bar
Diz que é só a paixão
que lhe pode embriagar
E tomando outros goles
aos amigos ele diz
que ele é o bom partido
para fazê-la feliz
Só não entende por que
sua amada não lhe quis
Paga mais uma rodada
para quem está na mesa
Dizendo ser o mais rico
vai ficar com a despesa
mas só fala na mulher
que não quis sua riqueza
Com mais doses de bebida
vai ficando mais valente
Diz que bate em qualquer um
que esteja ali presente
se falar da namorada
que deixou-lhe de repente
Ele xinga os clientes
que estão naquele bar
Os amigos que ele tem
fazem ele se calar
E lembrando da mulher
ele começa a chorar
É levado para a casa
por amigos carregado
perguntando o motivo
de ter sido rejeitado
e adormece na varanda
num tapete estirado
Acordando já nem lembra
das bobagens que ele fez
Na ressaca só recorda
que a sua embriaguez
foi por causa da mulher
que deixou-lhe duma vez
Essa história termina
num tormento sem mister
e o sujeito que padece
pelo amor duma mulher
por entrar em desespero
se transforma em esmoler
Isso tudo é o que faz
os caprichos da paixão
Seja leigo o sujeito
ou de muita instrução
ela consegue apagar
a lanterna da razão
Minha musa
Sentindo a inspiração
mais intensa e profusa
eu me ponho a escrever
com vigor, brilho e fiúza
pra revelar os encantos
que eu vejo em minha musa
Minha Rosa tem a graça
que inspira qualquer artista
e a mim faz desfrutar
de uma verve imprevista
sendo uma mulher bonita
em qualquer ponto de vista
Ela tem o esplendor
que ninguém sabe medir
Tão fácil reconhecer
e custoso definir
mas todo poeta aspira
em seus versos traduzir
Há mulheres graciosas
porém ela é demais
A beleza é um barco
atracado no seu cais
e no mar da poesia
quero ser o seu arrais
Um sorriso mais bonito
não há em todo universo
Tem tamanha excelência
que não cabe no meu verso
e deixou meu coração
no rio do encanto imerso
O brilho arrebatador
que dos olhos irradia
como as luzes da noite
e do sol trazendo o dia
sugere tanto mistério
e extravasa em poesia
O beija-flor é feliz
quando uma flor visita
e o sabiá cantando
sua canção favorita
Eu sou feliz descobrindo
quanto ela é bonita
Me enlevo na formosura
que da aurora é provinda
e reconheço que as flores
tem uma beleza infinda
mas não comparo a dela
porque ela é mais linda
Admiro a lua cheia
quando a vejo da janela
e cada estrela no céu
que na noite se revela
porém me fascina mais
quanto minha musa é bela
Eu vejo a brisa passar
acariciando uma rosa
e o vento jogar na rocha
uma onda vigorosa
e não consigo esquecer
quanto ela é graciosa
No mar o navegador
olha o céu e suspira
namorando uma estrela
que brilha como safira
e é isso que eu sinto
por ela que me inspira
O sol pode recolher
o seu halo rosicler
e a lua pode mudar
escondendo seu mister
mas nela sempre reluz
sua graça de mulher
Uma trova de gaúchos
Em um vídeo no youtube
que depois foi retirado
assisti grande peleia
mas deixei tudo anotado
pois a trova dos gaúchos
pode ser do seu agrado
Não sei o nome dos dois
que fizeram a trovação
Era um da velha guarda
e um da nova geração
se medindo em desafio
pra honrar a tradição:
- Com a trova começando
eu aviso meu patrício
faz algum tempo que tu
já não honra teu ofício
Deve aceitar o conselho
que vou dar já de início
Reconheça teu fracasso
antes que levar puaço
fique sendo o teu vício...
- Fique sendo o teu vício?
O teu verso é pedestre
mas o meu tem o perfume
da nossa flora silvestre
Sou da escola do Gildo
o rei da trova campestre
Quem a ele conheceu
tá dizendo que sou eu
que faz o que fez o mestre...
- Que faz o que fez o mestre?
Não me venha com mentira
Com a tua trova morna
a platéia se retira
Sempre foi um faroleiro
mas agora tu delira
Gildo foi o rei da trova
e tu só vem dando prova
que teu prazo já expira...
- Que teu prazo já expira?
Vim aqui mostrar serviço
Se eu sou novo ou velho
tu não tem nada com isso
Muitas trovas já venci
desde quando era noviço
Mas agora é o inverso
sou o cancheiro no verso
e tu é só um petiço...
- E tu é só um petiço?
Mas já venho no embalo
Trovador que não se rende
pouco a pouco eu encurralo
Sou um petiço ligeiro
que faz errar o pealo
Uma informação te trago
um petiço do meu pago
vence de qualquer cavalo...
- Vence de qualquer cavalo?
Tua idéia é estranha
Eu vencer de ti na trova
não será grande façanha
Nem parece que tu é
um troveiro da campanha
Vou te dar informação
um cavalo em teu rincão
corre com burro e não ganha...
- Corre com burro e não ganha?
Tu tá fora da casinha!
Dez cavalos da tua terra
nem dão um galo da minha
Trovador sabe brigar
como um galo na rinha
Mesmo que tu me resista
vou cortar a tua crista
pra ficar igual galinha
- Pra ficar igual galinha?
Isso não é bem assim...
Não vou deixar uma bota
pisotear no meu jardim
Quem tentou cantar de galo
baixou a crista no fim
Mas tu é um pinto novo
Quem recém saiu do ovo
não pode ganhar de mim...
- Não pode ganhar de mim?
Quando que foi proibido?
Em toda nossa querência
teu orgulho é conhecido
Tu só diz que é o tal
por ser muito convencido
Nessa trova eu destaco
tu só bate no mais fraco
porque é provalecido...
- Porque é provalecido?
Colega, tenha certeza
que se preferir assim
trovo com delicadeza
Mas a minha trova é
uma chama sempre acesa
O teu brilho é opaco
Tu é mesmo o mais fraco
e mostrei tua fraqueza...
- E mostrei tua fraqueza?
Mas sou eu que tô batendo
Eu ainda te dou tempo
de sair daqui correndo
Se não quer reconhecer
nem dizer que tá perdendo
vou te dar muito laçaço
Tu levando meu puaço
finja que não tá doendo...
- Finja que não tá doendo?
Isso é muito desatino
Eu já vencia na trova
quando tu era menino
Não conhece o Rio Grande
nem sabe cantar o hino
Chama rancho de tapera
Mas é isto o que se espera
de gaúcho setembrino...
- De gaúcho setembrino?
Apelou pra gaiatice
Vou agora te dizer
se alguém nunca te disse
que teu verso já está
se apoiando na mesmice
Teu sonho ficou pendente
Quem sonhou ser presidente
não chegou nem a ser vice...
- Não chegou nem a ser vice?
Tu agora te enganou
Eu sonhei ser trovador
e um trovador eu sou
Represento a velha guarda
que antes de ti chegou
Mas pra teu conhecimento
não mostrei nem dez por cento
do que o Gildo me ensinou...
- Do que o Gildo me ensinou?
Tu ficou muito aquém
Tu pensa que me assusta
com a idade que tem
De quem banca de valente
já ganhei de mais de cem
Sendo velho ou um guri
taura que perder pra ti
não ganha de mais ninguém...
- Não ganha de mais ninguém?
É preciso que se diga
tão novinho é já está
dando sinais de fadiga
Tá esperando que a mãe
venha apartar a briga
Tu já tá ficando rouco
e além de cantar pouco
é mais feio que lombriga...
- É mais feio que lombriga?
Tenho opinião oposta
Se tu tem a covardia
ela aqui ficou exposta
Mas se o taura concorda
faço agora uma proposta
Vamos a trova encerrar
que é pra ninguém ficar
sem direito de resposta...
- Sem direito de resposta?
Colega, te quero bem
Tu sabe do meu valor
e eu sei do teu também
Fica o dito por não dito
como já dizia alguém
Só queremos manter viva
nossa cultura nativa
sem zombar da de ninguém!
Uma trova de gaúchos II
Os trovadores gaúchos
como foi na vez passada
voltaram a se enfrentar
em peleia combinada
Mesmo não sendo oficial
foi bastante encarniçada:
- Quando começo a cantar
não afrouxo na peleia
pois o sangue pampeano
corre pela minha veia
Te deixo mais acuado
que mosca presa na teia
Pode vir de bofe azedo
que eu nunca tive medo
dessa tua cara feia...
- Dessa tua cara feia?
Tu não vai ganhar no grito
Chega dando carteiraço
isso eu nunca admito
Só me chama de feioso
mas agora eu reflito
Tu me zomba e coisa e tal
mas eu sei que pega mal
se tu me achar bonito...
- Se tu me achar bonito?
Já te dou explicação
Tá parecendo que tu
vive chupando limão
Num concurso de feiúra
tu vai ser o campeão
Eles te vendo na praça
vão te entregar a taça
mesmo sem a inscrição...
- Mesmo sem a inscrição?
Digo com toda franqueza
que a prenda que me ama
diz que eu tenho beleza
Basta a palavra dela
pra fazer minha defesa
Mas te digo companheiro
se tu ainda é troveiro
eu já não tenho certeza...
- Eu já não tenho certeza?
Posso te dar uma sova
Se tu quer ganhar de mim
faça uma rima nova
Que tu é feio demais
o povo vê e comprova
Todo mundo me assegura
que tu ganha na feiúra
mas não me ganha na trova...
- Mas não me ganha na trova?
Todos sabem que tu mente
Eu discorro cada tema
com um verso diferente
Mas tu veio pra falar
sobre feiúra somente
Eu agora me pergunto
se é falta de assunto
de troveiro decadente...
- De troveiro decadente?
O meu verso não é brando
Quando a gaita parar
vou sair comemorando
Eu não faço verso fraco
nem se estiver brincando
Como é do meu estilo
te respondo sem vacilo
e não fico forcejando...
- E não fico forcejando?
Mas a trova é a esgrima
A galera aqui presente
com desdém tu subestima
Eles querem que tu faça
com firmeza a tua rima
Se vai afrouxar o garrão
é melhor deitar no chão
que sapateio por cima...
- Que sapateio por cima?
Quem tentou levou puaço
revidou e foi pior
fiz perder pelo cansaço
Quis depois pedir arrego
mas deixei só no bagaço
Meu trabalho eu sustento
só troveiro de talento
faz do jeito que eu faço...
- Faz do jeito que eu faço?
Tu é mesmo orgulhoso
Tinha que se aposentar
mas persiste de teimoso
Mesmo que tu ainda seja
no repente o mais famoso
hoje eu sendo teu carrasco
confessar que fez fiasco
pode ser mais vergonhoso...
- Pode ser mais vergonhoso?
Tu é muito tagarela
Sei que ainda não nasceu
quem me vença na querela
Mas eu já mostro pra ti
que tu só falou balela
Mesmo me dando uma sova
tudo que ganhei na trova
tu não ganha por tabela...
- Tu não ganha por tabela?
Mas já dizem teus rivais
que tu vem reconhecendo
nesses dias atuais
que as tundas que levou
foram pesadas demais
Aos colegas trovadores
se queixou nos bastidores
que já não aguenta mais...
- Que já não aguenta mais?
Mostro que tu tá errado
Eu trovando contra dez
vou dar conta do recado
mas se tu é um daqueles
que já chega assustado
hoje vai ser o teu fim
que tu não ganha de mim
nem com o júri comprado...
- Nem com o júri comprado?
Já ficou sem argumento
Sempre fui o mais veloz
e tu sempre o mais lento
Tem uma notícia nova
circulando nesse evento
pelo que tu fez aqui
eles vão criar pra ti
o troféu do fiasquento...
O troféu do fiasquento?
Minha fibra se destaca
Mas eu já posso provar
que a tua idéia é fraca
Quando quer um verso novo
o teu pensamento empaca
e pra não passar vexame
quando vai a um certame
leva a rima na guaiaca...
- Leva a rima na guaiaca?
Tá errando outra vez
Não existe quem responda
com a minha rapidez
Trovador melhor que tu
eu enfrento todo mês
O meu verso é sem retovo
Se te enfrentar de novo
tu já vira meu freguês...
- Tu já vira meu freguês?
Eu proponho ao vivente
se algum dia tu quiser
ser da trova um expoente
onde eu estiver trovando
quero que tu me enfrente
No talento me alicerço
e vou te provar no verso
que não tenho concorrente...
- Que não tenho concorrente?
Com certeza companheiro
Quando subirmos no palco
de nosso evento campeiro
não vai ser só pra saber
quem é o melhor troveiro
mas pra divulgar de novo
a cultura deste povo
gauchesco e brasileiro...
Uma trova de gaúchos III
- Eu já nasci brasileiro,
Gaúcho, pra ser exato,
e de quem fala balela
não aceito desacato
Venha aquele que vier
veterano ou novato
mas na trova galponeira
se quiser só brincadeira
eu não vou deixar barato
- Eu não vou deixar barato?
Eu discordo do vivente
pois eu penso que tu é
um faroleiro somente
Numa peleia comigo
que sou mais experiente
vai levar tanto puaço
e vai ser um erro crasso
não sair da minha frente
- Não sair da minha frente?
O teu verso eu não abono
Diz tu que é rei da trova
mas eu já te questiono
Gildo quando declarou
da coroa ser o dono
ele até quis te ensinar
mas não era pra deixar
um usurpador do trono
- Um usurpador do trono?
Não diga coisas atoa
A ressalva que tu fez
do meu trabalho destoa
Eu só quero que o taura
respeite a minha pessoa
Quando tô improvisando
tenho idéia sobrando
pra honrar minha coroa
- Pra honrar minha coroa?
Teu reinado é suposto
Diz que Gildo te falou
pra ocupar o seu posto
Quer ser um dos maiorais
mas eu só vejo o oposto
Se tu fosse o sucessor
qualquer outro trovador
já teria te deposto
- Já teria te deposto?
Teu valor eu nunca vi
Se tu sabe improvisar
mostre pra todos aqui
Tu tem que reconhecer
que na trova é um guri
Só faz versos corriqueiros
O mais fraco dos troveiros
nunca vai perder pra ti
- Nunca vai perder pra ti?
Se enganou este xiru
A platéia aqui em volta
pode ver a olho nu
que guri saber trovar
já não é mais um tabu
Teu verso não foi feliz
conheço uns trinta guris
que trovam mais do que tu
- Que trovam mais do que tu?
Não tá certo o que tu diz
É porque não sabe ainda
onde meteu o nariz
Na história do improviso
tu ainda é aprendiz
Se tu não mudar de planos
nem vivendo mais cem anos
tu não faz o que eu já fiz
- Tu não faz o que eu já fiz?
Verso eu faço com rigor
Diz que sou só um guri
e desdém o meu valor
Nunca foi um enfermeiro
mas garante ser doutor
Muitos anos já viveu
nem assim tu aprendeu
o que é ser trovador
- O que é ser trovador?
O teu pensamento é torto
Procurando a resposta
concentrado ou absorto
faz do verso decorado
tua zona de conforto
Já me causa um embaraço
pois querer te dar puaço
é chutar cachorro morto
- É chutar cachorro morto?
Tu só sabe é dar pitaco
Já tentou me corrigir
mas um erro eu destaco
Diz que tua trova brilha
mas o teu brilho é opaco
Dos artistas de outrora
no verso feito na hora
tu sempre foi o mais fraco
- Tu sempre foi o mais fraco?
Mas tu já mentiu pro tio
Tu tem muito que aprender
pra chegar no meu perfil
Diz tu que sabe trovar
mas ninguém ainda viu
Tu só quer nos enganar
Deixa esta pra contar
num primeiro de abril
- Num primeiro de abril?
São bobagens que tu diz
pois insiste que na trova
sou ainda um petiz
mas levar sova de todos
é coisa que eu nunca fiz
Vejo que não se acovarda
apanhou da velha guarda
hoje apanha dos guris
- Hoje apanha dos guris?
Penso que é o inverso
Num talento insuperável
é adonde me alicerço
Dizer que não sou melhor
é um ponto controverso
Por já ter experiência
mostro minha excelência
no cabo xucro do verso
- No cabo xucro do verso?
A mentira é descabida
De ser o mais arrogante
tua fama é merecida
Tu só quer se promover
e disso ninguém duvida
No ofício de troveiro
tu parece um boleiro
que só joga pra torcida
- Que só joga pra torcida?
Isto é um engano teu
Que eu sou mais trovador
só tu não reconheceu
Tu aqui levou a tunda
que teu pai nunca te deu
Outra vez eu vim provar
que em matéria de trovar
ninguém trova como eu
- Ninguém trova como eu
De ninguém se acoberta
que ingressando na trova
tu não fez a coisa certa
pelos fiascos que faz
quando o taura de aperta
Dizer isto eu preciso
só deixando o improviso
este erro tu conserta
- Este erro tu conserta?
Mas não sou deselegante
Quero a trova galponeira
manter forte e pulsante
Com tuas rimas perfeitas
tu também segue adiante
Pois quem vive neste chão
deve honrar a tradição
deste Rio Grande gigante
Uma trova de gaúchos - Final
- Sou um gaúcho do sul
onde a tradição perdura
Faço um verso de puaço
sem perder a compostura
Hoje nós vamos na trova
defender nossa cultura
e mostrar nesta cidade
que nossa autenticidade
não se trata de grossura
- Não se trata de grossura
mas da praxe pampeana
Terra de Elis Regina,
Lupicínio e Quintana
de Jayme Caetano Braun
de tanta gente bacana
que se repassar a lista
só com nome de artista
fico mais de uma semana
- Fico mais de uma semana
Este é o pampa tricolor
que na capital ostenta
monumento ao laçador
pois pra lida do campeiro
ela soube dar valor
Mas pra ti não tem arrego
eu não vou te dar sossego
por dizer que é trovador
Por dizer que é trovador?
Hoje digo aos presentes
por eu ter posto teu nome
no rol dos incompetentes
foi ficando tão furioso
que até trincou os dentes
Sem saber o que dizer
ficou perto de ofender
até mesmo meus parentes
- Até mesmo meus parentes?
Na lata dizer eu vou
Sei que tu nunca será
o troveiro que eu sou
Tu tentou me superar
mas o tempo já provou
na arte de improvisar
só sabe o que é trovar
quem comigo já trovou
- Quem comigo já trovou?
Pois eu quero te dizer
Nem no teu dia melhor
tu consegue me vencer
Se um grande trovador
tu ainda sonha em ser
conhecer algo é preciso
que a arte do improviso
nunca é tarde pra aprender
- Nunca é tarde pra aprender?
Respondo com um ditado
Prefiro cantar sozinho
do que mal acompanhado
A mentira é um petiço
e tu vai nele montado
Sem minha capacidade
tu perde oportunidade
de permanecer calado
- De permanecer calado?
Isso é um grande mistério
Tu só é melhor na trova
pelo teu próprio critério
Mas estou desconfiando
do discurso do gaudério
No calor de um salseiro
muito fácil é um troveiro
te fazer sair do sério
- Te fazer sair do sério?
Tá ficando é atrevido
Os maiores trovadores
a tempos tenho vencido
Quem saiba rimar melhor
eu procuro constrangido
Quem tentou rimar igual
em galpão ou festival
nunca fez nem parecido
- Nunca fez nem parecido?
Mas eu digo ainda bem
que atochador maior
nunca conheci ninguém
pois se não posso tirar
esta balda que tu tem
numa coisa eu não errei
um plebeu metido a rei
eu não quero ser também
- Eu não quero ser também
Tu vai ver a coisa preta
Idéia eu tenho de sobra
pra mais de uma carreta
Tu só tem verso de manga
que anotou na caderneta
Eu não trouxe uma torcida
mas eu ganho esta partida
sem sujar a camiseta
- Sem sujar a camiseta?
Não diga tanta besteira
O meu verso é elegante
mas o teu é bagaceira
Quando fica sem resposta
perde até a estribeira
Eu vou te deixar sem chão
pois a minha intenção
é te dar uma rasteira
- É te dar uma rasteira?
Não é a conduta minha
sou da estirpe do Gildo
Gato Preto e Teixeirinha
Pedro Ribeiro da Luz
Delavy e Formiguinha
Luiz Müller e Tereco
Te dou só um peteleco
e tu desaba na rinha
- E tu desaba na rinha?
Tu só vai ganhar no grito
quando sapo estrebuchar
engasgado com mosquito
ou tropeiro repontear
cavalgando num cabrito
Me inspiro em Pedro Canga
Se fosse verso de manga
não seria tão bonito
- Não seria tão bonito
tu me diz de relancina
mas é hora de encerrar
a nossa trova sulina
Só queremos divulgar
nesta arte genuína,
simples e popularesca
a cultura gauchesca,
brasileira e latina
- Brasileira e latina
E tu com tua carreira
tem honrado a memória
dessa geração primeira
servindo de inspiração
pra juventude troveira
que sem fazer um hiato
deixa pintado o retrato
da terra sul brasileira
- Da terra sul brasileira
onde nem tudo são flores
mas de encanto conhecido
pelos velhos trovadores
que deixaram registrado
os seus imensos valores
Tradição que se renova
em cada verso de trova
dos novos versejadores
- Dos novos versejadores
é a certeza que trago
Eu também na minha rima
nosso folclore propago
e quem nos tempos remotos
foi chamado índio vago
transbordava em sentimento
vendo chegar o momento
de estar voltando ao pago