Amigos de Verdade, Amigos de Peniche e Amigos do Alheio
Todos os estratagemas são válidos para acabar com a maldita insónia. Há lá alguma coisa pior que nos debatermos em busca do sono, que embarcou rumo a outras paragens só com bilhete de ida? Sim, há. Pior do que não ter sono é recorrer ao método mais estúpido do mundo para combatê-lo: contar carneirinhos. Como gosto de inovar e de me recriar, na minha última noite de insónias resolvi, ao invés de estupidificar a contar carneirinhos, contar amigos. É verdade. A ausência de sono misturada com alguma melancolia só podia dar nisto! Neste meu raciocínio sinuoso, resolvi como em qualquer eleição que se preze, abrir a urna e contar os que estão do meu lado. Algo, muito ao estilo da guerra da secessão, inspirada provavelmente na série Norte e Sul, mas para grande pena minha, sem Patrick Swayse.A Amizade é um relacionamento humano que envolve conhecimento mútuo, estima e afeição. Os Amigos sentem-se bem na companhia uns dos outros e possuem um sentimento de lealdade entre si, ao ponto de colocarem os interesses dos outros antes dos seus próprios interesses. Os Amigos possuem gostos similares ou não, que podem convergir. A Amizade resume-se em lealdade, confiança e amor. Com base nisto, comecei a minha contagem.Rapidamente me apercebi, que melhor do que contar os amigos, é perceber quais os amigos que com que posso contar. A coisa complicou-se e de que maneira! Percebi que as pessoas que estimamos e cuja companhia gostamos, aqueles que colocam os nossos interesses a par ou antes mesmo dos deles próprios, contam-se pelos dedos das mãos e portanto são uma péssima estratégia para combater o raio da insónia que não me larga.(Não me digam que vou ter de voltar à história dos carneirinhos? Porra…)Indaguei ainda, tendo a minha almofada como conselheira, sobre aquelas pessoas com quem tínhamos afinidade, gostos em comum, que considerávamos amigos e que se esfumaram no ar…Aí, veio-me à cabeça a coisa mais importante na sustentação de uma amizade: a confiança.A confiança é um conceito quase esotérico, muito próximo da mística fé. Um dia está lá, no dia seguinte foi-se sem deixar rasto. Como aqueles tipos que vão comprar tabaco e não voltam mais (alguns deles bendito seja o desaparecimento!!). Longe de termos a mania da perseguição ou pensarmos a todo o instante que somos alvo de intrigas, conspirações e planos macabros para nos aniquilarem, o certo é que em dada altura há algo que nos faz desconfiarmos. A desconfiança é insidiosa como um veneno e igualmente mortal. Ficamos doentes, frustrados, juramos que não confiaremos em mais ninguém, que não precisamos de amigos. Esperamos que da próxima vez estejamos mais atentos, mas efectivamente não estaremos.Todos tivemos os nossos “amigos de Peniche”. Aqueles que pensamos que estão connosco, mas basicamente estão apenas com eles próprios. O conceito vem da história. Na crise de sucessão de D. Henrique falecido sem descendentes e sob o risco de ocupação espanhola, pediu-se auxilio aos aliados ingleses que entraram aos milhares por Peniche rumo a Lisboa para auxiliar D. António Prior do Crato, a única esperança na manutenção da independência lusa (isto, claro está foi antes de acharmos que clube que é bom é o “Barca” e férias que são férias são em Ibiza e antes dos caramelos de Badajoz).O certo é que, os ingleses pilharam tudo por onde passaram e dar a ajuda pedida que é bom….nada…“ Nunca mais chegam os nossos amigos de Peniche…” diziam os lusos….Eu para mim, digo frontalmente: vão desembarcar noutro porto que a minha marina está cheia…Os amigos de Peniche não são muito diferentes dos amigos do alheio, porque nos tiram o que temos e nada nos dão em troca.Fiquei a matutar nisto e veio-me a cabeça um frase que li algures na blogosfera que define em muito este meu sentimento:No médico, paga-se no fim. Nas putas paga-se no princípio. A amizade, julgo eu, não é um consultório nem um bordel. Daí pergunto, será a amizade um daqueles créditos em muitas prestações e sem juros? Alguém quer ser meu fiador? E um aval pode ser?...Com isto tudo, está visto que não durmo mesmo…