Se eu te amasse...
Se eu te amasse...
Ah! Se eu te amasse,
Quiçá te desejasse,
Ou ainda te sonhasse:
Morreriam as flores,
Ruiriam as cores,
Feneceriam dores!
Que seriam dos ventos,
Arautos dos lamentos,
E de amantes, tormentos?
Que seria deste mundo,
Submisso infecundo,
Neste sono profundo?
Quem esgotaria horas,
Esperando auroras
E manhãs trovadoras?
Amar-te? Que demência,
Seria a inexistência…
Amar-te? Que falência…
Não haveria magia,
Baile, corso, folia,
E tudo morreria…
Finar-se-iam paixões,
Cativos corações,
Em elos de traições.
Mas se eu te desejasse,
Teus lábios, eu beijasse,
E teu corpo, eu tocasse,
Não haveriam mais céus,
Nem odaliscas em véus,
Nem mais poemas meus!
E das rosas, os perfumes,
Das brisas, os queixumes,
Mortos por teus ciúmes?
Que luares prateados
Nos seriam ofertados,
E quão verdes os prados?
Nem na nossa memória
Se retém já a história
Desta paixão inglória!
Contigo, meu “amor”,
De ontem, restou a dor,
Hoje? Só um penhor!
Almas Gémeas
Almas Gémeas
Cinco horas e treze minutos...
Madrugada!
Olho, pela minha janela, o mar.
O mar majestoso e manso,
por vezes cruel e traiçoeiro.
Raios obscuros numa metamorfose
de luz se projectam no seu seio
fazendo parecer mais e mais
um mar vibrante de pirilampos
que líquido salgado em repouso.
Algo me ocorre no pensamento,
como tantas outras vezes,
(que) deixo vaguear o espírito:
- Se o mar tem alma?
Como nós...?
Se ela é igual à nossa?
Alma com a mesma paixão
e defeitos que nós humanos,
e se matéria também...
Mas porquê alma?
Porque não espírito,
uma força motriz qualquer
provocada por nervos em vibração!
Porquê alma?
Porque não coração?
Apodero-me do momento,
dos ego, id e super-ego em ebulição.
Toda a reacção de um cérebro ao rubro
me rebentam na pele fria, arrepiada,
nos dedos febris em movimento,
na boca sequiosa de um ai,
nos olhos cheios de maresia…
Cativo folhas de papel virgem
e rasgo-lhes os ventres
com lápis acerado de negro.
Ordeno as ideias (vã tentativa)
e, de raiva, transmito à mão
mensagens sem fim.
E escrevinho letras a eito,
Sem jeito nem decoro,
Sem tino, demente,
palavras que não atino.
Mas escrevo, ditador,
o que sinto e me aterroriza,
como um louco furioso,
por algo descabido...
- UMA ALMA GÉMEA!
Parecidas como duas gotas de água,
que se encontram, enamoradas,
e se reproduzem sôfregas!
Algo utópico, algo ilógico…
Abortado pelo destino,
ou uma força estranha
e de poder misterioso?
Mas para quê lamentar?
Tudo que resta é o sonho!
Almas gémeas!
Quem as viu ou as sentiu?
Se conhecerem algumas,
digam-me...
- Diz-me mar!
- Diz-me céu!
- Diz-me chuva!
- Diz-me vento!
Nada?
Nada!
Não haverá amor, entre vós,
um par sequer, dois seres
para formar uma alma gémea?
Nada?
Nada!
Só passar por esta vida
deixando apenas impressa
a nossa presença
numa reles fotografia que obtemos,
então: "matemo-nos"!
Oh! Seis horas e vinte e um minutos.
Vai despontar a madrugada,
num qualquer dia mais.
E eu???
Mudo a máscara do drama,
da circunstância e do preceito.
Vou voltar à realidade...
"Almas gémeas"?...
Lisboa, 25/05/2015
Amores Mundanos
Amores Mundanos
Que me importam amores mundanos,
honrarias e prazeres ufanos,
promessas falsas de eternidade,
se, em meu redor, felicidade
me atinge num vigor imortal
me eleva numa arte conjugal?
Que me dessedenta do torpor
de tempos febris e buliçosos,
almejando doação total,
sem receber, de outro ser mortal
mergulhado em prantos ciosos
só o cárcere do seu rancor?
Em redor, meu olhar se liberta,
vagueando em parte incerta,
onde a natureza se conjuga,
escondendo de mim esta fuga.
Em redor, as montanhas e céus
acasalam, em dança de véus,
matizados dos verdes tocante
anilados. Eu sou seu infante.
Lisboa, 03/06/2015
Carta de Elogio ao Amor
Carta de Elogio ao Amor
Bela donzela,
matizada de Outono,
imagem singela,
menina em sono.
Desejo de água,
Ornado de inverno,
Louca fuga, mágoa,
Amante eterno.
Osmose de cores,
folhada de estio,
prenha de amores,
saciar do fastio.
Ais de coração,
Doce primavera,
Serena paixão,
Enlace, nó de hera.
Tela de ilusão,
Éter do desejo,
Vinho, fruta, pão,
Poema, ensejo.
Coração fremente,
Formosura, nu,
Num beijo dolente,
Fada, ninfa - TU!
Lisboa, 01/06/2015
Laivos de Incerteza
Laivos de Incerteza
Amordaçado em questiúnculas díspares
de uma mulher possessiva, eis-me aqui,
nu de alma e nu de coração, rasurando,
de verso a verso, de estrofe a estrofe,
esta minha raiva incontida pela injustiça,
sem a esperança num futuro fidedigno.
Os laivos da incerteza cravam-se insanos
nas dores das minhas vãs lamentações,
ferinos, vorazes, sugando-me o sopro vital,
guerreando-me a tímida paz de espírito,
perante rameiras, senhoras da mentira,
ornadas de véus de tentação enganadora.
Rasgam as folhas, por mim, rasuradas do erro
lavrado no meu coração vazio de emoções,
cercado dos grilhões férreos armados de ódio,
que me laceram vorazes a alma e me cativam
nas mil traições enredadas de falsos dramas
enleados como hera bravia sobre a vossa alma.
Minha boca está amordaçada de sujos farrapos
das recordações transformadas em pesadelos.
Meu sono solitário está deserto de sonhos ternos,
mirrando na secura das mil e uma promessas fúteis.
Meu ser estrebucha clamando pela morte fatal
pa ra que a vossa vitória seja só uma fria derrota.
Sediam-me na sombra da inveja galopante
que irrompe das veias secas de compaixão
e do sangue doado generosamente ao amor.
Cavalgam, em tropel, outras vontades alheias
que vos massacram os sentidos exaustos,
e vos negam de ti na percepção total da verdade.
Mas a esperança, agora ruída, não morre nunca;
mais bela, outra amazona-musa virá libertadora,
quebrará minhas cadeias e beijará, docemente,
a minha boca ferida de vossos tumores malignos,
curará as minhas mãos de poeta com suas lágrimas
vertidas de seu amor eterno e vos expurgará de mim!
Lisboa, 29/06/2015
Sombra Errante
Sombra Errante
Minha alma se queda, inquieta,
nas brumas das noites sem luar,
vazia de emoções, de cor e de luz.
É como qualquer estátua erguida
em jardim esquecido, tomado pela floresta,
sombra errante no desfilar dos dias.
Na pedra cinzelada apenas escorre
o negrume das tormentas de ilusões
e, nos veios, gangrena a solidão.
Do olhar, as lágrimas petrificadas
são suspiros moribundos que fenecem
aos cantos e sussurros dos amantes.
Os lábios petrificados se emudecem,
saboreando o sal corrosivo e sedento,
nos murmúrios antecedentes de agonia.
Como te chamar na multidão hostil
caminhando no horizonte longíquo,
se és somente um espírito anónimo?
Como apelar às musas seus encantos
e aos poetas seus cantos e paixões.
Se tudo meu se esvai errante na sombra?
Que carinhos poderão da alma emanar,
que cruzem minha sombra ao teu caminho,
e floresçam amores? Erro da sombra...
Sombra errante de corpo vagabundo!
Meu Lírio
Meu Lírio
"Meu doce lírio, minha amante
Eterna dos campos em flor,
Vestida de cetins azul
E branco alvo como neve.
Tão dentro de mim, mas distante
Nos campos verdes do sol-pôr,
Cativa nas terras do sul,
Fustigada por brisa leve.
Meu amor, meu lírio rosado,
escrevo-te com o coração
desfeito de dor e do teu
desejo que desiste de viver.
Ouvi dizer que nesse prado,
gerado pela ilusão,
da harmonia e da beleza,
as flores teimam em morrer.
Os asquerosos germes,
de odio e de raiva,
foram-lhes traiçoeiramente
lançados, vergando-as sem dó.
E os perfumes inebriantes
Que em voluptuosa dança,
Eram ofertados à mente,
São insípidos grãos de pó.
Não morras minha terna flor,
não te curves à voragem
das chamas, em redor,
vorazes, cuspindo cinzas na raiz.
Mas se no meu coração a dor
de te perder surgir, coragem,
arrancá-la-ei com tenazes
e lhe gravarei a tua flor-de-lis".
Bósnia e Herzegovina, Julho/1999.
Noite Escura
Noite Escura
Nesta noite gélida,
estarei em teus sonhos,
silenciando a louca
escuridão envolvente,
e sentir teu cabelo
em ondulante cascata
a cobrir o meu rosto
escondendo mil beijos
de acutilante desejo
a saciar algo de nós
chamado amor!
Lisboa, 15/07/2015.
Lágrimas
Lágrimas
Se lágrimas, por nós,
vertidas da saudade,
a sede desponte,
juro-te, meu amor,
que jorraria,
de meus olhos,
água pura de fonte.
Lisboa, 29/06/2015
Noite Eterna
Noite Eterna
No refúgio nupcial,
os nus dos amantes
se afagam ternamente.
Nessa noite estival,
embalada de natureza,
unem-se corpos e almas.
Em redor, em melodia,
a vida consagra sons
louvando O Criador.
O vento cicia brisas,
flores odoram danças
e aves as entoam loas.
E nossas mãos se tocam,
se entrelaçam de desejo,
Nossas bocas se sorvem,
deliciadas de aromas,
Nossos corpos se cruzam
elegendo-nos supremos.
Eterna é a noite prateada
que nos acoita, felizes,
num sussurrar de amantes.
Eternos são os momentos
que nos absorvem, ciosos,
no fogo voraz de paixão.
Lisboa, 15/07/2015,