Poema cansado de esperar
queria que me esperasses nesse tempos
onde preparas os intervalos,
das nossas existências,...
eu não sei de maldade,
não percebo se respirar assim,
com dores de saudades a escortanharem
uma voz que já nem viva está,
será digno,
será modelado ao presente
que ainda consigo ter,...
conjugar assim tantos verbos
reduzidos ao particípio,
da espera,
tira-me a força de um
argumento que só está desenhado,
de traço trémulo,
com um sol que desmaia pelo
meio desta chuva ácida cor de enegrecido,...
esquece que te pedi a espera,
prepara-me só a partida,
porque a dor entontece-me o argumento
Alienação do tempo descrito
esperávamos um mandamento de respeito. Algo como a voz, replicada em sonoras
ondas de eternidade, que saísse de dentro daquela casa que, decrépita,
se preparava para morrer.
Diziam que era ali que entravam
homens sem alma, e saíam profissões de fé transformadas
em alvoradas sem cor.
Só deixando para trás um odor a terra queimada, sinónimo de maternidade hermafrodita.
Líamos a razão, apenas com os olhos fechados e em lágrimas.
Falava-se no milagre sem cor. Que a criação seria recriada aos poucos,
sem fantasia.
Disposta a ouvir as pessoas no sono
e na alvorada. Independentemente de credos, raças, ou segregações sexuais declaradas.
Efusivamente anunciado, o tempo parecia ter recomeçado. Em ti eu achava o protocolo certo de estar vivo. Ouvindo salmos de anúncios sem voz,
a rescisão da divisão entre o real e o passado,
a frase escrita, e dita.
Precisávamos de uma razão para continuar a respirar.
E encontrámo-la nas danças alienantes da névoa da manhã, que bailava estranhos encantamentos hermenêuticos em nosso redor, pedindo a madrugada.
Talvez tudo fosse o necessário para que cada minuto se passasse como nunca havia sido o anterior, e nunca poderiam ser os restantes que estivessem para vir.
Renovada depreciação da luz
enquanto o amor,
sim o ódio que
me resta do amor,
esse guarda-se
no bolso roto de tanto
tempo,
o resto não saberei
o nome,
só o vento,
a frase transpirada
neste esquecimento
de criação,
que a lonjura me traz,
de quando em quando,....
acharei ser teu,
mas a renovada
depreciação da luz,
a que me cega o
lote fechado
destes versos
que não entendo,
e que são o que ainda
me abre os olhos,
me tolda a tristeza,
pinta este ódio
do amor que nunca
me recordei tanto,
como agora
Com e sem sol
talvez haja o sol,
uns desenhos sujos,
irrelevantes,
morrendo como sombras chinesas
nas paredes eternecidas,
do entardecer,...
com as cidades
a perecerem por trás da frase,
do complemento direto
destes segundos
que matam mais
que debitam,
a nascitura infelicidade
de milhões de anos
num copo de nada,...
e quando só há o breu,
a fútil certeza da desilusão,
fazes-me a mim mais mal,
que bem,...
sem sol
Ágora
Parece um absurdo mas,
De braços alinhados,
Haveria ainda margem para o erro,
Sonhavamos todos o mesmo,
Apareciam os mesmos inconseguimentos às mesmas pessoas,
Em suma o irreal era palpável para todos,
Ao ponto de nunca mais a lonjura se assemelhar a um monstro,...
Os restos de civilidade eram acomodados debaixo de terra,
E as pessoas partilhavam experiências más,
Como se a razão se jogasse igual à bola mais escondida dos cantos do mundo,..
O papel de sacerdote coube ao moribundo,
De alma encomendada arrastou os pés pela lama azulada,
E acasalou com o luar até nascer um sossego comum para todos,...
A felicidade anotou provérbios nas mãos dos presentes,
E o tempo acabou como se a rotina se enegrecesse,
no sol que já despontava
Inseguranças
Há certamente formas mais cómodas de contar isto,
Nao sei qual escolha,
A voz enlameada,
Não passa com o que provêm deste sol esquizofrénico,
Atrás de mim,
De ti,
De todos sem que haja sequer voz,...
Tenho um texto escrito com respaldo,
Pode suportar todo este empobrecimento consequente à dor,
E nada mais diz que um novelo de contradições,...
Sou pobre na espera de metáforas,
Vendo só o que aqui está,
Sem o conseguir classificar,
Adio as frases inúteis,
As pausas de poesia experimental,
E assim revelo-te a minha mágoa,...
Incomodado preciso de tempo para ser objetivo
Método científico
Que assim como eu mostrasse fascínio pela resolução,
Não deixar a hipótese a meio,
Testar,
Influir nos cenários de amenizacao de um problema,
E depois trabalhar para adiar,
Adiar o inevitável,...
Pensar que o romântico atrasa,
A probabilidade admite o erro,
E que poderia ter sido aprazível termos esgotado cenários,
Admirar a localização desta cidade,
Com a coragem de a deixar,
Com as esporas do ódio bem cravadas no chão que se viesse a palmilhar
Crítica literaria
Gostei da imagem de tranquilidade que o poema transparece,
Dois homens a dirimirem opiniões políticas divergentes,
Dois copos de vinho mal servidos numa mesa suja e gasta,
Uma criança de olhar longínquo,
Comprometida com algo e que assume um silêncio assustador,...
Conseguiste uma catarse específica de qualquer coisa,
A que um bom título poderá emprestar cheiro de fábula,...
Configuro a minha leitura com este meu preconceito com a realidade,
Não aprecio mais por me sentir descomprometido com a insuficiência da vida em respostas
... É o nada saber porque assim o desejo
estas são pequenas coisas,
deslindes próprios das situações que ficam
por resolver nos dias
de sol escondido nas
dúvidas,
escrevo-as na palma da
mão ao lusco-fusco,
depois com toda a força
que a ignorância me permite sopro,
e tudo se desvanece
no voo solto do que
almejei para este momento,
soluções,
factos consumados,
segundos milimetricamente dispostos
em círculo para me fazerem sentir bem,
de tudo abdico para ficar solitariamente a planear
acabar com este sentimento de malha fina que
é o nada saber porque assim o desejo
e ao máximo denominador comum do estar aqui
e depois daquelas noites em nó,
ao fim de estradas e estradas de
chuva em verso,
que nos tiravam a visão,
deixando nas
bermas os equívocos
alinhados em desilusão,...
aninhaste o fogo
seco do amor
aos meus pés,
razões para que
lá fora nem
se ouvisse o vento,
só os choros
inconsequentes de
quem nem nos conhece,
só ignora,...
e ao máximo
denominador
comum do estar aqui,
escolheste partir,
ficando para
trás um real,
dissecado
no bolor do
choro sem cheiro