Ao lado do silêncio
estou no dia de hoje
como numa poesia,
não tolero discordâncias,
as minhas reposições
de suor cabem em poucos
argumentos,
só mesmo nas
frases curtas do desinteresse,....
a poesia abraçou-me
porque sim,
não encontro
outra explicação que
não a básica,
a que não faz pensar,...
não sou pessoa
que se vista para equivocar,
muito menos para
alumiar essa noite de
que tanto me falas,...
sou o que escrevo,
mas não escrevo tudo
aquilo que sou,
deixo-me arrastar
para que a poesia
faça de mim o que quer,....
e pronto,
acredito só em metade
do que me dizem,
devido a uma incredulidade
doentia
Pratos de comida vazios
Em segundo ficavam sempre os pratos de comida vazios,
Depois da noite,...
Quando na casa nos restávamos à boçalidade e aos risos engaiolados,
Abriamos hostilidades pensando em livros de poesia,...
Digladiando etilismos,
E síndromes de Estocolmo desenhados nas paredes,
Percebiamos que um bom verso suja as casas,
Anula a harmonia falsa recontada todos os dias,...
Os pratos de comida vazios vinham depois,
Rendidos aos poemas recortados,
Adormeciamos infantilizados num beijo
Ilusão sem nome
Muito para além do desespero,
Das notas de rodapé filósofadas,
Estamos anacrónicos em conjunto,
Em sintonia apenas com o vento,...
Fizeram de nós os planos excedentes de um filme de principiante,
Com laivos de teste inocente às provações humanas,...
Incapazes de resistir,
Aninhamo-nos perto de nós,
E vamos ficando até o tempo nos dissecar,
Deixando entranhas expostas pelo prazer simples de experimentar o mal,..
Ao que soubermos resistir,
Virá uma luz que anula a frase,
Deixando a obrigação de repetir a provação
Dura lex
Sou um museu fechado aos ímpios,
Aos impuros,
Em mim só com livros sem uso,
De páginas a fio em branco por analfabetismo literal dos leitores,
Se pode entrar e ficar,...
Deixei-te pois à porta,
Com o argumento de que no país onde governo,
Cada dia é feriado para os ignotos,
Sempre que decido,
Por decreto assinado a lágrima sem cores
A carta
a letra pequena estava escrito
bom dia,
num ligeiro sublinhado irregular percebia-se a tremura da mão,
num canto do papel,
quase imperceptível,.
o que parecia ser uma lágrima
sublime,
quase envergonhada,
a pedir licença para existir,...
era um papel dobrado em quatro,
e guardado num sobrescrito azul muito desmaiado,
observei-o muito tempo,
seria da mais imensa solidão aquela prova que tremulamente segurava entre mãos,...
depois lembrei-me do sol no teu sorriso,
guardavas em ti escrever mais que esta morte,
e nunca te percebi adeus assim pensados,
expressados,...
talvez mais tranquilo caminho ao teu encontro,
a passo largo,
evitando como posso a chuva que se desprende deste céu,
que nos separa há tanto tempo
o cardo
o cardo disse olá,
salta de janelão
em janelão,
até que a luz
contigo brinque,
e desenhe
círculos sem nome
que,
juntos,
formem uma
aliança de vontades
concentrada,
desejada por todos,...
e o cardo
que siga depois,
para a revolta dos
sabores,
fica lá à frente,
onde espero que ninguém
enlace as mãos em estrela,
de modo a que se percam só
as desilusões,
e a felicidade encastrada nos bancos
sem cor do jardim,
se extraia a tempo,
e dê para a sopa
primordial de que toda
a gente fala,
mas ninguém
sabe descrever com
as palavras certas,....
vá lá,
espero pelo cardo,
diz-lhe que sou
alegre,
mas conformado com
a dor que me faz coxear
enquanto choro
Arruamento vazio do tempo
seremos confundidos com
o amor,
a nós virão os equívocos
dos dias trôpegos,
como que o tempo a envelhecer
sem que o nosso corpo o acompanhe,...
falaremos de temas infelizes,
sem soluções aproximadas
de compromisso,
e em redor da assembleia
dos dias que correm,
o homem ressurgirá na solidão,
avesso ao que de comunitário
nos transpira da pele,...
e para que no alimentar das almas,
se pense de novo que a poesia
cura feridas,
virão os choros de criança,
a adormecer no que de
incerto tem a noite que cai
Primado da pessoa humana
Assim como o que se pretende que seja discreto,
E acima de tudo anuido apenas pela presença,
Não fazia tencoes de descrever este dia como diferente dos outros,...
Havia dinheiro suficiente para comprar silêncio,
Armaduras antigas à porta do a antiquário da minha infância,
E tanta lama de conhecimento,
Livros rasgados por nenhuma ordem em especial,
Que atapetavam o caminho para fora daquela atafulhada desordem emocional,...
Pensei como a razão,
Enquadrado pelo primado da pessoa humana,
E sem a profundidade necessária,
A música levou-me até ao próximo contacto racional,
Um mundo de estátuas sem nomes,
E que me agravava a dor de infelicidade
Treme
treme,
recordei-me
de ti concisa,
sem rodeios,
por isso quero
que tremas,
vacila um pouco
e o medo
enredará em ti o
modo assustador da indecisão,....
tremendo serás outra,
sem fragrância,
com a frase certa
para cada rodapé
incompleto que a vida nos dá, ...
a tremeres farás
parte de mim,
sem que eu consiga
fazer parte de ti,....
a tremer lanço-te no vazio,
sem que queiras voltar
Tempo e amor
a culpa é de quem acha que a fratura do tempo,
não se cura como um mal de amor,
cura-se,
os corações são os ponteiros da indecisão,
as bocas por beijar fazem as vezes dos choros
das mortes,
e das velhas que morrem de desnutrição
quando lhes falta o apoio de décadas,...
ao tempo não se pode pedir mais tempo
para que deixe de ser tempo,
como ao amor bastam duas vezes o silêncio
para que se perpetue só o tempo
suficiente até desaparecer,
só que o amor renasce,
e flutua pelo etéreo dos tempos,
deixando ao tempo o papel indefinido
do passar dos tempos,
até que no ser só reste o querer,
e o odor do tempo