Dia de finados
o mar,
de noite,
quase circunda o
desfeito em que a
razão se move,....
traça caminhos,
desfaz a porção menor
da secura das luzes,
e como me movo nesta
indisfarçável vontade de
nada descrever,
de tudo guardar por entre os
dedos soltos,
sem anéis,
escolho disfarçar a
nudez do tempo,
contigo,....
se me servires de pele,
prometo que amanhã a
horas do sono,
dormirás com o
meu contorno na nossa cama
Vendedor de sonhos
Era bom ligar as coisas pelas pontas,
Imagina assim,
Eu era um vendedor de roupa usada,
Daquela feia,
Que ninguém quer e só a maledicência nos leva a aproximar,...
Tu ias querer um vestido sem cor,
De uma transparência mediamente reveladora,
Que custasse barato,
Eu aproximava-me para dizer que o que vendia eram realmente sonhos,
Que poderiam agradar-te pois também eram diáfanos,
Quase opacos,...
Chegávamos a um consenso,
E levavas para casa um sonho de cordas,
Com muitas pontas soltas e desfiadas,
Que de ti iriam exigir uma dedicação extrema,
E quase literária,...
Não te cobraria nada,
Pois sei que amanhã estarás nessa mesma esquina,
Necessitada de luz com música
Abreviatura
Tão depressa da minha boca não sairão dores,
A coragem da única vez em que,
Contigo,
Percebi que a luz é um desenho de morte na praia,
Desapareceu,...
Por isso permanecerei mudo à espera que em todas as casas,
Nas únicas casas onde ainda restar o conformismo,
Subsistam para sempre pequenos vestígios do ouro que lá deixaste,
Quando te bastava a anuência de respeito,
Que para ti era o único beijo que te sabia dar
Poema de agonia
Eles também me puseram a pensar de longe,
Não querendo parar com a repetição de ideias,
Nem com argumentos tóxicos escritos a carvão barato de uma loja de pobres,
Forçado me sentia,
A escorrer pela face,
Desordens,
Laços compreensivos da língua em agonia que da minha boca gangrenava,...
Ao fim de tanto luar,
Crateras nos meus dedos de tanto esforço inopinado de escrita,
Tornei-me assintomatico,
Doente sem sombra,
Atenuado pelo verso,
Que desnudado me reergui do fatal,
Sem olhar para trás com a agonia a doer
Confiar exarcebadamente
Confio na luz do meu medo,
Não repouso em ti quando esse desejo falha,
Confio em tudo o mais que comece sem letras,
Apenas com intenções mal expressas a alta velocidade,
Confio na vontade de confiar que fica por consubstanciar,
Não desejo que a confiança vá além disto,
Até porque não confio em precisas conjugações do verbo desejar,
Das que na água se afogam no preto da vontade madrasta de confiar,...
Confio que estejas em tudo à minha volta para que iluda o ser aumentado,
As luzes da maioria dos rebentos que desconheço,
Mas de que me alimento para quando mais preciso de porfiar,...
Confio que tudo se termine no momento em que lida esta modorra de solidão,
Anseies por não mais leres este meu lado confiável
Pôr do sol ansioso
não haveria nada de novo,
esperava-se talvez que
o passado
respondesse com o som,
mas nada acontecia,
a firmeza era a suficiente
de um argumento,
e eles esperavam acomodados,
com medo de nada e de tudo
ao mesmo tempo,...
para que o registo da fatalidade fosse
efetivo,
as inocências de afeto teriam de ser resolvidas,
as desprezíveis inconsequências
de uma ideologia fratricida,
eliminadas,...
talvez aí pudesse surgir
o belo,
o desejo de um esteta,
a pintura insuficiente
da minha alma,...
antes disso só a previsão,
e a demora
Na minha casa
só poderás perceber se na minha casa,
eu for o momento em que o tempo parou
nas nossas mãos,...
não me chames equívoco,
nem espaço entre as razões que não entendes,
na minha casa,
no espaço em que rastejo pelas
mensagens que nunca formulámos
ao sol,
sei menos que um moribundo,
não percebo sequer os precedentes da minha vida,...
e enquanto isso,
há lá fora uma música que te
entende melhor que alguma vez o consegui
Menina insuficientemente feliz
Insistia em querer dizer que estava tudo bem,
E podia vir a estar ainda melhor,
E agora,
Socorria-se das colunas de névoa que a envolviam quando era obrigada a,
Dançar com o frio insinuante das manhãs de Inverno daquelas bandas,
Para adorar as coisas sem nome que as pessoas lhe atiravam aos pés,
Quando fosse a maior rainha de jasmim que aquela terra alguma vez tinha visto,...
Tímida,
Olhava com um calor por explicar os olhos das pessoas,
Tentando falar sem voz,
Com as palavras recolhidas nos nós gretados dos dedos gelados,
E queria dizer a todos como pesava a vontade de fazer coisas,
De alumiar com a alegria desmedida apenas um céu que nunca passava daquele cinzento gretado,
Mas que ela queria todo refletido de histórias felizes,
De enternecer,...
Noa sítios onde chegava a cada dia,
A realidade voltaria a ser pesada,
Anónima até com laivos de remoinho de amargura,
Mas não iria fazer mal,
Tudo cheirava bem o possível,
E amanhã tudo poderia recomeçar com novas cores
Nada
Nada,
As frases,
O alento de uma certa entoação,
Até um pé ante pé para fora
Desta tempestade,...
De nada restava as capitulares,
Só o que se podia descrever,
Como se o tempo trouxesse aquele alento que nos falta,
Para meter a morte no bolso,
E reduzir o big bang a uma bica e um cigarro,..
Repito,
Nada,
Duas fases inexatas da mesma tristeza
Chama medieval
Chegada ao teu rosto,
Esta era uma chama sem história,
Quase perfumada,
Que não gerava expetativas,...
Esperava-se por um fogo que ajudasse a embalar livros antigos,
E precisasse de alguma água para que as pessoas pudessem evoluir,
Deixassem de considerar imoral as faces imprecisas de um amor que se exprime por si próprio,
Sem lufa-lufas impessoais,
Apenas com roupas de rubras gargalhadas que deixassem ao expoente inalcancavel,
Tudo o que há por explicar em textos monolíticos como este,
Sem fendas,...
Percebendo que seria um rosto adormecido,
Aligeirado de forma quase socrática no escuro,
Acomodo-me num mundo acamado apenas pelo atraso nas experiências,
Aclamado à minha maneira silenciosa