Poemas, frases e mensagens de pleonasmo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de pleonasmo

Metáfora embrulhada

 
agora perguntas-me e daí,
o que sobrevive quando já não
temos mais roupa,
que esconda o que queimámos ao
cantar sem destino,
dizendo-nos povo sem dono,
música sem quartel,
conceito sem explicação,...

se me perguntares pela luz,
respondo-te que agora,
mesmo neste momento
que não mais voltará,
já não sei se parar de escrever
o que te oferto,
será sinal que sei parasitar o
suficiente a tua saudade,
para que não abdiques da minha
insuficiência,
dos defeitos que desfiei e desfio
aos teus olhos,
como o tear das tecedeiras
que trabalham para não morrer,
e morrem para que outras venham
depois delas,...

perdoa-me se a metáfora embrulhada
neste papel sem cor,
não te arrastou de novo para a estória
do sorriso que te corre no sangue,
mas não sei fazer melhor
 
Metáfora embrulhada

Maio,...até morrer

 
como cantava Maio,
dizia de Zeca o que o povo
se esqueceu,
trazia o milho moído nas gargantas
secas da mães,
e fazia de um lagar de vinho,
o prazer acintoso das crianças
desviadas do amor,....

Maio cantava ao desbarato,
partia aos bocadinhos a sorte
invisível,
distribuía livros de páginas brancas,
recitava versos,
sem sentido e sem cor,...

como Maio cantou até morrer,
tudo acabou no arco íris
do estio,

com chuva
 
Maio,...até morrer

Frémito cobarde

 
So de sair a rua,
O aproximar das frases engloba o que não se soletra,
E fica apenas implícito nas indecências semânticas das pessoas,...

Atrai-me ver como de um facto se extraem consequências para tantas vidas,
E a rotina de repente encardece,
Fica vulgar,
Com as pessoas a ansiar por libertadores que da mudez façam teorias sociais,
À prova de bala,....

Nada disto encontro na escrita,
Por isso tenho para mim que os cobardes dão bons romancistas,
Expelem o frémito possível de si próprios
 
Frémito cobarde

Lenta transição para o real

 
Os limites consigo traçá-los,
as dúvidas não se colocam
neste cenário,
até porque não saem
do tracejado irregular do papel,
ficam escritas num tom mortiço,
e ali as deixo,
procurando que não se enraizem de mais,....

tudo isto para explicar como
os meus dedos só servem para uma definição,
dois cenários,
e talvez tudo o que de mais me procurem
no incerto da manhã,...

não serei a proposta mais fiável de uma teoria moribunda,
mas esforço-me,
ganho margens,
e se o que florescer restar no dealbar da noite,
tolero introspeções,..

de outra forma nunca
 
Lenta transição para o real

Obrigados juntos a ver

 
 
o que te obriguei a ver,
o que juntos vimos,
doíam os olhos,
sangrava a vista,
porque de ver nada tirámos,
só sentimos,...

sei que o que vimos,
anotámos na areia,
e depois a chuva veio,
e tudo se desfez,
desaguando no nada,...

doem ainda os olhos,
de termos visto o que vimos,
recordas-te do que vimos?,
eu acho que já não,...

não importa,
ainda cá estamos,
para que se calhar,
já nada mais haja para ver
 
Obrigados juntos a ver

Espero por ti

 
eu espero por ti,
se quiseres,
não olho sequer para
mais nenhuma hesitação,
nem espero que os dias
acabem para me reafirmar,
sem bases concretas,..

espero por ti,
porque julgo ser o melhor,
nem pondero alternativas
que me soem bem,
na declamação,
espero o tempo que for
necessário,
para que nada neste
texto mal escrito,
fique por explicar,....

que existam personagens,
para que valha a pena
esperar por ti,
porque senão,
mais um punhado de areia
não valerá a desilusão
 
Espero por ti

Conclusão de solidão

 
Enquanto dormia a frase não mais se repetiu,
Tudo era longo,
A possibilidade de um delito de opinião mantinha-se,
Já que as pessoas não eram livres,
E por mais que circulassem livros,
E no piano se ouvisse qualquer coisa parecida com a felicidade eterna,
Não era a mesma coisa,...

Ao acordar era velho,
As posições dos equívocos tinham mudado,
Não havia mais professores,
Nem lições de frontalidade,
Por muito que não lhe agradasse,
Tinha de prosseguir,...

O mundo ia acabar sem alusão à
Felicidade
 
Conclusão de solidão

Partir copos

 
Poucas vezes depois do sol,
Conseguia partir copos,
Só repousava antes do sono,
Um pouco contrariado,
Muito indeciso,
Sempre com mãos sujas de negrura,...

Dormia com sangue o tempo suficiente para me habituar à dor,
E escolhendo ter sede,
Partir os copos que quisesse,
Antes de gritar inocentemente de dor,...

Agora já não me lembro da força que tive de aproveitar,
A meio do choro com a frase
 
Partir copos

Fonética

 
desamparadamente,
caem-me os impossíveis,
as frases sem cês de cedilha,
e os ditongos emudecidos,
os que melhor exprimem a volúpia,..

não recupero a forma,
nem o conteúdo das imperfeições,
só me fazem esperar
tanto,
e tanto tempo pelo
que me dás em troca,
e nada surge,
nem o restolho do desprezo a que
me habituaste,...

e já lá vem o crucifixo do olhar,
já que depois de renegar o impossível,
comprometi-me com
o desprezo aos lados
inúteis da criação
 
Fonética

exegese

 
terás de me matar
de novo,
se quiseres um
lugar de escrita,
duas linhas
imprescindíveis que façam sentido,
para que não me perca
a respirar por cima da minha subida aos céus,....

terás que renovar o
esforço,
fazer de mim
um troféu sem valor,
e assim a redação
de um final credível,
com plena aceitação
da escassa condição finda dos imperfeitos, será palpável,
muito mais que um verso inutilizado,....

pedir que me mates,
sim,
era a frase que faltava
neste raciocínio,
com pouca lama na
engrenagem de todos os dias
 
exegese

Dia de finados

 
o mar,
de noite,
quase circunda o
desfeito em que a
razão se move,....

traça caminhos,
desfaz a porção menor
da secura das luzes,
e como me movo nesta
indisfarçável vontade de
nada descrever,
de tudo guardar por entre os
dedos soltos,
sem anéis,
escolho disfarçar a
nudez do tempo,
contigo,....

se me servires de pele,
prometo que amanhã a
horas do sono,
dormirás com o
meu contorno na nossa cama
 
Dia de finados

Vendedor de sonhos

 
Era bom ligar as coisas pelas pontas,
Imagina assim,
Eu era um vendedor de roupa usada,
Daquela feia,
Que ninguém quer e só a maledicência nos leva a aproximar,...

Tu ias querer um vestido sem cor,
De uma transparência mediamente reveladora,
Que custasse barato,
Eu aproximava-me para dizer que o que vendia eram realmente sonhos,
Que poderiam agradar-te pois também eram diáfanos,
Quase opacos,...

Chegávamos a um consenso,
E levavas para casa um sonho de cordas,
Com muitas pontas soltas e desfiadas,
Que de ti iriam exigir uma dedicação extrema,
E quase literária,...

Não te cobraria nada,
Pois sei que amanhã estarás nessa mesma esquina,
Necessitada de luz com música
 
Vendedor de sonhos

Abreviatura

 
Tão depressa da minha boca não sairão dores,
A coragem da única vez em que,
Contigo,
Percebi que a luz é um desenho de morte na praia,
Desapareceu,...

Por isso permanecerei mudo à espera que em todas as casas,
Nas únicas casas onde ainda restar o conformismo,
Subsistam para sempre pequenos vestígios do ouro que lá deixaste,
Quando te bastava a anuência de respeito,
Que para ti era o único beijo que te sabia dar
 
Abreviatura

Poema de agonia

 
Eles também me puseram a pensar de longe,
Não querendo parar com a repetição de ideias,
Nem com argumentos tóxicos escritos a carvão barato de uma loja de pobres,
Forçado me sentia,
A escorrer pela face,
Desordens,
Laços compreensivos da língua em agonia que da minha boca gangrenava,...

Ao fim de tanto luar,
Crateras nos meus dedos de tanto esforço inopinado de escrita,
Tornei-me assintomatico,
Doente sem sombra,
Atenuado pelo verso,
Que desnudado me reergui do fatal,
Sem olhar para trás com a agonia a doer
 
Poema de agonia

Confiar exarcebadamente

 
Confio na luz do meu medo,
Não repouso em ti quando esse desejo falha,
Confio em tudo o mais que comece sem letras,
Apenas com intenções mal expressas a alta velocidade,
Confio na vontade de confiar que fica por consubstanciar,
Não desejo que a confiança vá além disto,
Até porque não confio em precisas conjugações do verbo desejar,
Das que na água se afogam no preto da vontade madrasta de confiar,...

Confio que estejas em tudo à minha volta para que iluda o ser aumentado,
As luzes da maioria dos rebentos que desconheço,
Mas de que me alimento para quando mais preciso de porfiar,...

Confio que tudo se termine no momento em que lida esta modorra de solidão,
Anseies por não mais leres este meu lado confiável
 
Confiar exarcebadamente

Pôr do sol ansioso

 
não haveria nada de novo,
esperava-se talvez que
o passado
respondesse com o som,
mas nada acontecia,
a firmeza era a suficiente
de um argumento,
e eles esperavam acomodados,
com medo de nada e de tudo
ao mesmo tempo,...

para que o registo da fatalidade fosse
efetivo,
as inocências de afeto teriam de ser resolvidas,
as desprezíveis inconsequências
de uma ideologia fratricida,
eliminadas,...

talvez aí pudesse surgir
o belo,
o desejo de um esteta,
a pintura insuficiente
da minha alma,...

antes disso só a previsão,
e a demora
 
Pôr do sol ansioso

Na minha casa

 
só poderás perceber se na minha casa,
eu for o momento em que o tempo parou
nas nossas mãos,...

não me chames equívoco,
nem espaço entre as razões que não entendes,
na minha casa,
no espaço em que rastejo pelas
mensagens que nunca formulámos
ao sol,
sei menos que um moribundo,
não percebo sequer os precedentes da minha vida,...

e enquanto isso,
há lá fora uma música que te
entende melhor que alguma vez o consegui
 
Na minha casa

Menina insuficientemente feliz

 
Insistia em querer dizer que estava tudo bem,
E podia vir a estar ainda melhor,
E agora,
Socorria-se das colunas de névoa que a envolviam quando era obrigada a,
Dançar com o frio insinuante das manhãs de Inverno daquelas bandas,
Para adorar as coisas sem nome que as pessoas lhe atiravam aos pés,
Quando fosse a maior rainha de jasmim que aquela terra alguma vez tinha visto,...

Tímida,
Olhava com um calor por explicar os olhos das pessoas,
Tentando falar sem voz,
Com as palavras recolhidas nos nós gretados dos dedos gelados,
E queria dizer a todos como pesava a vontade de fazer coisas,
De alumiar com a alegria desmedida apenas um céu que nunca passava daquele cinzento gretado,
Mas que ela queria todo refletido de histórias felizes,
De enternecer,...

Noa sítios onde chegava a cada dia,
A realidade voltaria a ser pesada,
Anónima até com laivos de remoinho de amargura,
Mas não iria fazer mal,
Tudo cheirava bem o possível,
E amanhã tudo poderia recomeçar com novas cores
 
Menina insuficientemente feliz

Nada

 
Nada,
As frases,
O alento de uma certa entoação,
Até um pé ante pé para fora
Desta tempestade,...

De nada restava as capitulares,
Só o que se podia descrever,
Como se o tempo trouxesse aquele alento que nos falta,
Para meter a morte no bolso,
E reduzir o big bang a uma bica e um cigarro,..

Repito,
Nada,
Duas fases inexatas da mesma tristeza
 
Nada

Chama medieval

 
Chegada ao teu rosto,
Esta era uma chama sem história,
Quase perfumada,
Que não gerava expetativas,...

Esperava-se por um fogo que ajudasse a embalar livros antigos,
E precisasse de alguma água para que as pessoas pudessem evoluir,
Deixassem de considerar imoral as faces imprecisas de um amor que se exprime por si próprio,
Sem lufa-lufas impessoais,
Apenas com roupas de rubras gargalhadas que deixassem ao expoente inalcancavel,
Tudo o que há por explicar em textos monolíticos como este,
Sem fendas,...

Percebendo que seria um rosto adormecido,
Aligeirado de forma quase socrática no escuro,
Acomodo-me num mundo acamado apenas pelo atraso nas experiências,
Aclamado à minha maneira silenciosa
 
Chama medieval