Rosas negras
deito-me esta noite
sobre meu travesseiro
de rosas negras
cubro-me esta noite
com o manto de remendos
que fiz de mim mesmo
desfaço-me esta noite
em sonhos e delírios
num desvario alucinado
disfarço esta noite
de quem?
de quem?
sangro esta noite
sobre meu travesseiro
de rosas negras
agonizo esta noite
com o manto de remendos
que fiz de mim mesmo
vela-me esta noite
em sonhos e delírios
num desvario alucinado
vieste esta noite
de quem?
de quem?
Domingo branco
O domingo é um dia todo branco,
posto que o branco sendo todas cores
já não é cor alguma: é abstração
e silêncio; a cor branca é a não cor.
E a anticor preenche a atmosfera
para liquefazê-la à densidade
do Mar Morto; boiamos neste dia
que é um não dia - um dia de domingo.
Branco é o dia sem motivo e imóbil
e brancas são as coisas sem conceito.
O branco não possui pretexto e nem
desígnio, mas ainda assim são brancas
as rochas que esteam os templos gregos;
um branco que é puro, abstrato e absoluto.
Anos de areia
Quando as horas passam frias
Na noite eterna do deserto
Com o anjo da morte, à espreita, perto;
Comigo apenas a oração, o jejum e o terror;
Meu corpo todo treme em agonia.
Por 40 dias e 40 noites
O demônio e seu azorrague para o açoite;
Mas eu nunca temi a dor.
O sol da incerteza que me abrasa
E o vento que soergue a poeira
E me cega; meu corpo coberto de areia
Arde nas feridas e sangue de meu dorso;
Mas eu nunca temi a chaga.
Por 40 noites e 40 dias
O demônio com seu azorrague me cingia;
Mas eu permaneci introrso.
Purificai, sal da imortalidade,
O espírito impuro com o Espírito;
Com o Amor, o meu pobre coração aflito;
E dai aos meus lábios a graça dum fulgor,
Para que saibam d'A Eternidade!
Por 40 dias e 40 noites
O demônio e seu azorrague para o açoite;
Mas eu conheci O Amor.
Rosas da boca dela
"Eu sinto algo especial em lugar qualquer,
N'outro que não seja este no qual eu me encontro"
Disse ela em tom agreste: grave, calmo e rouco.
Dúvidas e questões, de tão comuns, sequer
Fizeram-se especiais aos olhos de outros.
Não suportando mais a si mesma, expulsou
Sua unicidade toda em um acesso
Extremo de singularidade, confesso
Nas rosas de sua boca. Se condensou
No sangue pulmonar nos ladrilhos expresso.
Os espinhos, rasgando a garganta, armaram
Caminho na sansara floral; lograram,
No corpo dela, as marcas negadas do fim.
Fatais, as rosas da boca dela formaram
A estranha ponte entre uma flor e um jardim.
Peregrino
Cortando as nódoas brancas do porvir...
Rompendo o azul opaco desse céu...
Alça o vôo Nero-falcão vizir,
Pondo em chamas brumoso e vasto véu!
Alma em fogo, sedenta de infinito,
Num mundo de visões o vôo abrindo...
Qual uivoso vento em morro curtido
Entre as nuvens de Deus passa rindo!
"O sol da glória que purificou-me
A argila da existência desbotou-me!"
Faz ele Cruzada à posteridade:
Falcão-peregrino subindo o monte
Em estrada sagrada, aonde encontre
A pira intensa da Eternidade!
Sobre o que escrever
E agora, José?
Sobre o que escrever?
Se até sobre "e agora,
José? Sobre o que
Escrever" já foi
Poema de alguém.
Talvez se eu citar
Algum bom poeta
Cause uma impressão
De que eu também sei
Versar um poema
Menor redondilha.
Mas talvez alguém
Venha reclamar
Que isto é plágio,
Que sou criminoso
E não sei pensar
Com minha cabeça.
Deixarei Drummond
E o tal de José.
Mostrarei meu dom
Em rimar pés
Das sílabas com
Consonâncias reles.
Se bem que Fulano,
Por qualquer engano,
Dirá: "que antiquado
E como é quadrado
Teu redondo verso!
Pois sê mais moderno!"
Portanto, adeus rima!
Mas... qual novidade
Há no verso branco?
Tão ultrapassado
Como misturar
Palavras num saco.
Os dadas que o digam!
Mas, o que farei?
Talvez me ajude eu escrever um verso livre que quebre com o paradigma de que tudo que é novo é ruim e burrice ou de que tudo que é tradicional é retrógado e copiado.
Se bem que poesia contemporânea ninguém lê e hoje só publica livro quem faz plágio diferente e parece inteligente.
Pensando bem, publicar um livro seria bem legal para a minha vaidade: ter meu nome estampado nas capas de exemplares dos livros mofados na última prateleira da estante de alguma livraria qualquer para poder dizer para todo mundo que sou poeta bonitinho tipo o Bráulio Bessa e que colaboro com a cena e manutenção da literatura nacional.
Quem sabe eu apareceria declamando algum verso comemorativo em algum programa de televisão e ficaria em dia com a cultura e a família moderna brasileira, sem me queimar com ninguém. Mas este protesto já está
Ficando comprido,
Chato e cansativo!
Serei mais concreto.
Talvez ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤeu
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤdeve
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ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤtir de
es cre ver
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ poesiaedevesseapenas
brin
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ car
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pontinhos ㅤㅤem
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤqualquer
gibi
ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤ ㅤpor aí.
L ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ ㅤㅤ p
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Manifesto subtropicália
Paus, pedras e cipós erguem o monumento.
Sustentam-o vermelhaças massas de argila
E nivela-o a argamassa concebida
De água, areia e do cálcio extraído dos ossos
Fossilizados, constituíndo o cimento.
Enfeita-o o papel crepom, o ouro e os destroços
De cerâmica arqueológica. Impõe-se, enorme,
No centro de uma capoeira circunforme.
Arregalam-se, entre a moderna cabeleira
Da Medusa, os grandes olhos petreficados
Que vislumbram, sem ver, seu matiz predicado.
Aponta contra o norte seu nariz, que indica
De Pero Vaz de Caminha, à brasileira,
Os suspensos jardins da Amazônia. Deifica
Sua boca os painéis deste, sorrindo os verdes
Dentes - abre sua boca em flora perene.
Proclama bossa-nova por toda a garganta,
Enquanto enforcam-lhe as heras o seu pescoço.
Serpenteiam aos braços - meneando alvoroço
Entram-lhe as veias abertas, traçando o pulso.
Na barriga a jamanta estufa-se da janta:
Baião-de-dois, feijão, banana e ainda em curso
Uma criança nordestina. Traz no peito,
O monumento, uma rosa encolhida em leito.
Carregado e empunhado em mãos um bang-bang,
Sustentando nos seus ombros uma banheira
E uma bacia de concreto. À ponta-cabeça,
Abaixo da bacia, esconde-se uma chacina
E a banheira lava-se das águas do mangue:
O monumento nada tal fosse piscina,
Limpando-se do sangue. Empunha noutra mão
A primavera, ornada com plástico e cifrão.
Levando nas coxas o progresso, autentica
A eterna ordem. O arlequim é quem governa
O carnaval, orientando a eterna baderna.
Acordes dissonantes compõem o samba
De enredo com que o monumento reivindica.
Os joelhos destacam-se das pernas bambas
Pela sua firmeza e aridez fendida,
Assemelhando-se ao solo da caatinga.
Calca, presos aos pés, caminhões de sapatos,
À fim de expôr o monumento ao país todo.
As heras dão lugar a gravata e ao seu dorso
Adere-se um colete. Abotoa ao esterno
Sua fina camisa de linho e o olfato
Perfurma-lhe nobre. Apruma-se de um moderno
Terno: de vidro, costurado à parafuso,
Tecido bizarramente com o futuro.
Vampirismo
No princípio era o Verbo, e Este fez o princípio.
Criou, do barro, o Homem e neste Se alegrou.
No alto fez Seu descanso, habitando no Olimpo.
Porém, insatisfeito, o Homem se recriou:
Desbotou-se da argila erma da existência;
Reduziu-se a um ímpio projeto de ausência.
Pela menoridade, este se rebelou.
E na sua vontade em fazer-se Deus
O proto-homem escalou, às garras, o Monte.
Subordinado às ânsias de deuses ateus,
O andrógino pôs Zeus co'a face em sua fronte.
Ditou a aspiração - eis qual sua arbitragem:
-Mortal! Você não é um Deus nesta paragem!
O proto-homem caiu à desgraça do afronte.
E retalhado ao meio, entregue ao rés-do-chão,
Viu-se, o Homem, mutilado em toda sua hombridade.
Condenado por sua auto-valoração,
Afogou-se em recalque, insolência e vaidade;
Lúgubre catatônica esquizofrenia.
A densidade existencial o agonia;
Descobre-se como o Homem pela Metade.
Apartado do espírito, o Homem angustia,
Estertorando a carne em corpo desalmado
E carente em pecado; o Homem não se sentia:
Pelo materialismo cego é arrastado.
Vem com a modernidade, num bojo imundo,
A sentença final, coroando o homúnculo:
Positivista ciência o reparte em dois lados.
Agora, um quarto do homem original,
Ele se entrega ao Mundo, com paixão e zelo.
Passando de político a mero animal,
Dá-se todo aos vampiros - saciam o apelo.
Homens vampirizados, homens quartejados:
Ser humano, inumano, imundo, desalmado...
E todo homem-vampiro não se vê no espelho.
Antiquário
Vidas vistas de fora, que se calam,
Inertes num retrato, numa pedra.
Vidas vistas de fora, que resvalam
Das bocas do jantar; pratos que falam
Na morte que a risada viva gera.
Vidas resguardadas em velhos traumas,
Esquecidas em lugar que não se ouça.
Tolos, frustrados, lamentam às almas;
Mortas, frustradas, lamentam as almas,
Secretas em pratarias e louças.
Esquecidas, as almas, que lembram
Palavras inúteis num dicionário.
Almas mortas, secretas, desvendam
Palavras mornas, discretas; tentam
Salvar-se das palavras... do antiquário.
Senhora
Trago co's ares a candura da mulher,
Tragando sua perfeição tão delicada,
Tão arrebatadora - como o céu rosicler
Que escorre sobre as cidadelas na alvorada.
Tanto pura e tão nobre, vem recolorindo
Com sorrisos um mundo de visões, abrindo
Em meu peito amplidões de vidas coroadas.
Guia-me pela mão, minha nobre senhora!
Arrasta-me aos confins dessa morna existência!
Desperta-me à esfera, dama das horas;
Desperta-me ao afã de tua experiência.
Pois sei que o que as mulheres jovens pretendem
Sei que tu - a mulher madura - compreendes!
-Verdade crua do ouro nua na sapiência.
Se a mulher jovem crê dizer no seu despir,
Vede a maturidade da mulher sensata
E adulta que, num lance de olhares, já diz
Toda a dissidência da juventude inapta.
Revela, co'a retina, cópias de sua alma;
Desenha, com as linhas de seu corpo, a carga
Tensional - sua valsa - a coesão exata.
Me apara no veludo teu! Me retém, meigo
E cativo em teus dedos, escondido em peito
Manso... coberto e liberto pelos teus dengos
Sinceros de mulher completa, sou refeito!
Nos azos em que a jovem tão só faz gemer
O tato da mulher absoluta a faz ser!
Voando - anjo de gás - em brumo rarefeito...
Tu me tens inteiro - em corpo e no pensamento!
Nos âmbitos que estás, dominas - és rainha!
Arrematas minha trama no teu intento;
Nos moldes da tua intuição de adivinha.
Oh, rica soberana! Cigana esfíngica!
Leia na minha mão o que o destino indica:
O suor que da tua presença advinha.
Fosse eu um rouxinol, de peito estertorando
Contra espinheiro-alvar, cantando tua atenção,
Morreria feliz, no céu sempre sonhando
Com a rosa sanguínea da minha canção:
Tu! Oro: que a pira da paixão que me abrasa
Em ti nunca se torne somente em brasas;
Antes, que a converta em amor - ah, redenção.
E embora não seja eu o teu, enfim, eleito,
-haja visto os anseios em grilhões atados-
Terá sempre você nas lágrimas de meu leito.
-haja visto os anseios afins apartados-
Serei, eu, teu marido na sinestesia
Do sonho; e, tu, minha esposa na poesia
Eterna de dois corações apaixonados.