versos jovens
Bastava um sorriso e eu teria ficado
Um sorriso apenas e você não sabia
Por um sorriso esqueceria o passado
Só um e teria ainda minha companhia
Você dizia que não pode mais mudar
Sabe que não tem o anseio para isso
E eu queria tanto um violão pra tocar
Decerto tivesse sido menos submisso
Eu queria ter ido um pouco mais longe
Três passos pareceram uma eternidade
Meu capuz não é de um velho monge
Meus feitiços ainda têm rara vitalidade
Levo comigo palavras ainda nunca ditas
Versos virgens de um antigo menestrel
Sonhos coisas em que você não acredita
Guardadas nas entrelinhas deste papel
Deus abençoe o sal de minhas linhas
Carlos Correa
Afogados
Algumas vezes em imagino escutar um nome
Em outros momentos um zumbido ecoa agudo
Alguns veem tormento eu alimento minha fome
Com as palavras e imagens me levando ao fundo
Fico tão longe que por vezes esqueço o caminho
Mas sou guiado pelas sirenes e gritos solos sussurros
Algumas vezes as palavras vêm a mim com carinho
Noutras eu mergulho e as busco lá no oceano escuro
Algumas vezes eu sei que escuto meu próprio nome
Me sinto seguro e amparado sem vontade de voltar
Estou longe me sinto despido de tudo que me consome
Mas retorno trazendo suas palavras ali daquele lugar
Existem alguns que não conseguem vir não podem falar
Eles sonham são zumbidos ecos agudos que nos chegam
Imploram que sejam ouvidos nos versos do fundo do mar
Que a maresia carregada de anseios traga tudo que desejam
Deus abençoe os que não se lembram
Carlos Correa
Poema Rock'n'Roll
O poeta é muitas vezes conhecido por trazer
Para o campo das letras as flores perfumadas
Por moldar versos suaves da beleza da mulher
Fazer da tristeza um Van Gogh de palavras rimadas
Mas nem sempre...
Há ocasiões que os poemas trazem a fome o vigor
Uma vontade vulcânica de balançar e rolar a escrita
Um desejo inflamável queimando o solo com o calor
Dos dedos fazendo poeta e rock a simbiose perfeita
Deus abençoe o Rock’n’Roll
Dia 13 de Julho Dia Mundial do Rock
Carlos Correa
Você e eu
Sinceramente eu não sei se encontrarei
Uma canção que se pareça tanto comigo
Que fale que traga palavras que eu cantei
Desde a infância que tanto foi meu abrigo
Hoje esta canção me faz lembrar você
Nem tudo que passou em nossos dias
Foram rimas mas não deixaram de ser
Versos que fizeram de ti minha poesia
Você sempre será minha melhor melodia
Deus abençoe as canções que falam de amor
Carlos Correa
Laços de família
Me perguntam como posso ter certeza
Como saber se é verdade que está aqui
Abro as janelas mostro o céu e sua beleza
Consegue ver as estrelas consegue daqui?
Não...as luzes da cidade bloqueiam o poder de nossa visão
Mas se for ao interior você poderá ver cada constelação
Eu sei que você vem às vezes você e tantas outras pessoas
Sei disso ao visitar meu interior quando meu coração voa
Em algum momento eu terei de deixar essa minha anatomia
E talvez quando o sol estiver se pondo cansado aqui deste lado
Estará trazendo você em seus braços no raiar de um novo dia
Mas eu sempre saberei a letra de nossa canção de cor e salteado
Deus abençoe os laços de família
Carlos Correa
Faróis de todo mundo
Eu cheguei a pensar que era prazeroso
Gritar tão alto dentro do meu silêncio
Apenas usando versos nada talentosos
Mas falar da vida acorda o velho boêmio
Um cara que dança pela rua simples sorrindo
Fazendo das cordas imagens levadas pelas asas
Dos pássaros da noite um sujeito indo e vindo
Pelas delicadas trabéculas até que volta pra casa
E na frente do espelho o sorriso se deita na cama e dorme
Cansado como se cada grito lhe tirasse um breve raio de sol
Até que um dia a noite chega sem brilho num vazio enorme
E o poeta acaba por se tornar o próprio verso num velho farol
E assim eu vejo os poetas faróis isolados nos oceanos
Desse mundo tentando iluminar o céu mas sempre presos
Em sua própria escuridão terra de um só ser humano
Mas que mesmo em sua solidão mantem o farol aceso
Deus abençoe os faroleiros
Carlos Correa
Além das linhas
Hoje quando estou mais perto de voltar
Consigo entender você não estar aqui comigo
Conceber sua ausência estar em outro lugar
Hoje percebo sua dor hoje eu de fato consigo
Se para mim seu rosto ainda é um grande vazio
Pra você eu sou aquele de quem não pode estar perto
Sentiria sua presença mesmo que estivesse do outro lado do rio
E teria vontade de ir embora ainda que meu futuro fosse incerto
Estou preso a esta vida buscando ser algo mais do que antes
Fazendo o melhor ainda que pouco esperando que me leve
Mas não antes de conseguir escrever uma canção flagrante
Sei que está aqui não se culpe como disse te sentiria sob a neve
Vá não se preocupe comigo ainda tenho minha sanidade
Perdão por não estar pronto ainda faltam algumas linhas
Obrigado por secar minhas lágrimas por sua saudade
Ainda que seu rosto seja vazio sua dor também é minha
Deus abençoe as constelações
Carlos Correa
Caminho do mar
Esperei por um tempo que sentisse em meus dedos
Aquela estranha linguagem que como pequenas tartarugas
Quebram os ovos e correm correm sem saber o porque ou ter medo
Mas elas apenas sabem que precisam correr como uma fuga
Elas procuram a segurança do mar longe de predadores frágeis que são
E vejo meus dedos como a areia da praia as palavras tartarugas surgindo
Uma atras da outra eclodindo desordenadas das cascas que se quebram no coração
E seguem na direção da folha em branco como o mar salgado por lágrimas ou sorrindo
Alguns chamam esse caminho involuntário de arte eu vejo de outro jeito
Mas não importa porque para todos a arte é a forma ancestral de desabafo
E não existe arte boa ou um ruim desde que ela venha de você de dentro do seu peito
Deixe fluir extravase pintando cantando tocando escrevendo mas crie seu parágrafo
E como as pequenas tartarugas nós e nosso aprendizado já passado
Algum tempo voltaremos ao ponto de partida inspirando o avanço
De novos caminhos versos ou estrofes a encontrar o mar bravio e salgado
Que seguirão através de nossos dedos a encontrar a uma nova folha em branco
Deus abençoe o caminho do mar
Carlos Correa
Violinos & Violetas
Eu por instantes ouvi os violinos
Eles vinham de algum um outro lugar
E eu vi pessoas meninas e meninos
Mexiam os braços pareciam tocar
Eles tinham o sol se pondo atrás do mar
Um sorriso moreno uma vontade inerente
Aos que pulsam o coração pelo seu olhar
E eu te vi ali parada bem à minha frente
E eu senti que todos os meus segredos
Voavam como uma nuvem de borboletas
Atraídas pela luz que vinha das linhas do enredo
De uma estória escrita sobre seus olhos violeta
Deus abençoe os repentes
Carlos Correa
Janelas de papel
Há momentos escuros pesados te sufocam
Você olha para trás e está lá pede desculpas
Perdão a si próprio por sentir-se um fracasso
Sente-se feio não consegue apenas não pode
Você troca de quarto e entra na madrugada
Sua noite mais profunda onde vivem cada um
De seus medos suas vergonhas e seus remorsos
E você se consola diz aprendi muito com eles
Mas ainda assim o coração não fica mais leve
Você sente-se sozinho com seu próprio fracasso
Vai até a janela e imagina como poderia ter sido
E vem o medo se enrosca em você e não deixa ir
De repente alguém agarra sua mão e te puxa firme
A vontade de chorar rompe a carne um abrigo um amigo
E você do nada diz eu consigo e volta correndo à janela
Aquela folha em branco onde escreve e volta a sonhar
Eu não lembro de quem era o braço que me trouxe até aqui
Que me tirou da madrugada não que os remorsos tenham ido
Que as vergonhas tenham desaparecido mas seja quem for
Me ensinou que existe um lugar onde posso me deitar e recomeçar
Deus abençoe o nascer do sol
Carlos Correa