O amor dura rigorosamente 3 minutos e 30 segundos,
mais ou menos a duração dos limites do que pode ser
entendido de uma clássica canção pop.
Em tempos áureos foi um hit com direito merecido a muito airplay,
circulava exaustivamente em repeat pelas vagas hertzianas,
fez furor e culto, angariou groupies dirigentes de um clube de fãs
respeitosos e devotos da sua discografia e das apresentações ao vivo
que guardavam religiosamente bootlegs caseiras de raridades, lados-b
e inéditos.
Era indie rock dançável mais ou menos alegre mais ou menos triste
mais ou menos absurdo como sempre vi os pavement.
Hoje quando se vasculha a montanha de pó frio da memória em
busca dos discos preferidos percebe-se que a fnac já não os vende
remetidos foram ao fundo de catálogo de uma label que mal subsiste
no mercado fonográfico actual, à custa da carolice pelas velhas preciosidades.
Se procurarmos pacientemente será possível desencantar
um exemplar imaculadamente conservado de um
7 polegadas amarelo limão; uma peça de coleccionador
que jamais soará no gira-discos doméstico dos puristas do vinil,
destinada a engrossar a prateleira da estante de um acervo
de um museu de vícios privativos e intransmissíveis.