Prazer (feminino)

Data 22/09/2009 20:57:16 | Tópico: Prosas Poéticas

Dentro, tem que ser verão quente.
Casulo rasgado. Couraça de besouro esquecida.
O toque deve começar muito antes de sentir os dedos. Depois, tomar não como um café apressado, mas como um precioso líquido ofertado em fina porcelana.
Pensar em algo instável, mas delicado.
Sentir que todos os movimentos, todos os sons, toda a atmosfera é pungente e repuxam o ar com vinte mãos direitas, e que o tempo não tem ponteiros de relógios.
Saber que é terra ainda com bulbos e brotos a espera da sensibilidade e dedicação... Grama no leito do rio, ambicionando ser molhada por ondas leves, curtas e contínuas.
O rito! A constância! A paciência.
Pensar no bater das asas dos beija-flores no estigma da flor.
Abnegação da própria fome por longos instantes, para uma saciedade absoluta depois.
E, depois, o prêmio advindo da languidez de olhos buliçosos e da paz do semblante realizado, para em seguida receberes o que tenhas dado.



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