A cigana idosa

Data 21/06/2007 14:23:32 | Tópico: Poetrix

Caminhava apática pela rua incerta da cidade
Quando cruzei com uma cigana idosa
De expressão humana e tez morena
Abordou-me e pegou-me na mão direita

Disse que a casa onde eu vivia não era nada!
Que a minha vida, seguramente intacta,
Estava a ser esquecida no Tempo...
Que, em breve aprenderia a subir
Para a carroça do destino
E saberia como soltar as rédeas do meu pensar.
Disse-me, também, que a cor pálida do meu rosto
Era a perfeita denúncia
Do meu precoce cativeiro...

Surpreendida com estas palavras
Pronunciadas com voz grossa e firme
Senti-me, subitamente, alarmada!
Indignei-me
(melhor seria dizer que me perturbei)
Com as palavras perniciosas da velha cigana.
Conseguiu afugentar o meu estado de apatia
E praguejei baixinho
(as minhas frustrações)
Esbocei um sorriso irónico
(numa careta angustiada)
E voltei costas à cigana.

Vinte anos mais tarde...

A casa onde eu vivera já nada era!
A minha vida ainda intacta
Fora já esquecida no Tempo!
Nunca aprendi a subir
Para a carroça do destino
O que me impossibilitou
De soltar as rédeas do meu pensamento!
E a pele do meu rosto
(hoje ainda mais pálida)
Continua a denunciar o meu precoce cativeiro!

Corri todas as ruas da cidade
(ansiosamente)
Mas não reencontrei a cigana idosa.
Morrera de doença incurável
E levara consigo o segredo
Da cura para a minha...

Manuela Fonseca



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=10025